quarta-feira

Um português à solta no Brasil a falar de Marcello...

Nota transatlântica:
O Macroscópio nunca esquece os amigos, nem os autores de blogues amigos apesar de sabermos que o contrário não é verdade. Seja como fôr, fica aqui o registo transatlântico dum "português à solta no Brasil" (quase que a evovar Agostinho da Silva), e por causa de quem?! De Marcello, não do que dá mergulhos no Tejo e anima o circo mediático aos Domingos neste rectângulo obscuro do Portugal dos caninos, mas o Marcello Caetano que, apesar de nunca ter sabido ser um verdadeiro democrata fazendo (como então se impunha) a verdadeira ruptura com o passado, não deixou de ser um homem com estatura moral e intelectual elevada e um grande pedagogo, um português de excepção. Contudo, preferia que nunca se tivesse metido na política. E, já agora, que não tivesse d'ir morrer ao Brasil, marginalizado, angustiado... Como qualquer Homem que é forçado a morrer longe de casa e dos seus familiares e amigos. Mesmo em vida isto, só por si, já mata qualquer um.
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Por José Adelino Maltez, no blog Sobre o tempo que passa...
"Foi com emoção que, ontem, tive a honra de conferenciar num dos templos da pátria e da liberdade, no Rio de Janeiro, o Real Gabinete Português de Leitura, fundado há 170 anos por exilados liberais portugueses, agora instalado num edifício neomanuelino, inaugurado em 1887, onde se guarda uma primeira edição d "Os Lusíadas" de 1572, ou o manuscrito do "Amor de Perdição", que o presidente António Gomes da Costa me permitiu consultar. Porque esta instituição, de matriz azul e branca, isto é, liberal e liberdadeira, ainda vive como pensa, como um pedaço de Portugal à solta, tentando cumprir a ideia maior do abraço armilar, fiel à matriz dos homens livres que a fundaram e sucessivamente recriaram (aqui deixo algumas imagens do espaço e das pinturas que nela se guardam, de Camilo a um quadro de Malhoa sobre a descoberta do Brasil). E não foi por acaso que esta instituição teve a coragem de recordar alguém que, no ano de 1980, teve o seu corpo em câmara ardente nesse local. Tentei identificar Marcello Caetano com um certo tempo de vésperas daquele que ainda hoje nos mobiliza, e que talvez faça aquecer em valor mais altoespera, esfera e esperança o necessário abraço armilar. Tentei falar de um certo tempo português, para o qual não tem sido adequado o verso épico, mas sobre o qual também já chegou a hora de pormos fim às inverdades e aos insultos. Porque Marcello era racional-normativo em demasia para poder erguer uma nova legitimidade carismática. Maquiavélico de menos para poder instrumentalizar a legitimidade tradicional do patrimonialismo, isto é, dos donos do poder e dos senhores da guerra."