terça-feira

Oposição da Guiné Equatorial no exílio aplaude saída das ONG portuguesas da CPLP




Oposição da Guiné Equatorial no exílio aplaude saída das ONG portuguesas da CPLP




Ao mesmo tempo que se congratula pela decisão da Plataforma Portuguesa das Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento suspender o estatuto de observadora consultiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), depois de aprovada a entrada da Guiné Equatorial como estado-membro de pleno direito, a Coligação para a Restauração de um Estado de Direito (CORED) questiona o facto de o Presidente Teodoro Obiang estar entre os convidados do Presidente norte-americano Barack Obama para a primeira cimeira Estados Unidos-África, alguma vez realizada.
A lista de presenças ainda não foi divulgada para o encontro de alto nível, marcado para os dias 5 e 6 de Agosto em Washington, com o objectivo de promover o investimento e o comércio entre os Estados Unidos e o continente africano. Mas uma nota oficial, citada por vários sites noticiosos, como o da rádio Voz da América, referia que seriam convidados todos os países que estivessem em bons termos com os estados e que actualmente não estivessem suspensos da União Africana, como estão por exemplo o Egipto ou a República Centro Africana.
A CORED,  um movimento da oposição da Guiné Equatorial no exílio, garante que Omar al-Bashir do Sudão ou Robert Mugabe do Zimbabwe ficarão excluídos da cimeira, mas não Teodoro Obiang da Guiné Equatorial. E a razão que encontram prende-se com a importância, do ponto de vista energético, que este país representa para os Estados Unidos, mesmo sendo a Guiné Equatorial um país onde 20 anos de exploração petrolífera não proporcionaram nenhuma melhoria para a vida dos seus habitantes que são cerca de um milhão.
Pelo contrário, a CORED considera “corajosa” a opção da Plataforma Portuguesa das Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento, anunciada na passada sexta-feira, após a CPLP ter admitido a Guiné Equatorial como membro de pleno direito numa cimeira em Dilí, na quarta-feira, na presença do Presidente português Cavaco Silva e do primeiro-ministro Passos Coelho.
"Esta decisão corajosa em protesto ao apoio que está recebendo o déspota que dirige o nosso país há 35 anos a partir do qual os democratas dizem, é, ao mesmo tempo, um sinal inequívoco de solidariedade para com o povo oprimido da Guiné Equatorial, na sua luta desigual contra o regime ultrajante e seus associados internos e externos", lê-se no comunicado da CORED.
Em carta dirigida ao secretário-executivo da CPLP, Murade Murargy, com conhecimento do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Luís Campos Ferreira, dos embaixadores dos estados-membros da CPLP e dos restantes observadores consultivos, a Plataforma comunicou ainda que, na próxima assembleia-geral, "será levada a votação a proposta de exclusão definitiva como observadora consultiva" da organização lusófona.
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Obs: Uma Ordem internacional emergente, qualquer que ela seja, devem assentar em valores, princípios e normas de direito internacional sólidas e profundamente humanitárias, mesmo que não sejam atingidas na sua plenitude. Ou seja, devem referenciar-se a valores universais partilhados e aplicados por todos que integram essa Ordem internacional em formação. 
Nessa base, toma-se por adquirido que os Estados que integram essas organizações internacionais (regionais) não promovem a chacina entre os seus concidadãos; não os privam do direito elementar à vida; do acesso aos bens essenciais (água potável, alimentos necessários à vida); não os impedem de exercer os seus direitos cívicos, económicos e sociais; e que o Estado - através do aparelho de poder em exercício - não mate nem mande matar aqueles opositores que, legitimamente, procuram fazer oposição aos regimes ditatoriais manchados pelo sangue, estupro e roubo generalizado às populações por via da utilização indevida dos recursos naturais do país, como é o que se está a passar há mais de três décadas no país pertença do Sr. Teodoro Obiang.
Cavaco sabe, ou devia saber, que ao estar a apertar a mão aquele pulha está, no plano politico-diplomático, a branquear todos aqueles crimes praticados pelo ditador e pela sua família, que estoura o dinheiro do país em carros de luxo, vida boémia na Europa, etc... Contrastando com a vida miserável das populações da Guiné Equatorial que vivem com menos de 1 dólar per day.
Bem sei que a tese de Cavaco - e conexos - é a de que integrar o patife na CPLP será o caminho mais curto para reformar o país e, por essa via, estender as reformas políticas, sociais e económicas, e as suas vantagens, ao conjunto das populações.Tamanha ilusão, para não lhe chamar idiotice mitigada com ingenuidade.
Cavaco, consabidamente, tem escassa cultura democrática. Revela até grande dificuldade em conviver com vozes dissonantes da sua, o que se provou quando foi PM durante uma década.
Por isso,  não surpreende que finja acreditar que acha possível reformar um ditador por "dentro", ou seja, convencer um pulha a ser um homem de bem para com o seu próprio povo sem sequer ter uma espada de dâmocles sobre a sua cabeça. 
Antes pelo contrário, evidencia a realidade que são os demais países da CPLP, que precisam de recursos financeiros urgentemente, que podem ficar contaminados com as práticas assassinas de Obiang que, ao invés da tese idiota de Cavaco, jamais conseguirá converter um sanguinário nato, que sempre matou e mandou matar os seus concidadãos, num chefe de Estado genuinamente democrático, defensor dos direitos humanos, que permita o pluralismo político, partidário, sindical e ao nível dos media e aceite o rule of law.
No fundo, que aceite aquelas condições que permitem a uma sociedade organizar-se livremente e estabelecer uma economia de mercado (ou de pendor mais social!!) que ajude as populações mais carenciadas a sair da pobreza extrema em que se encontram. 

Em rigor, Cavaco e também Passos Coelho, essa dupla vergonhosa que escreveu uma página negra na História diplomática de Portugal, não acreditam em nada daquilo que procuram infundir à sociedade. 
Mas a política, como ensinou o artista Bordalo Pinheiro, nunca deixou de ser essa Grande Porca, a qual agora, como se viu, conheceu, do lado português, protagonistas verdadeiramente à altura do ditador Obiang.

Eis o momento em que a democracia (e os democratas) se confunde com a ditadura (e os ditadores). Há momentos assim na vida dos povos e das organizações internacionais neste contexto de globalização predatória em que vegetamos.
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