segunda-feira

Notas Soltas - por António Vitorino: "hà mais País para além da crise"...

Há mais País para além da crise - foi a frase que melhor retive hoje dos comentários de António Vitorino no Notas Soltas da RTP.

De facto, PS e PSD têm que fazer um esforço suplementar para se diferenciar um do outro, embora o actual PSD seja atípico e não se pareça com nada (ou melhor, é a cara da líder que tem), dado que quando está no poder defende e promove uma política activa de investimentos e de obras públicas, e, agora, porque estamos em recessão e o PSD está na oposição (ou é a liderança do PSD que agrava a recessão e aumenta a crise de confiança..) está contra, com Paulo Rangel no hemiciclo a defender o "Nim", i.é, a quadratura do círculo para encaixilar as contradições de Ferreira leite.
Relativamente aos recados de Belém para S. Bento e vice-versa, só quem não sabe o que é a política, muita ligada à representação e aos jogos florentinos que encontram tradução na lógica discursiva, é que pode tirar razão ao analista - com a finalidade de seguirmos as pontes institucionais lançadas pelo discurso de Jaime Gama no dia 25 de Abril. Pois que venham elas, até porque os homens sempre fizeram mais e melhor quando cooperavam do que quando conflituam. Somam e não dividem.
Portanto, Cavaco deu à ignição mas não chamou os "bois pelos nomes", não quis assumir a despesa política dessas hostilidades; e S. Bento, assobiou ao cochicho, como diria Marcelo. E fizeram ambos muito bem, porque o pior que poderia suceder a Portugal seria alimentar uma birra de palavras entre o PR e o PM por questões menores num ano hiper-eleitoral.
E é nesta óptica que as palavras de António Vitorino fazem sentido, desafiando os partidos do arco da governação a inovarem nos programas eleitorais, nos discursos e nas propostas políticas para combater a crise.
Relativamente ao discurso de Cavaco no dia 25 de Abril - o apelo que Belém faz à participação cívica só pode resultar do receio - infelizmente (fundado) - da abstenção (se tiver sol ainda pior); por outro lado, o desafio que o PR lança ao PS e PSD para se entenderem nas reformas das principais políticas públicas a empreender após as Legislativas - é um reconhecimento implícito de que não havendo maioria absoluta por parte do PS - Portugal não pode ficar ingovernável, daí que Cavaco (e bem!) - não sendo inovador, acabou por ser prudente, realista e planificador.
Até porque ninguém como ele conhece bem o valor da estabilidade política - que foi tantas vezes abalada pelas fúrias de Belém, que então tinha como locatário Mário Soares.
De facto, deve haver mais Portugal além da crise.
PS: Confesso que me surpreendeu ver Judite de Sousa - que é indiscutivelmente uma boa profissional, uma jornalista competente que procura fazer sempre bem o seu TPC, melhor do que Seara como autarca em Sintra (passe a analogia), procurasse obter um certificado de absolvição das palavras de António Vitorino tendo por referência a sua própria prestação na entrevista ao PM.
Nessa entrevista qualquer amblíope teria notado duas coisas: que Sócrates é hoje um homem acossado, e qualquer um de nós sê-lo-ía se vivesse nessas condições de elevada pressão "freeportiana", a não ser que tenha tinta-da-china nas veias ou seja um "xoninhas"; e que Judite de Sousa repetiu vezes sem conta as mesmas perguntas e perdeu demasiado tempo com o Freeport.
Tempo, energia e recursos que faltaram depois para inquirir o PM sobre os verdadeiros problemas sociais e económicos que afectam hoje o País.
Fiquei com a sensação que Judite de Sousa interiorizou a ideia de que o analista António Vitorino tinha bulas papais no bolso e que tem uma hot-line directamente ligada ao Vaticano para absolver a jornalista dum quadro de tensão que, aliás, foi recíproco e, em boa medida, se explica pela conjuntura difícil e pelas tentativas de assassinato político que o PM tem vindo a ser objecto há 3 meses consecutivos.
O que não mata, engorda...