domingo

Ferreira leite: a "mulher de vermelho" na Universidade de Verão em Castelo de Vide

Quando se designa a "Mulher de Vermelho" evoca-se um filme com uma interessante história que causa uma paixão desenfreada e muitas gargalhadas. É uma comédia que, por certo, já todos vimos. Agora, mas de sinal contrário, a "fantasma Ferreira leite" irá tentar fazer o mesmo na bonita terra de Castelo de Vide, no Alentejo.
Intervelando entre o silêncio e o desaparecimento súbito post-Guimarães, Ferreira Leite tentará recuperar todo o fôlego perdido desde a sua eleição no Congresso na cidade que fundou a nacionalidade de Portugal. Frustrada a possibilidade de brilhar no Pontal, entre o pó e a sardinha, é, doravante, a Universidade de Verão, na bonita terra de Castelo de Vide - que serve de reentré para a srª Leite mostrar o que vale - nessa sua já conhecida estratégia errante.
Errante e suicidária, na forma e no conteúdo. Vejamos algumas dessas derivas que ela terá como certas mas que, no fundo, são um rotundo fiasco, uma ruína antecipada:
1. Defender a suspensão do investimento em obras públicas no País, designadamente no aeroporto internacional de Lisboa, foi um erro crasso. Numa semana disse uma coisa e o seu contrário. Depois, lá veio o seu presidente da bancada parlamentar, Paulo Rangel, dizer que, afinal, apenas queria que o Governo lhe explicasse tudo (custos e benefícios) numa folha A4.
2. Depois, de forma original, resolveu dar luz verde para que os boys da organização da Universidade de Verão do psd convidassem o ex-Comissário português, António Vitorino a participar no evento. É óbvio que os "alunos" seleccionados com critério de representatividade agradecerão os conhecimentos que alí irão absorver. Mas se Ferreira leite pensou que assim enfiava uma lança em África, enganou-se rotundamente. Será António Vitorino e o PS (por tabela) - no seu conjunto - que enfiam essa lança no coração do psd e desta pífia liderança. Por uma razão simples: o que terá a srª Leite para dizer ao lado de Vitorino ou mesmo de Marcelo?! Certamente nada, mesmo que seja Pacheco a fazer-lhe o discurso, as usual...
3. Ainda António Vitorino... que será, seguramente, a principal mais-valia intelectual daquele evento de restauração de silêncios, arrependimentos, frustrações, psicoses e outras neuroses que já persegue o psd há uma década. É que a presença alí de AV dar-lhe-á uma aura e uma dimensão de "todo-o-terreno" que ele, de facto, não tem.
Desse modo, Vitorino:
a) Aparecerá aos olhos dos portugueses como uma espécie de salvador-de-fora, o bom samaritano que vai dar uma ajudinha ao convento (da Lapa) em convulsão;
b) Estando presente na Universidade de Verão de Castelo de Vide - AV planifica, mede, avalia e controla todas as pulsões que o psd de Ferreira Leite desencadear. Perceberá melhor do que ninguém os elementos fortes e fracos daquele "saco de gatos", o que o habilatará fazer o mapa das Legislativas de 2009. Por isso, aqui defendemos que a novidade daquele evento, de forma original - que coincide com a tremenda crise [estrutural] que não larga o psd, será o próprio António Vitorino.
  • O que não deixa de ser um contrasenso, pois sendo ele um homem de low-profile - acabará por ter ainda mais visibilidade do que Balsemão e Marcelo juntos na cobertura do evento pelos media. Isto decorrerá da própria natureza das coisas, ou seja, impôr-se-á até à própria vontade de António Vitorino - que apenas procurará debitar a sua leitura sobre esta nova Europa, com um Urso agressivo (que estava adormecido) chamado Rússia.
c) Ferreira Leite, pelo seu lado, também terá certamente o seu lugar no evento. Mas como a sua postura tem sido a do silêncio e do desaparecimento súbito - que intervala como a de porta-vox de Belém (leia-se, anunciar as preocupações de Cavaco em matéria de Estatuto dos Açores ao lado do veto à lei do Divórcio, só para citar dois exemplos) - é de crer, desta vez, que Leite irá a Castelo de Vide anunciar mais uma, duas ou três preocupações de Cavaco - pensando ela que colando-se a Belém extrai dividendos políticos que a ajudarão a derrotar Sócrates e, assim, sentar-se no cadeirão de S. Bento.
  • Tamanho erro: só com muita sorte Ferreira Leite irá a eleições contra Sócrates, pois o psd de Meneses, de Santana e até de Passos Coelho já se encontra em marcha a fim de reunir as 2500 assinaturas para agendar a questão da Regionalização e, assim, impô-la à agenda Leite, ao Governo e ao País.
De tudo resulta uma enorme gargalhada, semelhante aquelas que demos ao ver o filme A Mulher de Vermelho - que hoje Ferreira leite procurará representar numa das vilas mais belas de Portugal. Terrível contraste...
  • Colar-se a Cavaco é uma estratégia desastrosa;

  • Pedir a cabeça do MAI, Rui Pereira, denota uma tremenda irresponsabilidade política, e logo numa matéria vital como é a segurança. Cavalgar a onda do crime não paga e Roma também não financia traidores;

  • Questionar a política de investimentos públicos do Governo e do PS revelou-se esquizofrénica (entre o Não e o Sim numa semana). Parece que, afinal, concordava com o Governo, desde que este - reclamação de Paulo Rangel no hemiciclo da AR - forneça à Lapa os custos numa folha A4;

  • O vazio global e permanente que atravessa o cérebro de Ferreira leite denuncia também que a sua equipa de conselheiros e assessores vale tanto como vale hoje o dólar face ao Euro. Nem António Borges, um dos cem Vices-Pr. da Goldman Sachs - consegue fazer a diferença nesse vácuo global de ideias & projectos alternativos para Portugal. E quando vai para o pasquim de Belmiro, conhecido como o Público - escrever aquelas teorias exóticas acerca do desenvolvimento nacional - depara-se com a muralha do Baptista Bastos na folha do DN - que diz ao País que o homem nem escrever português sabe e revela um desconhecimento histórico preocupante. Chama-lhe O Génio dos Corredores (in DN, Link) para concluir o artigo que o PSD é uma ruína antecipada. Tudo isto me entristece, confesso.
    Enfim, tudo isto é lamentável. Nada aqui nos move contra a pessoa da srª drª Ferreira leite que, em rigor, deveria estar a exercer a suas merecidas habilitações de avózinha ou a fazer o bacalhau espiritual. E mesmo que ela pense "galgar" a cerca e "entalar" Sócrates pelo lado do debate do orçamento de Estado (próximo) para 2009 - também não terá melhor sorte, v.q., Socas já anunciou que a opção pela política económica do País para o ano se pautará pela contenção.
    Ferreira leite teria, certamente, muito para dar ao seu netinho (e até à gastronomia). A Portugal os portugueses ainda hoje se interrogam o que ela terá para oferecer. Outros, como eu, ainda se questionam como foi possível o Congresso de Guimarães preterir Passos Coelho para eleger a "mulher de vermelho". Ou seja, a "mulher-fantasma" - dado o seu desaparecimento súbito após o Congresso de Guimarães.
    Doravante, sobretudo para os mais irónicos, Ferreira Leite passará a participar nos números de ilusionismo de Luís de Matos e de David Coperfield, tais são as suas capacidades em fazer-se desaparecer sem que Portugal perceba bem qual o seu papel nesta comédia do PSD.
    Talvez para salvar a face em toda esta descida à ilusão e ao facilitismo, à incompetência política enquanto partido alternante no Poder, à ausência de ideias e de projectos - a direcção da Lapa tivesse convidado alguém que inspirasse credibilidade e confiança nos portugueses e em Portugal.
    Esse samaritano, que percebeu o que estava em jogo na vida debilitante do psd, tem nome e chama-se António Vitorino.
    Vejo o seu papel na Universidade de Verão do psd, em Castelo de Vide, um pouco como aquele homem que sabe, como um dia explicou Gabriel García Marques (Gabo), que um homem só deve olhar o outro de cima para baixo se for para o puxar para cima...
    Mais do que um acto políticamente calculado, o que AV vai fazer ao Alentejo é um gesto de solidariedade que sai fora do molde e, por isso, não encaixa em nenhuma tipificação política conhecida até ao momento. Facto que enriquece o nosso laboratório de ideias e valoriza o experimentalismo politico nacional.

