quinta-feira

Evocação de Talleyrand. Política pura e aplicada: importância do erro em política



Política pura e aplicada: da modernidade aos nossos dias com Portugal na linha do horizonte
- Volta e meia regresso a Maquiavel, um mestre, além dum sujeito sincero e um grande historiador, para sublinhar que se existiu algo de censurável em César Bórgia, não foi o seu carácter; não foi a sua falta de escrúpulos, a sua crueldade, as suas traições, a sua capacidade. Para tudo isso, Maquiavel nunca teve uma palavra crítica. O que nele criticou foi o único erro grave da sua carreira política: o facto de ter permitido que Júlio II, seu inimigo declarado, fosse eleito Papa após a morte de Alexandre VI.
- Faço aqui um paralelo, dando um salto histórico, e pergunto-me qual terá sido o erro colossal dos portugueses nestes últimos dois anos em matéria de opção socio-eleitoral?!
- Conta-se que Talleyrand, outro grande génio e discípulo de Nicolau, após a execução do Duque de Enghien por ordem e Napoleão Bonaparte, teria exclamado:
 
                             - “C´est plus qu´un crime, c´est une faute!”
 
- Tal significa, que todos os juízos do homem são juízos políticos e morais. Sendo certo que o que ele julgou mais lamentável, senão mesmo imperdoável num político – de que ontem os portugueses tiveram mais uma prova de impreparação, não são os seus crimes (económicos, financeiros, fiscais, sociais e outros que tais), mas os seus ERROS.
- Portugal, os portugueses no seu conjunto, estão a pagar caro a circunstância de terem votado numa ilusão (neoliberal) que hoje pagam com o osso e o tutano e, por este andar, e perante a impossibilidade de se convocar eleições antecipadas (com a Troika à perna que faz de Portugal um protectorado) irão pagar com a espinal medúla.
 

Etiquetas:

Um primeiro ministro impreparado e sem ideia de futuro


Um primeiro ministro que vai à televisão malhar nos portugueses, afirmando que vamos pagar mais pela Educação, não é um PM para continuar no poder em Portugal. Um PM que faz do cutelo fiscal a sua única ideia de governação, espoliando os portugueses, não é um PM, é um carrasco fiscal, um cobrador-do-fraque que apenas impõe um modelo de sociedade definido numa folha de excel.
 
Ora, a política não é uma fatalidade movida por impulsos do pm ditados pelo ministro das Finanças - que lhe dita o deve & haver da contabilidade pública nacional. Não havendo projecto também não haverá ideia de futuro que suscite esperança colectiva marcada por antevisões do futuro.
 
Tudo se traduz no desencanto com a política que culmina num profundo pessimismo relativamente à capacidade de configurar o futuro. Muito menos por intermédio da política.
 
Razões pelas quais os 10 milhões de portugueses querem, verdadeiramente, ver o ainda pm pelas costas.
 
 

Etiquetas:

Comentários sintomáticos à entrevista (miserável) do ainda PM, passos coelho



Comentários sintomáticos à entrevista (miserável) do ainda PM, passos coelho, in SIC-N.

Etiquetas: ,

Evocação de Picasso

 
 
 
 
Avultava em Picasso uma faceta menos conhecida, a de poeta. Na sua poesia em "Textos espanhóis", abordava temas taurinos e gastronómicos, os hábitos, os costumes e as tradições espanholas, hoje marcadamente diferenciadas entre as várias regiões e com projectos identitários contraditórios face a Madrid. É interessante rever essa dimensão a esta distância, especialmente quando se associa o artista mas à pintura. 

 - Picasso tb fica.

Etiquetas:

A profissionalização da criatividade entre os jovens: o agir na obliquidade - por José Machado Pais



 
Enunciado no âmbito da Conferência do ICS 2012, na FCG:
 
Que acontece quando em situação de desemprego os jovens procuram profissionalizar a sua criatividade? Entre temores e frustrações, há desafios que surgem de descobertas trajetivas, o caminho fazendo-se no andar, os meios descobrindo - obliquamente - fins distintos dos previstos. O agir da obliquidade, assente na capacidade de interconectar ocorrências, parece correlacionar-se com inesperadas oportunidades de vida e novas correntes socioculturais. Se assim é, que papel cabe aos jovens como potenciais agentes de mudança?
 
