Macro de grande, skopein de observar: observar o infinitamente grande e complexo. Tentar perceber por que razão a ave vive fascinada pela serpente que a paralisa e, afinal, faz dela a sua presa.
quinta-feira
Não há dinheiro, mas alguns “portugueses” têm €30 mil milhões na Suíça -
A Europa é muito mais rica do que julga, e o chamado Estado social é sustentável – se todos os ativos que devem estar sujeitos a imposto forem conhecidos. Esta é a ideia subjacente ao livro “A Riqueza Oculta das Nações”, agora publicado pela editora Temas e Debates. O autor, Gabriel Zucman, é um economista francês de 28 anos. Tem trabalhado com o seu compatriota Thomas Piketty, figura central nos atuais debates sobre desigualdade nos Estados Unidos e na Europa. Piketty ocupa-se diretamente da desigualdade, Zucman de um dos seus principais instrumentos: a evasão fiscal. Medi-la com alguma precisão tornou-se finalmente possível, mas ainda falta saber imenso. Quando uma empresa de um país A (digamos, França) tem sede fictícia num país B (por exemplo, Irlanda), eventualmente a coberto de outro nome, e deposita formalmente num país C (Suíça) o dinheiro que na realidade investe de várias formas (ações, títulos, fundos de investimento) em outros países, como seguir o rasto? Zucman acha que se consegue. Anteontem falou ao Expresso Diário por telefone a partir da Universidade da Califórnia, uma das instituições onde ensina.
A Europa é muito mais rica do que julga, e o chamado Estado social é sustentável – se todos os ativos que devem estar sujeitos a imposto forem conhecidos. Esta é a ideia subjacente ao livro “A Riqueza Oculta das Nações”, agora publicado pela editora Temas e Debates. O autor, Gabriel Zucman, é um economista francês de 28 anos. Tem trabalhado com o seu compatriota Thomas Piketty, figura central nos atuais debates sobre desigualdade nos Estados Unidos e na Europa. Piketty ocupa-se diretamente da desigualdade, Zucman de um dos seus principais instrumentos: a evasão fiscal. Medi-la com alguma precisão tornou-se finalmente possível, mas ainda falta saber imenso. Quando uma empresa de um país A (digamos, França) tem sede fictícia num país B (por exemplo, Irlanda), eventualmente a coberto de outro nome, e deposita formalmente num país C (Suíça) o dinheiro que na realidade investe de várias formas (ações, títulos, fundos de investimento) em outros países, como seguir o rasto? Zucman acha que se consegue. Anteontem falou ao Expresso Diário por telefone a partir da Universidade da Califórnia, uma das instituições onde ensina.
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Obs: Para cada "estória" de dinheiro na Suíça há sempre um "sobrinho" útil que opera como um sistema financeiro de justificação. Para estes casos, mais pesados do ponto de vista financeiro, seria útil identificar uma família inteira, e, de preferência, que não estivesse ligado ao ramo dos táxis!!!
Desconheço, a avaliar pela hecatombe bolsista das acções do BES, se a esta hora - ou à hora dos mercados (que são sempre caprichosos) já estão a oferecer as ditas acções - pedindo encarecidamente aos seus tomadores para ficarem com elas em carteira mais de uma semana.
Talvez ainda não tenha acontecido, mas poderá vir a acontecer.
Parcerias Públicas e afins. A nova Entente cordiale entre Durão & Passos. O assalto ao poder
O ASSALTO AO PODER:
O circo mediático que o desertor político Durão Barroso montou ontem em Lisboa, trazendo o contentor cheio de dinheiro e mostrando-o à turba sob a forme duma declaração torpe e vulgar, revela a mais primária e vil instrumentalização que um alto dignitário da eurocracia bruxelense fez no seu próprio país, e que jamais deveria fazer.
Mas há muito que Barroso perdeu o respeito por si próprio e, como tal, é também lógico que não sinta respeito algum pelo povo português, à semelhança do papel do seu irmão-siamês, desesperado para reganhar eleições e que assumiu ali o papel do avaro e gordo judeu, que amplificou o poder e o milagre do dinheiro EUROPEU (como se este não resultasse das várias contribuições nacionais para o budget comunitário) como antídoto à pobreza estrutural disseminada pelos portugueses.
Na prática, estes dois cavalheiros, e de forma completamente despudorada, concertaram-se entre si para assaltar o poder político em Portugal.
Barroso quer Belém, e serve-se do dinheiro que anuncia para criar uma aura de facilitador desenvolvimentista da economia portuguesa, hoje destruída pelo seu comparsa; Passos Coelho, por seu turno, assume-se como o executor fiel e obediente daquele para implementar o ideário prometeico naqueles contentores repletos de dinheiro.
No fundo, o estarola de Massamá representa, doravante, "o bom aluno" do Sr. Europa, entretanto caído em desgraça - como a própria Europa.
Perante tão polida e sofisticada expressão do desertor - uma pipa de massa..., só me resta constar o óbvio e dizer: estamos bem entregues, estamos...
