Cronos e a dromologia da política. O tempo global (e a vendetta) do porco
Macro de grande, skopein de observar: observar o infinitamente grande e complexo. Tentar perceber por que razão a ave vive fascinada pela serpente que a paralisa e, afinal, faz dela a sua presa.
Ciclope, cit in Papelustro
Eviltoy, imagens picadas no blog Papelustro - que merece uma visita. _________________________________________________
Cabine Telefónica
No jogo das metáforas das pandemias do tempo que passa esperemos não vir a descobrir que a gripe suína é um sub-produto duma vendetta organizada e planificada pela categoria animal dos suínos. Se for é uma vingança terrível, percebemos haver animais racionais, como nós, humanos, que matamos sabendo que estamos a matar. Seria o triunfo dos porcos...
Outra nota de lana-caprina diz respeito ao famoso antiviral Tamiflu, um produto da empresa suíça Roche, que nestas ocasiões faz balúrdios com a comercialização massiva deste antiviral. E esta também é uma das ironias do destino, pois os produtores de suínos entram em falência, mas a Roche enriquece.
O que leva à equação do próprio conceito de desenvolvimento.
Diria, superficialmente, que estamos perante o triunfo ou o capricho dos porcos à escala planetária.
________________________________________Rodrigo Leão - Vida Tão Estranha - Évora A Naifa - Monotone
Cantor mexicano com máscara por causa da gripe suína. Epa
Obs: De tempos a tempos estas pandemias ou são maldades da natureza para fazer avançar os progressos da ciência e medicina ou servem para testar a solidariedade global através do denominador comum assente no medo. Seja como for, esta pandemia num País pequeno como Portugal seria uma catástrofe.
Começo a crer que se trata da vingança dos suínos no jogo da globalização dos porcos contra humanos: a uns matam-nos para o homem os comer; os outros que sobrevivem à matança não hesitam em exercer a sua vendetta sobre os carrascos. Chego até a pensar que os porcos (e porcas, porque aqui não há machismos) são animais racionais, como os seres humanos. Que também matam sabendo que estão matando.
O melhor mesmo é comer carne de avestruz, ainda que correndo o sério risco de ficarmos miseravelmente estúpidos e depenados, pois trata-se duma carne cara. Para evitar "suinizar-me", ou aderir à estupidez da avestruz já embarquei na soja. Resta agora saber que mal ela tem... Aguardemos pela pandora da soja.
Classificados - Um segredo fechado Donna Maria - Quase Perfeito Keane - Nothing In My Way (Esta é para o João Castro - em nome das "Áfricas", as nossas)
A 1ª coisa que faria caso Sócrates tivesse de fazer uma coligação governamental pós-eleitoral com Ferreira Leite seria emigrar ou pedir asilo no corno d´África alegando que viver em Portugal seria sinónimo de turbulência política diária. Nesse caso, que apenas admito em tese académica, até seria preferível uma coligação com um dos dois partidos dos extremos do sistema político nacional: ou com o CDS/PP ou com o PCP. Com aquele teria que se investir mais em submarinos e em segurança, e também em fotocópias (a avaliar pelo culto que Paulo Portas tem pelo equipamento quando foi titular da Defesa Nacional), com este mais em políticas sociais e combater a precariedade laboral e tirar ao empresariado para dar aos trabalhadores. Vendo bem, talvez até fosse preferível uma coligação com o PCP, o que seria uma novidade neste experimentalismo político ao cabo de 35 anos de democracia em Portugal, do que engrenar à força com este PSD. Mas já admito que as coisas sejam diferentes com Passos Coelho na liderança... Enfim, é tudo uma caixa de pandora na casa da Aurora. Digo isto porquê? Ferreira leite e o actual PSD dizem uma coisa num dia e o seu oposto no outro. É assim em matéria das principais políticas públicas: segurança social (cuja reforma foi feita pelo actual governo, talvez a mais importante da legislatura que ora finda), investimentos públicos, segurança, ambiente e energias renováveis. Não existe em Ferreira Leite um eixo estruturante com base no qual a sociedade veja racionalidade, oportunidade ou sentido de Estado, tudo alí é errático, conjuntural, zigue-zagueante. Até mesmo as entrevistas que Leite dá têm de ser corrigidas minutos depois pela própria - a fim de precisar termos ou conteúdos, contrariar o que disse, desmistificar ou mesmo corrigir algo que disse mas que, afinal, não pretendia dizer. É assim Ferreira Leite - uma multidão de contradições, um desnorte pegado. Não é certamente por maldade, apenas por uma natural incapacidade de compreender sectorialmente as coisas da governação e uma terrível falta de vocação para a política. No fundo, Leite é o maior embuste do cavaquismo, depois de Santana Lopes. A sua grande vantagem é beneficiar do seu grande amigo de Belém, que por acaso ocupa "só" o vértice do Estado, e que na sombra dos dias e na cinza das horas lhe vai dando as dicas, o guião e o roteiro que ela deverá seguir nos tempos mais próximos para não se estampar contra uma muralha d' aço. Isto tem sido tanto assim que no passado recente Leite até se esquece que deve manter reserva