Contrastes - por António Vitorino -
Obs: Talvez mais do que ao velho Botas que está enterrado, apesar de meia dúzia de saudosistas pulularem por aí..., de que o dr. Jaime nogueira Pito é apenas um reflexo pseudo-institucional com aspirações históricas, aquilo que António Vitorino, e bem, critica (segundo me parece..) é esse ciclo vicioso da sondajocracia que hoje tolhe mais do que liberta a mentalidade do povo português. Ou seja, vivemos enfeudados a essa "sondagite concursal" da mediacracia vigente que aspira a uma permanente quantofrenia, e que não deixa de ser uma forma moderna quer de ganhar dinheiro, quer de dominação - em articulação interesseira com as estações de tv - que delas se servem para efeitos de concorrência e mobilização da opinião pública, porque as necessidades do lucro gordo e imediato a isso obriga. Diria até, sugestionado por este artigo de AV - que neste momento deve estar em Moçambique (seguindo daqui um abraço para ele) - que hoje as democracias estão confrontadas com um novo campo de luta, que já não remete para a velha luta de classes, mas para o próprio campo da luta "científica/técnica" que vende sondagens em massa para a mediacracia vigente.
É, pois, na forma como se orquestram os concursos (de par com as TIC utilizadas) que chegamos a certos resultados lamentáveis. A dona Mª Elisa, conseguiu fazer esse mau trabalho com uma perfeição imbecil que choca as alminhas no além. Nem Manela Moura Guedes faria pior, certamente... E o mais grave nessa aritmética provinciana das sondagens para "tudo e para nada", é que o intelectual de serviço responsável por determinada sondagem que se engana - arrasta sempre consigo as centenas, os milhares de pessoas que o seguem nesse colossal erro, porque a sua palavra tem uma força e uma legitimidade nos media como se fosse um deus (menor).
Ao ler este artigo de AV - chego à seguinte conclusão que, em rigor, decorre da desmontagem das distorções a que os "sondageiros" de serviço submetem a desgraçada opinião pública que temos, quiça ainda mais provinciana do que ao tempo de Salazar, que deu origem a esta reflexão. É que a sondagem de opinião, actualmente, não deixa de ser um instrumento de acção política (e socioprofissional), a sua função mais importante consiste em impor a ilusão de que existe uma opinião pública como reunião puramente aditiva de opiniões individuais, como diria o sociólogo Pierre Bourdieu (acima na imagem). Um dos propósitos dos sondageiros é, no fundo, mais do que ouvir as balelas de Nogueira Pinto sobre salazar que nunca ninguém sériamente escutou, salvo meia dúzia de amigos alí do Campo Grande que faz o favor de lhe comprar os livros, é mostrar que existe sempre uma opinião pública unânime, e, portanto, capaz de legitimar uma política e reforçar as relações de força que a fundam ou a tornam viável.
Mas o mais dramático de tudo isto é, como António Vitorino sinalizou no seu último parágrafo - com cirúrgica ironia queirosiana - que os activistas da votação se formaram na escola (Colonial da "banana") e na ética colonial do Portugal (pluricontinental e multirracial) do Minho a Timor - e alguns deles ainda se passeiam por aí, arrastando a sua surdez pelas fundações da China com interesses na Europa.
Foram esses que fizeram a transição cínica e hipócrita para democracia, mas se amanhã o regime mudasse e evolucionasse para uma ditadura seriam os primeiros a dizer: "Eu nunca fui democrata, mantive-me sempre ministro das colónias do velho "Botas"...Esses são os ratos que hojes estão bem caladinhos, eles nem sequer falam da situação que afecta o seu partido de sempre: o CDS... São esses os novos restolhos do Restelo!!!
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