quarta-feira

Leis da economia: loucura e irracionalidade

É uma lei básica da economia que quando o dinheiro a circular no sistema financeiro é escasso o seu acesso se torna difícil e caro. É assim na generalidade dos bens, produtos e serviços, o que confirma a regra da raridade dos bens tornando-os, por isso, caros ou de difícil acesso, disfuncionando a economia. Durante anos esta lei da escassez esteve muito centrada nos metais preciosos, com as guerras direccionou-se para os bens de primeira necessidade e, numa conjuntura de paz mas de grande crise económica, essa lei aplica-se aos materiais culturais.
Tomemos aqui o exemplo das obras do Nobel José Saramago que viram as suas vendas disparar cerca de 10 vezes após a sua morte, segundo as cadeias que operam em Portugal e Espanha. Esgotados os stocks há que voltar a produzir para repor o produto no mercado. Esta procura intensifica-se se o produto procurado tiver origem em alguém polémico, que granjeou notoriedade planetária, podendo tornar-se mesmo doentio quando está em causa um certo culto da personalidade. E daqui não procede nenhuma crítica, mas uma constatação duma lei socioeconómica que regula o funcionamento dos mercados.
Um outro exemplo acerca dum bem mais precioso: a água. A sua rarefação é actualmente um problema para o mundo, já que a quantidade de água doce que temos hoje é a mesma de há 200 milhões anos, situação que se agrava se pensarmos que a população mundial aumentou exponencialmente e os danos que a indústria - pela mão do homem - lhe inflinge é de monta, daí a necessária reflexão sobre a raridade da água para usos humanos em condições técnicas e económicas aceitáveis, sob pena de qualquer dia pagarmos por esse precioso bem um preço proibitivo. E o mesmo se diga do O2 que respiramos e das condições globais do ambiente que garante a sustentabilidade do nosso planeta. Ainda assim, e exceptuando os agentes políticos/decisores, os activistas dos movimentos sociais e algumas elites mais esclarecidas e com profundas preocupações ambientais, as populações pouco reflectem sobre essa premência. Porém, sem água vamos todos morrer à praia...
Certamente que o aumento da procura de certos bens e serviços deriva do gosto que as pessoas têm pelos seus autores, seja literatura, arte, cinema, música ou qualquer outra expressão artística. O caso dos leitores do nóbel não escapa a essa regra, mas não deixa de ser interessante reflectir por que razão este fenómeno da lei da raridade de certos bens não funciona nuns casos e funciona noutros.
Não querendo ser injusto, creio haver outros autores que escrevem admiravelmente mas que não viram a confirmação dessa lei económica nos seus livros quando partiram. O que demonstra, mais uma vez, que os mercados - feitos de pessoas - são altamente irracionais e, em inúmeros casos, são motivos de ordem psico-emocional que impele as pessoas para a compra.

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