dessa ajuda de Belém, e como é desbocada e não tem sentido de Estado - era costume a srª Ferreira ir para os media antecipar a agenda do PR. Até que chegou o dia em que algum assessor de Belém lá lhe terá dito: ó Manuela as conversas privadas com o sr. professor Aníbal devem ficar no segredo dos deuses..., e ela lá corrigiu a rota e mantém o low profile. Mas a custo. Mas compreendo a razão pela qual Leite tem cometido esses dislates pondo a nú a própria agenda presidencial. Seguramente não é por maldade ou pura vontade de fazer intriga palaciana a partir da vox extensiva de Belém, tal decorre do facto de Leite não ter nada para dizer ao País, e aquilo que ocorre debitar são as conversas privadas com o PR. Por ocasião do dia comemorativo do 25 de Abril o PR deixou uma mensagem que aponta para a necessidade de os principais partidos do arco da governação - PS e PSD - terem de se entender a fim de não comprometer a necessidade de prosseguir as reformas que o Governo tem vindo a seguir. Cavaco foi esperto e, mais uma vez, deu uma mãozinha à sua pobre discípula, Ferreira leite, apontando-lhe o caminho. Ou seja, Cavaco sabe duas coisas de ciência certa: 1) Sócrates pode não conseguir obter a maioria absoluta nas próximas eleições legislativas; 2) e Ferreira Leite tem tantas chances de ganhar eleições e governar Portugal como o meu avô tinha de bater em prova de Fórmula1 o saudoso Ayrton de Sena. Cavaco sabe isso, e a fórmula que encontrou para, por um lado, assegurar a onda de modernização reformista de que Portugal precisa e, por outro, ajudar Ferreira Leite a ser alguém na política - foi aquela mensagem táctica mas com alcance estratégico por ocasião da comemoração do dia de Abril. No fundo, como Cavaco já não pode dissolver o Governo (e mesmo que o fizesse também não daria garantias ao PSD de que ganharia as eleições) nem pode fazer governos de iniciativa presidencial - como no passado fez Eanes, apresenta esta fórmula mais suave que visa engajar o velho bloco central na modernização do País metendo, ao mesmo tempo, a sua amiga Ferreira Leite no governo com duas ou três pastas. Se tal cenário se vier a traduzir em realidade - esperemos que Ferreira Leite não fique nem com a pasta da Educação - que escavacou - nem com a pasta das Finanças - que sufucou o empresariado. Tudo isto é muito bonito, Cavaco revelou inteligência política na redação daquele discurso de compromisso ao estilo de Joaquim Aguiar, mas esquece-se dum pequeno grande detalhe (e deus e o diabo estão nos detalhes)... Leite não tem a mínima ideia do que é a governação, em 10 meses de gestão interina do PSD não conseguiu a presentar uma única ideia estruturante ao País, faz da quezília e do bota-a-baixo o seu método de fazer oposição, não tem visão, liderança, estratégia nem identidade no PSD - que é uma espécie de albergue espanhol - onde reina uma confusão congénita, e que a sua direcção só veio agravar nos últimos meses. Numa palavra, diria o seguinte: o discurso de Cavaco foi muito bonito, mas irrealista e impraticável por uma simples razão: qualquer acordo, coligação ou aliança com o actual PSD, privado de tudo, até de bom senso (como se viu por aquela bernarda no American Club em que a dita Manuela desejava suspender a democracia por seis meses a fim de empreender as reformas em Portugal) estaria, à priori, votada ao fracasso. E a ser assim seria preferível que o governo em funções caísse até se encontrar uma fórmula de governação mais condizente com a estabilidade política e os verdadeiros interesses de Portugal neste turbulento contexto de globalização competitiva altamente exigente.
Ao António Manso Pinheiro _____________________________________
Obs: Mão amiga faz-me chegar este fragmento duma obra de Cunhal, que também foi escritor, historiador, pintor. Embora não comungando com a matriz marxista que Cunhal faz da dinâmica histórica e dos processos políticos, admito que este fragmento encerre uma tonelada de verdade, pois entre a imagem pública que certos homens de Estado dão de si e a sua imagem na relação privada vai uma distância terrível. Lembro-me dum ex-ministro de Salazar que transitou e sobreviveu à democracia - que na esfera pública parece um papa, até cita as encíclicas, Pierre Teillard de Chardin, mas na relação mais privada é um tipo "velhaco como as cobras" denunciando uma outra faceta mais escondida da sua personalidade. Ainda se arrasta por aí... Isto ocorre com inúmeras pessoas, sejam ou não personalidades políticas, é um retrato da ambivalência da miserável condição humana a que, felizmente, muitas pessoas escapam por serem íntegras e estruturalmente boas.
Mas a oportunidade deste comentário meio sacana, serve, na essência, para evocar um homem de cultura, sincero, delicado, sensível e extremamente inteligente com quem tive o privilégio de privar e ser amigo: o ex-director da Editorial Estampa que partiu em 2007. Por isso estas notas vão direitinhas para o António Manso Pinheiro - de quem guardo a melhor da saudade. Não estou certo que não as possa ler, dada a incerteza do que está para lá do fio ténue da vida.
