sábado

Um docente de Economia que faz dessa ciência uma ciência dos afectos e da compaixão

Nota prévia: Caldeira Cabral é economista e docente universitário (link). Nas horas vagas, como se sabe e o link infra documenta, também procura converter a Economia numa ciência dos afectos e numa ciência esotérica de pendor anti-económico, mesmo que esses "afectos" contribuam para empobrecer ainda mais os portugueses e degradar as suas condições de vida. 
- Para espanto de muitos, Caldeira Cabral ainda é especializado na área da Economia Europeia e Internacional, com destaque para os fluxos de comércio internacional, como refere o seu CV. 
- Ora, perante isto o que o titular da pasta da Economia deve fazer é sentar-se com o PM e estudar a melhor forma de rever a carga fiscal abusiva e contraproducente que recaiu sobre os combustíveis e não, como tem feito de forma amadora e infantil, procurar fazer da Economia uma ciência idiota e esotérica. Isto não se admite por parte dum docente liceal, quanto mais dum académico. 

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Ministro da Economia pede aos portugueses para que não abasteçam em Espanha






Narrativas idiotas
- Pior do que um português idiota só mesmo um português que é ministro e que é idiota, e mais idiota se torna por tutelar a pasta da Economia (que ele trata com compaixão). 
- Este ministro, que é docente de Economia, devia saber que os particulares e as empresas são agentes económicos racionais, ou seja, podendo pagar menos por um bem não sacrificam mais as suas vidas para atender a uma declaração idiota e que é politicamente suicida, para não dizer ridícula.
- Nunca vi tanta asneira junta concentrada numa só declaração. Será caso para perguntar onde é que este titular se licenciou...  


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quarta-feira

Ricciardi diz-se surpreendido que a "culpa seja do contabilista" quando a liderança de Salgado era "centralizadora"


Ricciardi diz-se surpreendido que a "culpa seja do contabilista" quando a liderança de Salgado era "centralizadora"

Presidente do BESI seguiu-se ao primo Ricardo Salgado na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES, link


Ricciardi diz-se surpreendido que a 'culpa seja do contabilista' quando a liderança de Salgado era 'centralizadora'
"A liderança [de Ricardo Salgado] era centralizadora e indiscutível, não havia nada que não
passasse pelo líder. Agora fico muito surpreendido que ninguém soubesse de nada e que a 
culpa seja do contabilista", disse José Maria Ricciardi ao início da noite desta terça-feira, na
comissão parlamentar de inquérito ao caso BES.
Ricciardi, em resposta ao deputado do PS Filipe Neto Brandão, prosseguiu dizendo que "esta
ideia de descentralização é um pouco estranha, pois todos sabem da concentração de poder
que havia no BES". "Agora no BES ninguém sabia de nada e a culpa era do contabilista... 
deixo para vós a conclusão", afirmou Ricciardi.
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Obs: Digamos que a conclusão já está firmada há muito, mas the show
must go on para evitar que o ex-DDT conheça o sol aos quadradinhos...
Em suma: em Portugal pode-se mandar para a cadeia políticos
alegadamente corruptos, mas nunca banqueiros estruturalmente
corruptos que, com base no dinheiro e numa teia de
influências complexa, corromperam o regime político em Portugal
desde 1990 até ao presente. Salgado, sem revelar qualquer 
arrependimento, é a face mais negra dessa degradação pública e do
funcionamento das nossas instituições.  
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segunda-feira

Pedro Passos Coelho e José Maria Ricciardi: à COTOVELADA


Pedro Passos Coelho e José Maria Ricciardi estiveram juntos em público, pela primeira vez, desde o escândalo do BES

Imagem picada aqui
Pedro Passos Coelho e José Maria Ricciardi estiveram juntos em público, pela primeira vez, desde o escândalo do BES /  Luís Forra/Lusa

Os psicólogos defendem que uma das razões pelas quais os adolescentes começam a fumar é porque, nos intervalos das aulas, não sabem como ocupar as mãos  e o recurso ao cigarro é um eficiente meio para preencher esse vazio de comunicação, especialmente numa idade em que os jovens procuram afirmar-se na relação com os colegas, perante a sociedade e no quadro das instituições com que, crescentemente, têm de interagir. 

