domingo

Os poderes do regime e a anamorfose cultural. Evocação de Jacques Lacan. Croniquetas da República

Os Embaixadores de Hans Holbein, 1533
Por ocasião da comemoração do 25 de Abril, agora já em idade adulta, a dupla de conveniência Pedro & Portas lançam a sua candidatura autárquica a Lisboa. Pensam, assim, que se apropriam do dia simbólico da democracia e da liberdade para meter um turbo na sua negociata política e valorizar a cidade. A realidade, infelizmente, diz-nos o contrário: um défice monstruoso que arruinou a autarquia, o caos urbanístico com projectos encalhados e outras magalomanias e um caldo de cultura propício à corrupção na cidade. Desse contraste entre o que Santana lopes proclama e os factos resulta uma distância entre o Areeiro e Vladivostok, mas Santana já não sabe o que há-de fazer ao tempo nem ao espaço (por isso, anda por aí) - e atira-se a Lisboa como gato a bofe - que converteu numa péssima gestão - antes de escavacar o Governo a que presidiu da forma mais canhestra e impreparada possíveis. Numa palavra: Santana & Portas em Lisboa representam a língua do furacão.
Paulo Rangel - para retribuir a gratidão à sua madrinha política procura tudo fazer e dizer para reconhecer esse baptismo a Ferreira Leite - que o escolheu para a Europa contra boa parte da direcção do seu próprio partido. Mas o melífluo Rangel vai mais longe na asneira, e joga para o caixote do lixo da história decisões de Durão barroso, como o TGV e o aeroporto internacional de Lisboa (que ele meteu na gaveta por falta de arcaboiço político e por já estar a pensar no seu tachinho na Comissão Europeia). Que são duas infra-estruturas que além de alavancar a economia do País também o modernizam aproximando-o mais da rede de comunicações europeia. Rangel, no fundo, quer mandar os investimentos públicos às malvas, fazendo o frete a Ferreira leite, e ao dizer que se tratam de decisões governamentais de última hora é trair a memória e ser hipócrita, pois ele já se esqueceu da decisão dos sobreiros da Portucale no Ribatejo - e de muitas outras nomeações e saneamentos feitos por Bagão Félix a 24horas do incompetente Governo Santana ser demitido por Sampaio?!
Rangel tem memória de passarinho...
Rangel aproveita o dia de Abril para fazer pura chicana política, e sendo um jurista qualificado e um homem inteligente comporta-se como o 2º António Preto da Ferreira leite, ou seja, de forma inqualificável porque mistura alhos com bugalhos apenas para extrair um resultado político mediático dessa propaganda partidocrática de que é parte activa no próprio dia da democracia e da liberdade (que acaba por utilizar mal). Rangel, em rigor, padece do mal que diagnosticou ao País: claustrofobia, além de hipócrita e trapalhão...
Ao proclamar a necessidade de os portugueses irem votar nos três actos eleitorais que temos pela frente, e de nenhuma coisa de essencial ou novidade dizer à nação, o Presidente da República está cada vez mais parecido com o Américo Tomáz - que se notabilizou por dizer "banalidades" e sempre que inaugurava algo dizia: esta é a primeira vez desde a última que eu cá estive.
Depois cortava a fita e arrecadava a palmaria do regime... Cavaco faz isso, mas em democracia.
Confesso que esperava mais de Belém, que anda a fazer oposição ao Governo de forma mascarada e com uma dupla finalidade: eleger-se no 2º mandato; e ajudar a sua pobre discípula, Ferreira leite a ser derrotada por Sócrates nas Legislativas com alguma dignidade.
Santana-Portas,-Rangel-e-Cavaco parecem, doravante, e estranhamente, terem algo em comum: a oposição ao Governo. E tudo fazem para o enfraquecer.
Ora, o quadro (supra) pintado por Hans Holbein - representa dois protagonistas da corte de Henrique VIII, com uma mancha longitudinal na base inferior e que - observada do ângulo superior direito, emerge como sendo uma caveira. Eis o exemplo de representação anamórfica que depois é utilizada por Jacques Lacan para ilustrar a relação entre a imagem do eu formada pelo sujeiro (ou seja, a imagem que Santana tem dele próprio...) e a imagem do sujeito observada pela sociedade. E Santana, manifestamente, não tem espelho (político) em casa...
E o mais curioso - é que esta análise poderia ser, por razões naturais e atendíveis, aplicada ao próprio Governo, pelo desgaste do exercício do poder destes 4 anos de governação difícil, mas, curiosamente, a metáfora da caveira aplica-se melhor à oposição - e sua extensão a Belém - do que ao poder Executivo em funções.
Isto é fundamentado pelas intenções de voto que as populações ainda depositam no actual Governo, e pelo descrédito a que é votada a oposição de que a anedota-mor é a própria candidatura de Santana lopes à capital.
Que personifica a caveira retratada pelo quadro de Os Embaixadores de Hans Holbein.