segunda-feira

Sub-representação política: as palavras e as coisas

Escolho aqui este quadro de Tarsila do Amaral - "Operários" - 1933 - picado no Acervo Artístico Cultural dos Palácios do Governo do Estado de S. Paulo - e que ilustrou a capa do livro de crónicas de Vitor Cunha Rego, Os Dias de Amanhã, um grande articulista português (e não só) que já partiu. Assim, as palavras que se seguem são também uma justa e simples homenagem a Cunha Rego, a um tema que lhe seria, porventura, caro: o da subrepresentação política, intra e extra-muros. Veremos, pois, se aqui consigo condensar o que pretendo significar com esta breve evocação.
Muitas das palavras do nosso vocabulário não têm hoje tradução visível nos factos que lhes correspondem: "cidade"; apesar de tudo, dá-nos uma imagem do que queremos transmitir, mas nação, Estado, soberania, democracia, representação já não encontram correlação visível através de simples conceitos. Ficando apenas processos mentais abstractos - que ocupam o lugar verdadeiro dos factos que se escondem por trás deles.
Nessa indefenição situam-se outros conceitos, como justiça, legitimidade, legalidade, liberdade, igualdade, direito(s), etc. Já para não falar noutras realidades mais sociais, como desemprego, felicidade, pobreza entre outras realidades ligadas ao mundo económico que tecem as malhas do nosso quotidiano. Assim, verificamos que toda a nossa experiência sensorial é a de raciocinar através de conceitos - que são entidades quase abstractas e remetem-nos para o lugar do inexistente.
Mesmo que o homem moderno tenha desenvolvido um sistema de comunicação que nos permite traduzir realidades através da linguagem (ao invés do homo sapiens) - enquanto construção lógica - que nos abre caminho ao conhecimento científico, esses mesmos conceitos deixam-nos num impasse terrível, já que as imagens para que nos remetem apenas partilham uma realidade infiel e pobre da realidade autentica que visavam partilhar inicialmente.
Alguns exemplos: a ideia de felicidade pode espelhar a face de alguém alegre numa foto, a imagem de liberdade a de alguém a sair da cadeia, a do desemprego a atitude de alguém frustrado e deprimido. Se bem que a ideia de liberdade não se explique através de um sujeito a sair da cadeia, nem a visão do desempregado se confine à ideia de frustração e assim por diante. Ou seja, entre o conceito e a realidade que aquele visa explicitar não existe perfeita correlação ou sintonia.
A coisa avoluma a sua gravidade quando falamos de líderes europeus, como Merkel, Sarkosy e outros actores - em que o valor das suas palavras pouco ou nada significa, ou melhor, por vezes até é contraditória nos seus termos. Nisto Passos Coelho é exímio: antes de privar com a Srª Merkel era pró-eurobonds como forma de financiar a dívida dos Estados, depois de privar com ela inverteu a sua posição só para não desagradar ao "homem" que manda na Europa e que hoje financia boa parte da assistência financeira a Portugal.
Ou seja, coabitamos hoje entre conceitos que nos remetem para imagens vazias, sem sentido. Por isso não conseguimos explicar o que sente o detido a sair da prisão, o pobre a escapar à pobreza, e, no plano europeu - que hoje determina o que se passa no interior das nações, em que consistem as palavras balofas de Durão Barroso quando enche a boca com a defesa dos eurobonds - cuja proposta esbarra com a manifesta oposição de Merkel - que decide praticamente tudo no plano financeiro e económico.
Tudo isto é revelador de que os conceitos de que hoje dispomos no vocabulário necessário à nossa comunicação não tem sentido, não é consequente, logo aquilo que vemos e ouvimos por parte dos líderes europeus e dos dirigentes nacionais, à nossa pequena escala e dimensão, não basta para produzir ideias geradoras de conceitos emergentes que possam enquadrar e explicar uma nova realidade.
Creio que é por vivermos todos hoje essa grande atrofia mental e política que o Velho Continente vai empobrecer (está a empobrecer), conduzindo também a um fenómeno de linguagem mais pobre. Não apenas no seu número de palavras utilizadas, mas sobretudo na riqueza dos correlatos significados.
Estes fenómenos todos relacionados entre si espelham uma péssima imagem da democracia que engendrámos neste 1º quartel do séc. XXI, em que as comunidades estão cada vez pior representadas nas instâncias de decisão que comandam o destino de todos nós.

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terça-feira

Europa está apática, anedótica e sem soluções

O comentário de Vítor Andrade, jornalista do Expresso, no Jornal de Economia da SIC. Em análise a crise das dívidas, a Europa sem soluções, a falta de estratégia para a Economia e a greve geral.

