quarta-feira

Estado veta venda da Vivo com uso de "golden share"

Estado veta venda da Vivo com uso de "golden share" tsf
Estado vetou a venda da Vivo à Telefónica, contrariando o sentido de voto da maioria do capital presente na assembleia-geral desta quarta-feira.
O representante da posição estatal na PT, anunciou na assembleia-geral que votaria contra a venda da Vivo à Telefonica utilizando a "golden share".
Esta decisão fez com que o presidente da mesa da assembleia-geral da PT desse como terminados os trabalhos, após ter aceite o voto do Estado que inviabiliza, para já, o negócio.
Esta foi a primeira vez que o Estado usou as 500 acções de classe A, que lhe permitem vetar decisões estratégicas para a empresa, depois de a maioria dos accionistas ter aceite a proposta espanhola.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da PT, Jorge Félix, 700 milhões de acções votaram a favor do negócios, enquanto que 500 milhões abstiveram-se, enquanto 200 milhões votaram contra. [...]
Obs: O Estado foi coerente com posições anteriores, o que prova que não anda a fazer bluf, pois não lhe interessa apenas facturar como, porventura, será do interesse imediato dos accionistas - contra quem o Estado votou, o que é nédito. Creio que, dessa forma, o Estado estará a acautelar interesses nacionais permanentes ligados à defesa e promoção da economia nacional, intra e extra-muros, ainda que isso implique que a Telefonica recorra aos tribunais e ponha o direito comunitário à baila...
De certo modo, ainda bem que isto sucedeu, pois também se dissolve a eventual ligação estreita que alguns supunham existir entre a administração da PT e o Governo. Além de que o PM reconhece que a Vivo representa no séc. XXI aquilo que o comércio das índias representava para a metrópole portuguesa em 1500.
Enfim, ainda a procissão vai no adro neste intricado jogo da história - que termina quase sempre de forma surpreendente...

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O futebol era o escape, a almofada... Sobreveio o pesadelo

Num país onde tudo corre mal no plano micro e macro económico, com a imensa classe média a andar pelas ruas da amargura, o futebol era o escape, a salvação das frustrações colectivas que ajudariam a ultrapassar os baixos índices sociais e económicos que o país atravessa.
Esta ilusão foi ontem rebentada pelo choque da realidade e a emergência do real, terminando com todas as mistificações com que protagonistas e povo sustentaram para se salvarem do afundanço socioeconómico em que Portugal vegeta.
Tudo depende dos resultados, como nas revoluções, se vingarem todos são heróis, se os resultados não forem alcançados são todos uns idiotas que viveram das ilusões - que no caso não rimou com a realidade efectiva das coisas, como diria Nicolau.

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Narrativas auto-justificatórias. A culpa é do...

O futebol é como a política pura e aplicada, precisa sempre de um bom bode expiatório para quando as ilusões se desvanecem e sobrevem o choque brutal da realidade. Apesar de entender que a selecção nacional fez um trabalho digno, perder com Espanha, daquela forma, deixa muita água na boca, fica sempre a sensação de que poderíamos ter feito mais e melhor e ter passado os oitavos...
Agora abre-se uma nova fase que ganhará eco na portela de Sacavém: a perplexidade dos desiludidos em que urge encontrar justificações mais ou menos racionais para explicar o resultado com Espanha - que já nos ganham nos negócios por causa duma economia de escala várias vezes maior do que a nossa.
Uns procurarão elogiar institucionalmente os resultados obtidos potenciando a coesão do grupo e não sacrificando ninguém, eis o que tem feito o seleccionador, carlos Queiroz e o guarda-redes, o excepcional Eduardo; outros tenderão a pedir a cabeça de quem fez opções de meter certos jogadores e tirar outros, é aqui que se procura, de facto, seleccionar uma vítima expiatória, alguém que possa ser considerado culpado de tudo e cujo sacrifício inocentará todos os outros, ou seja, os jogadores.
Na prática, foi já isso que o pequeno capitão tentou fazer, na forma e naquele estilo saloio que define Ronaldo - que não teve pernas nem controle de bola, pelo que deveria estar caladinho pela ausência de legitimidade funcional que [não] tinha para falar.
Com a eliminação da selecção portuguesa do Mundial de Futebol da África do Sul de 2010 - chega a fase de serem apurados os culpados, seja por ingenuidade ou pura incompetência, e creio que foi infeliz ter-se tirado Hugo Almeida da posição de jogo. Acresce que os jogadores querem ser inocentados ou merecedores de total confiança.
Seja como for, todos continuam a ganhar balúrdios por mês, usufruem de salários que nem António Mexia da EDP sonha, consolidam um património invulgar e continuam a viver felizes. Tudo verdadeiramente desproporcionalmente às demais profissões e remunerações e, sobretudo, à valorização que prestam à sociedade e ao bem comum, daí a injustiça relativa.
Mas, lá está, enquanto não se passar a fase da Portela de Sacavém o bode expiatório não é encontrado, e se não for o mister Carlos Queiroz a meter a cabeça na Dona gulhotina talvez se encontre fundamento clínico para ver no ombro de Nani a razão maior para a eliminação de Portugal deste Mundial de Futebol, pois assim até carlos Queiroz fica mais ou menos bem na foto de família.
E é também por isso que o futebol é parecido com a política na assunção (ou não!!) das responsabilidades. Com a particularidade de os agentes políticos ganharem consideravelmente menos, e isso também aborrece... os políticos!!!
É da natureza das ilusões que os iludidos não possam reconhecer que são os seus comportamentos que provocam a frustração das expectativas que foram geradas na ilusão. E o fim delas emerge quando o choque com a realidade rompe a bolha ilusória que dinamizou a estrutura da ilusão que, afinal, é o que comanda a vida.
... Bem vistas as coisas, a culpa dever(á) ser do Nani e do seu maldito e enigmático ombro (poderia ser uma perna, dado que o futebol se joga utilizando os membros inferiores...) , afinal se ele jogasse poderia ter marcado o golo que faltou.
Se calhar ele até nem tinha nada de especial no ombro!!!

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A "diplomacia" de Silvio Berlusconi

O Globo
SÃO PAULO - Envolvido em polêmicas extra-conjugais, o premiê italiano Silvio Berlusconi colocou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva numa saia-justa quando fez questão de lembrar de sua "simpatia com as mulheres", durante encontro que discutia acordos comerciais entre os dois países.
Diante de uma plateia de engravatados que lotavam o auditório da Fiesp, Berlusconi misturou dois assuntos (mulheres e futebol) para dizer que tinha muito afinidade com o presidente Lula.
" Eu disse para o presidente Lula que sempre tive muita simpatia com o futebol brasileiro e com as mulheres "
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- Eu disse para o presidente Lula que sempre tive muita simpatia com o futebol brasileiro e com as mulheres. Ele me disse: ´Berlusconi, não me comprometa, sou casado há 35 anos'. Eu achei que o Lula estava dizendo uma coisa mas pensando em outra quando disse isso - disse Berlusconi, que arrancou gargalhada dos convidados, enquanto Lula ria meio sem graça diante de uma interpréte que traduzia o discurso do primeiro-ministro.
À vontade, Berlusconi também aproveitou para fazer média com o futebol brasileiro. Disse que hoje pelo menos 11 importantes jogadores atuam no futebol italiano, e elogiou a atuação de Kaká, que jogou no Milan, time que pertence ao primeiro-ministro.
Obs: Ainda veremos Berlusconi nomear a famosa Cicciolina, pioneira em várias artes, ministra da Igualdade e da boa condição feminina a fim de melhor promover na sociedade o acesso aquilo que o PM italiano tanto aprecia: o bem comum para todos.
Confesso que gostaria de ler um manual de Ciência Política redigido por Berlusconi...

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Fabio Coentrão..