Teoria da Preocupação: Marcelo está preocupado com Ferreira leite. Pudera...

Remake
Em Julho a madrinha do António Preto dizia que era o PS que estava preocupada com ela e com o PSD. Porventura, seria da terrível liderança que Leite impunha ao Portugal-profundo, que assim lhe reconhecia um ímpeto governativo de valor incalculável. Ao tentar denunciar as soit-disant asneiras do Governo - Leite apenas denunciou a sua própria fraqueza. Os portugueses sabem como: em matéria de política de investimentos de obras públicas necessárias ao país. Inicialmente contra, depois a favor - ainda que através do seu presidente da bancada parlamentar, Paulo Rangel - que fez o volte face no discurso da srª Leite. Ficou, contudo, a gritante contradição do não-pensamento de Ferreira leite.
Em Agosto, Manuela desapareceu. Desconhece-se o paradeiro da senhora. Há até quem pense que a srª se fechou em Alter-do-Chão na casa-coudelaria e vinícola do Vice-Pr. da Goldman Sachs, António Borges, para aí escrever o discurso de abertura da Universidade de Verão, em Castelo de Vide. Há também quem pense que ela não sabe escrever, é o Pacheco Pereire que lhe escreve a mensagem para ela ler, à semelhança doutras. E há até pessoas no psd que pensam que a srª emigrou para a Venezuela em busca duma vida melhor, como fizeram os emigrantes portugueses a meio do séc. XX.
Mas também foi no decorrer de Agosto que Ferreira leite não fez uma única intervenção sobre o país. Excusou-se até a comparecer à festa do Pontal, no Allgarve, para aí fazer a chamada reentré política do PSD e, desse modo, marcar a agenda política.
Numa palavra: Ferreira leite não existe. Isso justifica a preocupação do douto Marcelo - que esta semana se manifesta no jornal de Balsemão.
Marcelo diz-se preocupado pela falta de ambição de Ferreira leite e pela sua incapacidade em congregar o partido que, de resto, nunca deixou de estar dividido.
Isto faz lembrar aquela família que tem um menino manco mas que desejaria que ele fosse atleta de alta competição...
Mas aquilo que, porventura, mais preocupa o douto Marcelo é ele ter de andar a comentar por mais 4 anos a vida pública nacional comandada por um PM chamado Sócrates. Ter de continuar a dar notas negativas aos seus correlegionários do PSD e notas positivas aos membros do Governo, sejam do PS ou a independentes nele integrado. Isto é que transtorna Marcelo.
Mas ainda existe um transtorno maior nas cogitações do comentarista: perante um PSD completamente esfrangalhado, com uma promessa há décadas que o é (Passos Coelho) e um estafadinho da vida público-desportiva (Santana) - o PSD começa, sériamente, a olhar para Marcelo como o "Cristo" que tem de descer à terra para meter o psd na ordem ou, pelo menos, num score eleitoral que não seja humilhante.
E é isso que marcelo não quer. Já bem basta ter de ir para a RTP fazer análise política que já pouca gente vê, mau seria ter de pegar naquele saco de gatos que é o psd, e com a memória que ele tem daquilo que foi a aliança com o cds-pp em 1997, defrontrar Sócrates em eleições e ser derrotado, e, depois, regressar novamente à análise com mais uma derrota política no pêlo.
Marcelo, consabidamente, é um homem tão ágil quanto inteligente. Nesse sentido, continuará a fazer as três coisinhas que ele gosta de fazer: nadar no mar do Guincho, continuar a sonhar com Belém e fazer comentário.
De facto, Marcelo faz falta.

"Acredita Portugal". Para derrotar o pessimismo...

O fim da Maratona Acredita

Jorge Palma - À Espera do fim, Canção de Lisboa...

Jorge Palma - À Espera do fim
Canção de Lisboa
Jorge Palma - Encosta-te a Mim

O último regresso. Juan Escoto. The Weekend Theologian

Segundo o teólogo medieval Juan Escoto (800-877), o universo emanou de Deus e regressará finalmente a Deus. Portanto, cabe distinguir dois processos: um de diferenciação das criaturas, outro de absorção na divindade. No segundo, chamado deificação, tudo o que é criado - os anjos, os homens, o Inferno, o Diabo - ingressará ditosamente no Ser Supremo. Nessa altura, a Criação e o Criador se confundirão e o tempo desaparecerá.

W. Hope

The Weekend Theologian ( 1897).

Ferreira Leite - a Mulher de Vermelho

Ferreira Leite deve quebrar silêncio das últimas semanas, in CM Ferreira Leite na Universidade de Verão
A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, estará presente no encerramento da Universidade de Verão do partido, a 7 de Setembro, quebrando assim o silêncio das últimas semanas.
O eurodeputado Carlos Coelho garante que a líder “não irá fazer um discurso de circunstância”. “É um discurso de rentrée, são os objectivos políticos, os grandes desafios e a leitura dos acontecimentos que a líder do PSD faz neste momento”, adianta o também director da Universidade de Verão.
Carlos Coelho sublinha que está “à espera de um discurso com muita substância” e frisou o “valor simbólico muito importante” de Ferreira Leite fazer o discurso de rentrée na Universidade de Verão, que decorrerá em Castelo de Vide. “O líder do PSD que é candidato a primeiro-ministro, ou quando nós estamos no poder e é primeiro-ministro, deve ter um cenário mais europeu, mais moderno para fazer o discurso de rentrée”, defende.
Antes de Ferreira Leite, outras figuras sonantes do partido deverão discursar perante uma centena de jovens na Universidade de Verão, como o ex-candidato à presidência do partido Pedro Passos Coelho ou o vice-presidente António Borges.

Obs: Pergunte-se à srª Ferreira leite se leva o tradutor Pacheco Pereira para o Alentejo ou se apenas vai repetir as entradas dos telejornais deste último mês. Ora, como o assunto foi sempre o mesmo, e dada a previsibilidade discursiva da srª Leite, por omissão, evidentemente, dispensa-se a sua presença no evento.

De resto, se ela aparecer desta vez todos pensarão que se trata dum fantasma. O fantasma de vermelho sem mensagem para o País, muito menos para Castelo de Vide.

sábado

Dois aviões quase colidiram sobre o Atlântico

Dois aviões de passageiros, um norte-americano e um russo, quase colidiram em pleno ar sobre o Oceano Atlântico, na quinta-feira, a norte de Porto Rico.
O caso foi divulgado pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA, que já está a investigar este incidente.
O choque foi evitado pelo piloto do jacto russo, um Trasaero Boeing 747, que desceu 60 metros.
De acordo com o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes, Peter Knudson, os dois aparelhos estavam à mesma altitude e “a 60 segundos de ocuparem o mesmo espaço aéreo”.
Obs: Invista-se em semáforos aéreos, wireless de preferência.

Tubarões avistados na Caparica

Imagem picada na net. Seguramente, não será a melhor forma de aprender surf, nem windsurf.
Tubarões avistados na Caparica
O avistamento de dois tubarões de uma espécie ainda não identificada levou este sábado à interdição dos banhos na praia do CDS, na Costa da Caparica.
O incidente ocorreu pelas 18h00, quando um dos nadadores salvadores da praia do CDS começou a avisar as pessoas para a presença dos dois animais.
Na praia, estão já elementos da Polícia Marítima, dos bombeiros voluntários e do Instituto de Socorros a Náufragos.
Esta não é a primeira vez que tubarões são avistados na Costa portuguesa. A espécie mais comum é o tubarão-frade, uma espécie vegetariana que pode atingir cinco metros de comprimento.

