sexta-feira

A imensa obra de cavaco silva. No prelo

UMA TRAGÉDIA NACIONAL EM JEITO DE DISCURSO DE AUTO-JUSTIFICAÇÃO. TAMBÉM É PARA ISSO QUE SERVEM AS MEMOIRES...


Foto de Raimundo Pedro Narciso.


Via Raimundo Pedro Narciso (FB)

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PS: Aos sábados "a reunião era" com o Ricardo Salgado, do BES, nem que fosse para atestar, qual Notário, e em vésperas da débacle, que o imenso sistema de corrupção do grupo Espírito Santo estava em grande forma e recomendava-se aos clientes (particulares e institucionais)- os quais acabaram por ser gravosamente lesados.

Aos domingos deveria ser o dia da missa na igreja na Lapa para a absolvição de todos os erros e pecados. 

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terça-feira

De Notário a Arquivador: o sr. Silva é tudo nesta miserável República

De Notário a  Arquivador do regime...


- O sr. Silva será o coveiro desta III República, que definha!!!

O sr.Silva, ainda locatário de Belém, ficou conhecido na sua "alta seriedade" por aconselhar (vivamente) os portugueses - no Verão de 2014 - a investirem de forma segura nas aplicações financeiras do banco do seu amigo Ricardo Salgado (BES), que lhe financiou todas as campanhas eleitorais. O resultado foi o que se viu: os clientes acreditaram no sr. Silva, o Notário do BES - e estamparam-se contra uma muralha de vigaristas encartados, protegidos pelo sigilo bancário e o medo da classe política em mandar para a cadeia o pai dessa mega-fraude: Ricardo Salgado..., que ainda anda por aí..


Agora, Cavaco abandona o seu papel de Notário para colocar outra máscara: a de 
Arquivador da petição que reclama, legitimamente, a destituição do alegado PM, pelos motivos bem conhecidos. 

Cavaco precisa de Passos de modo a que este o ajude a terminar o seu mandato presidencial com alguma dignidade presidencial; e Passos precisa de Aníbal para continuar a vegetar no Palácio de S. Bento, ante o descrédito da Nação - que passou a desprezar - pessoal e políticamente - ambos os personagens, agora no papel de Notário e Arquivador - dum PM que passou à condição de INOMINADO

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Cavaco Silva arquiva petição que pede demissão de Passos Coelho, link


Cavaco Silva arquiva petição que pede demissão de Passos Coelho
Fotografia © José Coelho/Lusa

Presidente da República determinou o arquivamento da petição com mais de 19.000 assinaturas "em face do conteúdo".[...]
O Presidente da República, Cavaco Silva, decidiu determinar o arquivamento da petição que pede a demissão do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, informou hoje fonte oficial de Belém.
No passado domingo, a petição pela demissão do Passos Coelho, com mais de 19.000 assinaturas, foi entregue nos serviços da Presidência da República.
(..)
A petição tem por base a polémica acerca da carreira contributiva do primeiro-ministro, intitula-se "Demissão imediata do Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho" e cita vários artigos da Constituição da República Portuguesa, para justificar o seu objetivo.

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segunda-feira

Cavaco Silva prepara certificação de abono político a Pedro Passos Coelho

Da série: os amigos são para as ocasiões. 
A ocasião faz o ladrão.


Pronto Pedro, se na 4ª feira as coisas te correrem bem no Parlamento, faço uma declaração de abono político certificando a tua IDONEIDADE - semelhante à que fiz para o Ricardo Salgado do BES no Verão de 2014!!!

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quarta-feira

O que dirá Ângelo Correia do seu ex-empregado Passos coelho


Logo em 2012, um ano após o XIX Governo Constitucional liderado por Passos Coelho ter entrado em funções, Ângelo Correia, seu ex-patrão e mentor e pessoa muito próxima, criticou o PM por falta de estudo e preparação nas matérias e o governo por não se ter sabido remodelar. Esta dupla crítica feita pelo mentor do ainda PM fez, naturalmente, com que ambos se afastassem e as suas relações pessoais se tivessem degradado. 

Por outro lado, e como empresário de sucesso que Ângelo Correia é, este sentiu que o peso da austeridade tinha limites, pelo que se mostrou indignado com a violação desses limites sobre as condições de vida dos portugueses que lhes foram arbitrariamente impostas pelo Governo de Passos coelho. 

Todavia, em matéria de remodelação governamental, o mesmo Ângelo Correia também se questionava se este Governo ainda se conseguiria remodelar. Possibilidade em que jamais acreditaria, já que para se ingressar no governo significa aceitar-se remunerações inferiores às praticadas no sector privado, maior exposição ao risco e à insegurança de ver a sua vida escrutinada pela opinião pública (e publicada!!), além da razão maior, ou seja, a falta de capacidade de liderança e de credibilidade global deste governo não inspirava ninguém com competência a embarcar nesse risco, daí a dificuldade em remodelar.

Outro facto sublinhado por Ângelo Correia há 3 anos, que remete para a brutal carga fiscal imposta por Passos Coelho aos portugueses, ajuda a explicar a razão pela qual os tais limites humanos já foram ultrapassados, o que justifica a posição da classe média e média alta a defenderem não querer trabalhar, já que as penalizações fiscais são de tal ordem que valerá a pena incorrer no risco de tentar trabalhar no âmbito da chamada economia paralela. Há pessoas em Portugal que trabalham 6 e 7 meses no ano para o tesouro de Mª Luís Albuquerque, não para os próprios e respectivas famílias. Ora, isto traduz uma apropriação ilegítima do Estado sobre a riqueza criada pelos cidadãos.

