A direita e a drª Nogueira Pinto
Vasco Pulido Valente Parece que a demissão da dra. Maria José Nogueira Pinto do CDS e da Câmara de Lisboa revela que à direita "o rei vai nu". Não se compreende porquê. A dra. Maria José Nogueira Pinto foi (não sei se por esta ordem) subsecretária de Estado da Cultura, directora da Maternidade Alfredo da Costa e directora da Misericórdia de Lisboa. É uma alta funcionária, não é uma política. Por muito que lhe custe, os políticos são eleitos, não são nomeados. Que ela agora tenha resolvido deixar o posto, na essência honorífico, de presidente do conselho nacional do CDS e o cargo de vereadora, que deve ao CDS, não diz rigorosamente nada sobre a direita. A importância real da dra. Maria José Nogueira Pinto não corresponde à importância que ela a si própria se atribui. Daqui a uns meses ninguém se lembrará da personagem. Mas, de facto, com ou sem a dra. Nogueira Pinto, há uma crise na direita. Não por acaso a "intenção de voto" no PSD chegou abaixo do voto efectivo de Santana na eleição de 2005. Embora Marques Mendes ainda controle o aparelho, as divisões do PSD vão fundo e vão longe. Por um lado, não se vê maneira de fabricar uma unidade qualquer, mesmo de fachada, capaz de convencer o cidadão comum: a ala populista não é conciliável com a ala "tecnocrática", que sempre governou em nome do partido. E, por outro, Marques Mendes falhou no principal. O PSD precisava de estratégia clara e consistente, que o identificasse como oposição e o distinguisse de Sócrates. Por causa de Cavaco ou por pura incompetência, acabou por resvalar para um protesto contínuo, sem relevância ou lógica, que deixou de se ouvir e abre a porta ao tumulto geral. Isto quanto ao PSD. Quanto ao CDS, o de hoje ou o de ontem, com um presidente em part-time e o grupo parlamentar em conflito com a direcção, não serve e nunca serviu para coisa alguma. A direita não percebeu que Sócrates, consciente ou inconscientemente, abriu uma nova época na política portuguesa. O autoritarismo, o equilíbrio financeiro e a administração austera, que, à mistura com um programa "modernizador", alimentam o mito oficial de Sócrates vieram da direita, não vieram da esquerda. Para sobreviver, a direita tem de rejeitar a hipocrisia intrínseca do regime e tratar o país com mais realismo e menos propaganda. À cultura do poder que Sócrates conseguiu impor ao país, só se responde com uma nova cultura: com uma contracultura. E não me cheira que neste capítulo a dra. Nogueira Pinto faça muita falta.