 
- José Machado Pais, sociológo e investigador do ICS da UL, coloca assim, criativamente, a questão que diz respeito à generalidade dos jovens, mas também à sociedade em geral, já que os jovens são sempre o sangue novo a correr nas veias da (velha e emergente) economia, da sociedade, da cultura e, a médio prazo, das finanças de qualquer país.
 
- A questão tem tanto mais fundamento na medida em que temos, hoje, neste 1º quartel do séc. XXI, uma situação paradoxal assente na seguinte contradição: gozamos de quadros universitários relativamente bem formados e preparados - relativamente ao passado (remoto e recente) e, no entanto, nunca como hoje essa mesma geração de jovens qualificados, nas mais diversas áreas do saber (teórico e aplicado), foi convidada a sair do país, ou seja, a emigrar compulsivamente para encontrar melhor destino no estrangeiro.
 
- Do ponto de vista político, tal representa uma inovação, mas uma inovação negativa e surpreendente, porque é o reconhecimento automático da incapacidade de governar e de, em consequência, criar estímulos e incentivos na economia para que esta possa absorver aquela formação qualificada em que o Estado, ao longo de décadas, tanto investiu. E investiu com os impostos dos portugueses recolhidos pelo Estado - que alguns designaram de "monstro"...
 
- Com isto não se responde à questão formulada pelo investigador, de quem tenho o privilégio de ser amigo e de, acima de tudo, respeitar o seu trabalho intelectual que é considerável.
 
- Na prática, que papel cabe aos jovens como agentes da mudança?
 
- Aquilo que define o homem não é a sua capacidade de criar uma segunda natureza - económica, social, cultural, mas sim a capacidade de passar por cima das estruturas (velhas e disfuncionais) criadas para criar outras a partir delas. Eis, no meu entendimento, o papel dos jovens na contemporaneidade, em que as sociedades são atingidas pela incerteza, pela complexidade e pela contingência.
 
- Mas para além da grandeza em construir estruturas emergentes sobre estruturas velhas, tão estéreis quanto improdutivas, pede-se aos jovens um desígnio - assente na sua capacidade de revogação e de humanização da sociedade e a economia. E essa será, porventura, uma tarefa hercúlea que demorará gerações a realizar.
 
 
 

Etiquetas:

quarta-feira

Evocação de Somerset Maugham: a paixão e a dor é um golpe...


Dizia o notável escritor inglês, Somerset Maugham (1874-1965) que o amor é um golpe baixo que nos é aplicado para garantir a continuidade da espécie.
 
- Sendo certo que, para cada um de nós, a paixão e a dor são sentidas de forma diferenciada quando se fala de assuntos do coração. Explicito: com o fim duma relação sobrevem a actividade hiperactiva de recapitulação. Quando Ela descobre que Ele andou a pular a cerca, a história do semestre anterior é visto e revisto à lupa. Contudo, a ordem dos factores é arbitrária..
 
- É por isso, concluirá Ela - que Ele, nesse período, chegava tarde a casa, andava muito cansado, etc. A revisão é longa e detalhada. É, com efeito, nesse instante que o anjo se converte no diabo. Tudo isso pode, no quadro dessa relação, originar um acesso de distúrbio de stress pós-traumático, traduzida em noites mal dormidas, passadas a reviver o passado e a recapitular a história para encaixar novos factos.
 
- Se assim é no quadro duma relação a dois que termina, como, aliás, termina tudo, pergunto-me como, doravante, podem reagir 10 milhões de portugueses na esfera pública perante o que se passa em Portugal nos domínios social, económico e financeiro?!

Etiquetas:

terça-feira

Yogi Berra e a frase do momento


Recordo uma das mais famosas citações de Yogi, jogador de basebol. Dizia:
 
- O joga só acaba quando a senhora gorda cantar.
 
  •  Julgo que se trata duma indirecta para a chancelarina.