Foi na tarde desta segunda-feira, 28, em Penamacor, sua terra natal, que o secretário-geral do PS conversou com a VISÃO. Antes disso, havia calcorreado durante quase duas horas os caminhos da memória, levando os repórteres por lugares de infância, histórias da sua adolescência, momentos de agitação e de afirmação juvenil, travando o passo a cada rosto familiar e deixando-se levar pelos conterrâneos para quem ele é apenas o "Tozé" ou o "António".
Na esplanada do restaurante do antigo quartel, tendo em fundo o cenário beirão cor azeitona e granítico, falou com frontalidade sobre o PS que quer continuar a liderar, sem perder de vista o estado do País e o futuro. [...]
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Obs: Não deixa de ser interessante que a luta política no seio do PS tenha assumido uma feição algo literária e que um dia, já no final da sua vida, Eça de Queirós reconstruiu em A Cidade e as Serras (desenvolvendo o conto a Civilização) - contrapondo a agitação urbana de Paris com a tranquilidade serrana de Tormes.
É óbvio que Lisboa não é Paris e Tormes não é Penamacor. Tais lugares podem não reflectir o que se passa na cabeça dos homens que sofrem as assimetrias regionais num País ainda bastante desigual e injusto neste 1º quartel do séc. XXI.
Seja como for, não deixa de ser interessante e até irónico esta luta intestina ter assumido esta feição cultural e literária de pendor eminentemente queirosiano.
Veremos, doravante, quem será o urbano José Fernandes e o Jacinto de Tormes - nesta pequeno conto político que está em curso do Largo do Rato para todo o país.
A composição do Parlamento em S. Bento pode comportar surpresas e o novel locatário do cadeirão de S. Bento idem aspas...
Ele anda por aí tentando assediar os portugueses que, por o conhecerem demasiado bem, já "não vão em cantigas"...
Da última aparição do mordomo da Europa rezou a partilha de um prémio que recebeu do monarca espanhol, prémio que partilhou - em parte - com o liceu onde estudou: o Liceu Camões. Foi bonito ver o cheque de Barroso substituir-se à incapacidade e incompetência do ministério de Crato, que está a destruir o que resta do edifício da Educação & Ciência em Portugal.
Mas nessa ocasião, o mesmo Barroso deu o passo maior do que a perna e defendeu uma política de educação salazarista para a Nação. E a nação como tem memória, evidentemente, não gostou.
Agora anda por aí a tentar convencer administradores da FCG a candidatarem-se ao lugar de Comissário europeu, e daria imenso jeito que a Sr.ª Mota aceitasse - deixando vago o lugar na administração da Gulbenkian.., lugar esse que assentaria que nem uma luva ao futuro desempregado político, Barroso. Isto, na perspectiva do próprio, naturalmente.
Hoje, em mais uma vã tentativa de gerar a tal ligação psico-afectiva com o eleitorado, a fim de consolidar uma legitimidade que julga ter, o desertor Barroso sai-se com esta expressão e manda calar aqueles que criticam a crónica incompetência da Comissão europeia dirigida por Barroso nesta última década.
Ou seja, em tudo o que pensa, diz e faz Barroso é um homem excessivo e perverso. Pretende criar um clima de confiança entre ele e os eleitorados (esquerda, direita e centro) mas acaba por criar um efeito perverso e acaba por ser odiado por todos.
Importa dizer que com Barroso na Europa - esta plataforma perdeu força, poder, prestígio, influência e autoridade no mundo. Escavacou o imenso legado de Jacques Delors. O desertor português apenas conseguiu uma coisa: ficar balofo e produzir amiudadas vezes declarações execráveis que apenas traduzem a sua forma de ser e estar na vida pública.
Nem para porteiro do Palácio Rosa, quanto mais para seu locatário!!!
Portugal vai ter disponíveis 26 mil milhões de euros de fundos estruturais para o próximo ano, uma "pipa de massa", segundo Durão Barroso.
O acordo de parceria entre a Comissão Europeia e Portugal para o novo quadro de fundos comunitários disponibilizará cerca de 26 mil milhões de euros em fundos, uma "pipa de massa" para os próximos anos, segundo o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso.
A apresentação do acordo decorreu há momentos, em São Bento, com Durão Barroso e o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.
Perante o acordo, Durão Barroso deixou o recado: "Que se calem aqueles que dizem que a Comissão não é solidária com Portugal".
"Trata-se agora de aplicar bem esses fundos. Graças a este acordo temos os instrumentos para aplicar bem e estou confiante em relação ao futuro de Portugal que vai contar com a solidariedade europeia", afirmou o antigo primeiro-ministro.
Durão Barroso considerou que os fundos europeus foram a "principal fonte de financiamento" da economia portuguesa nos últimos três anos, sublinhando que está confiante em relação ao período que agora se segue e que "simpaticamente o primeiro-ministro apelidou de pós-troika".
