terça-feira

Os amigos do Facebook e das redes: comunicação e cultura

Algumas vezes me questiono se o essencial das utopias da comunicação entre os homens reside na natureza das tecnologias utilizadas.
O essencial, quanto a mim, não está na tecnologia, embora reconheça que quanto mais aumenta a sua capacidade de desempenho das chamadas TIC, melhor se compreende que são incapazes de capturar o aspecto nuclear, ou seja, o carácter pouco racional das relações entre os homens.

É aqui que se pode colocar uma outra questão: pode a Net assumir o papel de intermediário entre os homens produzindo, ao mesmo tempo, aquilo a que chamamos cultura?!

Admitindo que esta se define pela capacidade de armazenar inúmeras informações, a Internet seria uma ferramenta cultural em resultado da sua imensa capacidade de armazenar informações de forma vertiginosa. Em 2000 cerca de 400 milhões de páginas eram acessíveis. Neste domínio, o da quantidade, a Internet é sem dúvida uma excelente oportunidade dada à cultura.

Contudo, se alinharmos a outra dimensão da cultura, mais qualitativa e presente na duração dos conhecimentos aí adquridos e sua permanência na mente humana, as coisas deixam de ser pacíficas.

Esta simples constação obriga-nos a reconhecer o facto pelo qual a Internet e a chamada cibercultura se fazem e desfazem diáriamente, a cada hora, a cada minuto. Nesse sentido, dissolve-se a característica principal da dimensão qualitativa da cultura na Internet que é a sua durabilidade, ainda que possa ser relevante a sua imensa capacidade de acumulação de informações e conhecimentos.

Na prática, a Internet faculta-nos a capacidade da acumulação mas não nos concede a característica da durabilidade, tornando os stocks de conhecimento perenes no tempo, apenas existindo fluxos.

No entanto, esta mutabilidade tem algo de sedutor, algo que, por sua vez, se integra na rapidez, na contingência com que trocamos notas, partilhamos músicas, conhecimentos e até afectos, já que não temos tinta da china nas veias. E é também aqui que temos de parar para pensar, já que esse volume de informações e a rapidez com que essa interactividade se estabelece, não são suficientes para falarmos em cultura, v.q., esta se constroi não apenas pela capacidade da tal acumulação, mas também e especialmente numa relação mais fina entre património, tradição, modernidade e inovação.

Embora aqui, não seja muito céptico, na medida em que a relação entre os homens, mesmo privados das TIC, sempre foi simultaneamente próxima e distante, cooperante e conflituosa, rica e pobre. Assim, caberá à própria vontade do homem direccionar os seus gostos, desejos, projectos e ambições em novas utopias da comunicação, de que hoje o Facebook é uma ferramenta importante, seja de trabalho e de lazer, e que pode bem ocupar um lugar relevante na arquitectura da comunicação que hoje milhões de homens e mulheres tecem dia-a-dia, hora-a-hora, minuto-a-minuto.

Circunstância que nos poderá mostrar de que modo a comunicação está presente na história das nossas vidas e das vidas das sociedades, povos e Estados desta Europa que hoje busca um novo sentido na sua relação com o futuro.

Ao fim e ao cabo, não podemos (ou devemos) esquecer que os valores da igualdade, da fraternidade, da solidariedade, da liberdade e do reconhecimento pelo outro encontram-se no coração da comunicação, e será esse combate da comunicação que muitos de nós têm o dever de colocar ao serviço da Democracia liberal - sem a qual dificilmente haverá uma nova sociedade democrática no espaço europeu donde hoje, por causa dos mercados que desconhecemos e de mais uns operadores financeiros sem rosto que nos parasitam até à medula, teremos urgentemente de saber sair.

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