...talvez o melhor jogador da selecção nacional no Mundial de 2010 na África do Sul. Um jogador que está de parabéns a todos os títulos, um elemento com quem o imberbe capitão Ronaldo - com o seu novo riquismo saloio - poderá, seguramente, aprender algo. Desde logo, começar por ser mais homenzinho!!!

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Cristiano ronaldo - o "anão" do jogo Portugal - Espanha -

É tão pequenino ..o talento que nem o vê: em bom português, o "génio" não jogou a ponta dum corninho, passe a expressão, os livres eram para o guarda-redes espanhol treinar as falanges dos dedinhos, perdia bolas e os efeitos foram, as usual, para o BES capitalizar naquelas contas poupança dos futebolístas.
Nesta ordem, Ronaldo foi, de facto, pior jogador do que Carlos Queiroz foi seleccionador nacional. Tanto mais que a um Capitão se exige uma responsabilidade acrescida de contenção e de mobilização do grupo que mostrou não estar à altura, pois comportou-se como um puto mimado
a quem roubaram o brinquedo, revelando precisar de um Alka...

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terça-feira

Espanha 1 - Portugal 0...

..Embora o resultado pudesse ter sido o inverso, apenas com a diferença de Espanha ter tido mais posse de bola e criou mais algumas oportunidades de golo, depois marcaram num ressalto manhoso e, ainda por cima, of-side. Erro terá sido o seleccionador ter tirado o ponta de lança Hugo Almeida, Ronaldo inexistiu e Fabio Coentrão - a par com Eduardo - foram jogadores excepcionais em campo.
Dito isto, até apetece citar um Comissário da União Europeia da equipa de Barroso que ninguém entende quando debita uns gatafunhos na língua majestosa de Shakespeare: Portugal must take measures in order to obtain resultsssss and achieve goalssss. So, targetsssss is very important...
Desta vez não houve goalsssssssssssss. O que sobrou frente à ditadura da Coreia do Norte faltou relativamente a Espanha.
E foi nesta circularidade estéril em que caímos, agravando ainda mais a estatística global na relação futebolística com nuestros irmanos - cuja tensão irá subir seguramente neste Verão pela disputa que PT e Telefónica mantém relativamente à Vivo no Brasil.

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Populações do Mali organizam brigadas de vigilância para proteger os “seus” elefantes

Os habitantes do Norte do Mali decidiram organizar brigadas de vigilância para proteger da caça ilegal os últimos elefantes que vivem na região. Além disso, os animais são seguidos por GPS.
(...)

Obs: Temo que em Portugal por causa das scuts sejam as populações do Norte que se mobilizem na via pública para reconstruir o "buzinão" da Ponte 25 de Abril. Veremos se a revolta se desencadeia ou opera a resignação dum povo que já suporta uma carga fiscal brutal. E nisto, claro está, estão dois interesses contraditórios: o governo que precisa de cobrar impostos, custe o que custar, e a oposição, mormente, o PSD que, oportunísticamente, explora a situação até a conduzir à moção de censura no Parlamento.

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Dois terços dos portugueses vão passar as férias em casa

Dois terços dos portugueses vão passar as férias em casapublicado
Portugal é dos países do estudo onde menos se gasta em férias Luís Forra, Lusa
Dois terços dos portugueses vão passar o período de férias por casa; os que pretendem sair dizem que vão tirar menos dias e querem gastar menos dinheiro, apurou um estudo internacional da consultora GfK. Pelo contrário, os suecos, holandeses e belgas pretendem gastar mais nas férias e apenas 25 por cento ficam em casa.
Sessenta e seis por cento dos portugueses não planeiam dedicar qualquer percentagem dos seus rendimentos a actividades relacionadas com férias; 17 por cento pretendem gastar até 500 euros e sete por cento prevê aplicar mais de mil euros, apurou a Lusa com base num estudo realizado pela GfK. Estes números levaram a multinacional de estudos de mercado a concluir que Portugal é dos países auscultados onde menos se gasta em férias.
Dentre os 24 por cento dos entrevistados que planeiam passar férias fora de casa, 49 por cento pretende sair por uma semana e 23 por cento por 15 dias. A grande maioria (69 por cento) prevê visitar uma localidade do país e pretende ir acompanhado da família.
O estudo da GfK, feito em parceria com o Wall Street Journal, indica que além dos portugueses, também húngaros, búlgaros, polacos e romenos planeiam não fazer deslocações no seu período de férias.
A média dos que pretendem viajar nas férias nos restantes países europeus é superior à portuguesa: 31 por cento pretende tirar 15 dias fora de casa, com os alemães e holandeses a usar maior número de dias.
Os italianos e os espanhóis são, como os portugueses, os que mais pretendem passar o período de férias estival no próprio país.
A pesquisa, num total de 16.364 entrevistas, abrangeu 15 países europeus, EUA, Brasil, Colômbia e Índia. Foram realizadas, nos meses de Fevereiro e Março, a pessoas com mais de 15 anos. Em Portugal a amostra foi de 1250 entrevistas.
Obs: É pena o estudo não reflectir as intensões dos gregos...

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Michael McDonald and James Ingram - Ya Mo B There(live)

Michael McDonald and James Ingram - Ya Mo B There(live)

Que Hiciste Music Video

J.L. If you had my love..

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segunda-feira

A banalidade e o óbvio a patacos com as presidenciais no horizonte

JN
Não é novidade para ninguém que Cavaco tem feito um mau mandato: as (supostas) escutas de S. Bento a Belém, o Estatuto dos Açores, o casamento gay, o apoio velado a Ferreira Leite nas últimas eleições legislativas, a sua recorrente banalidade que o torna parcial no desempenho do cargo de PR cuja Constituição jurou defender. Eis o registo do sr. PR em funções. Sempre que intervém oferece aos portugueses uma tonelada de lugares-comuns: esperança, os portugueses têm que motivar-se e ir em frente, apoiar o empreendedorismo e toda um discurso de inovação que, na prática, são meras narrativas justificatórias dum poder gasto, talvez ainda mais gasto do que o do próprio governo, por natura exposto a um maior desgaste.

Naturalmente que os portugueses reconhecem em Cavaco um maior perfil para exercer o cargo de PR, comparado com Alegre ou Nobre, mas esse perfil, em rigor é até mais ajustado à figura do PM do que própriamente à figura do PR - que Cavaco não tem sabido exercitar. Esta banalidade pode conduzir à saturação do eleitorado e levar a uma dinâmica de querer subverter a rotina colocando no poder um candidato extra-sistema, como é Fernando Nobre. Uma pessoa que nada deve à política, ou melhor é uma pessoa credora da política que temos a avaliar pela obra social que tem feito pelo mundo. Crucial é saber canalizar essas energias e experiências para um papel em Belém.

Certo e sabido que os portugueses não querem a poesia de M. Alegre e duvido que queiram mais banalidade de Cavaco - que representa hoje o maior reservatório de lugares-comuns que os portugueses jamais ouviram. De nada valendo os altos conhecimentos de economia & finanças de Cavaco, pois nada se aproveita em prol do crescimento e desenvolvimento da economia nacional. Ou então é o governo que anda distraído por não ter sabido integrar as receitas miraculosas de cavaco no tecido conjuntivo nacional.

Admito, por outro lado, que uma candidatura da direita, porventura de Freitas do Amaral - que já veio minar o terreno ao portista Bagão Felix manifestando o seu apoio a Cavaco, pudesse reposicionar o xadrez sociológico da direita, mas a maior tristeza que hoje identifico nas actuais eleições presidenciais - que agora começam com quase um ano de antecedência, e o maior responsável por este gasto superfluo para a democracia portuguesa, é o poeta Alegre e todo o seu imenso ego, sejam as banalidades das ideias, das propostas, dos temas e do nível das discussões levados ao debate.