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Obs: Os fundos estruturais não são dádivas da UE, nem dos seus representantes e/ou dignitários eurocratas aos Estados-membros, resultam antes do conjunto das contribuições que esses mesmos Estados transferem para o budget comunitário e que depois regressam sob a forma de fundos de coesão/fundos estruturais em razão das contribuições individuais de cada Estado-membro, da sua população, dimensão, PIB e outros indicadores nacionais.
Por isso, seria útil que esse verbo de encher que é Durão Barroso, o único antigo PM português que foi DESERTOR político no exercício de funções públicas no pós 25A - parasse de tratar os recursos financeiros da UE como se fossem uma coutada particular que um grupinho de amigos pudesse frequentar aos domingos de manhã, antes da missa. Até na forma como barroso se expressou revela o seu carácter e maneira de ser e de estar na vida, mas nem essa benesse, alavancada pelo desespero do alegado PM, fará dele um candidato credível a Belém, já que tinha sido esse o propósito de um conjunto de aparições cirurgicamente seleccionadas por aquele desertor.
Com efeito, esperemos que boa parte desses fundos estruturais sejam atribuídos às PMEs em prol da competitividade da economia nacional através do sistema de incentivos e de financiamento às empresas.
Neste contexto, creio que o actual Governo tenciona criar o tal Banco de Fomento para gerir e aplicar esses fundos estruturais, gastando, para o efeito, com cada administrador cerca de 10 a 13 mil €uros por mês só em salários quando. Na realidade, essa gestão e monitorização poderia ser realizada pela CGD ou por instituições do Estado incumbidas dessa tarefa e já com alguma experiência na implementação de fundos com vista à correcção das assimetrias regionais ainda existentes no país.
Veremos, pois, como corre a execução desses fundos de coesão e de como as regiões (ainda que não haja regionalização!!! - talvez com Rui Rio à frente do PSD..) conseguem converter as tradicionais políticas públicas centradas nos investimentos em infra-estruturas do passado - em políticas focadas na promoção da economia nacional num contexto de internacionalização e de globalização - hoje mais exigentes.
De preferência, que todos esses fundos sejam aplicados sem os clássicos índices de corrupção e desbunda financeira que define a nossa administração na relação com algumas grandes empresas e empresários, e perante uma justiça totalmente inoperante que nada consegue fiscalizar e/ou punir nos casos de corrupção.
Seja como for, o regresso destes fundos estruturais ao país é uma boa notícia, ainda que tenha sido publicitada da pior forma e numa conjuntura pré-eleitoral. Mas vindo de quem vem, nada faria supor que a sua publicitação fosse diferente ou gozasse do nível institucional adequado.
Obs: VSM toca no essencial do que, no sistema financeiro, acabou por minar os alicerces das sociedades e escavacar a produção, a coesão social, o valor do trabalho, enfim, o desenvolvimento, e até, pasme-se, o genuíno espírito do Capitalismo (industrial empreendedor e anti-especulativo) necessário ao desenvolvimento das nações e progresso dos povos.
Talvez não fosse marginal recuperar para a legislação nacional a letra e o espírito do Glass-Steagall Act supra-citado - para separar o trigo do joio no sistema financeiro nacional. E de que o BPN foi a mega-fraude - e diante os olhos de todos...
Ao mesmo tempo que se congratula pela decisão da Plataforma Portuguesa das Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento suspender o estatuto de observadora consultiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), depois de aprovada a entrada da Guiné Equatorial como estado-membro de pleno direito, a Coligação para a Restauração de um Estado de Direito (CORED) questiona o facto de o Presidente Teodoro Obiang estar entre os convidados do Presidente norte-americano Barack Obama para a primeira cimeira Estados Unidos-África, alguma vez realizada.
A lista de presenças ainda não foi divulgada para o encontro de alto nível, marcado para os dias 5 e 6 de Agosto em Washington, com o objectivo de promover o investimento e o comércio entre os Estados Unidos e o continente africano. Mas uma nota oficial, citada por vários sites noticiosos, como o da rádio Voz da América, referia que seriam convidados todos os países que estivessem em bons termos com os estados e que actualmente não estivessem suspensos da União Africana, como estão por exemplo o Egipto ou a República Centro Africana.
A CORED, um movimento da oposição da Guiné Equatorial no exílio, garante que Omar al-Bashir do Sudão ou Robert Mugabe do Zimbabwe ficarão excluídos da cimeira, mas não Teodoro Obiang da Guiné Equatorial. E a razão que encontram prende-se com a importância, do ponto de vista energético, que este país representa para os Estados Unidos, mesmo sendo a Guiné Equatorial um país onde 20 anos de exploração petrolífera não proporcionaram nenhuma melhoria para a vida dos seus habitantes que são cerca de um milhão.
Pelo contrário, a CORED considera “corajosa” a opção da Plataforma Portuguesa das Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento, anunciada na passada sexta-feira, após a CPLP ter admitido a Guiné Equatorial como membro de pleno direito numa cimeira em Dilí, na quarta-feira, na presença do Presidente português Cavaco Silva e do primeiro-ministro Passos Coelho.