PSP começa a meter ordem no país

PSP detém 14 em bairros de Lisboa
Catorze detidos é o resultado da operação da PSP levada a cabo ontem à noite dos Bairros da Boavista e Cova da Moura, na Grande Lisboa. Além das detenções, 309 pessoas foram identificadas por suspeitas de crimes e/ou contra-ordenações.
A comissária Paula Monteiro revelou este sábado que foram apreendidas uma arma 7.65 ilegal, uma pistola de alarme, uma réplica de arma de fogo, três armas brancas, uma viatura, dois bastões extensíveis, uma soqueira e uma moca, estes três últimos objectos usados em assaltos violentos, e 56 munições.
A operação, que mobilizou 250 agentes, permitiu ainda apreender droga, nomeadamente haxixe e liamba, computadores, telemóveis, máquinas fotográficas, artigos em ouro e documentos vários.
A PSP levantou 47 autos relativos a trânsito e fiscalizou 600 viaturas.
Obs: Multipliquem-se estas operações nas cidades mais afectadas. Sempre de surpresa.

Moloko - The Time Is Now. Higt Quality Music

Moloko - The Time Is Now
Moloko - Sing it Back
Moloko - Music Video : Forever More
Moloko "Familiar Feeling"

Duas metáforas do actual PSD. Simon Webbe e Corinne Bailey Ray

Fala-se já no novo líder do psd. Perfil: homem maduro, cabelo grisalho, olhar distante mas profundo e arguto. Alguém, no fundo, que respire política. E, já agora, que vá ao Pontal e coma sardinha.
GÉNERO: FICÇÃO POLÍTICA
Corre ideia nos bastidores do psd que se procura reunir 2500 assinaturas para requerer novo Congresso (talvez no Entroncamento!!! - por ser terra de fenómenos e de encruzilhadas), ante este silêncio ensurdecedor da srª Ferreira leite. Um silêncio que, para quem sabe da poda, não estranha, mas decorre da sua enorme, profunda e protuberante ignorância relativamente a quase todas as matérias e sectores da governação. A srª não fala, não vê, não ouve [respirará?]- e os eleitores do psd, sedentos de poder, querem que Leite grite, gesticule, opine, represente. Ao pedido de comunicação política - Ferreira leite responde com aquilo que melhor sabe fazer: paralisia do pensamento, inércia na acção (termos contraditórios, mas são os dela). Com isso Leite inunda o psd de metástases - desencadeando lesões tumorais na vida interna do partido. As pessoas queixam-se e já não sabem onde guardar a líder que nunca o foi. Enfim, um drama trágico com sabor a comédia. Agora procura-se um baú à medida, também uma tarefa difícil...
Miz Lucas, I was falling
Até apetece dizer, I was falling. Das três imagens sobrepostas de Ferreira leite, quais bonecas russas, (imagem de ministra das Finanças, de líder do psd e de fantasma, papel que melhor representa) - está, de facto, a formar lesões políticas múltiplas no partido, impedindo que ele se afirme, tenha um discurso sólido e modernizado em todos os sectores da governação e, com isso, dissemine uma rede de tumores que possam formar uma colónia neoplásica que mate de vez o psd. O que seria mau para o sistema de partidos e para a própria democracia parlamentar portuguesa. No limite, seria também mau para o próprio psd.

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Simon Webbe my soul pleads for you

CORINNE BAILEY RAY - LIKE A STAR

Simon Webbe - No Worries

Juiz Mário Mendes é o secretário-geral de Segurança Interna

Foto Nuno Botelho
Juiz Mário Mendes é o secretário-geral de Segurança Interna, in dd O juiz-conselheiro Mário Mendes foi hoje escolhido pelo primeiro-ministro, José Sócrates, para ocupar o novo cargo de secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, anunciou o gabinete do chefe do Governo.
O convite ao juiz-conselheiro, actualmente a exercer funções no Supremo Tribunal de Justiça, surgiu após proposta dos ministros da Administração Interna e da Justiça.
O cargo de secretário-geral do Sistema de Segurança Interna foi criado no âmbito da Lei de Segurança Interna, hoje publicada em Diário da República.
Além das funções de magistrado, Mário Mendes, segundo comunicado do gabinete do primeiro-ministro, «possui um vasto currículo, tendo exercido as funções de director-geral da Polícia Judiciária, conselheiro técnico principal para a área da Justiça e Administração Interna junto da REPER, em Bruxelas, e director do Centro de Estudos Judiciários (CEJ)».
Para que a escolha seja efectivada, o Conselho Superior da Magistratura terá de dar consentimento à comissão de serviço de Mário Mendes para exercer o cargo e, nos termos da nova Lei de Segurança Interna, haverá uma audição na Assembleia da República.
Obs: Audite-se a AR e informe-se o juíz Mário Mendes que terá de operar no fio da navalha. Por um lado, terá de informar o PM do andamento das questões ligadas à segurança interna e dos perigos e riscos em curso e a forma de os combater, por outro terá de conseguir cooordenar as forças de corporações que tradicionalmente funcionam como "capelinhas", além de concitar o agrément dos senhores juízes - que constituem uma verdadeira casta dentro do Estado - e que estão sempre mais preocupados com os seus privilégios de carreira do que com os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, ainda que recorram a esse discurso como sistema intelectual de justificação para se dizerem preocupados com a segurança. Mas são os primeiros agentes de administração da Justiça que libertam criminosos horas depois de as forças policiais terem passado as "passas do Algarve" (doravante, as passas de Aljustrel) para os capturar.
Enfim, Mário Mendes tem pela frente um presente envenenado, um trabalho ingrato, pois andará sempre entalado entre o MAI e o Ministro da Justiça, além da catrafada de sindicatos ligados a todas essas corporações que terá de aturar.
Discrição só não chega. Veremos se coordena, e se essa coordenação não colide com a liberdade de ninguém, nem com a do ministro da Justiça - Alberto Costa - que ainda não o ouvimos dizer: este não é o meu ministério..., como dizia ao tempo de Guterres.

sexta-feira

Kenny G - dá umas trompetadas no tempo que passa

Kenny G Sade
Kenny G - Paradise
How Can I Suppose To Live Without You Kenny G & Michael Bolt
NA PAZ - ORLANDO MORAES
kenny g love song
Careless whisper Kenny G Brian Mc Knight

Jornalismo-de-feudo

Se por acaso um jornalista dá uma facada em alguém, nunca poderá dizer tratar-se de um acidente, por se desconhecer que a arma estava carregada. Se ele não dá a facada, pode sempre recorrer à manchete torpe e canalha...

Mau jornalismo que Belmiro tenta vender ao País. O "partido-sonae"

Os jornais que se vendem muito num dia deviam tornar a ser publicados no day-after ou uma semana depois. Sempre entrava algum dinheirinho extra, já que o objectivo é esse mesmo...
Há, de facto, jornais que nem quando aumentam de preço as notícias melhoram.
Contudo, é sempre bom saber que além do psd, do pcp, do be e do cds existe agora um novel partido: o partido-sonae...