Sucede, porém, que na imagem supra o que vemos já não são dois adolescentes em luta por afirmação e protagonismo no recreio do liceu, pois um, o da esquerda, é o alegado PM de Portugal, o qual se tem revelado um tremendo erro de casting; o player da direita, que se autoproclama um destemido, é um banqueiro do GES que viu afundar o ex-BES do primo, seguramente com a agravante de conhecer por dentro muitos dos erros, gestão danosa, participação económica em negócio a par de mais uma dezena de crimes económicos lesivos do erário público e nada disse à República, nem nada participou às suas instâncias judiciais no sentido de observar a lei e de acautelar os legítimos interesses dos pequenos e médios accionistas e clientes em geral do ex-BES. 

No fórum empresarial do Algarve, contexto em que este encontro ocorreu, o que vemos?

Vemos um PM a oferecer resistência física (dissimulada) com o cotovelo à tentativa de abraço por parte do banqueiro, que força, sem sucesso, o desejado abraço largo e fraterno a que Eça, epistolarmente, inúmeras vezes aludia. 

Assim sendo, e se interpreto bem aquela resistência física do PM, será legítimo perguntar a que se deve, por um lado, o desejo de Ricciardi em querer abraçar publica e afectuosamente Passos Coelho; e, por outro lado, como se explica o desejo de Coelho em querer manter as distâncias de um banqueiro que, no passado recente, lhe telefonara a propósito da alegada obtenção de informação privilegiada no caso das privatizações da REN e da EDP, ou seja, em processos que envolvem alegado tráfico de influências que são objecto de investigação por parte do MP. 

Por outro lado, Passos Coelho quando é surpreendido pelas mais diversas circunstâncias apresenta uma característica que acaba por o denunciar e, assim, deixar numa situação vulnerável: cora, cora muito. Parece um mega-tomate de Almeirim. Ou uma tonelada deles. E como é muito branquinho, embora não tão branquinho quanto uma alforreca, Portugal inteiro fica imediatamente a saber quando o ainda PM é apanhado em contra-mão, o que prenuncia algo ainda mais estranho e que se verte na seguinte questão: será que o seu staff assessorial não o informou que na sua mesa de jantar estaria o referido banqueiro?!

Minudências à parte, uma coisa é certa: quando Passos Coelho está comprometido com a verdade revela-se incapaz de olhar as pessoas de frente, joga, sim, o olhar para o chão como quem pede desculpa por erros que cometeu mas que nunca quis (ou quer) assumir. 

Tamanha obstinação tem penalizado a relação dos portugueses com a economia, cujo tecido produtivo Passos Coelho se tem encarregado de destruir, e, por outro lado, o locatário de S. Bento revela ainda uma incapacidade gritante de lidar, com seriedade, com os vários sectores da economia e da banca. Embora este último sector seja nevrálgico e da maior importante para os dirigentes políticos no activo...

Pedro Passos Coelho sabe que amanhã, no quadro de futuras eleições legislativas, se o governo não cair antes, será corrido ao pontapé por parte do eleitorado. O que significa ficar literalmente desempregado. Não podendo já regressar à Tecnoforma nem à Ong onde supostamente apenas recebeu honorários a título de "despesas de representação", nem se afigura previsível que volte a ser empregado do seu ex-mentor, o eloquente Ângelo Correia da Fomentinvest, o que é expectável é que Pedro Passos Coelho seja, num futuro próximo, recrutado por um qualquer banqueiro, à semelhança de Luís Amado (ex-MNE de Sócrates), para o board de um banco; ou por uma grande Construtora - que desenvolveu o culto de recrutar ex-ministros das Obras Públicas (ex. Jorge Coelho) e agora também autarcas, como luís Filipe meneses.