Com o devido respeito pelas pessoas envolvidas nesse processo político, basta ouvir 5 minutos Cavaco ou Alegre para perceber a pobreza das elites políticas portuguesas neste 1º quartel do séc. XXI. Cavaco diz que fala verdade e que remete o país para o site da PR, poir é aí que reside a "verdade"; o poeta Alegre acha que ele próprio representa a encarnação da verdade; Nobre, malgré tout, ainda é aquele que tem um currículo pré-político mais valioso, é mais cosmopolita, coerente entre o que diz e o que pratica, tudo razões para supor que o povo português começará a olhar para ele com um Obama lusitano de seringa e auscultador na mão a fim de repor alguma saúde ao sistema político nacional.
Ainda que assim não seja, pelo menos o risco de debitar banalidades será, certamente, menor, o que já será um activo neste tempo tríbulo em que vivemos.

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Janita Salomé - Redondo Vocábulo e Gene Loves Jezebel - Sweet Sweet Rain (w. lyrics)

Gene Loves Jezebel - Sweet Sweet Rain (w. lyrics)

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domingo

Manuel Tito de Morais: uma referência bem lembrada

Nota prévia:
Ver o interessante trabalho feito no Barbearia do senhor Luís - um espaço cultural que está de parabéns por evocar as escassas referências públicas que o país, apesar de tudo, ainda tem. Pensar 2 minutos neste homem e no seu exemplo de vida significa construir um Portugal melhor, ainda que possa levar uma ou duas gerações, mas valerá a pena.
Sinopse Documentário
Manuel Tito de Morais – Antes Quebrar que Torcer
Exílio. Prisão. Perseguição. Clandestinidade. Tortura. Conspiração. Luta. Privação. Sacrifício. Conquista. Construção. Renúncia. Convicção. Manuel Tito de Morais – 1910-1999
Irene Flunser Pimentel, Mário Soares, António Guterres, Almeida Santos, Jaime Gama, Manuel Alegre, António Capucho, Carlos Brito, Adriano Moreira, Pedro Pezarat Correia, Adelino Tito de Morais, António Reis, Carolina Tito de Morais, Luís Novaes Tito, Luisa Tito de Morais, M. Conceição Tito de Morais Pires, Pedro Tito de Morais e Teresa Tito de Morais Mendes, testemunham sobre Manuel Tito de Morais e sobre uma época de quase meio século de ditadura e a sua transição para a Democracia. “Antes Quebrar que Torcer”, um documentário biográfico sobre o político Manuel Tito de Morais.
Manuel Tito de Morais deu os primeiros passos no rescaldo da implantação da República em 1910, um momento histórico para o qual o seu pai muito contribuiu, ao bombardear o Palácio das Necessidades e provocar a fuga da família real. E a verdade é que os valores que nortearam a implantação da República – liberdade, igualdade, fraternidade – serviram de inspiração à longa vida de Tito de Morais.
Desde muito jovem que se manifestou contra a ditadura, sendo desde logo uma voz dissonante e contra a corrente. Por isso foi perseguido, preso, torturado. Teve dois casamentos e oito filhos e a sua família sofreu também o preço dos seus ideais. Viveu em Angola, onde conheceu o lado mais violento do regime. Seguiram-se os exílios no Brasil, em Argel e em Itália. Foi alvo de uma tentativa de emboscada que lhe poderia ter custado a vida. Liderou importantes movimentos de oposição ao regime a partir do exterior. E sem nunca desistir, conseguiu impor a sua visão: criar um Partido Socialista. “Ele já era do Partido Socialista antes do Partido Socialista o ser”, diz Manuel Alegre.
A liberdade por que tanto lutou chegou finalmente quando tinha 64 anos. Regressou do exílio no célebre “comboio da liberdade” com os seus companheiros de luta Mário Soares e Ramos da Costa. Quando parecia que já não havia mais nada para fazer, arregaçou as mangas e dedicou-se à organização do Partido na legalidade. Vieram as conquistas da democracia e da liberdade mas também as divergências. Foi Secretário de Estado e Presidente da Assembleia da República mas nunca se deixou corromper pelo deslumbre do poder. Renunciou a deputado quando a orientação do Partido não era que ele defendia e manifestou-se contra as coligações no governo. “Sem ele, a história recente da Democracia não teria sido a mesma” diz António Guterres. Intransigente e teimoso, diz quem o conheceu que Manuel Tito de Morais era de antes quebrar que torcer. (...)

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sábado

Fernando Nobre culpa Cavaco pela crise

Presidenciais Fernando Nobre lamentou ontem que "os dotes de economista" de Cavaco Silva "não tenham servido a Portugal" para evitar a crise económica.dn
Em declarações à Lusa, o candidato independente ao Palácio de Belém acusou o actual Presidente mas também Manuel Alegre, seu rival, de se "eximirem" às responsabilidades na situação do País.
"Tanto o Presidente da República, que a meu ver já está em campanha, como o candidato apoiado pelo BE e pelo PS [Manuel Alegre] não se podem eximir das suas responsabilidades", disse.
"Um era Presidente da República desta há quatro anos e meio e o outro era deputado na Assembleia da República. Por isso, eles melhor do que nós, deveriam saber há já alguns anos para que situação Portugal estava a evoluir".
Nobre reagiu assim ao discurso de Cavaco, quinta-feira, durante o V Roteiro para a Juventude. Repetindo a mensagem do 10 de Junho, o Presidente considerou que o País vive uma situação económica "insustentável".
Numa crítica ao rumo político do Governo Sócrates, que justificou a austeridade com o argumento de que "o mundo mudou numa semana", Cavaco afirmou que bastava terem sido considerados o desequilíbrio das contas externas, a dimensão da dívida externa e o pagamento ao exterior dos juros da dívida, para se concluir que chegaria o dia me que os mercados internacionais "exprimiriam dúvidas" quanto à capacidade de Portugal "para cumprir os compromissos assumidos".
Nobre viu "as declarações como tardias" e equiparou-as a "pura retórica". O candidato independente lamento ainda que Cavaco não seja mais interventivo.
Obs: Infelizmente, Nobre tem rapaz ao reconhecer a incompetência congénita de dois actores políticos há décadas no poder em Portugal sem resultados visíveis à vista. Até dá vontade de abrir as portas do poder ao médico da AMI e pô-lo à prova. Tenho para mim que só com grande azar Nobre se comportaria como Alegre e Cavaco. Não sendo político de carreira, Nobre é, será capaz de fazer melhor, o que também não seria difícil atendendo às comparações.

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sexta-feira

Chico Buarque e Alcione

Chico Buarque - Construção

Alcione - Gostoso veneno

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Queixas - por António Vitorino -

