Re-evocar o genial Raul Brandão e revisitá-lo no seu Húmus..
Por muitas e variadas razões valerá a pena reler Raul Brandão, não apenas a sua passagem lapidar da primitiva infâmia..
O autor diz que nessa vila esquecida pelo tempo, deixada num abandono profundo, e que bem podia ser o Portugal contemporâneo: “…aqui se enterraram todos os nossos sonhos…”.
A Primitiva Infâmia
Desde que se cumpram certas cerimónias ou se respeitem certas fórmulas, consegue-se ser ladrão e escrupulosamente honesto - tudo ao mesmo tempo. A honradez deste homem assenta sobre uma primitiva infâmia. O interesse e a religião, a ganância e o escrúpulo, a honra e o interesse, podem viver na mesma casa, separados por tabiques. Agora é a vez da honra - agora é a vez do dinheiro - agora é a vez da religião. Tudo se acomoda, outras coisas heterogéneas se acomodam ainda. Com um bocado de jeito arranja-se-lhes sempre lugar nas almas bem formadas.
Raul Brandão, in "Húmus"
Raul Brandão, in "Húmus"
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