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sábado

Emplastro refinado nas lides políticas: um caso de criatividade pura e aplicada. Serviço público

Sublinhei noutro sítio que desde que o Emplastro montou placa estragou a sua imagem de marca, paradoxalmente. Ou seja, arranjou e piorou escavacando a sua habitual imagem de marca (decadente) colado aos jornalisticas em reportagem de eventos desportivos.
Também aqui o Emplastro, agora com dentadura Pepsodent, com ar mais lavado e civilizado compreendeu que o seu espaço público, a sua esfera de influência e toda a sua colagem mediática tinha de evoluir para outros campos mais mediáticos. Ou seja, emigra do meio paroquial do futebol, já muito estafado, para a arena mais política, onde se travam os combates pela modernização e desenvolvimento da sociedade, como a área da justiça - que tem impedido que Portugal honre compromissos, faça justiça metendo criminosos na cadeia, acelere os processos com antecipam as falências das empresas e destrua, literalmente, famílias inteiras pelos atrasos, incompetência, erros e iniquidade da justiça que temos que prolongam eternamente processos e que são o sinal evidente para afogentar qualquer investidor estrangeiro que queira aportar os seus capitais a Portugal e cá gerar riqueza, empregos e bem-estar.
Compreendendo a evolução destas dinâmicas sociopolíticas, o bom do Emplastro passou a colar-se à esfera da justiça, granjeando aí um capital mediático revigoradamente hilariante. Desse modo, o Emplastro aparece junto aos tribunais, ridicularizando-os, aproveitando também essa "onda" para se colar aos advogados de D. Lima (e outros agentes da justiça) sem que estes, pelos vistos, demonstrem rejeição ou repulsa por tão nobre e aristocrática colagem e companhia peripatética.
Só falta o Emplastro aparecer atrás da "raposa" da justiça, para retomar a impressiva narrativa de Marinho e Pinto, bastonário da OA, denunciando, mais uma vez, que o rei (da justiça) vai nú. Neste caso, a raposa está sem pêlo...
Será isto resultante dum atraso mental do Emplastro, decorrerá duma pancada e/ou obsessão que ele tem em querer aparecer de modo compulsivo junto das camaras?!
Se formos redutores na resposta, tenderemos a responder afirmativamente. Mas se olharmos a linha do horizonte e procurarmos também o zénite que se estende para lá dele, podemos identificar no Emplastro - e no ridículo que ele representa (passando por efeito de contágio também a ridicularizar as áreas e os sectores da governação às quais se cola a fim de denunciar que, afinal, o rei vai nú) uma criatividade paradoxal no seu estado de consciência, pois é através da sua presença nessas reportagens que algo muda ao nível das nossas percepções. E ao mudar no plano do nosso entendimento, passamos também a questionar a seriedade e credibilidade dessas políticas públicas, dos respectivos protagonistas que, em inúmeros casos, como é o da justiça, da economia e outros, não passam de meros figurantes duma ópera bufa que há muito roubou a esperança aos portugueses.
O Emplastro, e até o afirmo sem ironia, embora com muita flexibilidade e cedência de análise, representa hoje, de forma impressiva, uma tonelada de criatividade-Pepsodent bastando, para o efeito, que ele se esconda atrás do homem que fala. É esse "deus comunicacional" que o Emplastro secunda num gesto quase religioso como que querendo advertir os portugueses que, afinal, todas as reformas políticas de que Portugal precisa, não terão lugar se ele não aparecer atrás do homem que fala, o deus do momento.
Talvez por isso não seja de estranhar ver o Emplastro atrás de Pedro Passos Coelho na presidência do CM, em S.Bento, na sede do psd e noutros fora - a fim de ajudar o PM em funções a comunicar à sociedade as reformas prometidas. E depois estenda essa actividade mediática além-fronteiras, quiça atrás da pele de Zé Du, esse grande democrata angolano - que prometeu a Passos utilizar o seu petróleo e os seus diamantes ao serviço da economia portuguesa.
E quem diz atrás do PM, diz atrás da Troika - onde os players, de 5ª ou de 7ª linha, como diz o sr. BPI, nada devem à inteligência e ao conhecimento detalhado da economia e da sociedade portuguesas.
A esta luz, arrisco-me a dizer que o Emplastro faz serviço público - pela energia hilariante que passa a todos os portugueses, coisa que o PM, a ministra da Justiça, o ministro da Economia e o das Finanças e tutti quanti - não conseguem fazer.