Teoria e prevenção do crime. A entrevista a Rui Pereira

Já aqui sublinhamos que o agente criminoso alimenta um certo tipo de ressentimento contra o mundo. Acha-se vítima da sociedade, que lhe causou uma sucessão de prejuízos imerecidos. Daí ao recurso ao crime é um passo. No seu íntimo, o agente criminoso entende que cada crime constitui uma luta para restaurar aquela injustiça de que foi alvo. No fundo, o criminoso - na sua própria visão dos factos - vê-se a lutar contra as iniquidades do mundo.
Se é oriundo duma família pobre acha-se na razão de roubar e matar; se está desempregado encontra a mesma tabela de pensamento; se tem sida - também deseja que os outros a tenham só para sentirem aquilo que ele sente, e assim por diante neste esquema criminoso de pequenos e demoniâcos pensamentos.
Por isso reclama dos outros os bens - à força - já se vê - que não lhe pertencem. E como por vezes as vítimas resistem ocorrem actos de violência e homicídios. Ou seja, consumam-se crimes, muitos perfeitamente gratuitos.
Mas o mais grave é que, como referimos, o agente criminoso está convencido de que os seus crimes são actos de justiça, que ele legitima praticando mais e mais crimes. Portugal ressente-se dessa onda de criminalidade, sobretudo nas grandes cidades como Lisboa, Porto, Setúbal, Aveiro, Évora, Leiria. E porquê, se é que existe uma razão lógica para isto?! Por um lado, há milhares de armas no mercado negro. Existe, por outro, o estigma sobre os brasileiros e as pessoas oriundas do leste europeu, e nessa confusão os agentes criminosos portugueses aproveitam a onda da mistificação; há também mais africanos a recorrer a essa arte amiga do alheio. De par com um crescimento desordenado das cidades e dos subúrbios que acolhe todo o tipo de pessoas dispostas a tudo, e que não é controlado pelo Estado, pelas autarquias nem pelas forças policiais, daí resultando uma certa anarquia ou anemia no quadro do controlo social.
De certo modo, o "Portugal-do-subúrbio" cresceu desmesuradamente, e esse crescimento não foi devidamente acompanhado pelas adequadas políticas públicas para os integrar.
Mas isto não explica, nem pode explicar a verdadeira origem da violência. Certos autores defendem existir diferenças fundamentais entre um delinquente e um não delinquente, outros entendem que essas diferenças são apenas de grau. Assim, aqueles distinguem-se das pessoas ditas normais por terem no núcleo da sua personalidade 4 dimensões perigosas: egocentrismo, labilidade, agressividade e indiferença.
Destaco aqui a labilidade por me parecer aquela que é, porventura, menos conhecida, mas que mais impele os agentes criminosos para a prática efectiva do crime. Resulta duma combinação de imprevidência e desorganização no tempo e da própria instabilidade do carácter do delinquente que o impede de ficar intimidado perante - quer a ameaça de sanções, quer a própria acção repressiva das forças policiais. E como não atende às consequências que as suas acções poderão ter na sua vida e na sociedade, ele desliga-se da vida - dita normal - e vive aquele momento com toda a adrenalina possível, aliado também a uma grande agressividade e indiferença afectiva. Dado que ele é incapaz de sentir culpa ou a dôr das vítimas que faz no decurso dos seus actos criminosos.
Creio que estes traços psicológicos do criminoso ajudam a perceber os seus crimes, bem como a ser indiferente à reprovação ou censura da sociedade, à punição da lei constante da pena que se lhe aplica e, no limite, ao próprio sofrimento da vítima e ao odioso da execução do crime. De resto, esta é a teorização defendida por Jean Pinatel e De Greeff - especialistas na área.
Portugal, lamentavelmente, está a viver essa intensidade do assalto e do crime em geral. Todos os dias ocorrem, intervalados no tempo, por vezes executados pelo mesmo bando que percorre as áreas da grande Lisboa, Porto, Setúbal para ccometer mais dois ou três assaltos a bombas de gasolina, a cidadãos isolados apanhados na onda. Tudo com carros roubados: pelo método clássico ou por recurso ao carjacking - o que aumenta o drama e o sentimento de insegurança na sociedade.
Ora, é toda esta volatilidade da conduta criminosa que é preocupante em Portugal, onde não havia esta tradição do crime e os costumes eram brandos. Hoje, quiça reflexo duma certa paranóia colectiva e um mais fácil acesso às armas, tudo fica mais permeável, descontrolado, o valor da vida parece que se "brasileirou", dadas as baixas expectativas que cada um de nós tem, ou a vida tem para oferecer. E as autoridades, por serem em baixo número, ou não estando preparadas para acudir a esta onda de criminalidade, reconhece a sua impotência, quando não é ela própria vítima do crime dos mais afoitos. Há de tudo, lamentavelmente...
Foi neste quadro complexo e preocupante que ontem o prof. Rui Pereira, ministro da Administração Interna que tutela as polícias - deu uma entrevista à RTP, ante uma dona Judite de Sousa que além ser uma espécie de "picareta-falante" sobrepondo-se sistemáticamente à voz do ministro, não deixando o entrevistado responder cabalmente a uma única questão, também colocava sempre duas ou três questões em simultâneo. O que revela um ímpeto jornalístico desbragado que a própria jornalista terá de saber controlar, ou então alguém terá de lembrar à senhora que - por regra - não são os entrevistadores que assumem o papel de entrevistados, ainda que se adorem ouvir ou mostrar que conhecem algumas estatísticas do crime em Portugal.
Ainda pensei que a dona Judite colocasse questões à dona Sousa, e esta, numa espécie de ping-pong e dada a proximidade dos jogos olímpicos chineses ou por influência dos "donos da bola", depois, devolvesse a catrafada de questões à dona Judite. Lamentável. Em vez de esclarecer, só confunde a opinião pública. O que também não ajuda ao combate ao crime ou à visibilidade das políticas e estratégias que visam combatê-lo.
Mas o essencial lá foi dito por Rui Pereira, por entre as sobreposições de alta-vox da dona Judite, e até com um tiro certeiro (apesar de um pouco tardio): mais polícias nas ruas, mais carreiras de tiro, reforço das qualificações gerais dos agentes, sobretudo no manuseamento com armas de fogo, cooperação com as autarquias (que a Comissão de protecção de dados tem adiado e dificultado), reforço da presença policial articulada entre as demais forças e, acima de tudo, inclusão na lei das armas vigente uma pequena adenda que fará a diferença: meter na cadeia todos aqueles que executem assaltos com recurso a arma de fogo. Talvez isto corresponda à urgência do momento e possa dissuadir muitos dos potenciais criminosos que estão pensando ganhar a vida dessa maneira.
Seja como for, e apesar do momento altamente preocupante que hoje todos vivemos, o que até nos limita a liberdade de circulação de pessoas e bens, agravada pela alta do petróleo (que representa uma espécie de "duplo assalto" aos bolsos dos cidadãos) - Rui Pereira é um homem seguro de si, técnica e politicamente preparado para continuar o seu trabalho à frente da Administração Interna.
Porque sempre que fala demonstra conhecimentos acerca da criminalidade que visa combater, conhece as suas causas, desenvolve políticas públicas conducentes à eliminação das condições geradoras da criminalidade, e, doravante, em estreita coordenação com o PGR, Pinto Monteiro, e os tais "ajustamentos na lei" (que já deveriam ter ocorrido ante a inércia e incompetência constituída pela casta dos juízes em Portugal) estão apostados em partilhar informações e meios em ordem a actuar conjuntamente por forma a aumentar a racionalidade a esse urgente combate na sociedade portuguesa.
Um combate apoiado por todos os portugueses. Com excepção, claro está, dos criminosos potenciais que, neste campo, jogam na equipa adversária..., e que vai perder.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
PARA DESCONGESTIONAR DOIS VÍDEOS "TRANSLUMBRANTES"
I think he Can Dance
I think he Can Dance -
Watch more free videos
Soccer Babes
Soccer Babes -
Watch more free videos