Como deixámos claro nestas páginas no início da crise financeira global, o facto de a resposta da comunidade internacional ter colocado o chamado G20 na primeira linha das atenções é, em si mesmo, um facto positivo.dn
Desde logo porque assinala o fim dos tempos em que o Mundo era visto, a partir do Ocidente desenvolvido, como um condomínio dos sete países mais ricos, alargado, sobretudo, por razões geostratégicas, à Rússia.
Em segundo lugar porque, quer gostemos quer não, o impacto de longo prazo da crise traduz-se numa deslocação do centro de gravidade do mundo para oriente, onde pontifica a posição da Índia e da China. Ora, se as instâncias internacionais acompanham o sentido das dinâmicas económicas, isso só pode significar a relevância de um diálogo multilateral mais inclusivo.
A União Europeia pode e deve ser creditada por um impulso decisivo na afirmação desta plataforma mais ampla e inclusiva.
Mas, como também então dissemos, sendo um avanço, o G20 não representa um mundo globalizado nas suas diferentes dimensões de desenvolvimento. Para além das economias desenvolvidas e das economias emergentes de sucesso, há mais mundo cuja voz tem de ser ouvida e que hoje não dispõe de nenhuma plataforma para o efeito. Basta pensar que do extenso (e decisivo) continente africano, no G20, apenas está representada a África do Sul...
Daí decorrem dois corolários.
Por um lado, a liderança do G20 não dispensa a necessidade de encontrar pontos de ligação com outras organizações internacionais, de âmbito sectorial e/ou regional, que se mostrem disponíveis para tal. Voltando ao exemplo africano, e recordando o que foi proposto por Portugal na Cimeira UE/África, importa trazer a este debate a União Africana e as organizações económicas regionais (com especial destaque para a SADC que congrega países da África austral). O que significa que, na estratégia europeia para o G20, esta diplomacia da persuasão com outros parceiros que não estão à mesa reveste-se de grande importância, não só para a formulação de propostas, mas também para alavancar as posições europeias, na medida em que elas correspondam a interesses mais globais.
Mas esta lógica tem um segundo corolário, que também havíamos aqui assinalado na mesma ocasião. Por muito que a crise financeira atormente o mundo desenvolvido, e a Europa em particular, uma visão inclusiva tem de ser alargada a outros temas da agenda internacional, designadamente aqueles que mais preocupam os demais parceiros do G20 e, para além deles, a generalidade dos países em vias de desenvolvimento.
Neste aspecto, foi importante que o Conselho Europeu da semana passada tenha reafirmado o seu compromisso para com os Objectivos do Milénio para 2015, num momento em que se avolumam os sinais de retracção nas transferências a título de ajuda ao desenvolvimento.
Mas, para que os europeus sejam levados a sério, é igualmente preciso que não deixem de fora deste esforço de compromisso as negociações sobre o comércio internacional, em especial com o Brasil e os países do Mercosul...
Por isso, quando neste final de semana, em Toronto, os europeus presentes na reunião do G20 se queixarem do previsível insucesso das suas (justas) propostas sobre uma taxa aplicável às instituições financeiras e sobre as transacções financeiras globais, talvez convenha perguntarem-se se terão mesmo feito tudo o que estava ao seu alcance para não terem de se queixar "dos outros"...
Obs: António Vitorino chama a atenção para o Continente africano, esse espaço esquecido, o problema é que actualmente os negros da Europa ocidental inscrevem-se precisamente nesse espaço geocultural e económico. É a vingança das nações e da história ante uma UE sem rumo, poder e influência.

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Manuel Alegre: há nervosismo e crispação nas últimas intervenções de Cavaco

O candidato presidencial Manuel Alegre afirmou hoje que as mais recentes intervenções públicas do chefe de Estado, Cavaco Silva, demonstram de forma inequívoca “nervosismo” e crispação” com a aproximação das eleições em 2011.
PúblicoHá uma maneira serena de se falar e uma maneira crispada. Acho que [o Presidente da República] falou de uma maneira muito crispada nas comemorações do 10 de Junho”, que deve ser um dia de unidade nacional, declarou Manuel Alegre, numa conferência de imprensa em que apresentou os mandatários distritais da sua candidatura presidencial. [...]
Obs: Houve um tempo em que Manuela Ferreira leite desafiava recorrentemente Sócrates a dançar o tango político com ela, e Sócrates fingia que não a ouvia nem via, desvalorizando-a, não lhe dando importância. Foi assim que Sócrates "secou" a idosa que durante quase dois anos definhou o PSD e quase levou à loucura, dada a sua inépcia, os militantes que a detestavam.
Paralelamente, o ideário pobrezinho, paupérrimo de Alegre é andar com uma caçadeira e com um pau retóricos na mão tentando espicaçar a "raposa" Cavaco que persiste em não lhe passar cartão, e assim o poeta Alegre entra em registo de monólogo, de resto é o que lhe fica bem. Naquele seu discurso redondo, banal, revelando uma gritante ausência de ideias alternativas a Cavaco para presidir aos destinos de Portugal a partir de 2001.
Chega mesmo a ser confrangedor ver Alegre recorrer a truques meramente de estilo para obrigar Cavaco a sair da toca e dar-lhe algum palco, coisa que Cavaco não faz - secando o poeta até à exaustão, tal como Sócrates fez a Ferreira Leite quando esta queria palco por via de interacção com o PM.
Acresce que a imagem de Cavaco é, desde que é conhecida da esfera pública, um ser crispado, quem sabe até para esconder a sua própria insegurança. Mas Alegre acha que acusar Cavaco de "crispado" e de "nervoso" está, por um lado, a ser o médico original que gostaria de ser e, por outro, a revelar o esplendor do seu ideário para Belém caso seja eleito PR. Pobre estratégia. Na forma é pobre, na substância não existe. Nem sequer chega a ser um vácuo poético.
Ora, o país e os portugueses estão carecas de saber que Cavaco sempre foi crispado e, por via disso, descobrem agora que o projecto do poeta para Portugal é andar atrás de cavaco pedindo-lhe que ele entre em interacção consigo. É curto.
Qualquer dia ainda veremos o poeta ajoelhado na Praça do Marquês de Pombal rezando ao leão e reclamando aos deuses para que estes o ajudem a consumar o seu supremo objectivo: obter uma entrevista com Cavaco, a qual sirva de rampa de lançamento para o elevar a Belém, pois até agora o poeta conta com dois apoios contranatura, Louça e António costa, o qual desejou "partir a espinha" ao BE, conforme defendeu num Congresso do PS.
Talvez seja por esta decadência que os portugueses vão em massa surpreender os partidos, as soi-disant elites e apoiar massivamente o tal médico sem fronteiras da AMI que andou pelo mundo apagando fogos e salvando vidas que outros atearam.
Na prática, no momento do voto os portugueses perguntar-se-ão: valerá a pena votar num mau PR (cavaco), num poeta cujo objectivo é interagir com o mau presidente ou, como alternativa, colocar o médico nacional mais cosmopolita no cadeirão de Belém...
A resposta começa a parecer óbvia.

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quinta-feira

Número de milionários aumenta em Portugal em ano de crise

Número de milionários aumenta em Portugal em ano de crise, tsf
Segundo a Cap Gemini e a Merrill Lynch, o número de milionários cresceu 5,5 por cento num ano, uma tendência seguida em todo o mundo.
O número de milionários aumentou em Portugal, que seguiu a tendência mundial, mesmo em ano de crise e recessão, revela um estudo mundial feito todos os anos realizado pela Cap Gemini e pela Merrill Lynch e relativo a 2009.
De acordo com este estudo, há 11 mil pessoas com uma fortuna acima de um milhão de dólares, ou seja mais de 800 mil euros, mais 5,5 por cento que em 2008, ano em que foram contabilizadas menos de 10500 fortunas desta dimensão.
A subida da Bolsa de Lisboa, que ganhou 33,5 por cento num ano, o aumento dos preços do imobiliário e a forte descida das taxas de juro são alguns dos factores que contribuíram para o aumento dos milionários em Portugal.
Dos 10 milhões de fortunas acima de um milhão de dólares, três milhões encontram-se nos EUA, país que tem o mais número de milionários.
Para as duas consultoras responsáveis por este estudo, um milionário tem de ter activos líquidos no valor de um milhão de dólares, que não pode incluir a residência principal e os bens consumíveis.
Obs: Aceitam-se donativos para este site. Prometemos que não vamos estoirar a massa em Ferraris.

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O Maior Milagre é a Vida Quotidiana. Evocação de Alain (pseud.)

O Maior Milagre é a Vida Quotidiana

Se eu procurasse algum milagre no mundo, não seriam os acontecimentos extraordinários que eu chamaria de milagres, mas bem mais o curso normal das estações e a forma invariável das constelações. Se algo pudesse provar que há um deus, seria a ordem e não a desordem, e o retorno constante dos dias e das estações, mais do que o espectáculo de um homem caminhando sobre o mar.

Alain, in Considerações II

Os deuses são as nossas metáforas, e as nossas metáforas são os nossos pensamentos.

Considerações II

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quarta-feira

Músicas do outro mundo

Triangle sun - Beautiful Official Music Video

Bebel Gilberto - Aganju

Keane - Nothing In My Way

Simply Red - Sunrise

  • Quando o governo não souber o que dar ao povo, não lhe dê scuts taxadas, é preferível dar-lhe música!!!