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quarta-feira

Um governo pior do que o outro: uma desgraça nacional

Este Gov ainda consegue ser pior do que o anterior, na medida em que agrava as condições de vida dos assalariados e dos portugueses em geral, antes mesmo de começar a satisfazer as suas legítimas necessidades, com a retoma do crescimento económico e do emprego.
Não valerá a pena recordar os erros do passado, que foram muitos, e os do passado remetem-nos, por sua vez, para erros mais antigos, do passado mais longíquo. Hoje o drama parece assentar na ideia em que não existe uma resposta para a contradição em que caímos: temos que reformar o país, mas isso pode não ser condição suficiente para sairmos da recessão em que mergulhámos. Assim, realizar transferências sobre um certo período, estabelecendo metas para o défice e a inflação de modo automático, imposto de fora, é o que nos resta. Ficámos sem qualquer capacidade de manobra.
O mesmo se aplica a todas as medidas no sector laboral, pensões, educação, saúde, etc. Parece que o único método que permite a uns e outros anteciparem-se, logo modificarem a estrutura dos seus hábitos e comportamentos económicos e sociais, é este: o da imposição externa, imposto à força e altamente doloroso em termos fiscais, por isso o Estado se converteu no maior ladrão institucionalizado em Portugal.
Incapaz até de combater a corrupção que deixou lavrar entre si, deixando a justiça em fanicos, agravando ainda mais a ausência de receitas fiscais que deixa de obter através dessas fugas mais ou menos consentidas.
Além de casos de polícia, de que o caso fraudulento do BPN é talvez o maior escândalo nacional das últimas décadas em Portugal, envolvendo o PR e ministros do bloco central que estão sempre dispostos a sacrificar o interesse nacional aos interesses particulares e corporativos que servem apenas a gula privada de administradores, ex-ministros do cavaquistão e uma larga fatia da alta administração banco-burocrática útil na corrupção desses grandes crimes económicos e financeiros ocorridos em Portugal.
Se, ao menos, esta máquina louca - que é o Estado - tivesse cumprido a sua missão, contribuindo para uma maior igualdade, a democracia social teria preservado a sua legitimidade.
Na prática, aquilo a que assistimos da parte do Estado, que era suposto velar pelos interesses de todos e de os promover com alguma discriminação positiva que a natureza das coisas impõe, é que esse Leviatão não soube utilizar o seu aparelho igualitário, solidário e desenvolvimentista para contribuir para o bem comum, antes foi utilizado para criar regimes de excepção à alta corrupção e evasão fiscal e à justiça - com milhões de prejuízo para o erário público - coadjuvando na rapina de ex-conselheiros de Estado de Belém que assim fizeram carreira e fortuna sob o olhar impávido e sereno de 10 milhões de portugueses.
Haverá maior crime do que este?!

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O Fado entalado na estrutura ternária do nosso tempo

O Fado tem sido o rosário do nosso passado.
- Doravante será o novelo do nosso futuro.
Restando saber se entre esses dois momentos (passado e futuro) na estrutura ternária do tempo, o futuro será um pouco melhor do que o passado.
- Enfim, uma perguntinha difícil ao PRESENTE

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terça-feira

Os amigos do Facebook e das redes: comunicação e cultura

Algumas vezes me questiono se o essencial das utopias da comunicação entre os homens reside na natureza das tecnologias utilizadas.
O essencial, quanto a mim, não está na tecnologia, embora reconheça que quanto mais aumenta a sua capacidade de desempenho das chamadas TIC, melhor se compreende que são incapazes de capturar o aspecto nuclear, ou seja, o carácter pouco racional das relações entre os homens.

É aqui que se pode colocar uma outra questão: pode a Net assumir o papel de intermediário entre os homens produzindo, ao mesmo tempo, aquilo a que chamamos cultura?!

Admitindo que esta se define pela capacidade de armazenar inúmeras informações, a Internet seria uma ferramenta cultural em resultado da sua imensa capacidade de armazenar informações de forma vertiginosa. Em 2000 cerca de 400 milhões de páginas eram acessíveis. Neste domínio, o da quantidade, a Internet é sem dúvida uma excelente oportunidade dada à cultura.

Contudo, se alinharmos a outra dimensão da cultura, mais qualitativa e presente na duração dos conhecimentos aí adquridos e sua permanência na mente humana, as coisas deixam de ser pacíficas.

Esta simples constação obriga-nos a reconhecer o facto pelo qual a Internet e a chamada cibercultura se fazem e desfazem diáriamente, a cada hora, a cada minuto. Nesse sentido, dissolve-se a característica principal da dimensão qualitativa da cultura na Internet que é a sua durabilidade, ainda que possa ser relevante a sua imensa capacidade de acumulação de informações e conhecimentos.

Na prática, a Internet faculta-nos a capacidade da acumulação mas não nos concede a característica da durabilidade, tornando os stocks de conhecimento perenes no tempo, apenas existindo fluxos.

No entanto, esta mutabilidade tem algo de sedutor, algo que, por sua vez, se integra na rapidez, na contingência com que trocamos notas, partilhamos músicas, conhecimentos e até afectos, já que não temos tinta da china nas veias. E é também aqui que temos de parar para pensar, já que esse volume de informações e a rapidez com que essa interactividade se estabelece, não são suficientes para falarmos em cultura, v.q., esta se constroi não apenas pela capacidade da tal acumulação, mas também e especialmente numa relação mais fina entre património, tradição, modernidade e inovação.