Tudo isto seria estranho se Ângelo Correia não soubesse, de facto, quem era ou foi Pedro Passos Coelho, que trabalhou numa ONG que servia de fachada para sacar fundos comunitários designada Conselho Português para a Cooperação, no qual, o então deputado Passos coelho trabalhou e recebeu dinheiro, diz ele que para custear despesas no preciso momento em que se encontrava no Parlamento na qualidade de deputado em regime de exclusividade de funções. 

Ou seja, Passos, por um lado fazia lobbying politico-empresarial para sacar fundos comunitários que alimentavam a Tecnoforma (que lhe pagava), mas a sua "preocupação pelo desenvolvimento regional" do país foi mais longe, dado que também "qualificou" técnicos para funcionarem em aeródromos - que hoje não existem, ou estão literalmente inoperacionais. Tudo isto teria piada se não fosse trágico para o país. 

Enfim, tudo projectos, tarefas, motivações, jogadas e esquemas de corrupção que lesaram o Estado em milhões de €uros, e é este hoje o actual PM de Portugal que, consabidamente, também praticou evasão contributiva à SS durante anos a fio. 

Perante estes factos degradantes para a nossa vida pública, que são da maior gravidade política, ética e moral, pergunto-me o que está à espera o subversivo Passos coelho para apresentar a sua imediata demissão ao Parlamento. Ou então que o PR dissolva a Assembleia da República, demitindo automaticamente o governo e convoque eleições, pois ainda falta um semestre para o termo legal das próximas legislativas.

Afinal, o papel do PR no nosso sistema semi-presidencialista é o de fazer um contra-peso ao governo, especialmente quando são eleitos por partidos distintos (o que não é o caso, pois são ambos do PSD), e seria através desse mecanismo de checks & balances que o PR estaria em condições de fiscalizar a acção do Executivo refreando algumas das arbitrariedades que este tem vindo a cometer no decurso desta legislatura, muitas das quais foram devidamente sinalizadas pelo Tribunal Constitucional durante 3 anos seguidos... 

Mas para que tal controle político pudesse verificar-se na prática, seria necessário que esse Échec au Roi (segundo expressão de Maurice Duverger) - em que Cavaco deveria meter Passos Coelho na ordem - resultasse duma legitimidade política autónoma do próprio PR, e à luz do que tem sido a práxis politica deste essa legitimidade não existe, daí que ninguém controla ninguém, e ambos são politicamente irresponsáveis e coniventes nessa gestão podre em que as instituições do Estado hoje vegetam.

E quando tal ocorre deveria existir uma 3ª instituição, supra-partidária, que tivesse a legitimidade de destituir ambos, PR e PM, por manifesta impreparação no desempenho dos cargos. 

O reconhecimento deste bloqueio no funcionamento do sistema político português, só vem evidenciar que, afinal, a nossa democracia pluralista, o nosso estado de direito e a liberdade são "flores" frágeis e que carecem de ser devidamente tratadas sob pena de morrerem às mãos dos piores que se apropriaram do aparelho de Estado - que deveriam saber servir, e não servir-se dele para carreirismo pessoal e/ou vendettas privadas. 

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sábado

Narrativas Psicóticas acerca da Denegação da Realidade:


Cavaco Silva irritado recusa mais esclarecimentos sobre o BES

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Narrativas Psicóticas acerca da Denegação da Realidade:

- Quem viu e ouviu as declarações do sujeito acerca do BES (no decurso de 2014), em que o mais alto magistrado da nação RECOMENDOU ao mundo o banco falido do seu velho amigo Ricardo - e compulsa hoje as ditas declarações com esta fuga para à frente - só pode concluir que o sr. Silva tem um grave problema com a realidade. 

- Cavaco foi o notário que certificou o BES e as suas aplicações financeiras na opinião pública, na vã esperança de salvar o banco falido e corrupto do amigo, mas o efeito (na sociedade e na economia) foi perverso e permitiu que milhares de clientes - particulares e institucionais - fossem literalmente esbulhados nas suas poupanças. As quais serviram para pagar luvas ao negócio fraudulento da aquisição dos submarinos aos alemães, entre outras coisas. Parece que Salgado também reconheceu uma reunião com Paulinho Portas...

- A esta luz, cavaco foi cúmplice das "jogadas" fraudulentas do BES e a partir de 2016, já com cavaco fora de Belém, veremos se a questão do ex-BPN e também o velho problema da Tecnoforma - não serão os temas (reeditados) mais quentes da agenda da Justiça - que esta terá de tratar, exactamente com o mesmíssimo método com que a dita justiça meteu Sócrates na cadeia, i.é, sem "lei nem roque".

- Portugal não mudou muito desde o tempo do Marquês de Pombal, o que mudaram foram os protagonistas, os adereços e a face das cidades.

- A natureza e a condição humana, essa(s) continua(m) a ser as mesmas miseráveis de sempre. 

