terça-feira

Manuel Alegre e o movimento, Cavaco - o prestidigitador. O pior do "Estado-espectáculo" em Portugal

Todos sabemos que, enquanto deputado e político Manuel Alegre nunca deu nada a Portugal. Não teve uma única proposta de lei no Parlamento que cuidasse dos interesses dos portugueses, não valorizou a economia do país, não ajudou a criar riqueza. Sempre viveu à sombra das benesses do PS. Por outro lado, Alegre sempre teve uma carga simbólica, ligada à luta contra o fascismo e, aí, sim, deu um contributo histórico para abater o salazarismo e combater, do exterior (radiofónico), a ditadura em Portugal. Como poeta é o que é: uns gostam; outros nem por isso, mas gostos não se discutem. Mas Alegre não hesitou em conspirar recentemente com o BE para tornar refém o seu PS, pois ninguém acredita que Alegre estava preocupado com os pensionistas, os trabalhadores precários ou mesmo os desempregados.
Alegre sempre fez show-of para aparecer na praça pública e ter a atenção canibal dos media - que ele tanto aprecia. Sendo unipessoal - a candidatura à PR qualquer candidato com mais de 35 anos poderá fazê-lo, só que, não sejamos ingénuos, nenhum candidato se lança para Belém sem acordar préviamente esse lance com o partido da sua eleição, neste caso o PS. Alegre, ao invés, avançou sem dar cavaco ao PS para, precisamente, condicionar o PS de Sócrates e alavancar-se com o apoio mais do que declarado (e oportunista) do BE (e tímido do PCP), o(s) partido(s) radicais do sistema político português. Quando se procura identificar o projecto de Alegre para Portugal apenas confirmamos meia dúzia de generalidades que já são habituais no poeta.
Quanto à Europa o poeta revela até um desconhecimento do actual equilíbrio de forças comunitário e pouca cultura política europeia reflecte. Encher a boca só com a pátria é, convenhamos, curto. De modo que Alegre é mais um candidato auto-imposto do que desejado pela sociedade, e grande parte do PS nem sequer o tolera. Isto não significa que o poeta não tenha já o seu lugar na história da fundação do PS, na luta e afirmação pela democracia e pela liberdade, mas não devemos confundir as coisas nem os desafios que ora temos pela frente. Alegre é, pois, um homem do passado, não tem qualquer projecto modernizador ou renovador para Portugal, e o nosso país precisa de algo mais do que de lirismos arqueológicos que afirmam com uma mão o chicote, ao estilo faraónico, com a outra o gancho (para travar o PS de o desapoiar).
Ou seja, o poeta - não tendo nenhum projecto interessante para Portugal - tem, contudo, o micro-poder de matar-moscas, i.é, manusear o chicote da micro-política para admoestar "o seu" PS (que ele detesta - assim como Sócrates o detesta a ele) e por em movimento, extemporaneamente, a "carroça" das presidenciais. Dispondo do chicote - para acelerar o seu carro de combate, o poeta-Alegre tem também o gancho para o travar, para reter as rédeas, portanto, o poeta tem hoje concentrado nas suas mãos um poder desproporcionado à sua efectiva importância e estatutura política: acelerar e travar o processo relativo às eleições presidenciais, qual espécie de poder faraónico simultaneamente de catalizador e de retenção e freio.
Contudo, e porque o país não se pode permitir a este tipo de charadas fora de prazo, Alegre será sempre o responsável pelo pior que a política espectáculo representa, convertendo-a numa espécie de companhia de teatro fora de tempo, e isto acontece por causa da vaidade descontrolada dos homens e da sua gula e soberba pelo poder. Alegre tem essa luxúria pelo poder, quiça animada pelo milhão de votos que teve nas últimas presidenciais que ele julga poder replicar no próximo acto eleitoral, mesmo não colhendo sociológicamente ao centro, como ontem, e bem, sublinhou António Vitorino - para quem Alegre também não será o melhor candidato presidencial para derrotar o mediano Cavaco - que tem feito um péssimo mandato.
De cavaco haverá muito pouco a dizer, tudo de mau nele já há muito é conhecido. Talvez represente o papel daqueles prestigitadores cujo princípio de acção elementar consiste em chamar a atenção para uma coisa diferente daquela em que ele está a pensar ou a fazer. Pois é sabido que Cavaco nada mais tem feito desde que foi eleito - do que preparar-se para o 2º mandato. Tem sido essa a sua preocupação diária em Belém, além de conspirar contra o PM através do seu assessor de imagem Fernando Lima cuja cabala (das famosas escutas) se descobriu, mesmo quando faz aqueles roteiros pelo Portugal-profundo a vender a sua marca. Logo, a autenticidade do seu discurso é tão falsa quanto a preocupação de Alegre com os pensionistas, com os trabalhadores precários e com os desempregados de Portugal.
O nosso país, confesso, merecia muito melhor do que esta charada que evoca aquelas companhias de teatro já muito decadentes e fora de prazo que só representam em ruínas para uma plateia de duas, três pessoas. Mas os portugueses têm o que merecem, e se quiserem mudar de vida basta que rejetem estes dois putativos candidatos que não representam o melhor que os portugueses têm para oferecer.
Todavia, não posso deixar de problematizar aqueles analistas oportunistas que, talvez por dever de solidariedades poéticas, tanto criticam em privado o Estado espectáculo - que até ensinam às criancinhas na faculdade - e depois são os primeiros - a um ano de distância das eleições presidenciais - a engrossar a dramatização em política, no duplo sentido da palavra: pôr em cena, em análises e "opiniões-macacas", pseudo-intenções, discursos e imagens de candidatos presidenciais que nitidamente exageram a sua importância, a sua gravidade e o seu carácter trágico.
Creio que o povo português já é suficientemente maduro quer para desmontar as intenções de Alegre, como também diluir as opiniões daqueles "politicólogos de aviário" que procuram iludir ainda mais os portugueses apelando aos mecanismos do Estado espectáculo que tanto criticam em privado. Esta gente pouca moral tem para falar e, por isso, nenhum crédito merece quando debitam opiniões insustentáveis no espaço público.
Colocar este factóide de Alegre e das presidenciais no centro do debate político em Portugal (a um ano de eleições )é, literalmente, gozar com os portugueses.

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