Embora aqui, não seja muito céptico, na medida em que a relação entre os homens, mesmo privados das TIC, sempre foi simultaneamente próxima e distante, cooperante e conflituosa, rica e pobre. Assim, caberá à própria vontade do homem direccionar os seus gostos, desejos, projectos e ambições em novas utopias da comunicação, de que hoje o Facebook é uma ferramenta importante, seja de trabalho e de lazer, e que pode bem ocupar um lugar relevante na arquitectura da comunicação que hoje milhões de homens e mulheres tecem dia-a-dia, hora-a-hora, minuto-a-minuto.

Circunstância que nos poderá mostrar de que modo a comunicação está presente na história das nossas vidas e das vidas das sociedades, povos e Estados desta Europa que hoje busca um novo sentido na sua relação com o futuro.

Ao fim e ao cabo, não podemos (ou devemos) esquecer que os valores da igualdade, da fraternidade, da solidariedade, da liberdade e do reconhecimento pelo outro encontram-se no coração da comunicação, e será esse combate da comunicação que muitos de nós têm o dever de colocar ao serviço da Democracia liberal - sem a qual dificilmente haverá uma nova sociedade democrática no espaço europeu donde hoje, por causa dos mercados que desconhecemos e de mais uns operadores financeiros sem rosto que nos parasitam até à medula, teremos urgentemente de saber sair.

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domingo

Portugal contemporâneo e Pessoa

Regressar a Pessoa é invocar a alma humana e o seu crónico fingimento na recorrente adaptação ao disfarce que pauta tão bem a representação política dos actores que têm destruído Portugal no último quarto de século deste nosso centrão que nos tem desgovernado desde 1974.
É regressar à heteronímia, qual descentralização de si que se adensa a emergência do inconsciente, com fascínio de oculto.
Entre a naúsea e a perda de qualidade de vida que esses actores políticos têm obrigado o povo português a atravessar nesta estrada de Damasco, com múltiplos erros, incompetência e gestão ruinosa da coisa pública à mistura, faz com que nos aproximemos, pela mão de Pessoa, da tal naúsea gerada hoje pela austeridade imposteira e empobrecimento estrutural a que o nosso escol dirigente tem conduzido o povo e o país.
Esta privação material e moral, agora imposta pela Troika vem reactualizar a obra de Pessoa, já que colocará aos portugueses problemas emergentes de identidade. Recriando neles, como cogumelos, novas necessidades de produzir um sentido para a vida e para a existência, sem o qual não se consegue interpretar o mundo a partir unicamente dos sentidos e das sensações que o paganismo de Alberto Caeiro nos legou pela mão de Pessoa.
Em segundo lugar, o ambiente recessivo e crísico do Portugal-político de Passos colho também esmaga os portugueses com a indiferença e cepticismo com que estes olham (desconfiados) para a classe política. O fenómeno já não é novo, vem de trás (bem de trás), mas agrava-se com Coelho, na medida em que nele se adensou tudo aquilo que se criticou em Sócrates: a mentira política institucionalizada - verificada num panfleto eleitoral logo desmentido quando o psd ganha as eleições e revela que, afinal, Passos coelho não conhecia os números do passivo em cada uma das áreas da governação, nem sequer estava preparado para a governação, daí a sua não hesitação em ter recorrido ao expediente da mentira política para prometer aquilo que sabia não poder cumprir a prazo. Eis a fase da dissimulação de Ricardo Reis que se apoderou do psd de Passos coelho - que hoje vive o dia-a-dia como se não houvesse amanhã, daí a sensação do drama da fugacidade da vida e da fatalidade da morte.
A fase de Álvaro de Campos deste governo, ou melhor deste país por força da acção deste Governo (e doutros que se lhe antecederam em abono da verdade), constata-se no decadentismo em que vivemos: um tédio, misto de cansaço, desesperança ainda que animado pela necessidade de buscar novas sensações que tirem do atoleiro em que o Portugal de cavaco, guterres, durão (santana foi um epifenómeno, por isso nem merece citação), sócrates e agora passos coelho inscreveram o Portugal contemporâneo. Que já nem energia tem para exaltar a força colectiva, fazer a apologia duma civilização emergente concebida e executada por portugueses. Ver os discursos de cavaco e Paulo portas nos EUA pedindo aos nossos emigrantes bem sucedidos que aportem ao rectângulo com novos investimentos, é entrar numa depressão ainda maior. É quase regressar ao Portugal pós-salazarento que pede agora aos seus filhos da diáspora aquilo que há 30/40 anos a pátria lhes negou. E, para esse efeito, Belém envia aos EUA o cobrador-do-fraque para entregar uns prémios aos seus filhos esquecidos, agora bem sucedidos, pedindo-lhes por favor que regressem. Eis a missão de cavaco: pedinchar investimentos áqueles a quem um dia a pátria literalmente expulsou. É deprimente assistir a tudo isto, confesso.
E é assim que Portugal hoje pauta a sua política externa, misto de sinceridade e fingimento, consciência e inconsciência, boa e má consciência, utopias, sonhos e pesadelos. Um quadro impressionista cujo ramalhete é composto por cavaco e Paulo portas, outrora inimigos viscerais, hoje reunidos no mesmo barco para pedinchar uns dólares aos emigrantes tugas que fizeram a diáspora.

