sexta-feira

A decadência do Império Romano em Portugal

Não raro os tempos modernos são comparados aos anos em que o Império Romano entrou em decadência. Tal como se supõe que foi a podridão moral que enfraqueceu o poder em Roma para governar o Ocidente, diz-se também que foi essa corrupção moral que enfraqueceu o poder do Ocidente para governar o globo. Por mais abusiva, por extrapolada que seja esta generalização, ela, contudo, contem um elemento de verdade. O paralelo existe entre a crise da sociedade romana após a morte de Augusto e a vida nos nossos dias, em particular nesta Europa desunida, com o projecto comunitário estilhaçado e muito dependente da única potência directora que ocupa o coração da Europa. Reporto-me à Alemanha que tem apenas 5,6% de taxa de desemprego, é um colosso tecnológico, tem uma sociedade muito organizada, disciplinada, produtiva e competitiva à escala global, apesar de, no próximo ano, se estima que cresça menos do que tem crescido até ao momento.
 
Naturalmente que a visita da senhora se fará acompanhar de forúns, promessas de mais cooperação económica, mais investimento, estágios para portugueses na Alemanha (especialmente nas áreas tecnológicas), adopção de um sistema dual de formação e qualificação profissional (que permite aos jovens teorizar e e  aplicar essa teoria em contextos de estágios de empresas mais cedo, integrando assim o tecido empresarial), etc. Tudo isto, de certo modo, até é uma mais-valia para um país que, em rigor, sempre foi desorganizado, pouco produtivo e aproveitou mal os fundos comunitários que o então PM, cavaco silva, não soube administrar e monitorizar em ordem a que o tecido produtivo nacional se modernizasse e desenvolvesse. Agora pagamos todos uma factura demasiado cara e dolorosa.
 
O problema, visto na perspectiva da decadência do Império Romano, da Época de Augusto (agora transposto para os nossos dias), é que os romanos passaram a tratar a vida pública como uma questão de obrigação formal. Uma obrigação povoado por cerimónias públicas, de rituais feitos de pompas e circunstâncias, desanimados e, cada vez mais passivos e resignados aquilo que outros - de fora, lhes impunham. Ora, o mesmo se passa com Portugal - que perdeu todas as suas dimensões e vertentes da soberania que conferem autonomia e independência a um povo, a um território e a um poder político institucionalizado, que são os três elementos clássicos constitutivos de um Estado.
 
Hoje, em vésperas de Portugal receber a chancelarina alemã, os portugueses estão exangues, conforme estavam os romanos ao tempo da queda do Império romano, e a tendência é buscarmos no plano privado (já que não se pode contar com o Estado para nada, excepto para cobrar mais e mais impostos) um novo foco de compromisso e de crença salvífica que, um dia, nos há-de salvar dos terrenos pantanosos em que sucessivos governos, nos últimos 20 anos, embora com particular incidência para o que está em exercício, conduziu trágicamente toda uma nação, um povo homogéneo e um Estado multisecular e com fronteiras estáveis.
 
Há uns séculos, tínhamos o cristianismo e a gesta dos Descobrimentos como eficientes sistemas intelectuais de justificação para Portugal sair da sua natural pequenês, imposta pela sua geografia e economia (e geopolítica); hoje o país está pior, bem pior, e isso deve-se, em boa medida, à natureza, composição e capacidade reveladas pelo XIX Governo Constitucional em Portugal, talvez o pior desde 1974.
 
 

Etiquetas: