Ladainha dos Póstumos Natais - por David Mourão-Ferreira -
Ladainha dos Póstumos Natais
Poema de David Mourão-Ferreira
(in "Obra Poética: 1948-1988")
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito
Em memória do escritor, David Mourão-Ferreira por produzir estas genialidades que ficam para lá do tempo, mesmo que os Natais deixem de fazer sentido. Fazem-no no infinito dos tempos.



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