segunda-feira

A mentira na política: um reinterpretação interessada da verdade. Proof-lies

Catarina Martins diz que “duplicidade” entre Costa e Centeno ...

Depois do desacerto entre Mário Centeno e António Costa sobre a injeção no Novo Banco, Catarina Martins anuncia na TSF que o Bloco de Esquerda vai insistir, no Parlamento com a proposta de que que "qualquer injeção no Novo Banco" precise de autorização do parlamento."A exigência é que seja o Parlamento a debater e a aprovar ou não qualquer injeção no fundo de Resolução ", explica a coordenadora bloquista.
"Não podemos ter injeções que ninguém sabe como aconteceram, nem mesmo o Primeiro-Ministro" critica Catarina Martins lembrando o "pedido de desculpas" de António Costa.

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TEORIA POLÍTICA DA MENTIRA 

Novo Banco recebeu um empréstimo. Costa não sabia e pediu desculpaA MENTIRA EM POLÍTICA
- a mentira é sempre uma (re)interpretação interessada da verdade.
Neste caso, porque envolve grandes somas de capital que afectam o próprio funcionamento da economia e do esforço brutal dos contribuintes portugueses que o saque fiscal tem imposto, não é aceitável que o PM diga que desconhecia que o "seu" ministro das Finanças, que fora despromovido na hierarquia neste último Governo (XXII Governo Constitucional) passou um cheque no valor de 850M€ para um banco cujo funcionamento e admnistração se desconhece e tem, aliás, fama de más práticas financeiras, pouca transparência, administração danosa, falsificação de documentos, esbulho a clientes particulares e empresas, etc... Este foi, aliás, o legado do ex-DDT, Ricardo Salgado Espírito Santo.
Aqui podem perfilar-se três teses:
1. Ou Costa sabia do que Centeno fez na véspera e optou por dizer no Parlamento desconhecer essa operação, mentindo, esperando que a dinâmica do tempo e a inércia das coisas vencesse a sua própria racionalidade em contexto de Covid, cujo agenda-setting monopolizaria todos os temas nos media. Tese pouco plausível, até pelo risco elevado que essa mentira comportaria em termos de perdas políticas directas para A. Costa e para o PS;
Mário Centeno tocou o sino e já é presidente do Eurogrupo - ZAP2. O PM, de facto, desconhecia essa relevante operação do "seu" ministro das Finanças feita na véspera, que sem informar o PM (e sem o devido debate parlamentar!!!), este foi apanhado de surpresa no debate no hemiciclo. Razão por que A. Costa pediu posteriormente desculpa a Catarina Martins, do BE. O que nos parece uma tese mais plausível, até porque Mário Centeno, o homem das cativações, foi despromovido na hierarquia do actual XXII Governo Constitucional, deixando de ser ministro de Estado, função que passou a ser assegurada pelo ministro da Economia, Pedro Siza Vieira.
3. Mário Centeno, que mais parece um cordeirinho na pele de lobo, tem grandes ambições políticas, não gostou da despromoção de que foi alvo na última composição do XXII Governo Constitucional, anda com "o rei na barriga" pelo facto de ser, simultaneamente, (e por inerência) ministro das Finanças e Presidente do Eurogrupo, se bem que desconheça o que seria governar sem recurso sistemático ao expediente das cativações, e tem revelado grande impotência para coordenar as posições económicas e financeiras dos países da zona euro em matéria de resposta da UE à pandemia gerada pelo Covid19.
- Daqui pode resultar uma grande fissura no governo de A. Costa, que o contrapõe a Centeno, a qual tem estado oculta por causa da necessidade de cerrar fileiras em torno da resposta à pandemia, que tem mobilizado todos os recursos e capacidades do governo.
- Uma coisa é certa. Nada do que foi na qualidade da relação entre PM e Centeno voltará a ser o que era. Perdeu-se confiança, proximidade, e isso exigirá do PM um tremendo golpe de rins para, doravante, explicar aos portugueses por que razão lhe foi ocultada tão importante informação/decisão, quando ele próprio estava convencido de que esse financiamento ao Novo Banco, a ocorrer, só seria realizado após a auditoria que ainda está en curso.
- Centeno cortou esse laço e estendeu uma imensa casca de banana nos pés de A. Costa que, estranhamente, acabou por revelar alguma ingenuidade no debate parlamentar. Veremos como o futuro desfaz esse nó.


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As mentiras experimentais: proof-lies

Por vezes, e de forma paradoxal, é em nome da responsabilidade política democrática que se repetem erros e omissões, apesar de já serem conhecidos e denunciados no passado recente. É, de modo surpreendente, que em nome da modernização, do crescimento e do desenvolvimento social e do progresso económico, que testemunhamos a crise, a recessão e a falência de unidades empresariais geradoras de mais desemprego, precariedade do trabalho e a diminuição do valor competitivo das economias, especialmente nas economias mais periféricas do sul da Europa que estão intervencionadas pelos chamados programas de assistência financeira.

Estas assimetrias de níveis de desenvolvimento intensificam-se quando as economias europeias competem no mercado global com outras economias que não têm de observar equivalentes graus de exigências em matéria de direitos sociais e laborais, como é a economia-global chinesa.
Por vezes, e de forma paradoxal, é em nome desses valores democráticos, modernizadores e desenvolvimentistas que se faz a exploração do homem pelo homem, adiando e fazendo perigar a sustentabilidade das futuras gerações.
É, com efeito, no seio do gap entre o anunciado e o realizado, que ocorre uma prática experimental, designada, em inglês, de proof-lies, ou seja, um dispositivo que visa por em marcha na sociedade “mentiras experimentais”, que representam uma espécie de sondas que têm por finalidade colocar a primeira “carga de explosivos”. Aqui o objectivo é duplo: ver como se comporta o “detonador” em termos sociais lançado por essa mentira experimental e, ao mesmo tempo, conhecer as reacções a ela.
Naturalmente, o mecanismo dinamizador das proof-lies não se circunscreve apenas aos agentes políticos que pretendem eliminar do seu campo de actuação os agentes políticos que se lhes opõem, mas o concurso dos demais actores que interagem nesse processo de comunicação política, ou seja, as outras constelações que integram o nosso modelo de análise que operam no sistema democrático contemporâneo, e que potenciam essa patologia política.
Paralelamente, os indivíduos, as famílias e as empresas, mais cedo ou mais tarde, terão que pagar um custo adicional, material e psicológico, em resultado daquelas ilusões criadas por actores políticos pouco sérios e transparentes. Ainda que se considere que quando alguém mente por incapacidade de reconhecer a verdade, tal poderá dever-se à vergonha, ao sentimento de culpa ou à intencionalidade perversa, poderá decorrer da circunstância de a mentira se ter tornado num mecanismo inconsciente. E é também esta capacidade de adequação às circunstâncias que explica a razão pela qual muitos actores políticos conseguem renascer das cinzas

Quando essa relação de poder se manifesta na sociedade, podemos dizer que o sistema político e a sociedade ficam paralisados, porque reféns desse sistema de ilusões semeado pelos protagonistas políticos da conjuntura, sem que a inteligência (crítica) social, económica e científica dessa sociedade, consiga romper a circularidade da ilusão divulgada pelos responsáveis políticos que, através das suas posições de poder, continuam perversamente a fazer vingar os seus privilégios na sociedade.
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