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sexta-feira

Evocação de Chateubriand: a Incompetência é crime: Cavaco e Durão Barroso

Nota prévia:

- O dr. Cavaco tem pautado a sua acção a partir do farol de Belém pelo desrespeito continuado pela CRP (que jurou defender!!), cumplicidade criminosa com o Governo (que governa contra a lei e contra o TC) - com quem "anda ao colo" e pretende, tão somente, conquistar a glória e um lugar proeminente na prateleira dourada na história;

- O dr. Barroso, por seu turno, que foi um DESERTOR político e desencadeou uma guerra ilegítima contra o Iraque (um crime contra a Humanidade!!!), pautou a sua acção por ter fragilizado  a Europa, ter desvalorizado e enfraquecido as suas instituições e revelou uma subserviente relação à Alemanha de Merkel - que nos impôs esta miserável "AUSTERIDADE" com base na qual empobrecemos, mesmo depois da troika ter deixado de tutelar a economia portuguesa.

Daqui decorre, legitimamente, a evocação de Chateaubriand.



A ambição de quem não tem capacidade é um crime.
Chateaubriand








Cavaco Silva e Durão Barros durante uma cimeira europeia em Bruxelas, em junho de 2013

Cavaco Silva e Durão Barros durante uma cimeira europeia em Bruxelas, em junho de 2013 /  JOHN THYS/AFP/Getty Images
O Presidente da República vai condecorar o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique, por serviços "de extraordinária relevância" para Portugal e União Europeia.

Cavaco distingue Barroso com galardão reservado a chefes de Estado


Presidente da República atribui a condecoração ao presidente de saída da Comissão Europeia, por ter exercido o "mais alto cargo internacional alguma vez assumido por um português" e realizado "serviços de extraordinária relevância" a Portugal e à União Europeia. (...)

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Freitas do Amaral lamenta apoio de PR a "governo que comcomete muitos erros

Freitas do Amaral lamenta apoio de PR a "governo que comete muitos erros

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Belém Cavaco Silva assinala 40 anos do 25 de Abril com conferência


Portugal tem um PR que viola a CRP e, mais grave, permite que o Governo a viole; coloca-se na posição de vender acções do BPN numa situação de out of market, ou seja, out of law, violando as regras impostas pelas CMVM. Em 1987, quando desempenhava funções de PM - teve esta atitude relativamente a Nelson Mandela - completamente subserviente (documentada na imagem supra), só para agradar ao Reino Unido e aos EUA (de quem era/é aliado no âmbito da NATO, etc), então duas potências de ideologia ultra-conservadora. 

Agora, conforme anunciou, pretende organizar o 25 de Abril de 2014 sob o lema do compromisso, do desenvolvimento e da democracia, temas, de facto, interessantes mas parece que esses valores, princípios e direitos (sociais, económicos e culturais) deviam ser acautelados diariamente pelo Presidente da República (no exercício das suas funções), e não hipocritamente encenados em cerimónias oficiais cujo efeito é meramente simbólico. 

Cavaco tem-se transformado no Américo de Tomás do 1º quartel do séc. XXI e revela, pelo que pensa organizar, uma ignorância total pelo texto da Constituição da República Portuguesa que viola recorrentemente, mas que diz querer salvaguardar nas próximas comemorações do 25 de Abril de 2014.

No Natal alguém deveria oferecer uma CRP ao sr. PR, talvez do doutor David Justino, que organiza o evento, o possa ajudar a compreender melhor o texto fundamental que Cavaco, perversamente, viola semanal e mensalmente ao não enviar (preventivamente) para o TC os diplomas que o Governo, de forma usurpadora, pretende fazer aprovar para prejuízo dos portugueses e como empobrecimento do país. 

Ainda nem ao Natal chegámos, e Belém, como não tem mais nada que fazer, já só se preocupa em organizar um evento que só tem lugar daqui a 150 dias. 

Tenho para mim que, até lá, muita gente morre...

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terça-feira

Cavaco diz que “existem palavras a mais na vida pública

“Já existem palavras a mais na vida pública portuguesa e eu não vou acrescentar mais nenhuma”, afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, em declarações aos jornalistas, à entrada do jantar dos Prémios Gazeta, do Clube de Jornalistas, quando questionado sobre as declarações do ministro das Finanças.Público (...)
Obs: Oportunas e brilhantes as declarações do PR: funcionam como incentivo ao direito de reserva mental, um estímulo ao consumo interno - que fomenta a economia nacional, qual escapatória para a crise - e um contributo sério para a harmonia e paz entre os portugueses em vésperas de Natal.
Diria que esta é a grande Teoria Política de Cavaco: a teoria do bolo-rei. Afinal, ela sempre existe!!!

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domingo

José Saramago desnudou a personalidade de Cavaco. Não era preciso morrer...