PS: Confesso que me surpreendeu ver Judite de Sousa - que é indiscutivelmente uma boa profissional, uma jornalista competente que procura fazer sempre bem o seu TPC, melhor do que Seara como autarca em Sintra (passe a analogia), procurasse obter um certificado de absolvição das palavras de António Vitorino tendo por referência a sua própria prestação na entrevista ao PM.
Nessa entrevista qualquer amblíope teria notado duas coisas: que Sócrates é hoje um homem acossado, e qualquer um de nós sê-lo-ía se vivesse nessas condições de elevada pressão "freeportiana", a não ser que tenha tinta-da-china nas veias ou seja um "xoninhas"; e que Judite de Sousa repetiu vezes sem conta as mesmas perguntas e perdeu demasiado tempo com o Freeport.
Tempo, energia e recursos que faltaram depois para inquirir o PM sobre os verdadeiros problemas sociais e económicos que afectam hoje o País.
Fiquei com a sensação que Judite de Sousa interiorizou a ideia de que o analista António Vitorino tinha bulas papais no bolso e que tem uma hot-line directamente ligada ao Vaticano para absolver a jornalista dum quadro de tensão que, aliás, foi recíproco e, em boa medida, se explica pela conjuntura difícil e pelas tentativas de assassinato político que o PM tem vindo a ser objecto há 3 meses consecutivos.
O que não mata, engorda...
Obs: Digamos que Paula Teixeira da Cruz é uma mulher inteligente e não vai em golpadas. A golpada do Santana Lopes, evidentemente... Só o facto de Lopes se candidatar a Lisboa, novamente, é um insulto a todos e a cada um dos munícipes de Lisboa. A autarquia não é própriamente o casino de Las Vegas..., e a roleta russa não é própriamente uma especialidade útil à resolução dos problemas da capital.
Estamos na véspera de comemorar os 35 de anos de Liberdade e Democracia em Portugal. O significado político e simbólico da Revolução dos Cravos no rectângulo - que manteve um Império (do qual fomos a última potência colonial a retirar) é tremenda e não se pode resumir em duas palavras. Mas talvez convinha sublinhar uma ideia simples, que remete ao legado socrático de Atenas, berço da Democracia - onde tudo começou. E esse legado decorre da ideia de Política no seu sentido mais nobre, da de Roma e da Grécia (mitigando Direito e Filosofia), de que resulta uma suposta sabedoria. Uma sabedoria que decorre de uma concorrência livremente aceite de interesses e opiniões dentro da sociedade. E é aqui que bate o ponto - que vai entroncar com a data que amanhã Portugal e os portugueses irão comemorar: o dia da Liberdade e da Democracia. Sendo certo que a política ocidental distingue-se de outras formas de ordem social pelo desenvolvimento da tese de que, para além da harmonia que resulta de todos saberem qual é o seu lugar na sociedade civil (e na sociedade política/Estado) existe uma outra harmonia na qual os conflitos são resolvidos através da discussão livre (mas responsável) e da aceitação plena dos resultados, sejam eles quais forem. É esta Liberdade e Democracia (que são indissociáveis, até no plano económico) que recria no nosso imaginário colectivo uma energia suplementar para identificarmos novas fórmulas políticas que nos ajudem a sair da crise em que mergulhámos. Havendo Liberdade e Democracia, parece que agora só falta verdadeiramente o modelo de desenvolvimento económico sustentável que nos falta para reganhar o capital de confiança para reentrarmos novamente no ciclo do crescimento, da modernização, do progresso e do desenvolvimento. É, portanto, nesta perspectiva integrada que podemos (e devemos) equacionar a comemoração dos 35 anos de Democracia em Portugal - que não deixa de ser o menos mau dos sistemas, como diria Winston Churchill - e que, por isso, carece de aperfeiçoamentos e aprofundamentos permanentes.
Obs: António Vitorino deixa-nos aqui uma leitura cruzada dessa transição do "antes" para o "depois". E nessa trajectória, creio que existem três grupos ou categorias de pessoas que pensam ou racionalizam o 25 de Abril de forma algo controversa: 1) os amantes e saudosistas do passado, em boa medida nutridos pela glória e grandeza do Império que já não há (uma minoria); 2) os optimistas que viram na Democracia, no Desenvolvimento e na Descolonização (3Ds)- o caminho para a Liberdade (a maioria); 3) e as novas gerações que ainda não conseguiram extrair dessa Liberdade e desse Desenvolvimento os seus verdadeiros benefícios e potencialidades para construir o futuro.
E é aqui que as gerações vindouras, que o António sublinha e conclui a sua reflexão, estão preocupadas porque esta conjuntura económica (mundial, europeia e nacional) parece funcionar como a mais vil das ditaduras.
Neste quadro em que vivemos, que é de aperto, o 25 de Abril deverá servir para os políticos - e demais agentes sociais e económicos de Portugal - inovarem e inventarem soluções para sairmos deste colete-de-forças em que contrariados entrámos.