"Esta decisão corajosa em protesto ao apoio que está recebendo o déspota que dirige o nosso país há 35 anos a partir do qual os democratas dizem, é, ao mesmo tempo, um sinal inequívoco de solidariedade para com o povo oprimido da Guiné Equatorial, na sua luta desigual contra o regime ultrajante e seus associados internos e externos", lê-se no comunicado da CORED.
Em carta dirigida ao secretário-executivo da CPLP, Murade Murargy, com conhecimento do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Luís Campos Ferreira, dos embaixadores dos estados-membros da CPLP e dos restantes observadores consultivos, a Plataforma comunicou ainda que, na próxima assembleia-geral, "será levada a votação a proposta de exclusão definitiva como observadora consultiva" da organização lusófona.
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Obs: Uma Ordem internacional emergente, qualquer que ela seja, devem assentar em valores, princípios e normas de direito internacional sólidas e profundamente humanitárias, mesmo que não sejam atingidas na sua plenitude. Ou seja, devem referenciar-se a valores universais partilhados e aplicados por todos que integram essa Ordem internacional em formação.
Nessa base, toma-se por adquirido que os Estados que integram essas organizações internacionais (regionais) não promovem a chacina entre os seus concidadãos; não os privam do direito elementar à vida; do acesso aos bens essenciais (água potável, alimentos necessários à vida); não os impedem de exercer os seus direitos cívicos, económicos e sociais; e que o Estado - através do aparelho de poder em exercício - não mate nem mande matar aqueles opositores que, legitimamente, procuram fazer oposição aos regimes ditatoriais manchados pelo sangue, estupro e roubo generalizado às populações por via da utilização indevida dos recursos naturais do país, como é o que se está a passar há mais de três décadas no país pertença do Sr. Teodoro Obiang.
Cavaco sabe, ou devia saber, que ao estar a apertar a mão aquele pulha está, no plano politico-diplomático, a branquear todos aqueles crimes praticados pelo ditador e pela sua família, que estoura o dinheiro do país em carros de luxo, vida boémia na Europa, etc... Contrastando com a vida miserável das populações da Guiné Equatorial que vivem com menos de 1 dólar per day.
Bem sei que a tese de Cavaco - e conexos - é a de que integrar o patife na CPLP será o caminho mais curto para reformar o país e, por essa via, estender as reformas políticas, sociais e económicas, e as suas vantagens, ao conjunto das populações.Tamanha ilusão, para não lhe chamar idiotice mitigada com ingenuidade.
Cavaco, consabidamente, tem escassa cultura democrática. Revela até grande dificuldade em conviver com vozes dissonantes da sua, o que se provou quando foi PM durante uma década.
Por isso, não surpreende que finja acreditar que acha possível reformar um ditador por "dentro", ou seja, convencer um pulha a ser um homem de bem para com o seu próprio povo sem sequer ter uma espada de dâmocles sobre a sua cabeça.
Antes pelo contrário, evidencia a realidade que são os demais países da CPLP, que precisam de recursos financeiros urgentemente, que podem ficar contaminados com as práticas assassinas de Obiang que, ao invés da tese idiota de Cavaco, jamais conseguirá converter um sanguinário nato, que sempre matou e mandou matar os seus concidadãos, num chefe de Estado genuinamente democrático, defensor dos direitos humanos, que permita o pluralismo político, partidário, sindical e ao nível dos media e aceite o rule of law.
No fundo, que aceite aquelas condições que permitem a uma sociedade organizar-se livremente e estabelecer uma economia de mercado (ou de pendor mais social!!) que ajude as populações mais carenciadas a sair da pobreza extrema em que se encontram.
Em rigor, Cavaco e também Passos Coelho, essa dupla vergonhosa que escreveu uma página negra na História diplomática de Portugal, não acreditam em nada daquilo que procuram infundir à sociedade.
Mas a política, como ensinou o artista Bordalo Pinheiro, nunca deixou de ser essa Grande Porca, a qual agora, como se viu, conheceu, do lado português, protagonistas verdadeiramente à altura do ditador Obiang. Eis o momento em que a democracia (e os democratas) se confunde com a ditadura (e os ditadores). Há momentos assim na vida dos povos e das organizações internacionais neste contexto de globalização predatória em que vegetamos.
Quase trinta anos após o desastre da usina de Chernobyl (Ucrânia), a maior tragédia radioativa da história continua a causar graves problemas na Europa e a deixar a população em alerta. Desta vez, o alarme foi soado em uma zona de caça livre no norte da Itália. Após um ano de pesquisas, o Instituto Zooprofilático Experimental de Piemonte, Ligúria e Valle d'Aosta – entidade ligada ao governo regional – divulgou a presença de traços de césio-137 acima dos limites permitidos pela União Europeia em dezenas de javalis encontrados na província piemontesa de Verbano-Cusio-Ossola, especialmente na pequena comunidade de Valsesia. A carne do javali seria consumida pelos caçadores.