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Dinner for one, vostfr, très drôle !!

Uma representação que o nosso saudoso Raúl Solnado faria (também) na perfeição.

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José Policarpo - esmaga Cavaco Silva, e com razão

José Policarpo - Só a si o deve
"Para nosso infortúnio, pelo menos para o meu, a morte do escritor e prémio Nobel José Saramago veio trazer a lume mais uma vez as fragilidades e inabilidades politicas do actual presidente da república, prof. Cavaco e Silva.
Não é a primeira vez que o país fica perplexo, não todos, é certo, mas muitos portugueses ficaram, com as tomadas de decisão do PR. Para reavivar a memória colectiva, porque há quem diga que a nossa, em particular, é fraca. A primeira vez, aquando da alteração legislativa do estatutos dos Açores, fez parar o país, está a fazer quase um ano, com aquela enigmática declaração feita aos portugueses. A segunda vez, fora a forma como geriu o silêncio ensurdecedor sobre a alegada vigilância ao palácio de Belém, feita por um órgão do policia criminal a mando do Governo. A última, fora a justificação mirabolante que arranjou para não vetar politicamente a Lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Na verdade, não escrevo esta crónica para fazer a defesa dos méritos ou deméritos do Nobel da literatura. O meu conhecimento sobre literatura não me permite fazer nenhum tipo de juízo. Porém, do pouco que li do escritor, gostei.
Agora não posso deixar de reconhecer que, o contributo dado pelo José Saramago, à cultura e, em particular à literatura portuguesa, é inestimável e inquestionável.
Pelas razões aqui aduzidas, qualquer cidadão constituído de bom senso concluirá que o escritor José Saramago é uma personalidade portuguesa incontornável e devemos estar todos reconhecidos pelo contributo dado por ele na projecção da nossa cultura no mundo inteiro.
Por isso, sem tibiezas e eufemismos baratos, o Presidente da República Portuguesa, por força de imperativo constitucional, é o máximo representante da nação. Mais, jurou a constituição aquando da sua posse. Por isso, era seu dever, como presidente da república, ter estado no funeral do Nobel José Saramago. Não esteve.
Resta-me perguntar por que é não esteve. Se foram razões pessoais que motivaram a sua ausência, não pode ser chefe de Estado. Se outras houve, ficámos sem as perceber. Temo, por isso, que o actual chefe de Estado irá ser o primeiro a não ser reeleito. Se isso suceder, só a si o deve".
Obs: Este é o mais violento e "fundamentado" ataque ao PR oriundo duma autoridade da igreja católica em Portugal. D. José Policarpo escreveu este artigo para reiterar algumas coisas:
1. Afirmar que gostou da obra de Saramago, poderia tê-lo feito em vida, agora é tarde e cheira a bafio apenas para justificar o seu violentíssimo ataque a Cavaco, daí as aspas;
2. Chamar Cavaco de irresponsável por ter jurado a Constituição e não a cumprir, e não o fazer a igreja de Policarpo chama, na prática, Cavaco de mentiroso, e com razão;
3. Acha que cavaco é politicamente incompetente e, por essa razão, não deve ser reeleito: o casamento gay, o estatuto dos Açores e as falsas escutas do Governo a Belém, protagonizadas pelo amanuense de serviço, Fernando lima, justificam plenamente a derrota que D. José Policarpo defende para Cavaco nas próximas eleições presidenciais.
A minha questão dirigida a Sua eminência é, então, votar em quem?
Parece que Alegre, o candidato de Louçã e de António costa, apoiantes contranatura, também não é uma alternativa credível.
Sobra Fernando Nobre.
Ao menos o médico ainda ajuda a salvar vidas, ao invés de Cavaco e de Alegre - que só nos tiram anos de vida.

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Leis da economia: loucura e irracionalidade

É uma lei básica da economia que quando o dinheiro a circular no sistema financeiro é escasso o seu acesso se torna difícil e caro. É assim na generalidade dos bens, produtos e serviços, o que confirma a regra da raridade dos bens tornando-os, por isso, caros ou de difícil acesso, disfuncionando a economia. Durante anos esta lei da escassez esteve muito centrada nos metais preciosos, com as guerras direccionou-se para os bens de primeira necessidade e, numa conjuntura de paz mas de grande crise económica, essa lei aplica-se aos materiais culturais.
Tomemos aqui o exemplo das obras do Nobel José Saramago que viram as suas vendas disparar cerca de 10 vezes após a sua morte, segundo as cadeias que operam em Portugal e Espanha. Esgotados os stocks há que voltar a produzir para repor o produto no mercado. Esta procura intensifica-se se o produto procurado tiver origem em alguém polémico, que granjeou notoriedade planetária, podendo tornar-se mesmo doentio quando está em causa um certo culto da personalidade. E daqui não procede nenhuma crítica, mas uma constatação duma lei socioeconómica que regula o funcionamento dos mercados.
Um outro exemplo acerca dum bem mais precioso: a água. A sua rarefação é actualmente um problema para o mundo, já que a quantidade de água doce que temos hoje é a mesma de há 200 milhões anos, situação que se agrava se pensarmos que a população mundial aumentou exponencialmente e os danos que a indústria - pela mão do homem - lhe inflinge é de monta, daí a necessária reflexão sobre a raridade da água para usos humanos em condições técnicas e económicas aceitáveis, sob pena de qualquer dia pagarmos por esse precioso bem um preço proibitivo. E o mesmo se diga do O2 que respiramos e das condições globais do ambiente que garante a sustentabilidade do nosso planeta. Ainda assim, e exceptuando os agentes políticos/decisores, os activistas dos movimentos sociais e algumas elites mais esclarecidas e com profundas preocupações ambientais, as populações pouco reflectem sobre essa premência. Porém, sem água vamos todos morrer à praia...
Certamente que o aumento da procura de certos bens e serviços deriva do gosto que as pessoas têm pelos seus autores, seja literatura, arte, cinema, música ou qualquer outra expressão artística. O caso dos leitores do nóbel não escapa a essa regra, mas não deixa de ser interessante reflectir por que razão este fenómeno da lei da raridade de certos bens não funciona nuns casos e funciona noutros.
Não querendo ser injusto, creio haver outros autores que escrevem admiravelmente mas que não viram a confirmação dessa lei económica nos seus livros quando partiram. O que demonstra, mais uma vez, que os mercados - feitos de pessoas - são altamente irracionais e, em inúmeros casos, são motivos de ordem psico-emocional que impele as pessoas para a compra.

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Um mundo sem notícias interessantes

Cada vez mais as notícias veiculadas avolumam a desgraça das sociedades, da sociedade à cultura passando pela economia e finanças, deprimindo mais do que injectando esperança nas comunidades. Os indicadores socioeconómicos são reveladores. Como o método é recorrente ainda não percebi se tal decorre da viciação das redações de informação ou se são mesmo os factos que não prestam. Talvez seja altura de inventar novos factos na esperança de que o método se altere e as notícias assumam outra textura. Enfim, uma pista tão simples quanto comezinha para reinventar o mundo decadente em que vivemos, que só parece agarrar-se à esperança da selecção. Também isto serve para esconder a falta de assunto deste mundinho-maneta. Descobrir petróleo em Sta Apolónia seria, seguramente, uma boa notícia para a economia nacional e causaria grande surpresa nacional, que é coisa que estamos necessitados.