Esta possibilidade, como alternativa realista ao futuro desemprego a prazo, poderá explicar a razão pela qual o PM não quis abraçar o banqueiro, poupando-se publicamente ao efeito de associação negativo de tudo o que seja oriundo do GES/BES e, por outro lado, não levou longe demais essa resistência porque sabe, antecipadamente, que amanhã pode muito bem ser Ricciardi o seu novo patrão...

Talvez essa dependência psicológica, representada por cada cm do conjunto da gestualidade de Passos Coelho, explique por que razão os políticos portugueses dependem tanto dos banqueiros, especialmente quando perdem eleições e ficam literalmente desempregados. 

E enquanto esta dependência da política - e dos políticos - se verificar relativamente à alta finança - e aos banqueiros (ou alguns deles) - será lícito concluir que algo fede neste nosso Reino da Dinamarca... 

Talvez seja por isso que Passos Coelho cora tanto quando é confrontado com situações que evidenciam a sua dependência e fragilidade. 

Se assim for, e os argumentos aduzidos encontrarem correspondência nos factos, pode dizer-se que esta imagem pesa toneladas, por isso esmaga a própria realidade.

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sexta-feira

Negócios que embaraçam toda a gente -por Sandro Mendonça -

Negócios que embaraçam toda a gente, Link

 | Expresso 

O controlo do contexto


Comecemos por falar da obra das jornalistas Maria João Babo e Maria João Gago, 
"O Último Banqueiro " (191 páginas). Este é um livro rápido pertinente, publicado no calor de
um instável Verão pela Lua de Papel depois de um oportuno desafio lançado pelo editor, 
José Prata.
Entre os livros de que aqui damos nota, este é o mais recente. Dado à estampa apenas no 
mês passado (Julho) exibe já (em Agosto), contudo, as marcas do tempo. Mas isso não é 
demérito da obra, mas antes sinal da extrema mutabilidade do objecto de análise. É curioso
notarmos que ainda no início de Julho o cenário era que Ricardo Salgado deixasse a liderança
do seu banco a 31 desse mês. Pouco antes ainda tinha revelado disponibilidade para ser 
reeleito quando o seu então mandato terminasse, em finais de 2015, argumentando "Esta crise
é uma crise que requer experiência." (pg. 31).
Este livro dá uma importância decisiva à noção de "clã" (p. 21). Os mecanismos de 
acumulação de poder funcionavam por laços de sangue e nas veias das hierarquias 
tradicionais, práticas aliás pouco consonantes com noções abstractas como "sociedade 
aberta" ou "economia de mercado" que tantos comentadores dizem convencionais promovem
mas que olham embevecidos para este mundo de aparências. Os Espírito Santo tinham uma
presença central nos negócios de todo o grupo sobretudo através do seu máximo e colegial
órgão, o "conselho superior da família" (p. 24). Mesmo esse aparentemente distraído Crédit
Agricole tinha um papel na gestão, isto é, não seria um "sleeping partner"(p. 26).
O livro dá ainda conta também que a gestão foi ficando cada vez mais concentrada na figura
de Ricardo Salgado, nascido e criado para ser banqueiro no coração de um resistente 
"capitalismo de família". Um investidor próximo confessa: "com ele a influência executiva 
ganhou supremacia à influência accionista" (p. 117). E com isto Salgado confundia-se com a
família, e o banco com o grupo. Salgado tornou-se referência para todo o sector, o primeiro
entre os pares. Diz alguém profissionalmente próximo: "Quando está o presidente da APB
[Associação Portuguesa de Bancos], Ricardo Salgado é o segundo a falar depois do líder da
associação. Quando não está o presidente da APB, é o primeiro a falar" (p. 114).
Mais do que a antiguidade de nome icónico ou de Ricardo Salgado como o decano dos
banqueiros, é a "qualidade dos contactos" (p. 114) e o "controlo do contexto" (p. 116) que se 
destacou como o fulcro da alavanca do poder. O universo Espírito Santo não tinha apenas uma
organizada vertebração interna. Sem dúvida o seu exosqueleto era igualmente importante:
príncipes, reis e condes pela Europa figuram na lista de contactos, mas também 
administradores de instituições internacionais e grandes financeiros internacionais. Como
admitiram vários membros do "clã", aqui estava "um nome capaz de abrir portas no 
estrangeiro" e fazer "lobbying internacional" (p. 23). Mas, e isto é preciso reter, este era um
poder capaz também de tentar fechar portas. O livro recorda o episódio em que, em 2005 
e por um ano e meio, Ricardo Salgado cortou todo o investimento publicitário do GES nos 
títulos da Impresa e que depois terá tentado por meio da Ongoing, entre 2009 e 2014, 
destabilizar o grupo de Francisco Balsemão (pp. 49-50).