O instituto começou a investigar a área com maior rigor em março de 2013, após a descoberta de 27 animais contaminados. Em pouco mais de um ano, foram analisados 1.441 porcos selvagens e a constatação foi a de que mais de 10% da população (166 javalis) apresentam índice de radioatividade superior a 600 becquerel/quilo, limite máximo permitido pela UE em animais selvagens. O becquerel é a unidade usada internacionalmente para mediação de radioatividade.
Embora não tenha revelado precisamente o nível de radiação encontrado nos animais de Vasesia, Maria Caramelli, diretora do instituto, afirmou que as análises apresentaram traços de césio-137 "significativamente superiores" ao permitido pela comunidade europeia.
Nuvem radioativa
De acordo com a instituição, a contaminação dos javalis é consequência ainda da nuvem radioativa provocada pela explosão de Chernobyl em 1986. Nos dias decorrentes ao desastre, a nuvem se espalhou por dezenas de países da Europa. Na Itália, um mapeamento feito pelo CCR (Centro Comum de Pesquisa da União Europeia) constatou que as regiões mais afetadas foram Lombardia e Piemonte. Fortes chuvas atingiram essas áreas naquele período fazendo com que o césio penetrasse maciçamente no solo.
A atual propagação da substância radioativa entre a população de porcos selvagens, e não em outros animais, pode ser consequência dos hábitos alimentares dos javalis. Como eles se nutrem principalmente de raízes, escavam camadas profundas do solo em busca do alimento, expondo-se assim à radiação. Além disso, as raízes são por si próprias grandes concentradoras de radiatividade.
Após a descoberta, o instituto zooprofilático emitiu um alerta pedindo maior controle na zona de caça da província de Verbano-Cusio-Ossola. Atualmente, o Piemonte possui um plano de monitoramento da carne proveniente da caça na região. Porém, a fiscalização não atinge a totalidade dos animais abatidos em zonas selvagens antes de serem consumidos. (...)
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Obs: É surpreendente como um problema com quase 30 anos e ocorrido a milhares de quilômetros constitui hoje um sério problema em Itália e, porventura, noutros países da Europa que têm esse problema e ainda não sabem.
Obs: Curiosamente, aquilo que deveria ter sido feito por Cavaco em Dili relativamente ao patife Obiang - retirando-lhe a possibilidade de integrar a CPLP - é o que o recém-entronizado líder do PSOE fez ao SG do PS em exercício em Portugal.
Afinal, onde está a solidariedade partidária e político-ideológica entre partidos irmãos? Ou será que o fio extenso das dúvidas já atravessou a fronteira?
O mundo anda com os passos trocados e parece que ninguém beneficia com esse desacerto.
Decisão judicial sem precedentes. Tribunal ordena Rússia a pagar 37.200 mil milhões de euros aos accionistas da Iukos
Tribunal ordena Rússia a pagar 37.200 mil milhões de euros aos accionistas da Iukos
PÚBLICO e AFP
Khodorkovski saúda sentença "histórica". Moscovo, já alvo de crescentes sanções europeias por causa da Ucrânia, vai recorrer de decisão “politicamente motivada"
Obs: Portugal bateu no fundo, mas o poço continua sendo escavado, à luz dos factos (domésticos e externos) que se vão conhecendo, o que indicia mergulharmos ainda mais fundo neste abismo sem fim.
Talvez seja apenas um mito e Mayer Amschel Rothschild não tenha mesmo dito aquela frase no século XIX: "Deem-me o controlo do dinheiro de uma nação e pouco me importarei com quem faz as suas leis." Ficou a frase infame e a família famosa, os Rothschild, que já não são os banqueiros mais importantes da Europa mas cuja descendência prevalece.
No mesmo século XIX, uma família portuguesa de banqueiros era fundada por um órfão, a quem por isso mesmo chamaram de Espírito Santo, e que atingiu o ponto mais alto da sua influência já no século XXI. Depois - agora - os negócios faliram, num escândalo internacional de desonra. A família perde tudo. O movimento é tão poderoso que pode significar uma mudança de regime na economia portuguesa. Há uma rede de poder que desaba. Outra emergirá.
Como foi possível que um império tamanho se perdesse entre dois verões, sem invernos que anunciassem a ruína ou primaveras que a redimissem? Talvez a resposta esteja noutra pergunta: como foi possível sequer construir este império tamanho? A resposta é, agora, fácil: não foi possível. Não era um império. Era um conglomerado descapitalizado, opaco e mal gerido. A plácida cascata de ativos, que criou um sistema de minorias acionistas encadeadas que garantia o controlo familiar com pouco capital, tornou-se uma torrencial cascata de passivos.
É impressionante tudo ter acontecido debaixo dos olhos da comunidade, incluindo poderes políticos, reguladores, auditores, concorrentes. Ao contrário do BPN, que "sempre se soube", no BES nunca se soube de nada. Escrevia-se sobre a opacidade e a complexidade do grupo, mas não havia denúncias nem sequer suspeitas conhecidas. O poder do BES era imenso. E era um poder de um homem, Ricardo Salgado, 70 anos acabados de fazer. Sintomaticamente, o líder da família desde o final dos anos 80 não tinha número dois. Era costume dizer-se que o BES era como um comité central do Partido Comunista, não havia "vices", havia o líder e o resto. Era um poder total, bajulado e quase incontestado.
