A profissionalização da criatividade entre os jovens: o agir na obliquidade - por José Machado Pais
Enunciado no âmbito da Conferência do ICS 2012, na FCG:
Que acontece quando em situação de desemprego os jovens procuram profissionalizar a sua criatividade? Entre temores e frustrações, há desafios que surgem de descobertas trajetivas, o caminho fazendo-se no andar, os meios descobrindo - obliquamente - fins distintos dos previstos. O agir da obliquidade, assente na capacidade de interconectar ocorrências, parece correlacionar-se com inesperadas oportunidades de vida e novas correntes socioculturais. Se assim é, que papel cabe aos jovens como potenciais agentes de mudança?
- José Machado Pais, sociológo e investigador do ICS da UL, coloca assim, criativamente, a questão que diz respeito à generalidade dos jovens, mas também à sociedade em geral, já que os jovens são sempre o sangue novo a correr nas veias da (velha e emergente) economia, da sociedade, da cultura e, a médio prazo, das finanças de qualquer país.
- A questão tem tanto mais fundamento na medida em que temos, hoje, neste 1º quartel do séc. XXI, uma situação paradoxal assente na seguinte contradição: gozamos de quadros universitários relativamente bem formados e preparados - relativamente ao passado (remoto e recente) e, no entanto, nunca como hoje essa mesma geração de jovens qualificados, nas mais diversas áreas do saber (teórico e aplicado), foi convidada a sair do país, ou seja, a emigrar compulsivamente para encontrar melhor destino no estrangeiro.
- Do ponto de vista político, tal representa uma inovação, mas uma inovação negativa e surpreendente, porque é o reconhecimento automático da incapacidade de governar e de, em consequência, criar estímulos e incentivos na economia para que esta possa absorver aquela formação qualificada em que o Estado, ao longo de décadas, tanto investiu. E investiu com os impostos dos portugueses recolhidos pelo Estado - que alguns designaram de "monstro"...
- Com isto não se responde à questão formulada pelo investigador, de quem tenho o privilégio de ser amigo e de, acima de tudo, respeitar o seu trabalho intelectual que é considerável.
- Na prática, que papel cabe aos jovens como agentes da mudança?
- Aquilo que define o homem não é a sua capacidade de criar uma segunda natureza - económica, social, cultural, mas sim a capacidade de passar por cima das estruturas (velhas e disfuncionais) criadas para criar outras a partir delas. Eis, no meu entendimento, o papel dos jovens na contemporaneidade, em que as sociedades são atingidas pela incerteza, pela complexidade e pela contingência.
- Mas para além da grandeza em construir estruturas emergentes sobre estruturas velhas, tão estéreis quanto improdutivas, pede-se aos jovens um desígnio - assente na sua capacidade de revogação e de humanização da sociedade e a economia. E essa será, porventura, uma tarefa hercúlea que demorará gerações a realizar.
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