Em face disto já não sei se ria, chore ou faça como fizeram Camilo, Herculano e Antero de Quental. Até porque já não existe exílio possível e o mundo já está todo descoberto nesta heteronímia que assassina a esperança de Portugal neste 1º quartel do séc. XXI.

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sábado

Angola - Potência Regional em Emergência - por Eugénio da Costa Almeida

Enquanto angolano e um africanista dos quatro costados, o Eugénio sempre foi um amante das questões ligadas aquele velho e pobre continente: o continente africano. Isso era visível nos tempos de faculdade - perto da linha do rio onde partilhámos vivências durante 5 anos, e donde um dia, alí perto, junto ao agora Padrão dos Descobrimentos, zarparam as caravelas que fizeram a gesta dos Descobrimentos de 1500 - que permitiram a Portugal dar novos mundos ao mundo, como um dia ensinou Luís Vaz..
Foi aí que tudo começou, é bom não o esquecer, nessa 1ª vaga de globalização do mundo (então ainda por descobrir, ocupar, colonizar), impulsionado por múltiplas motivações (históricas, religiosas, comerciais e económicas, geopolíticas).
Esta viagem à história do continente africano, com um especial apeadeiro em Angola, é um contributo para conhecermos melhor aquele país, sobretudo desde 1974 até ao presente e, ao mesmo tempo, identificar as dinâmicas de poder supra-nacional que qualquer potência regional tem na chamada - sua "zona de influência" - um conceito típico da Guerra Fria - que perdurou para além dela.
Este pode ser o desafio do trabalho que o autor quis dar à estampa, depois de ter sido defendido em sede de tese de doutoramento: por um lado, compreender a realidade nacional desse rico e desigual país que é Angola, por outro ver nele a representação política de Estado-Director
da região da África austral (à semelhança da África do Sul).
Será que existe essa vocação de Angola - afirmar-se nacionalmente com benefício automático para o bem comum presente em toda a integração económica e política regional?
Será que tem sido essa a missão de Angola - realizando o seu national interest em conformidade com a desejada unidade africana (em prol da paz, da democracia e do desenvolvimento)?
Esta questão obriga-nos a deslocar o pólo de atenção do Estado-director (Angola) para uma discussão mais vasta que se liga ao futuro daquele velho continente que o autor tem estudado com paixão, método e rigor. A questão do desenvolvimento em África, equacionando os seus futuros.
Tudo boas razões para não perder de vista este conjunto de informações presente na obra de Eugénio Costa Almeida (também autor do blog Pululu) - agora editado pela Colibri - de Fernando Mão de Ferro e que contará com a apresentação do reitor da Univ. Lusíada de Angola, Mário Pinto de Andrade.

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sexta-feira

O Estado é hoje criminoso - como certas heranças - Gov Salvação Nacional -

Com o devido respeito pelos defuntos, ele porque se deixou corromper (moralmente), ela - porque soube ser uma sopeira oportunista agindo em causa própria (e acabou por ser alvo da sua própria avidez - por alguém ainda mais esperto, ávido e pérfido), à luz do que sucede em quase todas as heranças, devo dizer que o Estado português (aqui em analogia) se tornou num perigoso e criminoso agente.
Além de ter deixado que instituições estrangeiras se apoderassem da soberania nacional, que é o elemento mais vital que uma nação tem (ou deveria ter!!), obrigando-nos a ter um novo dono, o Estado passou a ser, domésticamente, o carniceiro dum povo que já não pode com uma "gata-pelo-rabo". Não só devido à brutal carga fiscal, como também por força da falta de rumo e crescimento que se antevê para os próximos anos em Portugal, o que nos faz supôr que este será um esfoço colectivo inglório, em vão - que apenas nos empobrece enquanto povo.
O actual Estado de Coelho & Gaspar - mediante o OE/2012 - mais não faz do que converter a carne e o pasto do povo - no alimento do aparelho da máquina estatal, que depois se converte no esqueleto que comerá a carne em torno dele. O Estado de Passos coelho transforma-se, assim, numa espécie de andaime que é simultaneamente o proprietário e inquilino da casa de todos nós - que formamos e habitamos este nosso querido Portugal, como diria Eça.
Portanto, a fórmula é simples e afigura-se do seguinte modo: tudo pelo Estado; nada contra o Estado. Aquela foto (aparentemente deslocada do assunto em apreço) só aparece aqui porque simboliza a miséria da condição humana: quando foi preciso vetar diplomas (obrigação de Belém) os suspiros de cavaco nunca se conseguiram fazer ouvir, deixando o governo cessante cometer erros de gestão que hoje pagamos gravemente (mormente a nacionalização do BPN - um caso de polícia que cavaco pretendeu abafar, por razões conhecidas..); quando foi preciso partilhar ideias com o governo cessante, as oposições não apresentaram uma única credível, todo abandonaram o barco; hoje, o que faz o Governo em funções?: amplia e agrava a carga fiscal que vinha de trás com a desvantagem de ter a troika à perna.
Tudo isso foi criminoso, à esquerda e à direita: seja o que fez o governo cessante, seja o que faz hoje o governo em funções, de modo que - no quadro desta narrativa desesperada - um pouco como a realidade que hoje nos escapa por entre os pés, as mãos e a cabeça, talvez não fosse má ideia o Estado português "constituir-se" também como herdeiro da família Feteira para se habilitar a uns milhões que contribuiriam, seguramente, para o desenvolvimento deste nosso querido Portugal.
E já que tem a faculdade politica e administrativa de nomear - indigitaria, desde já, a srª dona Olímpia Feteira (qual viúva negra) - para o cargo de Presidente da Sta. Casa da Misericórdia de Lisboa.
Estou certo que sempre faria melhor figura e desempenho do que o player que o governo, estritamente por razões partidárias, nomeou. Nomeação por nomeação, que nomeie uma mulher multimilionária que poderá fazer muito pelas condições de vida dos mais desfavorecidos em Portugal, à semelhança do que foi o legado de seu Pai, Lúcio T. Feteira, junto da Freguesia de Vieira de Leiria (que ainda espera sentada), donde era oriundo.
Seria esta a 1ª medida dum urgente Governo de Salvação Nacional tão necessário a Portugal.