Como cidadão e cultor dos materiais culturais nunca achei Saramago esse valor excepcional que alguns nele reconhecem. Também acho que a falta de vigor na sua literatura ao denunciar os crimes das ditaduras de esquerda, como Cuba e Coreia do Norte, além das diatribes que o ex-director adjunto fez no DN no PREC e o desamor ao país que ele deixou contaminar por causa de um secretário de Estado e de Cavco, então PM, limitaram a dimensão universalista de Saramago.
Aliás, foi, em boa parte, esse facto censório que, perversamente, catapultou Saramago para um patamar de mártir que depois gerou em seu torno uma onda nacional e internacional de compaixão em relação à sua figura e obra, reforçada depois com a partida do escritor para Lanzarote, nas Canárias.
Aparte isso, o escritor, goste-se ou não dele, tinha uma imensa capacidade de trabalho, de inventiva e deixou obra e problematizou alguns dos problemas contemporâneos que afectam o homem, embora equacionasse sempre esses problemas imputando ao capitalismo e aos mercados a raiz do mal quando, consabidamente, os problemas de exploração do homem pelo homem vão muito além das questões materialistas dum marxismo demodé, mas que Saramago, por falta de alguma flexibilidade intelectual e ideológica derivada de insuficiência de cultura sociológica, acabou por revelar.
Mas isso não obstou a que homens como Mário Soares, com quem o escritor tivera desentendimentos, coisa frequente no escritor, não procurasse uma ponte tendente ao estabelecimento do diálogo. Essa correspondência é conhecida e é reveladora da personalidade e do carácter dos homens envolvidos.
Ao invés, as relações do escritor com Cavaco sempre foram mais tensas e ressentidas, o que se prova pela ausência de Cavaco nas cerimónias fúnebres do escritor, revelando quem é verdadeiramente Cavaco. É certo que o escritor disse de Cavaco o que nunca poderia dizer de Soares, mas isso remete para a própria dimensão cultural das pessoas. Cavaco mistura T. Mann com T. Morus, revelou uma ignorância terrível sobre Camões e Os Lusíadas, Cavaco é a prova em vida do desprezo pelas coisas da cultura, um ser paroquial que ocupou o vértice do aparelho de Estado.
Coitado, Cavaco não fazia por mal, mas esse é o registo genuíno da sua formação e do seu background cultural, pois estamos diante um homem com uma formação tecnocrática a quem não se pode pedir um comentário crítico sobre nada na esfera da cultura, seja da literatura, à música passando pelo cinema porque Cavaco é, de facto, uma pessoa sem esse background nem fez um esforço nesse sentido para suprir essa imensa lacuna ao longo dos anos. Soares já teve outra formação mais abrangente, o que lhe permite valorar sobre outros asssuntos sem incorrer nas gaffes monumentais em que Cavaco incorreu ao longo da história das últimas três décadas.
Portanto, a ausência de Cavaco nesta última cerimónia é bem reveladora da sua natureza, alguém que despreza profundamente a cultura, os valores que a coadjuvam e facilitam a sua produção. Nesse sentido, é o povo em massa que está a suprir essa sub-representação do Chefe de Estado ao querer despedir-se do escritor na CML, onde o corpo de encontra. Facto que, naturalmente, também terá uma leitura política que Manuel Alegre saberá aproveitar muito bem. É triste, mas é assim, pois até com a morte das pessoas alguém irá capitalizar.
Soares soube sarar essas feridas com o escritor através do diálogo, e até elogiando dois ou três livros que Saramago tem e são verdadeiramente excepcionais, como O Memorial do Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis, e outros em função dos gostos dos leitores, ao invés, Cavaco - que só debita as banalidades da estatística que os seus assessores lhe facultam, apenas teve "arte e engenho" para ostentar o seu ressentimento e a sua congénita apatia cultural. É triste reconhecer esta comezinha e ultra-conhecida realidade, mas sempre pensei que com os anos Cavaco se revestisse de algum verniz cultural, ajudado por alguns assessores mais bem preparados no domínio da cultura, mas o actual PR tem uma personalidade rígida, sectária, rancorosa e profundamente anti-cultura(l), tudo razões que explicam esta sua lamentável predisposição para desprezar os materiais culturais do nosso tempo que Saramago soube interpretar através da sua literatura.
A comparação entre os homens será inevitável: Saramago, com erros, injustiças ao seu próprio país e algumas limitações, deixará uma obra ao país, que certamente terá seguidores e cultores que a saberão reinterpretar e revalidar; Cavaco deixará ao país algumas estradas, pontes e escolas, mas só possíveis de realizar mediante os fundos comunitários proporcionados pela entrada de Portugal na então CEE - cuja adesão foi assinada pelo punho de Soares, e até nesta coincidência Cavaco revela a sua verdadeira e congénita pequenez de que nunca se conseguiu apartar.
Eis a sua verdadeira condição tristemente posta a nú com a morte do único nóbel da literatura nacional. Mas não era preciso Saramago morrer para todos chegarmos a esta triste conclusão, mas já que aqui chegámos será útil que meditemos todos nela nas próximas eleições presidenciais já em 2011...
Pensemos, por segundos, no processo de transição para a democracia na África do Sul e na grandeza cívica e humana de Nelson Mandela, cerca de trinta anos enclausurado, e comparêmo-lo ao cavaquinho... É de fugir!!!
Inevitavelmente, a cultura está ligada à política, e a política também é um reflexo da cultura do tempo em que vivemos. Quem não percebe isto deve continuar a comer o cozido das Furnas em regime de vacances nos Açores em mais um gesto pacóvio neste triste Portugal tão mal representado no Palácio Rosa.