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Norte “revolta-se” contr as SCUT

Norte “revolta-se” contr as SCUT, JN
No dia de mais um buzinão contra as portagens nas SCUT – agora reforçado com vuvuzelas – as palavras de Rui Rio continuaram a ecoar, com expressões de apoio e outras de repúdio, quando disse que as pessoas do Norte estão “à beira de se poderem revoltar”.
Enquanto Luís Filipe Meneses, presidente social-democrata da Câmara de Gaia, rejeitava o cenário de revolta popular nortenha invocado por Rui Rio, dizendo que "o tempo da Maria da Fonte já lá vai há muito", o bispo do Porto, Manuel Clemente, assumiu que se deveria olhar com "redobrada atenção" a advertência deixada na véspera pelo presidente da Junta Metropolitana do Porto: "Uma pessoa com a responsabilidade e com a inteligência do dr. Rui Rio não fazia uma afirmação dessas de ânimo leve". [...]
Obs: O Norte está é mal habituado, os automoblistas que fazem a sua vida na grande Lisboa passam a vida a pagar portagens num país tributeiro, useiro e vezeiro nos impostos. Só falta o engº Belmiro juntar-se ao coro de protesto dinamizado por Rui Rio e ampliado pelas gentes do Norte que, em rigor, sentem este agravamento como mais um esbulho regional, especialmente em período de crise económica continuada.
Pergunte-se a Belmiro quando é que aparece numa rotunda do Norte soprando numa Vuvuzela...ou "Vuduzela", segundo essa pérola que é Jorge Lacão.

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Portugueses consideram que pobreza aumentou no último ano

Portugueses consideram que pobreza aumentou no último ano, tsf
Segundo os dados do Eurobarómetro, a maioria dos portugueses considera que a pobreza no país aumentou no último ano. Portugal surge atrás da Grécia e da Letónia. A correspondente da TSF em Bruxelas, Célia Marques Azevedo apresenta os dados da sondagem do Eurobarómetro divulgada esta terça-feira em Bruxelas.
Mais de 90 por cento dos portugueses tem a percepção de que a pobreza aumentou em Portugal nos últimos 12 meses, segundo uma sondagem Eurobarómetro divulgada, esta terça-feira, em Bruxelas.
Estes números só são superiores na Grécia, onde 94 por cento dos inquiridos considera que a pobreza aumentou nos últimos 12 meses.
A média dos 27 estados-membros da União Europeia (EU) é de 73 por cento, com 38 por cento a considerarem que a pobreza aumentou muito e 37 por cento a dizerem que cresceu ligeiramente.
Questionados sobre se o orçamento doméstico é suficiente para pagar as despesas correntes, como as alimentares, 82 por cento dos portugueses responderam afirmativamente, sendo a média da UE de 83 por cento.
No entanto, quando o questionário acrescenta o pagamento de dívidas assumidas, 39 por cento dos portugueses reconhecem ser «uma luta constante», 32 por cento dizem ter «por vezes» dificuldades, 22 por cento respondem não ter quaisquer problemas com pagamento de contas e sete por cento admitem deixar dívidas por pagar. A média europeia é de, respectivamente, 15, 34, 46 e 5 por cento.
A sondagem mostra que um em cada seis europeus declara ter constantemente dificuldade para pagar as despesas correntes e três quartos consideram que a pobreza aumentou no seu país no último ano.
Este inquérito surge quando já decorreu a primeira metade do Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social e após o compromisso assumido no passado dia 17, pelos dirigentes da UE, de retirar 20 milhões de europeus da pobreza e da exclusão social na próxima década.
Em Portugal foram questionadas 1005 pessoas, 695 através de telefone fixo e 310 via telemóvel. As entrevistas foram feitas pela Consulmark, entre 18 e 22 de Maio.
Obs: Lamente-se. Só o crescimento económico pode ajudar a inverter esta tendência, o que passa também pela organização nos métodos de trabalho nas organizações.

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terça-feira

Moby e Isaac Hayes

Moby - Pale Horses

Moby - Extreme Ways (the bourne identity version)

moby

Isaac Hayes - Shaft - live 1973

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Paraísos cercanos

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segunda-feira

Mochilas eficientes

A marca Voltaic criou um modelo de mochilas solares que permitem fazer o carregamento de dispositivos portáteis.
Os painéis solares estão embutidos na mochila e são constituídos por células monocristalinas de alta eficiência. Existem modelos desta mochila que após 1 hora de exposição ao sol permite 3 horas de utilização por exemplo de um iPod.
Naturalmente uma poupança de energia!

Obs: Uma ideia tão simples quanto genial.

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Só com a regionalização se resolve o problema do transporte público - Entrevista Mário Alves

Só com a regionalização se resolve o problema do transporte público

Entrevista Mário Alves

O transporte urbano deve passar para a tutela de autarquias regionais, supramunicipais, defende este especialista. De outro modo, continuaremos a ter uma oferta desarticulada e que dá prejuízos por causa de décadas de "navegação à vista".Por Inês Boaventura Engenheiro civil pelo Instituto Superior Técnico e mestre pelo Imperial College London, o consultor de transportes e gestão da mobilidade diz que "este é um problema político com soluções políticas". E acusa técnicos e eleitos de tentarem apagar o "fogo" do trânsito com gasolina.

É uma fatalidade termos empresas públicas de transporte em falência técnica como acontece em Lisboa e no Porto?

Não. Apesar de o transporte público em todas as cidades do mundo geralmente precisar de compensação financeira do Estado, esta situação não é habitual em países da Comunidade Europeia. Mas não pode haver ilusões, os transportes públicos têm de ser ajudados porque, aliás, trazem grandes benefícios sociais, muitos não directamente quantificáveis.

Então em que é que Portugal está a falhar?

São décadas de falta planeamento estratégico de longo prazo, de definição exacta do que se pretende com o Serviço Público de Transportes. Faltam autarquias regionais que definam estratégias coerentes de transporte e mobilidade a nível metropolitano - a autarquia metropolitana de Madrid tem feito um trabalho notável a este nível. Existe muita navegação à vista e nada articulada entre operadores, com competição entre modos de transporte que deviam trabalhar em complementaridade. Assim como muita falta de coragem política para restringir o uso do automóvel.

As autoridades metropolitanas de transportes podem contribuir para mudar essa realidade?

Estas autoridades terão muita dificuldade em fazer alterações de fundo no sistema, pois não têm um mandato político claro.

Então essas alterações estão nas mãos de quem?

Só serão conseguidas com autoridades de transportes sob tutela de autarquias regionais. É urgente para as áreas metropolitanas relançar o debate da regionalização. A mobilidade é um problema político com soluções políticas.

E seriam essas autarquias a financiar o sistema e a ter a tutela das empresas de transportes?

Sim, esse seria um modelo possível e até recomendável. Tem de haver articulação metropolitana entre os vários modos de transportes, assim como políticas de ordenamento do território coerentes e não-competitivas. Mas que não haja ilusões: neste momento o transporte individual é subsidiado, de forma directa e indirectamente, não pagando os custos sociais que provoca à sociedade - congestionamento, poluição atmosférica, acidentes rodoviários, emissões de gases, etc. Neste contexto estamos numa economia do tipo Disneylândia, onde uma parte substancial do transporte não está a pagar o seu verdadeiro custo.

Como é que se acaba com isso?

Não é um problema técnico, mas é obviamente um problema político enorme. Temos de começar a incluir a chamada Conta Pública da Mobilidade nos planos de deslocação dos municípios - isto é, informar as pessoas, decisores e políticos de quais são os verdadeiros custos de cada um dos modos de transportes. Decidir sem fazer contas sobre o futuro só pode levar à bancarrota.

Como é que se dificulta a "vida" do transporte individual nas cidades para tornar mais apetecíveis os transportes públicos e os modos suaves de mobilidade?

Existem muitas formas de o fazer. O estacionamento deve ser gerido com rigor e de forma a aceitar que todas as cidades têm limites de capacidade. O espaço público é um bem muito escasso e o automóvel é uma das máquinas mais ineficientes e mortíferas jamais inventadas. Um espaço público confortável, livre de obstáculos, com árvores e bancos para descansarmos e seguro, é condição essencial para que o sistema de mobilidade da cidade funcione com eficácia - os peões são a argamassa de um sistema de transportes públicos eficaz e economicamente saudável. Preparar a cidade para pessoas com mobilidade reduzida faz com que a cidade fique melhor e mais confortável para todos. Infelizmente não se conseguirá equilibrar um sistema com graves problemas agradando a todos.