Etiquetas:

Um gigante - por Viriato Soromenho Marques -

Quase na mesma altura em que o ministro Paulo Portas explicava no Parlamento que a diplomacia de Portugal se reduzia ao objetivo de contribuir para gerar negócios, numa caricatura da época de saldos a que o "ajustamento" está a conduzir o País, chegava às salas de cinema o filme de Francisco Manso e João Correa O Cônsul de Bordéus. Nestes dias de sombra temos de ir buscar ao fundo da nossa memória coletiva o alento necessário para não sucumbir. A arte é mais sábia do que a política e mais rápida do que o pensamento especulativo. Não admira que seja o cinema, que é a arte em pleno discurso directo, a fazer justiça a uma das maiores figuras morais do século XX. O filme centra-se nos dias decisivos de junho de 1940 quando o cônsul português na cidade de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, desobedecendo às ordens diretas de Salazar, resolveu atribuir 30.000 vistos aos refugiados judeus, fugindo das hordas nazis, os quais buscavam Lisboa como porto de saída para os EUA. Trata-se de um drama profundamente ético. Mas, mais do que um Kant do imperativo categórico, seria preciso um novo Sófocles para fazer justiça ao drama de Antígona vivido por Aristides, bem assumido por Vítor Norte. Dividido entre a obediência a uma política de neutralidade (que no essencial foi correta e salvou o País da guerra) e a compaixão pelo destino de milhares de vidas que seriam destruídas se essa obediência fosse cumprida, o diplomata sacrificou a sua carreira, e o bem-estar da sua numerosa família, num amor incondicional ao próximo. Vencer os inimigos está ao alcance de todos os homens, desde que tenham as armas adequadas. Vencer-se a si próprio é privilégio de uma aristocracia de gigantes. O cônsul português de Bordéus está nesse restrito Olimpo. Um Hércules moral, que nos ilumina neste tempo de pigmeus.dn
 
Obs: não sendo necessário à racionalidade do texto, apreciei particularmente como o filósofo e articulista arranca a sua reflexão com um "pigmeu" e conclui com um gigante, a moldar o contraste dos tempos complexos e problemáticos que vivemos.

Etiquetas:

Os mandos e desmandos financeiros da União Europeia


A horas de aprovação do OGE, o pior desde 1974 para os portugueses e a economia nacional, J.C. Junckers - oriundo dum pequeno país, "safa" o Gov de outro pequeno país no debate sobre o orçamento.
- De súbito, a Grécia gozará de um período mais dilatado e de juros da dívida menores para pagar os empréstimos; Portugal,ou melhor, o Gov em funções - nessa linha, terá um argumento sinergético para entalar hoje as oposições no debate parlamentar.
- Enfim, mais um exemplinho miserável de como a abertura dos cordões à bolsa europeia pode condicionar a natureza do debate parlamentar no interior dos Estados membros.
- É mais um milagre absurdo, pois primeiro exaure-se os recursos da economia grega, deixam-se morrer pessoas e empresas, depois dilatam-se os prazos para esta os amortizar e regressar aos mercados; agora o milagre económico da facilitação das condições de pagamento dos juros da dívida viu em Portugal o novo "anjo" que importa socorrer - depois de nos sacrificar.
- Isto ainda é pior do que a diplomacia da cenoura e do chicote ao tempo da Guerra Fria.
- Tamanha é a HIPOCRISIA europeia. Salva-nos da morte após nos ter asfixiado e encomendado o caixão. Com amigos destes não precisamos de inimigos...

Etiquetas:

segunda-feira

A complexidade e a Idade da Pedra política


Consabidamente a complexidade é um produto da vida e da civilização da vida moderna e é dinamizada pela economia, pelas tecnologias da informação que divulgam os acontecimentos e opiniões à velocidade da luz, pela multiplicação crescente dos problemas de várias ordens que afectam a vida do homem em sociedade.
 
Todavia, se quisermos identificar uma era da inocência, anterior aquele regime de complexidade no qual todos passámos a viver, temos que remontar a 5000 a.C., ao termo da Idade da Pedra. Para termos uma ideia de como seria a vida nesse tempo, basta olharmos pela janela e mentalmente eliminar todos as casas e edifícios públicos, monumentos, jardins, pontes, carros e estradas (e portagens, já agora!!) e também estádios de futebol que, em Portugal, país pequeno e pobre, os tem em abundância. Há quase mais estádios do que treinadores.
 
Bastaria, nesse exercício, continuarmos a eliminar todas as invenções da chamada civilização moderna até chegarmos ao deserto de rocha firme. Convinha também eliminarmos quase todas as pessoas e árvores. Podíamos, talvez, povoar a paisagem com umas cabras, para dar tempero à terra. Feito isto estaríamos no Paleolítico. Tudo o que os nossos antepassados tinham era feito de pedaços de árvore, pedra e cabra.
 
