A esquizofrenia de Belém. A bipolaridade política de cavaco e a insustentabilidade da classe política
O discurso político do locatário de Belém é deveras curioso, para não dizer patológico. Ou seja, no plano discursivo, cavaco assume que "não é correto exigir" o cumprimento "a todo o custo" de objetivos nominais para o défice orçamental num país em processo de ajustamento".
Afirma-o no FaceBook e nas media tradionais, para quem ainda tem a paciência de o ouvir.
No plano prático, promulga os diplomas que o Governo produz, mesmo que estes comportem a mais pura destruição do tecido económico e social do país. Esta conduta dual e ambivalente revela bem quem cavaco tem sido politicamente, traduz a sua "(des)ligação" à realidade, para não falar de cedência à realidade e à coligação contra-natura de centro-direita que já tem mais contradições e anticorpos do que uma pessoa com SIDA nos anos 80 mo seu posto de trabalho e na sociedade.
Cavaco, de facto, não tem sido coerente e esta sua leitura da realidade política revela, por outro lado, a noção (tão cínica quanto hipócrita) que faz da democracia política e social entre nós. Ou seja, ele entende, em face de todo o seu comportamento político (por acção e omissão), que só indirectamente estas medidas questionam a vida do indivíduo em sociedade, doutro modo já teria vetado certos diplomas por serem profundamente lesivos dos interesses das pessoas, das famílias e das empresas em Portugal, nos mais variados domínios e sectores de actividade.
No no patamar da democracia política, que exige abnegação dos cidadãos, o seu funcionamento desenvolve-se no plano do debate de ideias, a que o cidadão médio não tem acesso nem massa crítica para valorar; é, pois, um debate quase académico, sendo que os conflitos se resolvem academicamente. Mas no que diz respeito à democracia social, que hoje enche as praças e ruas de Lisboa de exércitos de multidões desempregadas e frustradas com as suas condições de vida e profundamente descrentes na classe política que hoje liquida Portugal, que ocorrem um pouco por todo o país, as coisas passam-se de modo diferente: é a condição do homem situado, como diria o grande constitucionalista G. Burdeau, que depende das decisões tomadas, o seu bem-estar, a sua segurança material, as possibilidades oferecidas aos seus filhos. Nestas condições, concebe-se que a luta política adopte um outro tom, desde o momento em que o seu resultado compromete os destinos individuais.
Talvez isso demonstre o receio de Belém vertido no Facebook, para dar um ar de pós-modernidade sem consequências. Mas trata-se dum sentimento que remete mais para o medo político do seu autor, acautelando a sua imagem e carreira pessoal e política, do que uma genuina preocupação com as efectivas condições de vida (miseráveis) em que hoje vegeta o povo português. E isto é profundamente lamentável, tanto mais quando se compreende que estas arremetidas tardias por parte do locatário de Belém ocorre de forma não autentica, de modo tardio e sem uma verdadeira dimensão europeia que nos possa enquadrar (no tempo e no tipo de medias que assegure esta transição quase fatal), já que Barroso veio dizer, urbi et orbi, que nada tem a ver com o que se passa em Portugal. Isso diz respeito aos Estados-membros, naquele seu típico estilo político e pessoal de desresponsabilização vertido na velhinha fórmula - "sacodir a água do capote"...
Este facto também é revelador por parte dum putativo candidato à PR daqui um par de anos. O que nos obriga a reconhecer, à luz destes factos e declarações, que a classe política nacional, e alguma que anda emigrada, não tem qualidade, consistência e sustentabilidade. Numa palavra: não serve Portugal e os portugueses.
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