quarta-feira

A Ota da nossa confusão e descontentamento

Quem tivesse visto o Prós & Contras sobre a problemática da OTA ainda teria ficado mais confuso. Confesso que vi intermitentemente o programa, mas do que vi ainda fiquei mais angustiado. Lá estava a nata da engenheiria lusa, dum lado o poder, do outro alguma oposição, técnicos, engenheiros, conceitos mais herméticos tudo alí foi exposto, até as vaidades "engenheirocráticas".. Mas não se chegou a nenhuma conclusão.
Parece que as soluções técnicas não tiveram pujança para alterar o statu quo e lançar um novo relance sobre esse candente problema em Portugal, pois parece que o País está já há muito tempo a rejeitar turistas que querem visitar-nos porque as nossas infra-estruturas aeroporturárias já não têm capacidade para mais. Isto reflecte bem o problema económico que temos entre-mãos, e para o qual as opiniões e as putativas soluções técnicas não conseguiram convencer a opinião pública.
Além do problema em si - saber se devemos (ou não) construir o aeroporto na Ota, nasce outro problema dentro daquele que tem reflexos nas demais questões que afectam o futuro colectivo dos portugueses. Ou seja, sempre que há um grande projecto na calha e se mobilizam as opiniões e a massa crítica nacional, os portugueses em lugar de ficarem mais esclarecidos ainda ficam mais confusos. Parece até que o propósito desses debates públicos, desses programas tem uma só finalidade: gerar a confusão e a descrença entre os portugueses em relação às grandes opções do desenvolvimento nacional.
Ora, é precisamente esta incerteza dos tempos que converte o nosso mundo num palco, e em vez de ver no Prós & Contras um fórum de gente excepcional que ajuda a destapar a nuvem para vermos o azul do céu, só vemos uma chaminé de Sines a emitir ainda mais emissões de CO2 para atmosfera do nosso entendimento, razão por que ficamos ainda mais poluidos. E um homem poluído não decide, suicida-se.
Naquela plateia do Prós & Contras mais não vi do que cada um representando o seu papel, o seu drama, a sua empresa, a sua corporação, a sua posição de interesse. No fundo, um teatro pegado, sem guião à vista, mas num improviso assinalável. Como naqueles filmes em que o guião extravia-se e o realizador vai fazer amor com a protagonista do filme para trás das dunas onde as cenas decorrem e os takes supostamente são filmados.
Como no Prós & Contras, cada engenheiro sua sentença, sua cagança, sua... Juntaram-se alí para discordar, nada mais. No fim, deixaram os seus papéis vagos, como vazia ficou a cabeça dos portugueses que desejaria ser esclarecida. Até José Sócrates há-de ter ficado tergiversado, mais a mais ele é engenheiro diplomado pela UnI...
Conclusões:
1. Hoje, em virtude do palco que é a tv, parece que todos os problemas da nação se têm de transformar num show of para inglês ver, no final a decisão fica na boca do jacaré.
2. Ás incertezas estratégicas sobre se a Ota deve ou não ser equacionada seguem-se as angústias. É como engravidar a irmã, como n 'Os Maias, e foi precisamente a isso que Eça quis chamar ao Portugal do séc. XIX: um incesto. Hoje constato que não estamos muito diferentes. Ou será que estamos só prostituídos por uma opinião tão contraditória quanto dilacerante!!??
3. Quem rasgou o guião? Por que razão não se arranja urgentemente outro, já que na Ota nem a qualidade dos solos parece valer 1grama de esforço das buldozzers, só representa custos desnecessários noutras localizações, mormente em Almada - como hoje se equaciona. Embora não seja ao lado do Cristo-Rei que urge aterrar, pois aí não haverá espaço suficiente, e nos braços do Cristo também será arriscado aterrar o nariz dos aviões.
4. haverá algum mistério nisto? Se não há, parece!!! Temos quatro grandes motores: a inteligência/massa crítica, a tecnologia, as instituições e os valores. Parece que nenhum deles nos ajudam a sair da boca do jacaré nem do pântano da Ota...
Em face do exposto, pergunto-me se somos um País normal ou se não funcionamos antes no vácuo de algum avião que está em vias de se despenhar por um penhasco..: o da Ota...(apesar daquilo ser uma planície!)