Ora, não há muito que se possa fazer com este tipo de materiais em bruto. Este tempo, sem ironia, evoca-me um outro tempo: aquele que hoje, em pleno séc. XXI, se vive em Portugal através da acção (e da omissão) do XIX Gov Constitucional que tomou posse(s) em junho de 2011 e que mais parece estar no poder há umas boas centúrias.
 
Há tanto tempo que o tempo de 2011 para cá evoca-me o tempo de regressão que tivémos de percorrer para identificar a Idade da Pedra política em que actualmente todos nós vivemos. 
 
 

Etiquetas:

domingo

Reflexão de fronteira - Engelhardt -

O desafio da futura bioética é que possuimos mais do que nunca conhecimento científico e capacidade tecnológica e não temos, entretanto, o menor sentido de como utilizar esse conhecimento e a tecnologia, sendo que a crise de nossa era é que adquirimos um poder inesperado e devemos usá-lo no caos de um mundo póstradicional, pós-cristão e pós-moderno.
                                                            H.T. Engelhardt

Etiquetas:

sexta-feira

As lições do Império Mogol - por John Kay -

Nota prévia: uma reflexão importante de John kay que explica muito do essencial do que hoje sucede às economias, às sociedades, às empresas, aos agentes políticos, às famílias e às pessoas. Atentas as suas preocupações intelectuais e morais, Kay procura responder a uma das questões mais fascinantes do nosso tempo: por que razão existem tão poucos ricos e, por contraponto, tantos pobres.

John Kay

As lições do Império Mogol

 
 
Não fugi à regra e fiz o que a maior parte dos turistas faz quando visita o Norte da Índia: fui ver o Taj Mahal. Mas, contrariamente à maior parte dos visitantes, fiz perguntas de índole económica. Relatórios sobre a política fiscal do Xá Jahan dão a entender que poderá ter-se apropriado de cerca de 40% daquilo a que actualmente chamamos PIB, para financiar um estilo de vida marcadamente faustoso. Foi derrubado pelo filho, cansado da ostentação do pai, ansioso por maximizar a sua parte do "saque" e preocupado com a carga fiscal que pesava sobre a população. Tarde demais. O império Mogol já entrara num irreparável declínio.
 
Sempre que há desequilíbrios e estes pendem para a apropriação e não para a criação de riqueza, o talento empreendedor tende a enveredar por actividades improdutivas, inaugurando um ciclo no qual o poder político e o poder económico se reforçam mutuamente - até que a inveja de terceiros desperte e o ressentimento dos oprimidos ponha em causa a legitimidade do regime. A instabilidade política e económica é uma consequência inevitável.

Na Índia moderna, a exploração assume a forma de corrupção endémica e o capitalismo funciona como um sistema de amiguismo, que espelha as relações demasiado íntimas entre as grandes empresas e o Estado. As economias ocidentais também vivem atormentadas pelos seus sistemas de amiguismo. O corporativismo instintivo é uma realidade em muitos estados europeus. Nos EUA, existe uma afinidade pouco saudável entre líderes políticos e líderes empresariais e do mundo da finança, facilitado pelos lobistas e oleado pelo financiamento de campanhas.

Há quem veja em Barack Obama, presidente dos EUA, e em Vince Cable, Secretário da Economia do governo britânico, líderes hostis às empresas por resistirem a estas "ligações".
 
O sector das tecnologias de informação é o principal motor do actual progresso económico, mas é também o menos afectado pelo crescimento do espírito corporativista. O mesmo não acontece noutras indústrias, como a farmacêutica, a defesa e os media, nas quais a influência política recíproca e o poder económico ajudam os incumbentes a manter os seus modelos de negócio e a resistir a mudanças disruptivas.

Actualmente, a manipulação ou exploração do ambiente económico tem no sector financeiro o seu expoente máximo, na medida em que a febre da transacção dos activos existentes ultrapassou em muito a criação de nova riqueza. Ora, isto não só não atrai talentos de outras áreas como gera instabilidade. Não é preciso ter muita imaginação para ver que há aqui um paralelismo com a corte do Xá Jahan.
 
A queda do Muro de Berlim simboliza o mais importante acontecimento económico da nossa era e abriu caminho à criação de economias de mercado não apenas nas antigas repúblicas soviéticas, mas também em países como a Índia, com grande potencial económico não realizado. Acontece que muitos não compreenderam a lição, ou seja, não entenderam que a economia planificada e centralizada fracassara.
 