DEMOGRAFIA - por António Vitorino -

O sublinhado é nosso.
DEMOGRAFIA
António Vitorino jurista
O Organismo Estatístico da União Europeia (Eurostat) publicou esta semana as projecções sobre a evolução demográfica da União até 2060, embora alertando para as reservas com que uma tal projecção a cinquenta anos de vista deve ser lida.
No estudo reitera-se que a população europeia persistirá na tendência do envelhecimento em termos globais, em virtude da baixa fertilidade e do crescente número de pessoas idosas que vêm a sua esperança de vida prolongada.
Isto significa que há poucas expectativas de as políticas de incentivo à natalidade produzirem um resultado significativo nas próximas décadas e, em paralelo, a taxa de dependência (relação entre a população com 65 ou mais anos de vida sobre a população em idade laboral) crescerá dos actuais 25% para cerca de 53% em 2060. Como sublinha o relatório em causa, dos quatro activos actuais por cada idoso passaremos a uma relação de dois activos por cada pessoa com 65 ou mais anos de idade. De igual modo as pessoas muito idosas (acima dos 80 anos), que hoje representam 4.4% da população total serão no horizonte de 2060 cerca de 12%.
Esta tendência de evolução comporta consequências culturais, económicas e sociais do maior alcance e terá que ser integrada e todas as políticas públicas desde já, designadamente em todos os domínios atinentes à sustentabilidade dos sistemas de protecção e de solidariedade social que constituem a matriz das sociedades europeias.
Acresce que a população europeia continuará a aumentar em número até 2035, entrando então em declínio, evoluindo de um pico de 521 milhões nesse ano para um patamar de 506 milhões em 2060. Contudo, a partir de 2015 (daqui a escassos 7 anos !) o número de pessoas falecidas ultrapassará o número de pessoas que nascem, situação, aliás, já verificada hoje em vários países, entre os quais o nosso.
Como se explica então esse crescimento populacional no período 2015 a 2035 ? A variável de ajustamento utilizada pelo Eurostat tem a ver com o saldo líquido da imigração, isto é, o resultado apurado entre as pessoas que entram nos países da União e as que deles saem para países terceiros. Ora, se as projecções demográficas têm a falibilidade que têm, as referentes aos fluxos migratórios apresentam-se ainda como mais problemáticas.
Este ponto, aliás, explica a diferença de projecções entre o Eurostat e as autoridades portuguesas quanto à evolução da população portuguesa, nesta discrepância residindo uma das inovações do estudo ora divulgado. Com efeito, a União considera que até 2060 haverá uma diminuição da população em 14 países e um aumento em 13, estando Portugal entre os que aumentam, até um pico de 11 milhões 395 mil pessoas em 2035, declinando então para um patamar de 11 milhões 265 mil em 2060. Este cálculo, para o nosso país, baseia-se numa previsão acumulada em 2060 de um saldo migratório positivo anual de 44 mil pessoas, enquanto os números oficiais portugueses estimaram tal saldo positivo em cerca de 40% do número estimado pelo Eurostat (900 mil pessoas no fim do período considerado segundo Lisboa por contraponto a 2,3 milhões nos cálculos europeus).
O debate sobre as diferenças é importante mas revela também as limitações deste tipo de exercício.
O que contudo ambas as estimativas sublinham de forma convergente é a relevância da imigração na composição da população europeia e portuguesa em todos os cenários considerados. E se é verdade que a imigração não constitui em si mesma resposta aos problemas colocados pelo envelhecimento geral da população, ter uma política de admissão e de integração dos imigrantes será cada vez mais decisivo para a definição do tipo de sociedades europeias que construiremos nas próximas décadas.
Convém recordá-lo na semana em que o governo, caminhando nos passos pioneiros da Fundação Calouste Gulbenkian, lança um novo processo de preparação de médicos imigrantes que se encontram entre nós a trabalhar noutros sectores de actividade, tendo em vista a sua integração no Serviço Nacional de Saúde português.
Obs: De facto, generalizou-se a ideia de que os imigrantes que demandam Portugal para aqui refazerem as suas vidas integram a construção civil, limpezas e restauração. Alguns são dentistas, arte em que são bons, e outras dedicam-se à mais velha profissão do mundo... Que até conduziu, a Norte, à criação do movimento das mães ou das mulheres de Bragança..., numa tentativa de defender o "produto nacional". É curioso que as revoluções partem sempre do Norte do país..
Esses imigrantes, em regra asseguram trabalhos menos qualificados que os portugueses rejeitam, mas que aceitam no estrangeiro desde que pagos a dobrar e a coberto do anonimato - salvaguardando, assim, a eventual vergonha ou o orgulho ferido por se ter aceite uma tarefa recusada no seu próprio país de origem. Isto é da ordem das coisas e não fantasias do observador.
Mas quem já se esqueceu do que o português foi fazer para o Brasil: calçadas e pão, por tudo quanto era botequim, não sendo por acaso, naquela sociologia da piada, as milhares de anedotas que o brasileiro criou sobre o português. Agora poderão fazê-las, certamente com maior sucesso, sobre Lulla..
Contudo, esta semana, numa interessante entrevista na tv (nem tudo na tv é mau..), apareceram dois médicos de formação - um georgiano e um ucraniano - ambos a trabalhar naquelas funções: construção, carpintaria - profissão de Jesus Cristo - muito embora tenham uma qualificação especializada que podem potenciar. Sobretudo em Portugal que carece de médicos.
Sabe-se que a Fundação Caloust Gulbenkian, a maior e mais influente fundação do País, lança um processo de preparação de médicos imigrantes que se encontram a trabalhar entre nós noutros sectores de actividade, como sublinha António Vitorino. E que agora terão uma oportunidade de ouro para serem integrados no Serviço Nacional de Saúde português. É justo.
Oxalá que isso resulte numa estrada de dois sentidos: numa melhoria do atendimento de saúde aos portugueses e também na devolução das competências, do orgulho e da dignidade aos médicos imigrantes que vieram trabalhar para Portugal, e que só agora terão a oportunidade de pôr em evidência as qualificações que efectivamente têm.
Será caso para dizer - Abençoado petróleo (da Gulbenkian)...
Quanto às estatísticas que demonstram que a Europa - e Portugal - está a envelhecer a olhos vistos, apetece dizer, como Keynes, que a longo prazo estaremos todos mortos. Até lá vamos todos continuando a pagar impostos. Agora temos a 2ª tranche do IMI para pagar, não se esqueçam...
E para o ano, ou lá para 2010 ou 2011 a economia mundial, europeia e nacional fará o seu take-of e todos testemunharemos um novo baby-boom que rebentará com todas as estatísticas previsíveis.
Haja saúde na economia, o que implica petróleo (em baixa).