As cidades portuguesas têm estado desatentas em relação à mobilidade pedonal?

Muitos equipamentos do Estado seguem modelos modernistas: grandes superfícies fora das áreas urbanas - temos campos universitários ou hospitais aos quais é praticamente impossível chegar a pé, e estão sempre rodeados de grandes áreas de estacionamento. Temos também grandes superfícies comerciais com milhares de lugares de estacionamento e rodeados de anéis de auto-estrada e vias rápidas. Para agravar a situação continua a persistir a ideia entre muitos técnicos e políticos que é possível resolver os problemas de congestionamento com mais capacidade da rede viária ou mais estacionamento. Isto são formas de apagar um fogo usando gasolina. Mas começam a existir bons exemplos.

Onde?

Almada, com um plano de mobilidade pioneiro em Portugal, tem agora um centro bem servido por um metro de superfície, com passeios largos e áreas de fruição pedonal. O Porto, com as intervenções no espaço público para a capital europeia da cultura, conseguiu alguns espaços de grande qualidade, assim como foi assimilando que a forma mais eficaz de reconquista do espaço público é a construção do metro à superfície. Portimão também tem tido uma intervenção muito consistente no que diz respeito a medidas de acalmia de tráfego e segurança para os peões.

Não tem sido devidamente acautelado o impacto dessas opções urbanísticas no domínio da mobilidade?

De forma alguma. É uma responsabilidade política que passou a ser considerada uma responsabilidade individual. Quem compra mais metros quadrados sem acesso a transportes públicos considera-se simplesmente que está a exercer a sua liberdade individual de consumidor. Os impactos e consequências deixaram de ser preocupação do Estado a não ser quando as consequências chegam aos anuários estatísticos. Da mesma forma, as autarquias e o Estado negoceiam a localização de grandes superfícies comerciais com milhares de lugares de estacionamento e cujo único acesso realista é o automóvel. Este tipo de opções não só exacerba a dependência das famílias ao consumo do automóvel como esvazia os centros urbanos de actividades económicas e emprego.

No futuro como serão feitas as deslocações nas cidades?

Muito dependerá do preço da energia e do horizonte temporal a que nos estamos a referir. É quase certo que nos próximos anos a escassez de combustíveis fosseis leve a que seja cada vez mais caro o uso de veículos tradicionais. Se este factor é mais complexo de ultrapassar no transporte interurbano de mercadorias, nas cidades o uso do transporte individual poderá ser mais facilmente substituído por modos de transporte mais económicos - nem que seja só em parte da viagem. Políticas de controlo de acesso e restrição ao estacionamento em zonas mais compactas levarão, principalmente em zonas históricas, ao uso do car-sharing (partilha de carros). Esta é a única forma possível de a maior parte dos habitantes de zonas históricas terem acesso a um automóvel de vez em quando. Mas para que este tipo de serviço floresça, terá de haver políticas corajosas de limpeza e requalificação do espaço público: as ruas das zonas históricas não poderão continuar a albergar o mesmo número de carros de hoje. Em nenhuma zona histórica europeia é possível garantir um lugar de estacionamento por fogo e não é por isso que deixam de ser zonas apetecíveis e disputadas por certos grupos sociológicos.

Obs: Eficientes e sustentáveis reflexões aqui nos deixa Mário Alves, um expert em Transportes que já tinha saudades de ler, confesso. E mais do que um problema técnico, a questão deverá inscrever-se no plano político através da Regionalização - essa "coisa" estranha muitas vezes falada mas pouco operacionalizada, em parte por falta de coragem dos políticos no activo, receando perderem poderes, privilégios, mordomias e estatuto, nem que, para o efeito, se continue a adiar o eficiente planeamento urbano - mormente em matéria de política de transportes - à custa duma política de mobilidade amadora, porque errática e casuística e fortemente anti-ambiental. Mário Alves é lúcido e tem razão, descurar os valores que sugere é adiar um velho problema na gestão das grandes cidades.

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Portugal cilindrou a ditadura Norte coreana

Meireles abriu o marcador aos 29 minutos (Foto: Reuters)

Raul Meireles abriu o marcador aos 29', já depois de Ricardo Carvalho ter rematado ao poste, logo aos sete. Mas a goleada da selecção portuguesa só tomou forma após o intervalo, com golos de Simão (53'), Hugo Almeida (56'), Tiago (59' e 88'), Liedson (81') e Cristiano Ronaldo (87').

Cristiano Ronaldo, que não marcava há 16 meses pela selecção nacional e foi considerado hoje pela FIFA o "homem do jogo", ainda teve tempo para, aos 71', rematar à barra da baliza de Ri Myong-Guk - no primeiro jogo, frente à Costa do Marfim (0-0), Ronaldo disparou ao poste, aos 11'.

Esta é a terceira maior goleada da história dos Mundiais de futebol, só inferior à vitória da Hungria sobre El Salvador em 1982 (10-1) e da Alemanha ante a Arábia Saudita, em 2002 (8-0).(...)

Obs: Felicite-se a selecção nacional pelo belo e eficiente futebol praticado.

Como a Coreia do Norte é uma ditadura de tipo monárquico temo bem que o seleccionador nacional e os jogadores sofram severas sevícias quando regressarem a casa, um método típico das ditaduras execráveis em pleno séc. XXI.

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O apoio de Freitas do Amaral a um mau presidente

Não se compreende o apoio de Diogo Freitas do Amaral ao PR em funções, não tanto por ser oriundo da sua área política, o centro-direita, mas, acima de tudo porque Cavaco tem feito um mau mandato, representando mal o Estado e o povo português e, desse modo, ser um fautor de alguma instabilidade política einstitucional quando, precisamente, a sua função é o de ser o garante da estabilidade democrática. Este apoio é ainda menos previsível quando o próprio Freitas se poderia candidatar à Presidência da República secando politicamente cavaco e assumir um projecto político novo para Portugal. As qualidades intelectuais, socioprofissionais e também a vasta experiência política (internacional) de Freitas poderiam ser colocadas ao serviço dessa causa alternativa, mas constatamos que Freitas tem um problema consigo, com a história e com a sua circunstância, razões de monta que talvez expliquem mais esta irracionalidade do melhor administrativista português.
Porquê, Freitas?!

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Câmara Municipal de Lisboa quer proibir painéis publicitários com os quais tem lucrado ilegalmente

Obs: Lamente-se.

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Evocação de Bertrand Russel, o maior filósofo do séc. XX