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quinta-feira

O declínio do Ocidente, a decadência da Junqueira e da Travessa do Possolo à Lapa

Cavaco, os netos e o Papa

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quarta-feira

Cavaco silva e a banalidade. A "tomazição" do discurso presidencial 3 décadas após a queda de Américo Tomás

Na entrevista à RTP1 Cavaco silva revela todo o seu esplendor de político profissional (ainda que o negue), pois extrai da democracia tudo aquilo que nem o Estado nem o mercado e o compromisso social já conseguem dar. Nessa medida, o papel do actual PR é mais o de parasitar Portugal do que dar-lhe um contributo liquído e uma visão para o futuro.
O sr. PR Cavaco Silva foi à RTP responder, ou melhor, não responder à entrevista da dona Judite de Sousa. Se na forma Cavaco já não apareceu a tremlicar, na substância foi mais uma entre-vista igual a tantas outras: sem pensamento, sem visão, sem projecto, enfim, um mar de banalidades mais ou menos previsível. Só faltou referir que os oceanos estão repletos de água e nos desertos abunda areia. Ilustremos cada um desses tópicos para corroborar o nosso enunciado:
1. Reconheceu que o Governo tem legitimidade para governar e que responde politicamente perante a AR e não perante o PR. Já sabíamos que o nosso regime é semipresidencialista, mas é sempre útil que alguém nos recorde, não vá termos um ataque de amnésia. E bem sabemos como o PR tem uma memória selectiva.
2. O desemprego preocupa muito o sr. PR, mas nenhuma ideia avançou que o governo ou a sociedade possa aproveitar para reduzir esse foco social nacional. Apenas retórica e compaixão social. Talvez renda politicamente...
3. Nas escutas, assobiou ao cochicho..., como diria Marcelo de sousa. Era previsível, pois se o fizesse ou entrasse no detalhe teria de dar "n" tiros nos pés e voltar a demitir o desgraçado Fernando lima, que foi o bode expiatório dessa grande armadilha que montaram a Belém, segundo a versão de Catroga, seu amigo e ex-ministro das Finanças de Cavaco.
4. Em matéria de Justiça reverenciou as magistraturas, e disse que só as critica em privado, em público só faz vénias. Parecia o Américo de Tomás. O Portugal do séc. XXI precisa dum PR que fale verdade aos portugueses e coloque o dedo na ferida, e não refira apenas que a justiça é lenta e que há imensos processos pendentes. Espera-se mais de um PR do que uma simples conversa de café. Mas cavaco insiste em não sair do café e das bolachas Maria.
5. Depois criticou a qualidade da legislação, chamando a atenção da necessidade do seu ajustamento, sem referir as matérias objecto dessas correcções; também reconheceu que não ficou incomodado que alguma imprensa lhe tenha reservado um papel de "avózinho" de pantufas caso o negócio da PT fosse para a frente na aquisição da Media capital; tem excelentes relações institucionais com Pinto Monteiro - PGR, com o Governo nas suas reuniões de trabalho às 5ªfeiras. Enfim, tudo como dantes quartel-geral em Abrantes. É curto para um PR, de quem os portugueses esperam ver e ouvir um discurso sustentado sobre a sociedade e o Estado virados para o séc. XXI. Cavaco, ao invés, falava como se Portugal vivesse cristalizado na década de 70. Se fosse vestido de branco, diria que Américo de Tomás teria ressusticado.
6. Ninguém está acima da lei, foi outro chavão proferido pelo sr. PR (desconheço se era alguma indirecta a Dias loureiro..alguém o viu por aí...!?), ainda pensei que a dona Judite fosse incisiva e recuperasse algumas questões acerca do BPN e das suas acções cotadas fora de bolsa. Mas não, Judite de sousa também não queria problemas, pelo que foi tudo by the book.
7. Perguntado se a justiça está politizada(?) - cavaco respondeu também by the book: pois está convencido que as magistraturas fazem o melhor que podem e sabem. Fugas ao segredo de justiça, lentidão da justiça, opacidade... sobre nada disto sua Exª tem um pensamento estruturado com medidas de ataque aos problemas. Mais conversa de café, com o devido respeito pela Presidência da República. Também aqui vimos um Cavaco com medo dessa corporação neomedieval que não quer perder as suas velhas regalias e mordomias, e como teve medo mais uma vez só disse banalidades escondendo ainda mais o sol com a peneira.