quinta-feira

PGR cria unidades especiais de combate ao crime e pede ajustamentos na Lei

Daniel Rocha
Pinto Monteiro defende que nos casos de criminalidade violenta "deve ser proposta a prisão preventiva Pinto Monteiro quer cooperação contra criminalidade "cada vez mais organizada e global"
PGR cria unidades especiais de combate ao crime e pede ajustamentos na Lei
O procurador-geral da República, Pinto Monteiro, anunciou hoje que vai criar unidades especiais de combate ao crime que funcionarão nos Departamentos de Investigação e Acção Penal de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora, pedindo, no entanto, ao legislador que faça os "ajustamentos legais necessários para combater a criminalidade violenta".
Numa nota divulgada esta tarde, a Procuradoria-Geral da República justifica as decisões tomadas com “o aumento qualitativo e quantitativo da criminalidade especialmente violenta e o sentimento de insegurança que se tem instalado entre os cidadãos”, considerando que “o hiper garantismo concedido aos arguidos colide com o direito das vítimas, com o prestígio das instituições e dificulta e impede muitas vezes o combate eficaz à criminalidade complexa”.
Para combater estes crimes, Pinto Monteiro defende que devem existir “acções concertadas entre o Ministério Público e os órgãos de polícia criminal”, sublinhando que isso “nem sempre se tem conseguido”. Para o procurador-geral, “a cooperação, a partilha de informação em tempo útil, a especialização e a articulação de esforços" são passos "essenciais para a obtenção de resultados contra uma criminalidade cada vez mais organizada e global”.
No sentido de reforçar essa cooperação, a Procuradoria vai criar unidades especiais para combater a criminalidade especialmente violenta, a funcionar nos DIAP de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora, e que serão dirigidas por magistrados do Ministério Público, que contarão com a colaboração de efectivos da Polícia Judiciária, GNR e PSP e outras entidades com responsabilidades em matéria de investigação criminal.
Para se proceder à implementação destas unidades, Pinto Monteiro indica que já marcou reuniões com os responsáveis da PJ, GNR e PSP, bem como com os procuradores-gerais distritais, a directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal e os directores dos DIAP.
Aos magistrados do Ministério Público, a Procuradoria irá comunicar que nos casos de criminalidade violenta “deve ser proposta a prisão preventiva sempre que se mostrem verificados os pressupostos” que confirmam a medida de coacção mais gravosa prevista na legislação portuguesa.
Será ainda dada orientação no sentido de o Ministério Público “pugnar pela realização de julgamentos em processo sumário sempre que se mostrem reunidas as condições para tal”, sublinhando Pinto Monteiro “que a pequena criminalidade potencia muitas vezes a grande criminalidade”.
Obs: Pinto Monteiro tem revelado realismo e uma actuação pronta quer no combate à corrupção quer, agora, no combate à criminalidade crescente em Portugal. Embora os resultados sejam magros. A lei e a função conferem-lhe poderes e ele está a utilizá-los como deve ser, ainda que estimular a coordenação de acções conjuntas entre as forças policiais - não seja tarefa fácil.
Por um lado, porque em Portugal cada corporação funciona como uma "capelinha", onde a partilha de informação estratégica é uma miragem; os meios e a logística não abundam, os polícias não se encontram convenientemente treinados porque as balas estão caras e o treino é raro. Sabe-se, também, que as forças policiais não andam motivadas porque ganham mal para o risco inerente à função, até a farda é paga pelo seu bolso e as horas extraordinárias são mal pagas.
Tudo questões a que o MAI terá de rever a fim de motivar os homens que zelam pela prevenção e repressão da criminalidade em Portugal. Os juízes, peças importantes do sistema, funcionam como uma verdadeira casta, pois estão sempre mais preocupados com as suas regalias e privilégios na carreira do que própriamente em colaborar com as forças policiais e setenciar a prisão preventiva para aqueles criminosos cujos actos representam maior perigosidade.
Enfim, o PGR tem sido diligente, mas para pôr esta complexa e anquilosada máquina a funcionar será necessário mais do que o voluntarismo de Pinto Monteiro. Costuma-se dizer que o crime não compensa, mas à cadência com que a Justiça em Portugal é administrada - até os criminosos têm opinião contrária.
Numa palavra: o legislador terá de agravar as penas, nem que as cadeias encham; metam-se os juízes a aplicar correctamente a justiça e não a fazer o habitual jogo das cadeiras nesse seu crónico baile neocorporativo; dotem-se as forças policiais de adequados meios de combate ao crime.
Já agora, aposte-se também nas metodologias de integração social, pois muitos dos criminosos ainda são recuperáveis para a sociedade. O problema reside no facto de o potencial criminoso se desinteressar pelo seu próprio futuro. E nesse desespero crescente, e porque está desenquadrado socialmente, que ele procura o crime como quem respira ou bebe água. É nesse momento que o agente criminoso desinveste em tudo aquilo a que estava ligado: trabalho, família.
Como perdeu tudo, não lhe sobra nada. E sem "nada" também deixa de ter medo de passar os dias na prisão. Como já nada lhe mete medo, torna-se indiferente a tudo e a todos, capaz de tudo.
Ora, é isto que a sociedade tem de saber inverter com a finalidde de recuperar alguns desses agentes criminosos para a sociedade.

Pequeno tributo a Hans Kelsen: ordem velha, ordem nova...

A violação grave do Direito Internacional pela Rússia ao invadir a Geórgia seguida da concessão unilateral da independência (pela Duma e Governo russos) a duas províncias pró-russas que, de iure, integram o território soberano da Geórgia - vem colocar, neste 1º quartel do séc. XXI - não apenas uma atenção à manipulação jurídica constante da fundamentação russa (que António Vitorino dissecou eficientemente aqui, Estar só, dn) - utilizando o "guia ocidental do genocídio" e do direito humanitário (Medevedev já aprendeu bem a cartilha típica das ONGs...) - como também é sintoma das modificações da própria constituição biopolítica das sociedades contemporâneas.
Isto significa o seguinte: as mudanças em curso no sistema internacional, em que o peso do petróleo e do gás são preponderantes nos cálculos geopolíticos, já não respeitam somente ao direito e às relações internacionais, mas essencialmente remetem o analista e o decisor - se bem que em registos diferenciados - para as relações de poder no interior de cada país e da relação que este tem com a envolvente regional, neste caso a correlação que se estabelece entre a Rússia e o Cáucaso.
E é aqui que todos percebemos os limites da ONU e da parafernália de tratados, resoluções e demais quinquilharia jurídica que apenas denuncia um valor intencional sem qualquer validade material ou consequência prática imediata quando urge sancionar o Estado prevaricador no sistema internacional, a Rússia no caso vertente.
Mas ao criticarmos as velhas formas jurídicas, ao relativisarmos a anquilosada ONU - que à mínima questão fica bloqueada no seu "órgão maquiavélico" que é o Conselho de Segurança - temos, necessáriamente, de enquadrar novas formas jurídicas internacionais e supranacionais que possam suprir as insuficiências das organizações internacionais montadas no póst-II Guerra Mundial pelo sistema de Bretton Woods, hoje inoperacional.
Isto abre-nos automáticamente a porta para valorarmos acerca da teoria política do Império, nuns casos assente na leadership, noutros na força e na imposição militar, ou seja, no soft e no hard-power, como diria J. Nye.
Ora, esta violação grave do direito internacional pela Rússia recoloca os dados do problema que exigem uma redefinição do que é a soberania internacional, na sua fonte de legitimidade e até no seu exercício - a fim de mobilizar a atenção em torno dos aspectos políticos, económicos e sistémicos que envolve a própria Comunidade das nações.
Portanto, aquela ideia inicial de Kelsen, que assistiu à Conferência de San Francisco que criou a ONU, foi racional e uma emanação do espírito, proporcionando uma base efectiva para um esquema de validade do direito superior ao Estado-nacional. Ou seja, para o austríaco Hans Kelsen, a validade e a eficácia do direito podiam unir-se na fonte suprema, na tal norma fundamental (grundnorm) que tudo resolveria. Como se a sua construção formal do direito encontrasse plena correspondência com a desejada validade do sistema para que aquela apontava.
Mas, de facto, entre a sua constituição formal e a validade efectiva do direito passou a haver um fosso gritante, o mesmo que se ouviu com os gritos dos assassínios de Estado resultantes da invasão da Geórgia pela Rússia a semana passada.
É daí que os políticos, académicos, decisores em geral devem examinar o que está em transição, para melhor preencher esse gap entre a velha ideia formal que funda a validade do processo jurídico na tal entidade supranacional - que foi a ONU - de forma sofrível (como sabemos) - e a realização material dessa ideia, mas que hoje terá de encontrar uma nova armadura jurídico-política, certamente alicerçada em novas instituições, mas que, de momento, todos desconhecemos quais sejam.
O contributo de kelsen foi, de facto, decisivo para a criação da ONU, mas a lição que hoje nos deixa não evita o embaraço colectivo, já que actualmente o sistema internacional quer recorrer a uma instituição, a uma norma que coloque a Rússia dentro do direito e a faça regressar ao statu quo ante, e aquilo que temos pela frente, as usual, é a possibilidade duma nova escalada, já nutrida pela habitual linguagem da Guerra Fria, por entre ameaças veladas e navios da marinha no mar Negro.
No fundo, aquilo que foi uma esperança na armadura jurídica do sistema kelsiano (presente na Carta da ONU) - tornou-se insuficiente com o post-Guerra Fria, e hoje abriu-se caminho para mais uma deriva hobbesiana de pré-guerra - em que a soberania dos Estados sempre mediu forças no tabuleiro extra-diplomático.
E tudo isto sucede coincidindo com a alta do petróleo, que beneficia claramente a Rússia, que, curiosamente, sempre se disse comunista, ainda que hoje seja um país que reúne o poder económico e o poder político nas mãos dos ex-mafiosos do KGB que controlam todo o aparelho de Estado. Ora, a Rússia nada tem de marxista, mas tem muito de neo-maquiavélico. Aron tinha razão quando analisava a natureza do sistema político russo-soviético ao colocar o primado na motivação política, e não na motivação económica (como faziam os marxistas) - como vector de dinamização do cálculo e da práxis política.
Ou seja, a Rússia realiza-se hoje plenamente através da ordem capitalista, o que prova que a badalada "globalização" é um processo múltiplo de constitucionalização e fonte de definições jurídicas vantajosas para o Estado (ambicioso) que serve, porque é a Rússia na região do Cáucaso que hoje está a projectar uma nova configuração de poder na área, e isso implica que mais nenhum outro poder coabite alí com o legado da grande Rússia que remonta ao histórico de Ivan - o Terrível e de Stalin.