O poder hegemónico
A primeira vez que falei sobre o assunto foi em julho de 2009, há cinco anos, num encontro à porta fechada do Projeto Farol, que decorreu no Pavilhão de Portugal. O Farol, um think tank liberal, convidara-me para fazer uma apresentação sobre fatores de bloqueio da economia portuguesa e eu escolhi o BES. Na minha tese, o problema não era o BES ser poderoso, era ser hegemónico.
O jornalista José Manuel Fernandes estava no encontro e, mais tarde, convidou-me para escrever essa análise para o Anuário da Fundação Francisco Manuel dos Santos, onde está publicada. Dos três eixos de poder da década anterior, restava um: o BCP, muito ligado à Teixeira Duarte, Cimpor, EDP e depois à Caixa, Berardo, Fino, estava prostrado; o BPI, muito ligado a grandes empresas do Norte, incluindo o Grupo Sonae, tinha-se virado para Angola; restava o BES e a sua linha de poder com a Portugal Telecom, Ongoing, Mota-Engil, mais tarde a EDP e José Sócrates.
A falta de oposição entre eixos financeiros permitira uma afirmação do BES que, juntamente com o BCP e a Caixa, lucraram muitos milhões concedendo crédito no imobiliário e nas obras públicas, onde estariam a maior parte dos grandes problemas da economia, com malparados gigantes, obras paradas a meio, transferências para fundos de reestruturação.
Nessa minha tese, estes bancos haviam "fabricado" lucros, dividendos e prémios de gestão. Os créditos, que constituíam lucro nos primeiros anos, virariam graves prejuízos no futuro. Os bancos foram sendo esventrados. No ano 2000, BES, BCP, BPI e Banif valiam em Bolsa um total de 18 mil milhões de euros. Os mesmos bancos valem hoje menos de sete mil milhões. Apesar de muitos dividendos entretanto pagos, a destruição de valor é evidente. Houve aumentos de capital em catadupa.
É hoje possível argumentar que, apesar de a intervenção externa de 2011 se ter feito por causa das contas do Estado, ela acabou por permitir uma gestão controlada e até disfarçada dos problemas enormes que estavam nos balanços dos bancos. Já foram reconhecidas nas suas contas mais de 24 mil milhões de euros de perdas reais e potenciais. E é essencial perceber isto para compreender o que se passou no Grupo Espírito Santo.
Paradoxalmente, a devastação na economia portuguesa que foi acelerada com a intervenção externa de 2011 não havia produzido até aqui nenhuma grande falência. Houve algumas construtoras de média dimensão, empresas de turismo e de imobiliário a caírem ou a serem resgatadas, mas não houve nenhuma queda abrupta de um grande grupo. Na verdade, tal foi sendo possível precisamente pela gestão controlada da banca. Muitas empresas zombie foram sendo transferidas para fundos de reestruturação, outras tiveram as suas dívidas reestruturadas, sempre com perdões indiretos da banca. Na maior parte dos casos, porque os próprios bancos não queriam (ou não podiam) assumir todas as perdas, sobretudo numa altura em que a pressão regulatória europeia obrigava a sucessivos aumentos de capital para garantir rácios de solvabilidade. Em muitos outros casos, porque o "sistema" funciona assim: preserva-se.
Assim foi com aquele que teria sido o maior estoiro na economia portuguesa: o Grupo José de Mello. O caso foi então noticiado mas estranhamente teve pouco impacto na sociedade. Por causa do corte do rating do Estado para nível lixo, em 2011, os bancos estrangeiros exigiram o pagamento imediato de empréstimos a muitas empresas portuguesas. Ao Grupo Mello foram exigidos mil milhões de euros, o que tendo em conta a quebra das receitas da empresa e o desequilíbrio entre ativos e passivos a colocou num estado crítico, sendo necessário "entrar" com o próprio património da família e, mais tarde, retirar a Brisa de Bolsa para a revalorizar e aceder a mais dividendos.
O problema ainda hoje não está ultrapassado, embora esteja controlado. Mas nada disso teria sido possível se, em 2011, o Grupo José de Mello não tivesse tido o apoio dos bancos portugueses, que então substituíram os bancos estrangeiros como seus financiadores. O trio do costume, Caixa, BCP e BES injetaram mil milhões no grupo, que assim pôde pagar aos bancos estrangeiros Santander, Deutsche Bank e Société Générale.
A grande falência aparece agora e é muito maior: o Grupo Espírito Santo. Inteiro. Uma derrocada, de cima para baixo. Mas como? Assim: anos e anos de prejuízos não assumidos, operações que não geravam cash flow, investimentos nunca recuperados à custa de dívida sobre dívida nas próprias participadas, que ficavam pendurados nas contas como se estivessem bem. Pura má gestão e algumas ligações perigosas, com Angola à cabeça. Mas as holdings de topo, com contas opacas e triangulando várias praças financeiras, escondiam uma montanha de passivo, para mais agravada com dívidas que não estavam registadas nas contas, num total de 1,3 mil milhões de euros, o que pode constituir prática criminal.