O carrocel das influências


 O segundo livro que queremos sugerir como excelente recurso para uma leitura calma e atenta
é "Jogos de Poder", assinado pelo várias vezes premiado jornalista Paulo Pena. O título é 
publicado pela Esfera dos Livros em Abril último, e é de notar que resulta também de um
desafio lançado pela sua atenta editora Sofia Santos Monteiro.
Trata-se aqui de um trabalho que vai para além dos intuitos descritivos e mergulha com
coragem nos domínios da explicação (o que está por trás do poder da finança?) e da 
comparação (como contrasta Portugal com a Islândia, a Grécia, Hungria, e outros países
atingidos pela crise?). É ainda um livro que junta rigor de pesquisa a qualidades literárias, um
atributo importante num tema tão árido; apresenta com vivacidade um colorido naipe de
personagens e pinta com habilidade os momentos em que os seus percursos se cruzam.
O autor tem a capacidade de fornecer continuamente dados concretos, de inserir casas 
decimais nos números, dizer as horas de dias em que certos eventos tomaram lugar, de
providenciar sempre abundante informação que permite reconstituir as suas fontes (163 notas
de fim capítulo, quase 70 referências específicas na bibliografia). Paulo Pena navega com
facilidade por entre conceitos como "imparidade", "alavancagem" e "securitização", por entre
acrónimos tóxicos como "CDO" e práticas intoxicantes como "OTC" (ou as caseiras PPP), por
neologismos como "banca-sombra" ou "bancocracia", pela etimologia de palavras como
"dívida" ou de expressões como "paraísos fiscais". O autor aperta com firmeza o cinto de
segurança ao leitor quando descola para paragens longínquas como as Ilhas Caimão ou nos
faz travar o cabriolet num dos condomínios mais discretos e exclusivos de Portugal (como a
nós de uma trama - a trama que tramou os portugueses.
O autor atribui a origem da crise à finança e não ao despesismo do Estado ou à
irresponsabilidade da população; mas não o faz como se fosse um "lugar-comum", 
documenta-o. Recorda a "crise do subprime" norte-americana e também como a banca do 
centro da Europa acaba por apertar o crédito às economias do sul. E aqui a finança 
portuguesa é uma pequenina mas útil roda numa engrenagem global, mas é também uma roda
que dá a sua dentadinha na zona de influência que lhe está consignada: a crise em Portugal
apanha os bancos portugueses entre um poder financeiro internacional a querer ressarcir-se
das consequências do seu excessivo incentivo para a especulação e um sistema económico
português que tinha sido propositadamente esvaziado da sua dimensão produtiva.
O livro aborda vários casos determinantes. Um deles é o do BCP, de onde "saem todos os
elos que explicam a crise bancária portuguesa" (p. 29). É curioso ver reflectido como aqui há
sinais de uma dinâmica geracional entre os velhos decisores (Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal)
e jovens insurgentes (em especial os promotores do movimento " Compromisso Portuga l", de
é o do BPN, que o autor mostra ser um filho da nova engenharia político-económica do Portugal
"democrático" e "de mercado". É interessante como até aqui Paulo Pena consegue resgatar
ao esquecimento iluminadoras declarações como as de Luís Filipe Menezes quando este em
Abril de 2008 se demite de líder do PSD alegando ameaças feitas por "alguns ex-ministros
que não queriam que avançasse a fiscalização à supervisão bancária." (p. 120) Outro caso é o
do BES que o autor dá premonitoriamente como mais um potencial exemplo de que "tudo o 
que julgamos sólido se pode dissolver, num ápice": fala da turbulência interna num clima em 
que as suspeitas se avolumavam em torno da ocultação de contas no exterior e de tráfico de influências (p. 193).