Entretanto, o aparelho judicial continua a fazer das suas, com sindicatos altamente politizados (recebidos em Belém como se fossem os reis da Jordânia), replicando fugas de informação e multiplicando violações ao segredo de justiça (que é a nova modalidade de corrupção que serve para certos funcionários judiciais enriquecerem à custa da violação dos direitos dos cidadãos que seria suposto serem os primeiros guardiões) - para alimentar uma mediacracia cada vez mais inquisitória substituindo-se, na prática, aqueles que deveriam dar o exemplo de administrar eficientemente a justiça. Tamanha é a perversão do nosso sistema democrático. Ou seja, os papéis estão todos trocados e quem perde é a democracia, somos todos nós.. É isto que cavaco cala, consente, pensanso, assim, que é mais facilmente reeleito para o Palácio Rosa. Trocando, a Justiça, por um prato de lentilhas.
O que vimos e ouvimos foi um cavaco dobrado ao aparelho judicial julgando, assim, que granjeia o seu respeito e apoio na sua próxima candidatura presidencial.
8. Quanto às escutas (artificiais) a Belém foi igual a si próprio: mutação súbita de voz, alteração sanguínea e, com isso, procurou condicionar e intimidar a jornalista Judite a não prosseguir as sub-questões que estavam nesse flão. Judite agachou-se. Em seu lugar, Cavaco mandou os portugueses à internet, para a página da presidência da república para aí lerem aquilo que ele não soube explicar em directo. Surreal!!!
Mas não hesitou em perverter o sentido verdadeiro das palavras e ter a lata de falar de honra, de verdade e do carácter dos homens...talvez inspirado no seu amanuense, Fernando lima que em tempos ia conduzindo o DN à falência e se prestou à mais vil das tarefas golpistas. Enfim, uma vergonha. Quando foram, precisamente, esses os valores que ele, e homens da sua confiança pessoal, como o jornalista lima, trairam e violaram gritantemente na gorada tentativa de fazer um golpe de Estado constitucional.
Falhou, os seus proponentes foram descobertos e o país ficou a saber que George Orwell, mais uma vez, tinha razão quando inventou o conceito de novilíngua e o ministério da verdade onde esta significa, precisamente, mentira.
Fernando Catroga, amigo pessoal de Cavaco, foi mais benevolente e veio hoje a terreiro coadjuvar o PR para referir que tudo não passou duma "armadilha" que montaram a Cavaco. Foi simpático.
Seja como for, e com o devido respeito que as instituições republicanas da nossa democracia a todos nos merecem, foi um mar de abstracções e de banalidades que vimos em 50 minutos: um PR tentando agradar a gregos e a troianos, procurando gerir equilíbrios instáveis, ajustar constrangimentos insanáveis, reconhecendo-se em lógicas de poder com interesses nitidamente contraditórios.
Tudo isso representa o afundanço da democracia, uma contorção ao nosso rule of law. Uma total submissão à sacrossante democracia de opinião que tem escavacado a democracia representativa e assassinado o carácter cívico das instituições da nossa (já) mui débil sociedade civil.
Foi o homo economicus mais simples e primário que vi falando duma rede de solidariedades (e de cooperação estratégica) - nunca atacando os problemas de frente para não criar anti-corpos e recolher apoios inter-sectoriais para a sua reeleição - procurando, desse modo, levar os cidadãos a votar nele em 2011.
Perante um poeta Alegre - à esquerda, e um Fernando Nobre civilista (ainda mais à esquerda) - cavaco irá fazer o seu passseio triunfal na rua da Junqueira, talvez por isso passou a sua entrevista com Sócrates ao "colo" para assim amputar ou limitar o capital simbólico que o PS irá canalizar para o poeta Alegre - que não mobiliza ninguém, salvo os seus amigos pessoais e os leitores dos seus poemas.
Esta configuração política amorfa fará do próximo acto eleitoral para as presidenciais um acto trivial, recordando que os portugueses são, afinal, um povo mediano nem que, para o efeito, aquele que deveria ser o farol de alguma esperança e o referencial de modernidade e de desenvolvimento neste 1º quartel do séc. XXI - seja a reencarnação pura e dura daquele dejá-vu tantas vezes proferido por Américo Tomáz quando repetia, em contexto de inaugurações, que esta era a primeira desde a última vez que cá vinha...
E isto, salvo melhor opinião, representa o grau zero da política em Portugal. Facto que me deixa profundamente frustrado.
Razão tinha Camões quando dizia que um rei fraco faz fraca a forte gente...
Camões - cuja obra - o próprio cavaco desconhece. Nem de propósito. Safa!!!