A situação tornou-se insuportável quando a dívida, além de ser grande, passou a ser em grande parte de curto prazo. O famoso papel comercial tornou a pressão sobre a tesouraria intolerável e sujeita a enorme risco. Pior do que isso: contaminou o BES.
Como a família perdeu o BES
Foi assim que a família perdeu o controlo do banco, primeiro na gestão, depois na própria posse das ações. Se os problemas de dívida no Grupo Espírito Santo eram já enormes, o contágio ao banco foi um passo deliberado e aconteceu no último ano. Talvez fosse uma última tentativa de evitar a rutura, mas transmitiu o problema das holdings de topo pela cascata abaixo até ao banco, o que constitui um pecado mortal e dificilmente compreensível.
A falência poderia ter sido apenas da holding ES International, o que seria um escândalo que arrastaria a família Espírito Santo, mas não contaminaria as empresas nas holdings inferiores.
Mas, no início deste ano, Ricardo Salgado começou a transferir os passivos da ES International para a RioForte, contaminando-a irremediavelmente. A Espírito Santo Financial Group e o BES concederam crédito às holdings de cima, ficando também desse modo contaminadas. E o BES expôs os seus próprios clientes ao risco, quando os pôs a financiar o GES, primeiro através de fundos de investimento como o ES Liquidez, depois através do papel comercial. Era difícil ter sido mais destrutivo.
Se o Banco de Portugal não tivesse forçado a constituição de provisões para pagar aos clientes de retalho do papel comercial, a hecatombe dos clientes teria sido devastadora. Um BPP multiplicado muitas vezes.
O que levou o GES à crise revela no mínimo incompetência, mas a própria gestão da crise desde o fim do verão do ano passado foi desastrosa, revelando uma equipa bloqueada, em negação e obcecada por uma guerra interna de sucessão. Como criticou Fernando Ulrich recentemente, a informação financeira foi sendo relevada aos poucos, cada comunicado trazia um novo número, nunca houve transparência total e tudo isso gerou uma desconfiança insanável dos mercados, sobretudo depois de os investidores terem acreditado no BES para um derradeiro aumento de capital de mil milhões de euros há cerca de dois meses. Esses investidores sentem-se enganados. Têm boas razões para isso. Mas houve mais: foram sendo anunciados aumentos de capital na RioForte que nunca aconteceram, vendas em Bolsa que não ocorreram, reestruturações que não existiram. Tudo colapsou, estrondosamente.
A melhor definição que ouvi até hoje sobre o sistema de poder económico em Portugal foi dada por Paulo Morgado, líder da filial portuguesa da Cap Gemini. Mais do que uma estrutura hierárquica piramidal, ou de que um polvo com tentáculos, o poder em Portugal assenta num sistema em rede. É, descreveu Paulo Morgado, como um jogo de micado: vários paus cruzam-se e é quase impossível mexer num sem tocar noutros.
Essa interdependência serviu ao mesmo tempo de rede de sustentação e de força de resistência passiva. Ninguém ousava dar um murro na mesa e atirar as peças de micado todas pelos ares, o efeito sistémico seria imprevisível. A falência do Grupo Espírito Santo e o afastamento da família é esse murro na mesa e sim, tem efeito sistémico, porque arrasta centenas de empresas com milhares de trabalhadores. Alexandre Soares dos Santos já disse que o efeito é "brutal, brutal, brutal..."
Hoje, Ricardo Salgado é um homem só. Poucos dos seus aliados ainda o são, muitos dos seus mais próximos já deixaram de o ser. Começou por aqueles que eram enfeitiçados pelo dinheiro ou mesmo pagos pelo Grupo: esfumaram-se. Passou depois para os amigos, para a família, para os clientes, para dentro do banco.
É preciso perceber a mitificação que existia à volta de Ricardo Salgado, em muitos membros da comunidade mas sobretudo dentro do Banco Espírito Santo. Os quadros falavam de Salgado como de um banqueiro predestinado, um líder de que se orgulhavam, um homem que estaria sempre acima dos desafios e dos seus pares. Foi assim pelo menos até novembro do ano passado, quando começou a guerra na família. Mas mesmo no princípio da fase mais aguda da crise, muitos quadros do banco recusavam-se a aceitar a informação que ia sendo divulgada, como se o grupo estivesse a ser alvo de conspirações.
De alguma maneira, a situação foi semelhante no BCP aquando da crise de Jardim Gonçalves: era venerado pelos seus quadros, a incredulidade foi semelhante. Acresce que, no caso de Ricardo Salgado, muitos se sentiram mais do que dececionados: sentiram-se traídos. Esse terá sido o caso de Amílcar Morais Pires e de outros altos quadros do BES: indefetíveis até ao fim, foram deixados cair.
