A Grécia é um país com paisagens fantásticas, mas com um regime e um sistema político altamente corrompidos, de alto a baixo do aparelho de Estado. Na classe política, na esfera económica e nas forças armadas. Todos se corrompem a grande velocidade, com a agravante de o Estado não saber e não conseguir cobrar impostos, daí a grande evasão fiscal e nada da máquina do Estado funciona em prol da sociedade.
Esta ideia extemporânea de Papandreo lançar um referendo - neste timing de encruzilhhada da Europa - pode ser tão suicida para ele, leia-se para a Grécia, como para a Europa, fragilizando a posição de toda a zona euro, o que é inadmissível. De resto, já houve baixas em todas as acções de empresas cotadas em bolsa gerada por mais este descrédito emitido por um líder tão corrupto quanto incompetente. Aliás, e em abono da verdade, na Grécia o poder político sempre governou contra a sociedade, mantendo descaradamente os seus privilégios, revelando total desprezo pelas necessidades e legítimas expectativas do seu povo.
Se fosse em Itália, os mafiosi já teriam limpo o sebo a meia dúzia de políticos gregos, mas estes são bois mansos, um pouco à boa maneira lusitana. No pior somos parecidos, até no modo como conduzimos.
Neste quadro político complexo e problemático, a Grécia apresenta-se assim como uma sociedade desorganizada, caótica que não se deixa mobilizar com facilidade, daí haver quem proponha como solução uma democracia directa (ou forte), ou seja, seria desejável que a presença dos cidadãos fosse tão presente na vida pública quanto o é a presença dos consumidores na economia. Desse modo, substituir-se-ia a ausência, incompetência e corrupção do escol dirigente por uma representação mais directa e imediata, através da omnipresença dos cidadãos na vida pública. Enfim, seria o retomar do afloramento de J.J.Rousseau no tempo das Luzes, e que também já verificámos não ser uma solução pacífica.
Seja como for, a vida pública grega tem uma péssima representação política e o momento deliberativo da democracia grega não é hoje senão uma expressão réles dos equilíbrios de forças interno aquele sistema partidário, sinal dum triste compromisso entre o velho ideal da democracia ateniense com a actual complexidade e banca-rota da economia grega.
A esta luz, pergunto-me se fará sentido devolver à sociedade a responsabilidade de empreender as grandes transformações sociais que era suposto esperarmos da política. Ora, é perante esta contradição que não faz nenhum sentido, tanto mais agora que foi aprovado mais um salvo-conduto financeiro à Grécia, submeter todo aquele miserável destino nacional a um referendo. Este serve apenas para o corrupto e incompetente papandreo se referendar a si próprio e perpetuar-se no poder, ou não - na sequência do resultado do referendo cuja pergunta ainda nem sequer foi calibrada.
Eis a situação estranha e incómoda para toda a Europa, em particular a zona euro, que faz hoje da Grécia um nado-morto, um ser esclerosado que não se sabe representar e agora pede ao seu povo que faça aquilo que o escol dirigente falhou de forma grosseira. De certo, isto este pseudo-referendo não é senão um passa-culpas dos políticos corruptos para o povo ingénuo, roubado e cansado.
Hoje, de facto, tudo é mau na Grécia, mas o pior talvez seja a forma como violaram a história da sua civilização, berço da democracia que meia dúzia de canalhas têm vindo a subverter com total impunidade, seja no interior da Grécia seja no plano europeu.
É a destruição desse precioso legado histórico, filosófico, cultural e civilizacional que a canalha grega tem vindo a destruir na vida pública daqueles kaos congénito.
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