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terça-feira

Manuel Alegre e o movimento, Cavaco - o prestidigitador. O pior do "Estado-espectáculo" em Portugal

Todos sabemos que, enquanto deputado e político Manuel Alegre nunca deu nada a Portugal. Não teve uma única proposta de lei no Parlamento que cuidasse dos interesses dos portugueses, não valorizou a economia do país, não ajudou a criar riqueza. Sempre viveu à sombra das benesses do PS. Por outro lado, Alegre sempre teve uma carga simbólica, ligada à luta contra o fascismo e, aí, sim, deu um contributo histórico para abater o salazarismo e combater, do exterior (radiofónico), a ditadura em Portugal. Como poeta é o que é: uns gostam; outros nem por isso, mas gostos não se discutem. Mas Alegre não hesitou em conspirar recentemente com o BE para tornar refém o seu PS, pois ninguém acredita que Alegre estava preocupado com os pensionistas, os trabalhadores precários ou mesmo os desempregados.
Alegre sempre fez show-of para aparecer na praça pública e ter a atenção canibal dos media - que ele tanto aprecia. Sendo unipessoal - a candidatura à PR qualquer candidato com mais de 35 anos poderá fazê-lo, só que, não sejamos ingénuos, nenhum candidato se lança para Belém sem acordar préviamente esse lance com o partido da sua eleição, neste caso o PS. Alegre, ao invés, avançou sem dar cavaco ao PS para, precisamente, condicionar o PS de Sócrates e alavancar-se com o apoio mais do que declarado (e oportunista) do BE (e tímido do PCP), o(s) partido(s) radicais do sistema político português. Quando se procura identificar o projecto de Alegre para Portugal apenas confirmamos meia dúzia de generalidades que já são habituais no poeta.
Quanto à Europa o poeta revela até um desconhecimento do actual equilíbrio de forças comunitário e pouca cultura política europeia reflecte. Encher a boca só com a pátria é, convenhamos, curto. De modo que Alegre é mais um candidato auto-imposto do que desejado pela sociedade, e grande parte do PS nem sequer o tolera. Isto não significa que o poeta não tenha já o seu lugar na história da fundação do PS, na luta e afirmação pela democracia e pela liberdade, mas não devemos confundir as coisas nem os desafios que ora temos pela frente. Alegre é, pois, um homem do passado, não tem qualquer projecto modernizador ou renovador para Portugal, e o nosso país precisa de algo mais do que de lirismos arqueológicos que afirmam com uma mão o chicote, ao estilo faraónico, com a outra o gancho (para travar o PS de o desapoiar).
Ou seja, o poeta - não tendo nenhum projecto interessante para Portugal - tem, contudo, o micro-poder de matar-moscas, i.é, manusear o chicote da micro-política para admoestar "o seu" PS (que ele detesta - assim como Sócrates o detesta a ele) e por em movimento, extemporaneamente, a "carroça" das presidenciais. Dispondo do chicote - para acelerar o seu carro de combate, o poeta-Alegre tem também o gancho para o travar, para reter as rédeas, portanto, o poeta tem hoje concentrado nas suas mãos um poder desproporcionado à sua efectiva importância e estatutura política: acelerar e travar o processo relativo às eleições presidenciais, qual espécie de poder faraónico simultaneamente de catalizador e de retenção e freio.
Contudo, e porque o país não se pode permitir a este tipo de charadas fora de prazo, Alegre será sempre o responsável pelo pior que a política espectáculo representa, convertendo-a numa espécie de companhia de teatro fora de tempo, e isto acontece por causa da vaidade descontrolada dos homens e da sua gula e soberba pelo poder. Alegre tem essa luxúria pelo poder, quiça animada pelo milhão de votos que teve nas últimas presidenciais que ele julga poder replicar no próximo acto eleitoral, mesmo não colhendo sociológicamente ao centro, como ontem, e bem, sublinhou António Vitorino - para quem Alegre também não será o melhor candidato presidencial para derrotar o mediano Cavaco - que tem feito um péssimo mandato.
De cavaco haverá muito pouco a dizer, tudo de mau nele já há muito é conhecido. Talvez represente o papel daqueles prestigitadores cujo princípio de acção elementar consiste em chamar a atenção para uma coisa diferente daquela em que ele está a pensar ou a fazer. Pois é sabido que Cavaco nada mais tem feito desde que foi eleito - do que preparar-se para o 2º mandato. Tem sido essa a sua preocupação diária em Belém, além de conspirar contra o PM através do seu assessor de imagem Fernando Lima cuja cabala (das famosas escutas) se descobriu, mesmo quando faz aqueles roteiros pelo Portugal-profundo a vender a sua marca. Logo, a autenticidade do seu discurso é tão falsa quanto a preocupação de Alegre com os pensionistas, com os trabalhadores precários e com os desempregados de Portugal.
O nosso país, confesso, merecia muito melhor do que esta charada que evoca aquelas companhias de teatro já muito decadentes e fora de prazo que só representam em ruínas para uma plateia de duas, três pessoas. Mas os portugueses têm o que merecem, e se quiserem mudar de vida basta que rejetem estes dois putativos candidatos que não representam o melhor que os portugueses têm para oferecer.
Todavia, não posso deixar de problematizar aqueles analistas oportunistas que, talvez por dever de solidariedades poéticas, tanto criticam em privado o Estado espectáculo - que até ensinam às criancinhas na faculdade - e depois são os primeiros - a um ano de distância das eleições presidenciais - a engrossar a dramatização em política, no duplo sentido da palavra: pôr em cena, em análises e "opiniões-macacas", pseudo-intenções, discursos e imagens de candidatos presidenciais que nitidamente exageram a sua importância, a sua gravidade e o seu carácter trágico.
Creio que o povo português já é suficientemente maduro quer para desmontar as intenções de Alegre, como também diluir as opiniões daqueles "politicólogos de aviário" que procuram iludir ainda mais os portugueses apelando aos mecanismos do Estado espectáculo que tanto criticam em privado. Esta gente pouca moral tem para falar e, por isso, nenhum crédito merece quando debitam opiniões insustentáveis no espaço público.
Colocar este factóide de Alegre e das presidenciais no centro do debate político em Portugal (a um ano de eleições )é, literalmente, gozar com os portugueses.