Curiosamente, Salgado foi negociando com quem o traíra a ele. Como Pedro Queiroz Pereira, com quem acabou por fechar um negócio que separou os dois grupos familiares. Com Carlos Costa, que lhe foi tirando o tapete aos poucos. E com José Maria Ricciardi, o seu primo que liderou uma tentativa de "golpe de Estado" em novembro que falhou. Ricciardi falara então com diversos membros da família, isoladamente, para retirar a confiança a Salgado, mas quem acabou isolado foi ele próprio. Teria o desfecho sido diferente se Ricciardi tivesse conseguido afastar Salgado?
Os últimos meses revelaram que, na geração em causa, a família Espírito Santo só tinha dois potenciais líderes, Salgado e Ricciardi, que são tão parecidos um com o outro como o sal é do açúcar. José Maria Ricciardi foi o único a estar frontalmente contra Salgado e o tempo mostrou que tinha razão. Mais: ele podia ter sido o líder que salvaria o grupo. Mas não teve apoio da família. E, sobretudo, nunca teve um plano alternativo a não ser propor-se a si próprio como líder. Teve uma oportunidade história, não esteve à altura dela.
Hoje, o resto da família já estará com ele. Ou, pelo menos, está contra Ricardo Salgado. Há uma revolta surda entre os vários membros da família dos demais ramos, sobretudo os que estiveram com ele até ao fim, mas já não estão. Hoje, há membros de uma nova geração a despontar, como André Amaral ou Caetano Barão da Veiga, mas não há muito por que lutar. Dos mais velhos, já mais nenhum se solidariza com Salgado. Lealdade não é o mesmo que fidelidade.
O próximo poder
Voltemos à frase atribuída a Rothschild: os banqueiros sabem que o poder maior numa economia está em criar moeda, o que Portugal aliás já não pode fazer. Em Portugal, o poder maior reside no Estado, através da despesa pública e dos impostos, e nos bancos, pela concessão de crédito. Mesmo nos últimos anos, com menos crédito concedido, o poder dos bancos foi suficiente para decidir a vida ou a morte de muitas empresas, pela renovação ou não renovação de créditos e linhas de tesouraria. Fale com qualquer gestor de uma PME, ele explica.
A queda da família no BES está consumada, mas essa não é a única alteração acionista em perspetiva. É hoje difícil perceber como ficará o poder no banco, que está tomado por muitos acionistas especulativos de curto prazo. Além disso, uma entrada do Estado, ainda que com títulos híbridos, significa uma diluição enorme dos acionistas, incluindo dos investidores que entraram no último aumento de capital e que podem acionar legalmente o banco. Mas é óbvio que o BES acabará comprado, porque acabará vendido, mesmo que seja aos poucos, em mercado.
A queda do BES enquanto eixo de poder poderia ter o efeito reverso que teve a queda do BCP em 2007: abrir caminho para que outro banco assomasse. Contudo, nenhum dos bancos portugueses parece ter a força ou sequer a dinâmica para se catapultar neste momento, até porque o mercado português continua a ser um mau "negócio". Assumindo que não há vazios de poder - sempre que há rei morto, há rei posto -, quem, então, pode assumir as rédeas do poder?
A resposta depende menos dos acontecimentos e mais das circunstâncias (Vítor Gaspar vai gostar desta): é o credor estrangeiro. Às vezes chamam-lhe "mercados". O credor torna-se acionista à força e vira investidor. É a força mais poderosa que se abateu sobre a economia portuguesa desde 2010, precisamente por sermos devedores. É o credor estrangeiro que está a reconfigurar a economia portuguesa (e a sua política, que depois de perder as ferramentas cambial e monetária, perdeu agora na prática a liberdade orçamental). É ele que escolhe gestão profissional em vez de familiar, e que prefere sempre fluxos de caixa a qualquer outro tipo de retorno, que pode sempre pressionar o pagamento de dividendos em vez de reinvestimento. É isso que está a acontecer dramaticamente no BES. É isso que vai reconfigurar a economia portuguesa: uma mudança de fora para dentro.
O discurso dos centros de decisão nacional sempre foi essencialmente um discurso de poder, e de manutenção desse poder pelo regime vigente. Hoje é um anacronismo ridículo. O investidor estrangeiro já tomou conta. A EDP e a Ren são hoje chinesas, a Ana é francesa, o BCP, BIC, Zon e Optimus são angolanos, o BPI é hispano-angolano, o BES há de ser de quem o quiser, a Cimpor é brasileira, a PT quer sê-lo, a Galp é apátrida e há dezenas de grandes empresas à venda, incluindo hotéis, seguros, saúde e imobiliário do Grupo Espírito Santo, a TAP ou os resíduos do Estado.
O sistema mudou porque estava falido. O novo regime fala estrangeiro. Precisa de reguladores fortes, para que produza em vez de extrair riqueza de Portugal. Mas essa é a maior mudança a que assistimos. Não foi a troika que a trouxe, foi a dívida. O triste fim do Grupo Espírito Santo não é senão uma forma dramática e espetacular de o percebermos. Como diria José Sócrates, o mundo mudou.
Texto publicado na Revista do Expresso, a 19 de julho de 2014