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
 

Etiquetas: ,

quarta-feira

A problemática do Império e da Ordem Mundial. Quem manda e onde está o Poder?

A torre - Criação de Miz Lucas -

  • NOTA PRÉVIA: QUEM CONTROLA A TORRE CONTROLA O MUNDO. PORÉM, POR VEZES A "TORRE" REPRESENTA A PRÓPRIA PRISÃO. A RÚSSIA - NUMA ECONOMIA GLOBALIZADA - NÃO PODE VIVER ISOLADA NEM IMPÔR A LEI DO TIRO COMO FORMA DE RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS, E AQUILO QUE ELA JULGA CONSTITUIR A SUA FORÇA REPRESENTA, A PRAZO, A SUA PRINCIPAL FRAQUEZA. A MENSURAÇÃO DO PODER JÁ NÃO É FEITA COM BASE NA CONTAGEM DAS OGIVAS NUCLEARES NEM NO NÚMERO DE DIVISÕES E TANQUES MILITARES OU GULAGS - MAS NA CAPACIDADE DE CRIAR VALOR: BENS E SERVIÇOS DE ELEVADA QUALIDADE E COMERCIALIZÁ-LOS NO MUNDO. A RÚSSIA PRECISA DE INTEGRAR A OMC PARA SE PODER TORNAR NUMA POTÊNCIA CIVIL, MODERNA, DESENVOLVIMENTISTA - E SAIR DA CAVERNA MILITAR ONDE AINDA ESTÁ BANHADA, PORQUE A QUALIDADE E NATUREZA DAS ELITES QUE A GOVERNAM AINDA, VERDADEIRAMENTE, NÃO SE DEMOCRATIZOU. PUTIN É, ALIÁS, UM EX-EXPIÃO DA VELHA ORDEM, UMA ESPÉCIE DE NEURÓNIO PROSTITUTO QUE REPLICA AS ACÇÕES DE BREJNEV OU STALIN - E QUE AINDA NÃO COMPREENDEU O MUNDO EM QUE VIVE. AS SUAS VITÓRIAS SÃO DE PIRRO, EM BREVE O MUNDO ENGOLI-LO-Á.

Volta e meia a questão do Império coloca-se no sistema de relações internacionais. Ela decorre duma questão simples e, ao mesmo tempo, brutal: Quem manda e/ou onde está o Poder?

É assim em casa das pessoas, no sindicato, na igreja, na empresa, no partido político, nas autarquias, enfim, no Estado. A questão do Poder é primordial em Política.

Uma Ordem recentemente violada pela Rússia ao invadir a Geórgia, um Estado soberano e independente, e reconhecido como tal pela ONU e pela Comunidade das nações. Pelo mesmo sistema internacional que também reconhecia a Ossétia do Sul e a Abckásia como partes integrantes do Estado da Geórgia. Fronteiras e tratados que a acção brutal da Rússia violou de forma flagrante merecendo, por isso, a mais veemente censura e até medidas de retaliação económica, financeira e outras que se devem estudar e executar. Visto que a Rússia ainda se julga uma potência revolucionária, que pode - a seu belo prazer - alterar o statu quo e fazê-lo reverter a seu favor - mesmo que isso representa sérios prejuízos para terceiros.

A Rússia de Putin e Medvedev demonstrou aqui que não subscreve os tratados internacionais e as resoluções da ONU que subscreveu, é como se convidasse um conjunto de pessoas para sua casa e, de súbito, resolvesse dar-lhes um tiro na nuca. No fundo, é o sistema mafioso aplicado a ex-expiões e a jornalistas e activistas de direitos humanos que procuram saber mais acerca das actividades do ex-KGB Putin. Essas pessoas sofrem o mesmo que as pessoas do outro lado da fronteira da Geórgia. São brutalmente assassinadas, embora a coberto do aparelho de Estado.

A Rússia mafiosa de Putin rasgou os tratados, mandou às urtigas as resoluções internacionais e recorreu, ào estilo de Ivan - o Terrível - e de Joseph Stalin - dois dos maiores criminosos da história da humanidade - para impôr a ordem no seu quintal, o Cáucaso - que ainda julga seu - o que confirma uma certa cosmovisão que remonta à Guerra Fria e ao condomínio nuclear e delimitação do mundo em zonas de influência.

Sendo que a teoria da soberania limitada de Brejnev - foi a tradução pseudo-jurídica para dar cobertura às inúmeras "primaveras de Praga" que Moscovo impôs a todo o centro e leste europeu no post-II-Guerra-Mundial. Em rigor, Winston Churchil tinha razão, e cedo percebera a natureza totalitária, expansionista e militarista do regime russo-soviético - que sucedeu a Hitler e acabou por esmagar uma parte da Europa, enquanto a outra era libertada do jugo hitleriano.

Entretanto, os dados da equação mudaram, embora a Rússia se esforce por não compreender essa mudança, e como tem o petróleo e o gás de que o Ocidente precisa - arroga-se o direito de violar regras básicas do Direito Internacional para impôr a sua hegemonia política e militar na área.

Assim sendo, devemos excluir duas concepções do mundo que não conseguem explicar esta Ordem imposta pela Rússia ao Caúcaso:

- A 1ª tende a explicar a Ordem do mundo através duma espontânea interacção de forças mundiais heterogéneas que depois é harmonisada pelo mercado mundial;

- A 2ª tende a explicar a Ordem mundial ditada por uma única potência global, um único centro polarizador de poder e de racionalidade política que convença os outros países de que devem seguir o leader. Bem sabemos como se encontram os EUA actualmente: paralisado e em eleições.

Neste sentido, a acção criminosa e impune da Rússia não se encaixa em nenhuma daquelas duas cosmovisões, e a acção do Ocidente - porque dependente do petróleo e do gás para funcionalizar toda a sua economia - além de não dispôr duma supremacia militar que esmague a Rússia sem que esta pudesse ripostar e fazer a escalada militar típica do arms race - também não dispõe de meios políticos para travar a hegemonia da Rússia no seu próprio quintal.

Quem o faria em relação aos EUA se este - por razões de segurança, de economia ou outra - quisesse esmagar a Colómbia, o México ou qualquer outro país inscrito na sua órbita?! Certamente, ninguém.

De modo que percorremos todas estas derivas para chegar a uma conclusão tão óbvia quanto brutal, e que remonta ao pensamento de ilustres filósofos da política, como Thomas Hobbes, Nicolau Maquiavel ou, mais contemporâneamente, Raymond Aron, Hans Morgenthau, Hedley Bull e outros que sabem que a lei internacional é, em boa medida, fixada à base da força militar que num dado momento a correlação de forças impôe.

A história do Estado, como diria o velhinho Maurice Duverger, para descer os degraus das Relações Internacionais à Ciência Política, acaba por ser a história do imposto. E quem gosta de os pagar!?

Pergunto-me se também aqui o Estado não fará as suas imposições - em jeito de diktat - sobre os cidadãos?!

Os novos bárbaros do séc. XXI: Putin & Medvedev SA.