As economias de mercado, por seu turno, são bem-sucedidas quando aplicam e promovem o pluralismo disciplinado - o processo que confere maior margem de manobra à inovação e à experimentação, ao mesmo tempo que garante que quando uma e outra falham são imediatamente suspensas, e quando vingam são replicadas. Assim se explicam os progressos do sector das Tecnologias de Informação.
 
O êxito das economias de mercado não se alcança através de políticas que fomentam a ganância nem da imposição do menor número possível de restrições à actuação dos mais gananciosos. Esse era o mundo do Xá Jahan, que poucos frutos deu em termos económicos, embora tenha dado ao mundo um dos seus mais belos edifícios. Assim como um ensinamento para a Índia e para o Ocidente: a exploração excessiva pôs fim ao império Mogol em apenas duas gerações.

Etiquetas:

quinta-feira

Ladainha dos Póstumos Natais - por David Mourão-Ferreira

Ladainha dos Póstumos Natais
Poema de David Mourão-Ferreira (in "Obra Poética: 1948-1988")
Há-de vir um Natal e será o primeiro em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro em que o Nada retome a cor do Infinito
Remake, Dez/2006
Em memória do escritor, David Mourão-Ferreira por produzir estas genialidades que ficam para lá do tempo, mesmo que os Natais deixem de fazer sentido. Fazem-no no infinito dos tempos.
JESUS (A VIDA DE CRISTO)

domingo

Uma compatibilidade problemática entre portugueses


O conteúdo da fé cristã é simples. Resume-se a algumas afirmações essenciais. Há 2000 anos, Deus, criador e motor dos mundos, fixou, com um judeu chamado Jesus de Nazaré, uma aliança total de pai para filho. E, pelas palavras, pela morte e pela ressureição de Jesus, permitiu-lhe assim dar um sentido à nossa História e à História.
 
Esse sentido define-se pelo seguinte: os homens são os filhos do mesmo criador. São todos irmãos. São animais espirituais e criadores. Integram, pois, sociedades que se dirigem para a convergência final. Devem entreajudar-se e amar-se uns aos outros com liberdade, o que lhes permite compreender a unidade da humanidade.
 
Porém, a grande dificuldade em toda esta formulação, que parece ser plausível, é saber como é que as populações podem identificar essa convergência com um governo que detestam, que abominam  e que está na raiz dos problemas nacionais por manifesta impreparação para a gestão dos negócios do Estado e a governação em geral.
 
Creio, em síntese, que o tema da salvação colectiva, pois é disso que se trata, encontra sérias dificuldades na relação das pessoas, das famílias, das empresas e das populações em geral no relacionamento com o ainda governo formal de Portugal.

Este tema da salvação colectiva começa, por razões óbvias, e graças à acção livre e solidária, tem não apenas reflexos no presente como também está voltado para a realização dos tempos futuros. E é essa esperança no futuro o ingrediente que mais hoje nos falta.
 

Etiquetas:

quarta-feira

Alexandre Soares dos Santos: o grande marketeer do nosso tempo

Narrativas desesperadas (duas)


Fast thinking: "os amigos de Alex..."

O Alex, nesta fase do campeonato, já não está preocupado em saber Quando e Como vai fazer novas campanhas de Pub. agressiva.
- O Alex, e "os amigos de Alex", perguntam-se, doravante, Onde será mais vantajoso pagar impostos.
- Eis uma mudança de perspectiva que importa retocar e está em linha com a velocidade dos negócios.





 





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na era do hiper-consumo, do neo-marketing e das campanhas de Pub. agressiva os feriados deixaram de ser nacionais para passarem a ser EMPRESARIAIS.
- A praxis do Pingo Doce poderá ser a ilustração prática dessa teoria. Ou como diria Kant - não há nada mais prático do que uma boa teoria...
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Etiquetas:

terça-feira

A importância de Sócrates nos dias d´hoje

 
Não estamos a discutir um tema sem importância, mas sim como devemos viver, diz Sócrates - repescado por Platão em A República. Urge reconhecer, por causa desta brutal escala de importância, que um PM comprovadamente incompetente, e uma chancelarina comprovadamente egocentrica - jamais deveriam ser autores de tanto poder e capacidade de decisão.
 