Porque não sou cristão
A EXISTÊNCIA DE DEUS, Bertrand Russel
Esta questão da existência de Deus é assunto longo e sério e, se eu tentasse tratar do tema de maneira adequada, teria de reter-vos aqui até o advento do Reino dos Céus, de modo que me perdoareis se o abordar de maneira um tanto sumária. Sabeis, certamente, que a Igreja Católica estabeleceu como dogma que a existência de Deus pode ser provada sem ajuda da razão. É esse um dogma um tanto curioso, mas constitui um de seus dogmas. Tiveram de introduzi-lo porque, em certa ocasião, os livre-pensadores adotaram o hábito de dizer que havia tais e tais argumentos que a simples razão poderia levantar contra a existência de Deus, mas eles certamente sabiam, como uma questão de fé, que Deus existia. Tais argumentos e razões foram minuciosamente expostos, e a Igreja Católica achou que devia acabar com aquilo. Estabeleceu, por conseguinte, que a existência de Deus pode ser provada sem ajuda da razão, e seus dirigentes tiveram de estabelecer o que consideravam argumentos capazes de prová-lo. Há, por certo, muitos deles, mas tomarei apenas alguns.
O ARGUMENTO DA CAUSA PRIMEIRA
Blockquote Talvez o mais simples e o mais fácil de compreender-se seja o argumento da Causa Primeira. (Afirma-se que tudo o que vemos neste mundo tem uma causa e que, se retrocedermos cada vez mais na cadeia de tais causas, acabaremos por chegar a uma Causa Primeira, e que a essa Causa Primeira se dá o nome de Deus). Esse argumento, creio eu, não tem muito peso hoje em dia, em primeiro lugar porque causa já não é bem o que costumava ser. Os filósofos e os homens de ciência têm martelado muito a questão de causa, e ela não possui hoje nada que se assemelhe à vitalidade que tinha antes; mas, à parte tal fato, pode-se ver que o argumento de que deve haver uma Causa Primeira é um argumento que não pode ter qualquer validade. Posso dizer que quando era jovem e debatia muito seriamente em meu espírito tais questões, eu, durante longo tempo, aceitei o argumento da Causa Primeira, até que certo dia, aos dezoito anos de idade, li a Autobiografia de John Stuart Mill, lá encontrando a seguinte sentença: “Meu pai ensinou-me que a pergunta ‘Quem me fez?’ não pode ser respondida, já que sugere imediatamente a pergunta imediata: ‘Quem fez Deus?’” Essa simples sentença me mostrou, como ainda hoje penso, a falácia do argumento da Causa Primeira.
Se tudo tem de ter uma causa, então Deus deve ter uma causa. Se pode haver alguma coisa sem uma causa, pode muito bem ser tanto o mundo como Deus, de modo que não pode haver validade alguma em tal argumento. Este, é exatamente da mesma natureza que o ponto de vista hindu, de que o mundo se apoiava sobre um elefante e o elefante sobre uma tartaruga, e quando alguém perguntava: “E a tartaruga?”, o indiano respondia: “Que tal se mudássemos de assunto?”.
O argumento, na verdade, não é melhor do que este. Não há razão pela qual o mundo não pudesse vir a ser sem uma causa; por outro lado, tampouco há qualquer razão pela qual o mesmo não devesse ter sempre existido. Não há razão, de modo algum, para se supor que o mundo teve um começo. A idéia de que as coisas devem ter um começo é devido, realmente, à pobreza de nossa imaginação. Por conseguinte, eu talvez não precise desperdiçar mais tempo com o argumento acerca da Causa Primeira.

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domingo

José Saramago desnudou a personalidade de Cavaco. Não era preciso morrer...

Como cidadão e cultor dos materiais culturais nunca achei Saramago esse valor excepcional que alguns nele reconhecem. Também acho que a falta de vigor na sua literatura ao denunciar os crimes das ditaduras de esquerda, como Cuba e Coreia do Norte, além das diatribes que o ex-director adjunto fez no DN no PREC e o desamor ao país que ele deixou contaminar por causa de um secretário de Estado e de Cavco, então PM, limitaram a dimensão universalista de Saramago.
Aliás, foi, em boa parte, esse facto censório que, perversamente, catapultou Saramago para um patamar de mártir que depois gerou em seu torno uma onda nacional e internacional de compaixão em relação à sua figura e obra, reforçada depois com a partida do escritor para Lanzarote, nas Canárias.
Aparte isso, o escritor, goste-se ou não dele, tinha uma imensa capacidade de trabalho, de inventiva e deixou obra e problematizou alguns dos problemas contemporâneos que afectam o homem, embora equacionasse sempre esses problemas imputando ao capitalismo e aos mercados a raiz do mal quando, consabidamente, os problemas de exploração do homem pelo homem vão muito além das questões materialistas dum marxismo demodé, mas que Saramago, por falta de alguma flexibilidade intelectual e ideológica derivada de insuficiência de cultura sociológica, acabou por revelar.
Mas isso não obstou a que homens como Mário Soares, com quem o escritor tivera desentendimentos, coisa frequente no escritor, não procurasse uma ponte tendente ao estabelecimento do diálogo. Essa correspondência é conhecida e é reveladora da personalidade e do carácter dos homens envolvidos.
Ao invés, as relações do escritor com Cavaco sempre foram mais tensas e ressentidas, o que se prova pela ausência de Cavaco nas cerimónias fúnebres do escritor, revelando quem é verdadeiramente Cavaco. É certo que o escritor disse de Cavaco o que nunca poderia dizer de Soares, mas isso remete para a própria dimensão cultural das pessoas. Cavaco mistura T. Mann com T. Morus, revelou uma ignorância terrível sobre Camões e Os Lusíadas, Cavaco é a prova em vida do desprezo pelas coisas da cultura, um ser paroquial que ocupou o vértice do aparelho de Estado.
Coitado, Cavaco não fazia por mal, mas esse é o registo genuíno da sua formação e do seu background cultural, pois estamos diante um homem com uma formação tecnocrática a quem não se pode pedir um comentário crítico sobre nada na esfera da cultura, seja da literatura, à música passando pelo cinema porque Cavaco é, de facto, uma pessoa sem esse background nem fez um esforço nesse sentido para suprir essa imensa lacuna ao longo dos anos. Soares já teve outra formação mais abrangente, o que lhe permite valorar sobre outros asssuntos sem incorrer nas gaffes monumentais em que Cavaco incorreu ao longo da história das últimas três décadas.
Portanto, a ausência de Cavaco nesta última cerimónia é bem reveladora da sua natureza, alguém que despreza profundamente a cultura, os valores que a coadjuvam e facilitam a sua produção. Nesse sentido, é o povo em massa que está a suprir essa sub-representação do Chefe de Estado ao querer despedir-se do escritor na CML, onde o corpo de encontra. Facto que, naturalmente, também terá uma leitura política que Manuel Alegre saberá aproveitar muito bem. É triste, mas é assim, pois até com a morte das pessoas alguém irá capitalizar.
Soares soube sarar essas feridas com o escritor através do diálogo, e até elogiando dois ou três livros que Saramago tem e são verdadeiramente excepcionais, como O Memorial do Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis, e outros em função dos gostos dos leitores, ao invés, Cavaco - que só debita as banalidades da estatística que os seus assessores lhe facultam, apenas teve "arte e engenho" para ostentar o seu ressentimento e a sua congénita apatia cultural. É triste reconhecer esta comezinha e ultra-conhecida realidade, mas sempre pensei que com os anos Cavaco se revestisse de algum verniz cultural, ajudado por alguns assessores mais bem preparados no domínio da cultura, mas o actual PR tem uma personalidade rígida, sectária, rancorosa e profundamente anti-cultura(l), tudo razões que explicam esta sua lamentável predisposição para desprezar os materiais culturais do nosso tempo que Saramago soube interpretar através da sua literatura.
A comparação entre os homens será inevitável: Saramago, com erros, injustiças ao seu próprio país e algumas limitações, deixará uma obra ao país, que certamente terá seguidores e cultores que a saberão reinterpretar e revalidar; Cavaco deixará ao país algumas estradas, pontes e escolas, mas só possíveis de realizar mediante os fundos comunitários proporcionados pela entrada de Portugal na então CEE - cuja adesão foi assinada pelo punho de Soares, e até nesta coincidência Cavaco revela a sua verdadeira e congénita pequenez de que nunca se conseguiu apartar.
Eis a sua verdadeira condição tristemente posta a nú com a morte do único nóbel da literatura nacional. Mas não era preciso Saramago morrer para todos chegarmos a esta triste conclusão, mas já que aqui chegámos será útil que meditemos todos nela nas próximas eleições presidenciais já em 2011...
Pensemos, por segundos, no processo de transição para a democracia na África do Sul e na grandeza cívica e humana de Nelson Mandela, cerca de trinta anos enclausurado, e comparêmo-lo ao cavaquinho... É de fugir!!!
Inevitavelmente, a cultura está ligada à política, e a política também é um reflexo da cultura do tempo em que vivemos. Quem não percebe isto deve continuar a comer o cozido das Furnas em regime de vacances nos Açores em mais um gesto pacóvio neste triste Portugal tão mal representado no Palácio Rosa.

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