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domingo

A política da mentira política em Cavaco

A mentira política é, como já vimos abaixo, uma componente essencial da acção política e Cavaco, na qualidade de PR, tem usado e abusado, ou melhor usurpado das suas funções para se promover institucionalmente e, desse modo, atingir mais eficazmente os seus objectivos políticos. Desta feita tenciona condecorar um agente político que só desgovernou o país deixando-o ainda pior, seja no plano das suas contas públicas seja na esfera da autoridade do Estado.
De modo que a condecoração de Cavaco a santana Lopes só pode (e deve) ser encarada como uma distorção na relação entre agentes políticos, cuja relação é suportada (e legitimada) por uma autoridade: a Presidência da República.
Quem mente, como cavaco, para atingir o poder sabe que vai usar esse mesmo poder para realizar a tal política da mentira política, forma extremada e perversa de seduzir aqueles que promove, a tal "má moeda" e, ao mesmo tempo, ficar bem na fotomaton da opinião pública.
Ninguém entendeu esta decisão de Cavaco, ela não colhe fundamento em nenhuma razão de Estado, de sociedade, de economia ou até de common sense, apenas decorre da ambição política de Cavaco em fazer-se reeleger para Belém, razão por que recorre à ciência da mais ampla usança em política - que é a arte do fingimento, como diria Baltasar Gracian.
Já na República de Platão a questão da mentira política se colocava, de igual modo a questão recolocou-se em O Príncipe de Maquiavel: dever-se-á, para seu bem, esconder a verdade ao povo, enganá-lo com vista à sua salvação?
A arte da mentira política é de facto a arte de fazer crer ao povo falsidades salutares, com determinado bom fim: cavaco deseja, de novo, ser PR, razão por que pretende chamar para o seu regaço político mais uma pequena força de resistência que é santana Lopes, o pior PM após o 25 de Abril e que, por essa razão, deveria indemnizar os portugueses e não receber deles, indevidamente, uma condecoração cuja oferenda é assegurada por cavaco silva.
Esta atitude de Cavaco revela bem o respeito que ele nutre pelo povo que supostamente representa, já que ao desrespeitar a verdade ele crê que o povo nenhum direito tem à verdade política, tal como não deverá possuir bens, ou elevados rendimentos, terras ou mesmo acções da SLN que não sendo cotadas em bolsa foram vendidas acima do preço de mercado, constituindo uma outra ilegalidade. Cavaco entende, pois, que a verdade é propriedade privada e só um gentelman, como defendia Disraeli, sabe quando convém dizer a verdade e quando convirá calá-la ou mascará-la.
Contudo, este tipo de mentira política, ao condecorar aquele que na véspera se designou de incompetente político e de má moeda no sistema político, além de revelar uma completa falta de carácter e de espinha dorsal ético-política, denuncia também uma nova fórmula de mentira que remete para o que se passa no interior do partido a que ambos pertencem: o PSD. Será, nesse caso, uma mentira entre dirigentes - presentes e pretéritos - veiculada no interior do mesmo partido (que também poderia ser o PS ou PCP), aqui o que ressalta é o mesmo fim a que cada um interessa, reforçando a posição de ambos na actual correlação de forças: Cavaco arregimenta mais umas centenas de santanistas, santana faz as pazes com aquele que sempre o desprezou, pois Cavaco nunca permitiu que Santana fosse além de secretário de Estado. E Santana, por seu turno, sublinhava bem que prestava tributo a Sá carneiro e não a Cavaco na lógica das fidelidades ideológico-partidárias.
Mas se ambos querem, de facto, atingir os respectivos fins (Cavaco ser reeleito e Santana receber um certificado de garantia político do actual PR) ambos devem querer ser enganados, pois é desta voluntária mentira que emana o núcleo gerador da patologia política que Cavaco, sobretudo através do affair Fernando Lima, dinamizou em Portugal.
Neste concreto contexto pré-eleitoral, em que Cavaco e santana há muito deixaram de ser rivais, a mentira política - entre pessoas que sempre se detestaram - perde automaticamente o seu efeito nocivo, pois Cavaco sabe o que quer, e santana não se opõe a esse desejo político que cavaco quer consumar em 2011. Daí cavaco ter escolhido santana para se purificar através duma mentira que já não encerra efeito nocivo. De certo modo, Cavaco vê o seu auto-retrato nesta condecoração (artificial) a Santana, basta que Cavaco esqueça o que disse dele denegando a realidade e, doravante, o promova a "boa moeda".
Em rigor, Cavaco sabe que toda a gente mente: os ministros enganam o povo para o governarem, e para se livrar de ministros indesejáveis basta por a circular boatos caluniosos e rumores embusteiros, mas nunca tínhamos chegado a este nível (e intensidade) de falsificação política como cavaco apresenta nesta condecoração ao pior PM após o 25 de Abril.
Por isso, somos levados a crer que Cavaco exerce o seu magistério recorrendo, sempre que necessário, a esse expediente da mentira política, cuja tipologia se apresenta de forma tripartida: 1) a mentira por calúnia a fim de diminuir os méritos do adversário (eis o que Fernando Lima tentou fazer com Sócrates ao infirmar que o PM expiava o PR); 2) a mentira por adição aumentando os defeitos do seu visado; 3) e a mentira por transladação - socorrendo-se neste caso do pobre Santana (por efeito de condecoração, metendo-o no "bolso político") para converter a "má moeda" na "boa moeda" e, assim, por obra e graça do espírito santo - ver mérito e competência onde antes via perversão, incompetência e instabilização.
Com decisões deste quilate Cavaco está a criar um outro precedente na sociedade portuguesa: tornar a mentira obrigatória e ter um curso liberal pleno, como a moeda, o que pode, a prazo, suscitar a institucionalização em Portugal duma sociedade de mentirosos imperturbáveis que mintam por todos os poros e façam da mentira um valor e um princípio de vida. Um modo de vida.
O mais curioso é que seja o PR em funções o doutrinador desta teoria. Pergunto-me com agentes políticos que operam a este nível ético-político - como é possível pedir aos portugueses que acreditem no futuro em nome dum Portugal moderno e mais desenvolvido?!
Lamentavelmente, aquilo que hoje é mais visível no sistema político nacional é a arte da mentira, cuja finalidade é convencer o povo em crer em falsidades salutares, e isso tem um determinado bom fim: Cavaco, o condecorador - ganhar mais umas centenas de votinhos santanistas; o condecorado recebe um certificado de garantia do PR que sempre o desprezou políticamente, o que não deixa de ser uma tremenda promoção para Santana - além de o reconciliar com o seu ex-PM - que fez dele secretário de Estado da Cultura.
A mentira, na prática, é tão assumida quanto desejada por ambas as partes.
Esperemos, doravante, que no dia 10 de Junho Cavaco não proponha Saramago para cônsul honorário em Timor leste sob pretexto de mais outra mentira, neste caso dizendo que se trata dum escritor extraordinário que até conhece aquilo que o PR desconhece: Os Lusíadas.

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