Pois tendo-o revelaram, à saciedade, não o saber usar. Um porque é manifestamente impreparado (técnica, cultural e políticamente), o outro porque é determinadamente inflexível na definição das medidas com base nas quais foram impostos os planos de austeridade para os países do sul da Europa.
 
Falo, pois, dum par fatal para a economia europeia e nacional que, entre múltiplos aspectos na complexa dimensão europeia (cujo projecto de Schuman, Monnet e Delors está hoje seriamente amputado), têm ultrajado as instituições comunitárias pelo desrespeito e atropelamento sistemático a que o directório unipessoal germânico remeteu o próprio projecto europeu e as suas instituições (que deixaram de se reunir e ter o tradicional poder formal previsto nos tratados).
 
Veremos, doravante, se já não será tarde demais para remendar os erros grosseiros já cometidos pela "patroa" da Europa acompanhada por alguns dos seus peões de brega.
 
 

Etiquetas:

segunda-feira

Receitas para se poupar - por Eurico Heitor Consciência -


Receitas para se poupar
 

1 – O sentido de poupança ainda não chegou a todas as Câmaras Municipais. Um dos pontos em que qualquer Câmara pode poupar milhares será nos boletins informativos municipais, acabando com eles e transferindo os seus fazedores para serviços camarários úteis.

Os referidos boletins não passam, na maior parte dos casos, de plaquetes de propaganda dos Presidentes das Câmaras e ficam caríssimos (alguns custam dezenas de milhares de contos em materiais e ordenados) e não fazem falta nenhuma: o que nos boletins se diz poderia ser publicado nos jornais locais e regionais, naturalmente abertos a quanto for de interesse colectivo.

2 – Outra coisa que deve exterminar-se com toda a urgência são as empresas municipais. Sem produto, nem clientes, nem vendas, estas empresas serviram para coisas extraordinárias: permitiram contratar pessoal sem critério, permitiram  pagar salários  sem critério e permitiram  atribuir subsídios e trocar favores.

Nomeio-te administrador da minha empresa pública se empregares a minha mulher na tua empresa municipal ou / contrato a tua mulher como advogada da minha empresa municipal se nomeares o meu filho teu assessor na tua empresa pública.

Tais pseudo-empresas permitiram driblar as regras que condicionam a administração autárquica… Muitas vezes, os responsáveis autárquicos que as criaram passaram a acumular uma segunda remuneração na pseudo-gestão dessas empresas.

“Chamam-lhes empresas, mas são tudo menos empresas” – escreveu no “Expresso” de 28 de Julho o antigo ministro das Finanças Daniel Bessa, que fez também a maior parte das afirmações que se prantaram aqui.

Todos sabemos disso. Sabemos, mas não cumprimos o dever de chamar ladrões aos vizinhos, conterrâneos ou amigos que se não recusaram a ser administradores dessas aberrações a que se convencionou chamar empresas.

Que acumularam um passivo superior a 2.000 milhões. Dois mil milhões!

Quantos calaceiros não têm sugado e estão chulando os que trabalham e produzem! Quantos malandros não vivem como príncipes às custas dos trabalhadores!

3 – 3ª poupança: nos deputados. Suspendem-se os do Parlamento Europeu com uma razão definitiva: quem não tem dinheiro não pode ter vícios. E esse gozo dos turistas de Bruxelas e Estrasburgo só poderá manter-se quando o défice acabar. E os de cá passam a morder-se por teleconferência. Poupam-se os dentes deles e os subsídios de viagem, as ajudas de custo e as despesas de representação e a electricidade e as despesas de limpeza da Assembleia da República (que bem precisada está de boas varredelas).

Eurico Heitor Consciência


Obs: Divulgue-se junto do maior número por ser verdade tudo quanto acima se diz. Esta foi, presumo, uma das melhores formas de elogiar Daniel Bessa, académico e ex-ministro da Economia, Indústria, Comércio e Turismo do XIII Gov Constitucional, liderado por António Guterres que, curiosamente, se demitiu do cadeirão de S.Bento por, precisamente, conhecer os contornos do pântano que acima se denuncia. Portanto, quem fala verdade, não merece castigo...

A esta luz, esta crónica acabou por ser, ainda que de modo não desejado, um grande elogio ao consulado de Guterres.
 