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quinta-feira

O próximo pesadelo da Europa - por Dani Rodrik

Próximo pesadelo da Europa 10.11.2011 - Por Dani Rodrik (via Público)
O cenário de pesadelo seria também uma vitória para o extremismo político ao estilo dos anos 1930. O fascismo, o nazismo e o comunismo eram filhos de uma chicotada contra a globalização, que vinha crescendo desde o final do século XIX, alimentando-se das ansiedades de grupos que se sentiam marginalizados e ameaçados pelas forças de mercado em expansão e pelas elites cosmopolitas.
O comércio livre e o padrão-ouro tinham exigido relegar para segundo plano prioridades internas tais como a reforma social, construção da nação e a reafirmação cultural. A crise económica e o fracasso da cooperação internacional comprometeram não só a globalização, mas também as elites que apoiavam a ordem existente.
Como escreveu o meu colega de Harvard, Jeff Frieden, foi assim que se abriu caminho para duas formas distintas de extremismo. Confrontados com a escolha entre equidade e integração económica, os comunistas escolheram a reforma social radical e a auto-suficiência económica. Confrontados com a escolha entre afirmação nacional e globalismo, os fascistas, os nazistas e os nacionalistas e escolheram a construção da nação.
Felizmente, o fascismo, o comunismo e outras formas de ditaduras encontram-se hoje ultrapassadas. Mas, existem tensões semelhantes entre integração económica e política local que estão, há muito tempo, latentes. O mercado único europeu tomou forma de uma maneira muito mais rápida do que o fez a comunidade política Europeia; a integração económica sobrepôs-se à integração política.
Daqui resulta que as preocupações crescentes sobre a erosão da segurança económica, estabilidade social e identidade cultural não podiam ser tratadas através dos canais políticos tradicionais. As estruturas políticas nacionais tornaram-se demasiado limitadas para oferecer soluções eficazes, enquanto as instituições europeias continuam demasiado fracas para exigir lealdade.
A extrema-direita é quem mais tem beneficiado com o fracasso dos centristas. Na Finlândia, o até então desconhecido partido Verdadeiros Finlandeses (True Finns) aproveitou o ressentimento em torno do resgate da zona euro para ser o terceiro mais votado nas eleições gerais de Abril. Na Holanda, o Partido para a Liberdade, de Geert Wilders, exerce poder suficiente para ser um elemento decisivo, sem o seu apoio, o governo de minoria liberal fracassaria. Em França, a Frente Nacional, que ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de 2002, foi revitalizada com Marine Le Pen.
A repercussão disto não está confinada aos membros da zona euro. Na Escandinávia, os Democratas da Suécia, um partido com raízes neonazis, entrou para o Parlamento no ano passado com cerca de 6% dos votos populares. Na Grã-Bretanha, uma sondagem recente indicou que mais de dois terços dos conservadores querem que a Grã-Bretanha saia da União Europeia.
Os movimentos políticos de extrema-direita são tradicionalmente alimentados pelo sentimento de anti-imigração. Mas os resgates da Grécia, Irlanda, Portugal, e outros, em conjunto com os problemas do euro, deram-lhes novo alento. O seu eurocepticismo parece, decerto, justificado pelos acontecimentos. Quando, recentemente, perguntaram a Marine Le Pen se iria retirar-se unilateralmente do euro, ela respondeu com confiança: "Quando eu for presidente, dentro de alguns meses, a zona euro provavelmente não existirá."
Tal como nos anos 30, o fracasso da cooperação internacional agravou a incapacidade dos políticos centristas de dar uma resposta adequada às exigências económicas, sociais e culturais dos seus constituintes internos. O projecto europeu e a zona euro definiram os termos do debate, de tal forma que, com a zona euro em farrapos, a legitimidade dessas elites irá receber um golpe ainda mais grave.
Os políticos centristas da Europa empenharam-se numa estratégia de "mais Europa" demasiado rápida para aliviar as ansiedades locais, embora não suficientemente rápida para criar uma comunidade política real em toda a Europa. Mantiveram-se durante demasiado tempo num caminho intermediário que é instável e afectado por tensões. Apegando-se a uma visão da Europa que se mostrou inviável, as elites centristas da Europa estão a pôr em risco a própria ideia de uma Europa unificada.
Do ponto de vista económico, a opção menos negativa passa por garantir que os inevitáveis incumprimentos e saídas da zona euro decorram da forma mais ordeira e coordenada possível. Também ao nível político é necessária uma verificação semelhante da realidade. O que a actual crise exige é uma reorientação explícita, longe de obrigações financeiras externas e austeridade relativamente às preocupações e aspirações nacionais. Tal como as economias nacionais saudáveis são o melhor garante de uma economia mundial aberta, as políticas nacionais saudáveis são o melhor garante de uma ordem internacional estável.
O desafio consiste em desenvolver uma nova narrativa política, com ênfase nos interesses e valores nacionais, sem conotações de nativismo nem de xenofobia. Se as elites centristas não estiverem à altura da tarefa, os representantes da extrema-direita preencherão, de boa vontade, o vazio, sem a moderação.
É por isso que o primeiro-ministro demissionário da Grécia, George Papandreou, teve a ideia certa com a sua proposta fracassada de convocar um referendo. Esta medida foi uma tentativa tardia de reconhecer a primazia da política interna, mesmo que os investidores a considerassem que isso, nas palavras de um editor do Financial Times editor, era "brincar com o fogo." Descartar o referendo significa, simplesmente, adiar o "dia do julgamento" e aumentar o derradeiro preço a pagar pela nova liderança da Grécia.
Hoje, já não se trata de saber se a política se vai tornar mais populista e menos internacionalista, mas sim de perceber se as consequências dessa mudança podem ser geridas sem a situação ficar feia. Na política da Europa, tal como na sua economia, parece que não há boas opções – apenas soluções menos más.
Obs: Dani revela aqui, em breves parágrafos, o dramas da Europa decadente que poderá culminar numa imensa tragédia, quiça com uma Europa a várias velocidades, como parece decorrer duma vontade oculta do eixo- franco-alemão em plena crise grega e italiana.
Mas o que releva nesta perspectiva do prof. de economia internacional foi reconhecer nele o valor da história económica e social do pós-IGM - em que o revanchismo irredento da Alemanha germinou até culminar na IIGM.
Parece que, com adaptações típicas da conjuntura, a história se vai repetindo, de drama em drama até à tragédia final. A Dani Rodrik só faltou citar talvez a obra de referência daquela conjuntura da autoria do historiador económico, Karl Polanyi, mas deveia citá-lo, até porque o fez de forma oculta, mas a fonte estava lá.

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quarta-feira

Movimento antipartidário. Circula por aí...

terça-feira

O Estado é hoje um perigo, um cemitério...

Quando vejo o sr. Relvas, uma espécie de feitor do Gov destacado para pôr ordem naquele conselho de gerência que ainda está a aprender a mexer nos botões desse maquinismo complexo que é o Estado, debitar umas banalidades acerca da questão de saber se há ou não folga financeira para congelar um dos subsídios aos funcionários públicos, lembro-me sempre daquele trolha que um dia disse ao pai que queria ser poeta.
A leviandade com que Relvas fala daquilo que não sabe, referindo objectivos, metas, quantificações mais um palavreado que só encontra paralelo num Comissário bruxelense, Olli Rhen, evoca-me a ideia de que a retórica é o cemitério das banalidades humanas e o hospital o sítio para onde deveriam ir os inválidos.
Pobres funcionários públicos estes que, apesar de terem habilitações académicas muito superiores aos seus colegas no sector privado, ainda têm que aguentar com um "patrão" que quando fala o sentido das suas palavras tanto podem apontar para o sim como para o não. Fica o logo se vê.
Relvas a dissertar sobre se há ou não folga para libertar um desses subsídios dos FP, e a forma como o fez, revela bem que desconhece a plenitude da matéria sobre que valora, e isso faz hoje do Estado um perigo iminente para todos nós, já que tem à sua frente idiotas, e, pior ainda, idiotas com poder. O que faz do Estado actual o maior perigo dessa nave desgovernada que tanto nos pode ir ao bolso pelo IRS, pelos IMIs, pelos IVAs mais uma catrafada de impostos ocultos - reveladores da desproporção entre o poder do Estado e o poder social, que é o ambiente em que muitas revoluções se forjam - pelo descontentamento social que geram nas pessoas, nas famílias, nas empresas e nas organizações em geral.
Além de que este intervencionismo do Estado - agora estendido à banca - representa um perigo acrescido, já que tende a absorver toda a espontaneidade social pelo Estado, ou seja, anulando toda a vitalidade histórica que poderia nascer da sociedade e que o Estado do sr. relvas e doutros como ele matam à partida.
É por isso que o actual Estado não é uma pessoa de bem, é, pela ignorância, futilidade, impreparação técnica, imoralidade e oportunismo político um perigo maior da nossa contemporaneidade. É, passe a analogia, como sermos julgados num tribunal onde o júri é o maior dos criminosos - por ser o chefe do grupo que continua a penalizar voluntariamente os seus concidadãos.

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segunda-feira

O futuro incerto de Portugal - no risco europeu -

Qualquer que seja o futuro de Portugal, após termos caído nas malhas dos mercados agiotas e da má gestão que nos obrigou a gastar muito para lá do aceitável exaurindo as nossas finanças públicas (mal crónico desde a instauração da República), juntamente com a Grécia, agora são a Itália e Espanha que estão na calha da turbulência financeira (que se agrava com a possibilidade de contágio) -, mas Portugal continuará sempre a ter os seus castelos, a sua gastronomia e, claro, as suas gentes. O resto é paisagem, muita e bela paisagem... O que já não é pouco.

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quinta-feira

A demoesclerose grega

A Grécia é um país com paisagens fantásticas, mas com um regime e um sistema político altamente corrompidos, de alto a baixo do aparelho de Estado. Na classe política, na esfera económica e nas forças armadas. Todos se corrompem a grande velocidade, com a agravante de o Estado não saber e não conseguir cobrar impostos, daí a grande evasão fiscal e nada da máquina do Estado funciona em prol da sociedade.
Esta ideia extemporânea de Papandreo lançar um referendo - neste timing de encruzilhhada da Europa - pode ser tão suicida para ele, leia-se para a Grécia, como para a Europa, fragilizando a posição de toda a zona euro, o que é inadmissível. De resto, já houve baixas em todas as acções de empresas cotadas em bolsa gerada por mais este descrédito emitido por um líder tão corrupto quanto incompetente. Aliás, e em abono da verdade, na Grécia o poder político sempre governou contra a sociedade, mantendo descaradamente os seus privilégios, revelando total desprezo pelas necessidades e legítimas expectativas do seu povo.
Se fosse em Itália, os mafiosi já teriam limpo o sebo a meia dúzia de políticos gregos, mas estes são bois mansos, um pouco à boa maneira lusitana. No pior somos parecidos, até no modo como conduzimos.
Neste quadro político complexo e problemático, a Grécia apresenta-se assim como uma sociedade desorganizada, caótica que não se deixa mobilizar com facilidade, daí haver quem proponha como solução uma democracia directa (ou forte), ou seja, seria desejável que a presença dos cidadãos fosse tão presente na vida pública quanto o é a presença dos consumidores na economia. Desse modo, substituir-se-ia a ausência, incompetência e corrupção do escol dirigente por uma representação mais directa e imediata, através da omnipresença dos cidadãos na vida pública. Enfim, seria o retomar do afloramento de J.J.Rousseau no tempo das Luzes, e que também já verificámos não ser uma solução pacífica.

Seja como for, a vida pública grega tem uma péssima representação política e o momento deliberativo da democracia grega não é hoje senão uma expressão réles dos equilíbrios de forças interno aquele sistema partidário, sinal dum triste compromisso entre o velho ideal da democracia ateniense com a actual complexidade e banca-rota da economia grega.

A esta luz, pergunto-me se fará sentido devolver à sociedade a responsabilidade de empreender as grandes transformações sociais que era suposto esperarmos da política. Ora, é perante esta contradição que não faz nenhum sentido, tanto mais agora que foi aprovado mais um salvo-conduto financeiro à Grécia, submeter todo aquele miserável destino nacional a um referendo. Este serve apenas para o corrupto e incompetente papandreo se referendar a si próprio e perpetuar-se no poder, ou não - na sequência do resultado do referendo cuja pergunta ainda nem sequer foi calibrada.

Eis a situação estranha e incómoda para toda a Europa, em particular a zona euro, que faz hoje da Grécia um nado-morto, um ser esclerosado que não se sabe representar e agora pede ao seu povo que faça aquilo que o escol dirigente falhou de forma grosseira. De certo, isto este pseudo-referendo não é senão um passa-culpas dos políticos corruptos para o povo ingénuo, roubado e cansado.

Hoje, de facto, tudo é mau na Grécia, mas o pior talvez seja a forma como violaram a história da sua civilização, berço da democracia que meia dúzia de canalhas têm vindo a subverter com total impunidade, seja no interior da Grécia seja no plano europeu.

É a destruição desse precioso legado histórico, filosófico, cultural e civilizacional que a canalha grega tem vindo a destruir na vida pública daqueles kaos congénito.

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