Invadem, disparam, incendeiam, assassinam, violam, destroem a rede de infra-estruturas da Geórgia, humilham. Numa palavra: massacram e (ainda) gozam com a Comunidade internacional - que sabem depender do tal ouro negro. E a isso esta dupla de bárbaros que veio do frio, engordados pelas gorduras do petróleo, chamam paz.
Que fazer com esta dupla de criminosos de Estado?
Eis o desafio próximo do Ocidente, que já tinha o desafio de gerir os estragos do terrorismo global e suicidário alavancado por Bin laden.
Esta nova Rússia de Putin e Medevedev apresenta-se à Comunidade internacional como o sucedâneo de bin laden. Enfim, em vez de um, o Ocidente tem agora dois desafios dangereuses a tratar.
E com criminosos, consabidamente, a diplomacia revela-se sempre uma "arma" muito pouco eficaz. Também aqui vemos e sentimos os resultados decorrentes da alta do petróleo...

Autobiografia - Vergílio Ferreira -

Autobiografia
Vejo o meu pai, no limite da minha infância, dobrar a porta do pátio, com um baú de folha na mão. Vejo-o de lado, e sem se voltar, eu estou dentro do pátio e não há, na minha memória, ninguém mais ao pé de mim. Devo ter o olhar espantado e ofendido por ele partir. Mas alguns meses depois o corredor da casa da minha avó amontoa-se de gente, na despedida de minha mãe e da minha irmã mais velha que partiam também. Do alto dos degraus de uma sala contígua, descubro um mar de cabeças agitadas e aos gritos. Estou só ainda, na memória que me ficou. Depois, não sei como, vejo-me correndo atrás da charrete que as levava. O cavalo corria mais do que eu e a poeira que se ia erguendo tornava ainda a distância maior. Minha mãe dizia-me adeus de dentro da charrete e cada vez de mais longe. Até que deixei de correr. Dessa vez houve choro pela noite adiante - tia Quina contava, conta ainda. Mas não conta de choro algum dos meus dois irmãos que ficavam também. Deve-me ter vibrado pela vida fora esse choro que não lembro. É dos livros, suponho. Depois a infância recomeçou. Três irmãos, duas tias e avó maternas, depois a vida recomeçou. Mas toda essa infância me parece atravessar apenas um longo Inverno. É um Inverno soturno de chuvas e de vento, de neves na montanha, de histórias de terror, contadas à luz da candeia no negrume da cozinha, assombrada de tempestade. Até que um dia um tio de minha mãe, que era padre na aldeia, se pôs o problema de eu não ser talvez estúpido. E imediatamente se empolgou para me consagrar ao Altíssimo. E para me ir desbravando a alma, juntamente com a doutrina, atacou-me a memória com o latinório todo da missa. Aprendi-o sem falhas, ia eu nos seis anos. E quando aos sete o fui ver esticado na cama, a face toda negra, e me obrigaram a beijar-lhe a mão morta, já tinha o destino talhado para o Senhor. Minhas tias apoderaram-se logo de mim, negligenciando um pouco os meus irmãos, e sufocaram-me de religião. Na instrução primária cumpri. Deus mostrava à evidência que me chamava ao seu serviço. Era forte em contas, mais atrapalhado em História, de qualquer modo, os desígnios de Deus eram evidentes. E assim, para se cumprir a sua vontade, parti. Ficava à distância de um dia de comboio, o Seminário. Saio na estação ao anoitecer, há uma multidão de seminaristas à minha volta, todos vestidos de preto. Estou entre eles, não conheço ninguém. Avançamos pelo escuro estrada fora, no tropear confuso de uma enorme massa negra. O Seminário espera-nos numa curva da estrada. É um casarão enorme, olho-o do fundo do meu pavor. Há Outono à minha volta, respiro-o agora em todo esse passado morto, nos castanheiros a desfolharem-se na cerca, no espaço dos salões, nos longos corredores ermos, nos ângulos cruzados pelos espectros perfeitos. Mas seis anos depois, levantado de heroísmo, saí. Fiz o liceu, entrei na Universidade. Mas não o fiz assim em três palavras como o faço aqui. Meu irmão corpo. Como foi difícil acomodarmo-nos um ao outro. A vida que me coube não a pude utilizar toda. Numa fracção dela acumulei assim aquilo com que se realiza - o sonho, o trabalho, a alegria.
E eis que se me levantam os sete anos de Coimbra. Sombrios, longos, penosos. Mas o que acede desse tempo à evocação tem apenas o halo de uma balada. Ruas da Alta, e a Torre, e o plácido rio do alto da Universidade, e os mestres que eu julgava um prodígio da Natureza, quando cheguei à cidade, e fiquei a julgar também, a vários deles, quando saí, mas com outro sinal, e a praxe estúpida, e os namoros estúpidos, e a descoberta, enfim, da literatura, que só então descobri, embora trabalhasse há muito o verso com obstinação, e as tertúlias, as rixas, o próprio futebol, as próprias desgraças físicas - tudo me ressoa agora a uma toada de legenda. Da festa juvenil, como da festa literária eu só conhecia as margens do rumor que transbordava da alegria dos outros. Isso basta, porém, a que a legenda se me levante e o seu eco me ondeie ao espaço da evocação. Assim Coimbra, só no ressoar do seu nome tem já um timbre de guitarra. Música de miséria, não é nela que eu a ouço, mas no passado que a transcende e é da memória inatingível, da memória absoluta. Coimbra da saudade difícil, Coimbra de sempre e de nunca. Comigo a levei, longo tempo me acompanhou, presente, obsessiva. Mas havia tanta coisa ainda à minha espera. Faro do ar marinho, da laguna das águas mortas, Bragança das invernias, Évora, Lisboa. Professor sou-o por fatalidade. Mas alguma coisa se me impõe na avidez dos alunos que me escutam, na necessidade de responder à sua descoberta do Mundo - e assim me invento o professor que não sou, e eles imaginam em verdade o que é em mim só ficção. Mas dos centros de irradiação da minha actividade, apenas Évora transbordou de emoção para a lembrança. E como a Coimbra, é de novo a música, agora o coral dos camponeses, que a levanta ao espaço da minha comoção. Ouço-o ainda agora, a esse coro de amargura, raiado à infinidade da planície. Évora do silêncio com sinos nas manhãs de domingo, estradas abandonadas à vertigem da distância, ó cidade irreal, cidade única, memória perdida de mim. Sou do Alentejo como da serra onde nasci, a mesma voz de uma e outra ressoa em mim a espaço, a angústia e solidão.
E a minha biografia deve ter findado aqui. Lisboa é um sítio onde se está, não um lugar onde se vive. Mesmo que se lá viva há 18 anos como eu. Eu o disse, aliás, a alguém, na iminência de vir: quando for para Lisboa, levo a província comigo e instalo-me nela. E assim se fez. Os livros que aqui escrevi são afinal da província donde sou. Terrorismo do trânsito, das relações pessoais, da luta em febre pela glória por que se luta ou do ódio surdo pela que calhou aos outros, terrorismo das distâncias, das relações humanas ao telefone, das cartas que nos escrevemos para de uma rua a outra ao pé, da cultura tratada a uísque nos salões do mundanismo, da individualidade perdida, da vida massificada. Vejo-me numa enfermaria do hospital, acordando estranhamente de não sei que tempo de inconsciência, com vários médicos conversando entre si e sobre mim. Pergunto de que se trata, porque estou ali. «Foste atropelado» - diz-me o meu filho, que é um dos médicos. Tenho fractura do crânio, várias contusões pelo corpo. Lisboa, selvagem, cidade bonita na claridade dos prédios, no rio das descobertas, no aéreo das colinas, meu veneno e minha sedução. Fui atropelado. Mas é talvez justo que o fosse. Porque eu não sou daqui.
Maio, 1977 - Godinho, Helder e Ferreira, Serafim (organização), Vergílio Ferreira - fotobiografia, Bertrand Editora, Outubro de 1993.