Etiquetas:

domingo

Eça de Queiroz escreve a Ramalho Ortigão

 
     Sei pelo Francisco que Você chegou da sua excursão.
     Deve ter aí encontrado uma carta minha; não se esqueça de que eu espero a sua resposta. Eu perguntava-lhe nela se teria aí três ou quatro libras para dar ao Catarro, porque Você, na indicação que me mandou acerca das nossas contas, esqueceu-se de dizer se havia algum dinheiro aí - disse-me só os recursos que eu poderia ter aqui. Ora é secante mandar daqui dinheiro ao Catarro, sendo mais fácil mandar-lho entregar aí.
- Voilá la chose. Eu preciso urgentemente desta resposta - porque preciso urgentemente de fato. Esta consideração deve comovê-lo. Responda pois brevemente.
     Mil abraços. Estive ontem com sua mãe, que está boa.
     Seu
 
 
                                                                                   Queiroz

Etiquetas:

sexta-feira

A decadência do Império Romano em Portugal

Não raro os tempos modernos são comparados aos anos em que o Império Romano entrou em decadência. Tal como se supõe que foi a podridão moral que enfraqueceu o poder em Roma para governar o Ocidente, diz-se também que foi essa corrupção moral que enfraqueceu o poder do Ocidente para governar o globo. Por mais abusiva, por extrapolada que seja esta generalização, ela, contudo, contem um elemento de verdade. O paralelo existe entre a crise da sociedade romana após a morte de Augusto e a vida nos nossos dias, em particular nesta Europa desunida, com o projecto comunitário estilhaçado e muito dependente da única potência directora que ocupa o coração da Europa. Reporto-me à Alemanha que tem apenas 5,6% de taxa de desemprego, é um colosso tecnológico, tem uma sociedade muito organizada, disciplinada, produtiva e competitiva à escala global, apesar de, no próximo ano, se estima que cresça menos do que tem crescido até ao momento.
 
Naturalmente que a visita da senhora se fará acompanhar de forúns, promessas de mais cooperação económica, mais investimento, estágios para portugueses na Alemanha (especialmente nas áreas tecnológicas), adopção de um sistema dual de formação e qualificação profissional (que permite aos jovens teorizar e e  aplicar essa teoria em contextos de estágios de empresas mais cedo, integrando assim o tecido empresarial), etc. Tudo isto, de certo modo, até é uma mais-valia para um país que, em rigor, sempre foi desorganizado, pouco produtivo e aproveitou mal os fundos comunitários que o então PM, cavaco silva, não soube administrar e monitorizar em ordem a que o tecido produtivo nacional se modernizasse e desenvolvesse. Agora pagamos todos uma factura demasiado cara e dolorosa.
 
O problema, visto na perspectiva da decadência do Império Romano, da Época de Augusto (agora transposto para os nossos dias), é que os romanos passaram a tratar a vida pública como uma questão de obrigação formal. Uma obrigação povoado por cerimónias públicas, de rituais feitos de pompas e circunstâncias, desanimados e, cada vez mais passivos e resignados aquilo que outros - de fora, lhes impunham. Ora, o mesmo se passa com Portugal - que perdeu todas as suas dimensões e vertentes da soberania que conferem autonomia e independência a um povo, a um território e a um poder político institucionalizado, que são os três elementos clássicos constitutivos de um Estado.
 
Hoje, em vésperas de Portugal receber a chancelarina alemã, os portugueses estão exangues, conforme estavam os romanos ao tempo da queda do Império romano, e a tendência é buscarmos no plano privado (já que não se pode contar com o Estado para nada, excepto para cobrar mais e mais impostos) um novo foco de compromisso e de crença salvífica que, um dia, nos há-de salvar dos terrenos pantanosos em que sucessivos governos, nos últimos 20 anos, embora com particular incidência para o que está em exercício, conduziu trágicamente toda uma nação, um povo homogéneo e um Estado multisecular e com fronteiras estáveis.
 
Há uns séculos, tínhamos o cristianismo e a gesta dos Descobrimentos como eficientes sistemas intelectuais de justificação para Portugal sair da sua natural pequenês, imposta pela sua geografia e economia (e geopolítica); hoje o país está pior, bem pior, e isso deve-se, em boa medida, à natureza, composição e capacidade reveladas pelo XIX Governo Constitucional em Portugal, talvez o pior desde 1974.
 
 

Etiquetas: