O que dirá Ângelo Correia do seu ex-empregado Passos coelho
Logo em 2012, um ano após o XIX Governo Constitucional liderado por Passos Coelho ter entrado em funções, Ângelo Correia, seu ex-patrão e mentor e pessoa muito próxima, criticou o PM por falta de estudo e preparação nas matérias e o governo por não se ter sabido remodelar. Esta dupla crítica feita pelo mentor do ainda PM fez, naturalmente, com que ambos se afastassem e as suas relações pessoais se tivessem degradado.
Por outro lado, e como empresário de sucesso que Ângelo Correia é, este sentiu que o peso da austeridade tinha limites, pelo que se mostrou indignado com a violação desses limites sobre as condições de vida dos portugueses que lhes foram arbitrariamente impostas pelo Governo de Passos coelho.
Todavia, em matéria de remodelação governamental, o mesmo Ângelo Correia também se questionava se este Governo ainda se conseguiria remodelar. Possibilidade em que jamais acreditaria, já que para se ingressar no governo significa aceitar-se remunerações inferiores às praticadas no sector privado, maior exposição ao risco e à insegurança de ver a sua vida escrutinada pela opinião pública (e publicada!!), além da razão maior, ou seja, a falta de capacidade de liderança e de credibilidade global deste governo não inspirava ninguém com competência a embarcar nesse risco, daí a dificuldade em remodelar.
Outro facto sublinhado por Ângelo Correia há 3 anos, que remete para a brutal carga fiscal imposta por Passos Coelho aos portugueses, ajuda a explicar a razão pela qual os tais limites humanos já foram ultrapassados, o que justifica a posição da classe média e média alta a defenderem não querer trabalhar, já que as penalizações fiscais são de tal ordem que valerá a pena incorrer no risco de tentar trabalhar no âmbito da chamada economia paralela. Há pessoas em Portugal que trabalham 6 e 7 meses no ano para o tesouro de Mª Luís Albuquerque, não para os próprios e respectivas famílias. Ora, isto traduz uma apropriação ilegítima do Estado sobre a riqueza criada pelos cidadãos.
Tudo isto seria estranho se Ângelo Correia não soubesse, de facto, quem era ou foi Pedro Passos Coelho, que trabalhou numa ONG que servia de fachada para sacar fundos comunitários designada Conselho Português para a Cooperação, no qual, o então deputado Passos coelho trabalhou e recebeu dinheiro, diz ele que para custear despesas no preciso momento em que se encontrava no Parlamento na qualidade de deputado em regime de exclusividade de funções.
Ou seja, Passos, por um lado fazia lobbying politico-empresarial para sacar fundos comunitários que alimentavam a Tecnoforma (que lhe pagava), mas a sua "preocupação pelo desenvolvimento regional" do país foi mais longe, dado que também "qualificou" técnicos para funcionarem em aeródromos - que hoje não existem, ou estão literalmente inoperacionais. Tudo isto teria piada se não fosse trágico para o país.
Enfim, tudo projectos, tarefas, motivações, jogadas e esquemas de corrupção que lesaram o Estado em milhões de €uros, e é este hoje o actual PM de Portugal que, consabidamente, também praticou evasão contributiva à SS durante anos a fio.
Perante estes factos degradantes para a nossa vida pública, que são da maior gravidade política, ética e moral, pergunto-me o que está à espera o subversivo Passos coelho para apresentar a sua imediata demissão ao Parlamento. Ou então que o PR dissolva a Assembleia da República, demitindo automaticamente o governo e convoque eleições, pois ainda falta um semestre para o termo legal das próximas legislativas.
Afinal, o papel do PR no nosso sistema semi-presidencialista é o de fazer um contra-peso ao governo, especialmente quando são eleitos por partidos distintos (o que não é o caso, pois são ambos do PSD), e seria através desse mecanismo de checks & balances que o PR estaria em condições de fiscalizar a acção do Executivo refreando algumas das arbitrariedades que este tem vindo a cometer no decurso desta legislatura, muitas das quais foram devidamente sinalizadas pelo Tribunal Constitucional durante 3 anos seguidos...
Mas para que tal controle político pudesse verificar-se na prática, seria necessário que esse Échec au Roi (segundo expressão de Maurice Duverger) - em que Cavaco deveria meter Passos Coelho na ordem - resultasse duma legitimidade política autónoma do próprio PR, e à luz do que tem sido a práxis politica deste essa legitimidade não existe, daí que ninguém controla ninguém, e ambos são politicamente irresponsáveis e coniventes nessa gestão podre em que as instituições do Estado hoje vegetam.
E quando tal ocorre deveria existir uma 3ª instituição, supra-partidária, que tivesse a legitimidade de destituir ambos, PR e PM, por manifesta impreparação no desempenho dos cargos.
O reconhecimento deste bloqueio no funcionamento do sistema político português, só vem evidenciar que, afinal, a nossa democracia pluralista, o nosso estado de direito e a liberdade são "flores" frágeis e que carecem de ser devidamente tratadas sob pena de morrerem às mãos dos piores que se apropriaram do aparelho de Estado - que deveriam saber servir, e não servir-se dele para carreirismo pessoal e/ou vendettas privadas.
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Etiquetas: Ângelo Correia, Cavaco Silva, Dissolução do Parlamento, Échec au Roi, passos coelho
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