O triunfo dos mandantes


O terceiro livro que aqui referimos como instrutiva leitura é da autoria de três homens 
conhecidos colectivamente pela sua participação política (no Bloco de Esquerda), mas que
são individualmente destacados nos seus ofícios como economista (Francisco Louçã ),
sociólogo ( João Teixeira Lope s) e documentarista ( Jorge Costa ). É um livro que tem 
objectivos de denúncia de um capitalismo de extracção e abuso, mas esse propósito é claro
desde a primeira linha da obra e o leitor pode aplicar o seu sentido crítico. A não neutralidade
não é falta objectividade, e este trabalho demonstra que tal posição (honesta) é possível.
Este é o livro com maior fôlego (tem mais páginas que os dois acima referidos juntos), uma
extensíssima bibliografia (referências e citações contantes ao longo do texto) e um site auxiliar
onde curiosos e estudiosos podem ter acesso aos dados para tirar as suas próprias
conclusões. Não é possível dar conta aqui do imenso trabalho que foi investido nesta
investigação (forense) aos processos de acumulação de poder por parte das estruturas de
topo da economia portuguesa.
A sua tese central é talvez esta: o sucesso de negócios altamente tributários do Estado 
(mas tão mal-agradecidos) é a principal força-motriz do poder económico (oligopolista)
de um pequeno número de indivíduos e de famílias de apelido conhecido (que, esses sim,
vivem em cima das capacidades de carga dos outros).

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terça-feira

Morreu Gary Becker, o pai da Economia freak


Morreu Gary Becker, o pai da Economia freak


Becker foi o primeiro a usar a economia para estudar questões aparentemente estranhas à disciplina, como o crime ou a fertilidade. Professor em Chicago e Nobel em 1992, morreu este fim-de-semana aos 83 anos
Gary Becker foi Nobel da Economia em 1992
Gary Becker foi Nobel da Economia em 1992 / Getty Images

