"A vitória de Salazar", p'lo Memórias Futuras
Nota prévia: Subscrevo em absoluto este artigo sobre a mediocridade daquela direcção de informação que editou o programa, vendo uma Dona Mª Elisa impreparada para o apresentar, tamanhas foram as imprecisões, os erros, as falsas comparações, os abusos estatisticos, as manipulações, as facadas na "estória" e o mais. Se mérito houve foi o de pôr em contacto os portugueses a falar de história deste povo de marinheiros, mas que depois sabe tanto de geografia como eu de lagares de azeite ou a Dona Elisa de historiografia. Enfim, é o país que temos, a televisão que merecemos, o ditador que engolimos. Agora, vale a pena lermos este artigo do Memórias Futuras assinado por Joaquim Luís Paula de Matos, por sorte minha o senhor meu tio.
A vitoria de Salazar (link)
A “Vitória” de Salazar
É-me difícil passar por cima desta “vitória” de Salazar mesmo que tenha sido num concurso da Televisão sem opinar sobre ela de acordo com a minha sensibilidade.
Quando o concurso foi lançado há uns meses atrás expressei-me aqui contra ele porque não me parecia correcto que figuras importantes da história do nosso país fossem colocadas, a pretexto da sua importância, umas contra as outras numa disputa sem sentido que não fosse o de ganhar audiências para a RTP de acordo com um critério, muito em voga nos dias de hoje, que é o de alguém ser “o mais” de qualquer coisa…
Reduzir pessoas a melões para saber qual deles o mais doce ou mais saboroso nem por uma questão de entretenimento se deve fazer por respeito para com as pessoas que, obviamente, não são melões.
Depois, se tivéssemos a comparar pessoas da mesma área de actividade ainda teria algum cabimento se a análise dessas personalidades fosse feita por especialistas nessas áreas mas, pôr em confronto Aristides de Sousa Mendes com Afonso Henriques é um perfeito disparate.
De positivo desde programa ficou-nos a oportunidade de revisitar a nossa história e ouvir falar de pessoas tão importantes do nosso colectivo enquanto nação com oito séculos de existência como foram todas aquelas que apareceram nos dez primeiros lugares e, pena foi, que de outras que não entraram nesse ranking não se tivesse podido falar.
Este, o mérito do programa a justificar, por esta razão, a sua apresentação.
Para esquecer ficaram os telefonemas feitos voluntariamente e a pagar para eleição de um deles como o melhor português.
Este, o disparate que deve ter rendido a alguém que opera na área dos telefones e telemóveis mais de 130.000 euros em chamadas fora o IVA que foi para o Estado (valha-nos isso…).
Esta pretensa forma de eleger seja quem for não tem nenhum valor, está errada e só conduz ao erro e à confusão.
A prová-lo estão os dois Estudos de Opinião da Eurosondagem e da Marktest efectuados dois dias antes do final do concurso e que tiveram como resultado que a simpatia dos portugueses foi, em primeiro lugar, para D. Afonso Henriques seguido de Luís Vaz de Camões de forma bem destacada (22,7% e 21% para A. Henriques e 17,2% e15,2% para L. de Camões).
Salazar figurou, nesses estudos, em 6º e 4º lugar com 11% e 6,6% dos votos contra os 41% dos telefonemas…
Isto significa que a pessoa do antigo ditador foi manipulada, foi usada por um grupo de pessoas que se mobilizaram para efectuar telefonemas em tudo o que eram telefones e telemóveis da família e dos amigos e o mesmo se poderá dizer relativamente ao resultado de Álvaro Cunhal.
É interessante verificar que, mesmo depois de mortos, estes dois continuam a perseguir-se e, quanto a Salazar, dizer ainda que esta sua “eleição” foi um logro, uma batota, exactamente como aquelas que ele próprio promoveu em vida enquanto governante ou seja, eleições com Salazar não resultam quer na vida quer na morte.
Salazar foi um ditador que preconizava que Portugal deveria ser um país rural, de pessoas pobres, minimamente letradas, trabalhadoras, honestas, privadas de ambições e de carácter, tementes a Deus e ao Regime e servido por um Império Colonial, legado dos antepassados, que deveria ser mantido contra tudo e contra todos incluindo o sacrifício da vida dos portugueses e a progressiva ruína moral e material do país.
Este retrato traduz, na essência, a personalidade escolhida por 41% dos telefonemas como sendo a mais importante de todos os portugueses (só se for pela negativa…direi eu).
Quanto ao voto de protesto apresentado como explicação para este resultado eu, sinceramente, não iria tão longe até porque, nas sondagens, com 6 e 11% dos votos não aparece nenhum protesto…
Como se diz lá na minha aldeia: “ o problema é outro e a burra deita-se”.
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