Quando os livros de economia light como "Freakonomics" de Steven Levitt, o "Economista
Disfarçado" de Tim Harford ou "O Economista Natural" de Robert Frank surpreenderam o
Mundo e se tornaram best-sellers, houve pelo menos uma pessoa em Chicago que não ficou
assim tão surpreendida. Gary Becker, que morreu no último fim-de-semana, foi pioneiro na
utilização da Economia em temas diferentes e iniciou-se nestas práticas com praticamente
meio século de avanço.
Licenciado em Matemática, com distinção, na universidade de Princeton, rumou depois à
Universidade de Chicago  para estudar Economia onde, entre outros, foi contemporâneo de
Milton Friedman. Costumava dizer que era convencional nas coisas banais, como a roupa que
vestia, mas que no que tocava às ideias "punha a cabeça de fora".
E punha mesmo. A sua abordagem heterodoxa à Economia começou logo nos anos 50, no seu
doutoramento, ao defender uma tese sobre economia da discriminação. Esse trabalho,
publicado em livro pouco tempo depois, é ainda hoje uma das suas obras mais famosas.
E isto foi só o início. Ao longo dos anos estendeu as malhas dos instrumentos da 
Microeconomia a áreas aparentemente desligadas destas questões como o crime, 
a fertilidade, a relação das pessoas com o tempo, doações de órgãos ou mercado negro de
drogas ou outros produtos.
A abordagem tinha uma raiz comum e apelava à racionalidade como força motriz da decisão
dos agentes económicos. Por exemplo, um condutor deve comparar a pena de prisão ou multa
esperada (que dependem da probabilidade de ser apanhado) com o ganho que vai obter
(o produto do roubo, por hipótese) para decidir se vale a pena cometer um crime. Ou um casal
quando decide ter um filho deve ponderar antes os benefícios (em termos de mão de obra
futura para trabalhar em certas sociedades mais subdesenvolvidas)  com os custos de o
sustentar antes de começar a produzir.
Como é fácil de perceber, esta abordagem tem muito pouco de politicamente correto e
mereceu fortes críticas. Mas isso não impediu Gary Becker de abrir uma autoestrada na teoria
económica que ainda hoje continua a dar frutos. Não foi por acaso que, em 1992, foi distinguido
com o prémio em Ciências Económicas do Banco da Suécia (o chamado Nobel da Economia).
Na altura, foi justificado pelo facto de "ter extendido o domínio da análise microeconómica
a um vasto leque de comportamentos e interações humanas, incluindo comportamentos fora
de mercado".
É também sua a autoria do conceito - e da expressão - capital humano que é hoje linguagem 
corrente em todo o mundo. Foi, aliás, um tema que o interessou logo desde a década de 60.
Aos 83 mantinha-se bastante ativo e, contam alguns dos seus colegas da universidade, 
que continuava curioso e capaz de intervir a qualquer momento sobre o tema em que estes
estavam a trabalhar. Entre outras coisas mantinha um blog com Richard Posner onde
comentava temas de atualidade.
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Obs: Morreu um homem excepcional. 

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sábado

O Mar - uma economia - Naturalmente...

"A Associação Oceano XXI, que está a dinamizar o Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar com o propósito de valorizar o mar como fonte de riqueza económica. Cerca de 70 entidades públicas e privadas, entre elas universidades e institutos de investigação e associações empresariais estão envolvidas neste projecto.
Promover a agregação dos sectores e das actividades económicas tradicionais ou com forte componente inovadora fomentando o acesso a serviços tecnológicos e ao empreendedorismo na área marítima é o principal objectivo, envolvendo desta forma os sectores das pescas, portos e indústrias marítimas, investigação e turismo marítimo de natureza.
Naturalmente que aspectos importantes que podem ter forte impacto nas actividades económicas nacionais".
in Naturalmente...

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quarta-feira

Risco de Portugal entrar em incumprimento é quase zero

"O risco de Portugal falhar o pagamento das suas dívidas é quase zero", diz a agência de rating Fitch. No entanto, Portugal tem que fazer uma reforma alargada do seu enquadramento fiscal, diz o analista Brian Coulton, considerando que a pressão dos mercados exige uma forte disciplina fiscal dos governos português, espanhol e grego.
De acordo com o especialista da Fitch, em referência aos desequilíbrios orçamentais de Portugal, Espanha e Grécia, o risco de um contágio aos restantes membros da União Europeia é "exagerado".
A Fitch considera que a União Europeia pode "encontrar uma maneira" para ajudar a dívida soberana dos seus Estados-membros e que a pressão dos mercados sobre o risco da dívida de Portugal, da Espanha e da Grécia exige "disciplina fiscal".
Quanto à vizinha Espanha, a agência de rating considerou que o governo espanhol actuou "relativamente depressa", ao passo que diz estar preocupada com o apoio social às medidas anunciadas pelo Executivo grego.
No que toca a uma ajuda da União Europeia às finanças gregas, Brian Coulton disse que é uma "possibilidade" e não uma "certeza".
Obs:
O que o ministro das Finanças tem de fazer para segurar os mercados e potenciar o rating da república. Como hoje é mais problemático governar, por múltiplas e variadas razões, é de sublinhar os esforços de Teixeira dos Santos para emprestar à república aquilo que o Al berto joão da Madeira pretende esbulhar ao "contenente". Nota máxima para o prof. Teixeira dos Santos.

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