quarta-feira

A problemática do Império e da Ordem Mundial. Quem manda e onde está o Poder?

A torre - Criação de Miz Lucas -

  • NOTA PRÉVIA: QUEM CONTROLA A TORRE CONTROLA O MUNDO. PORÉM, POR VEZES A "TORRE" REPRESENTA A PRÓPRIA PRISÃO. A RÚSSIA - NUMA ECONOMIA GLOBALIZADA - NÃO PODE VIVER ISOLADA NEM IMPÔR A LEI DO TIRO COMO FORMA DE RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS, E AQUILO QUE ELA JULGA CONSTITUIR A SUA FORÇA REPRESENTA, A PRAZO, A SUA PRINCIPAL FRAQUEZA. A MENSURAÇÃO DO PODER JÁ NÃO É FEITA COM BASE NA CONTAGEM DAS OGIVAS NUCLEARES NEM NO NÚMERO DE DIVISÕES E TANQUES MILITARES OU GULAGS - MAS NA CAPACIDADE DE CRIAR VALOR: BENS E SERVIÇOS DE ELEVADA QUALIDADE E COMERCIALIZÁ-LOS NO MUNDO. A RÚSSIA PRECISA DE INTEGRAR A OMC PARA SE PODER TORNAR NUMA POTÊNCIA CIVIL, MODERNA, DESENVOLVIMENTISTA - E SAIR DA CAVERNA MILITAR ONDE AINDA ESTÁ BANHADA, PORQUE A QUALIDADE E NATUREZA DAS ELITES QUE A GOVERNAM AINDA, VERDADEIRAMENTE, NÃO SE DEMOCRATIZOU. PUTIN É, ALIÁS, UM EX-EXPIÃO DA VELHA ORDEM, UMA ESPÉCIE DE NEURÓNIO PROSTITUTO QUE REPLICA AS ACÇÕES DE BREJNEV OU STALIN - E QUE AINDA NÃO COMPREENDEU O MUNDO EM QUE VIVE. AS SUAS VITÓRIAS SÃO DE PIRRO, EM BREVE O MUNDO ENGOLI-LO-Á.

Volta e meia a questão do Império coloca-se no sistema de relações internacionais. Ela decorre duma questão simples e, ao mesmo tempo, brutal: Quem manda e/ou onde está o Poder?

É assim em casa das pessoas, no sindicato, na igreja, na empresa, no partido político, nas autarquias, enfim, no Estado. A questão do Poder é primordial em Política.

Uma Ordem recentemente violada pela Rússia ao invadir a Geórgia, um Estado soberano e independente, e reconhecido como tal pela ONU e pela Comunidade das nações. Pelo mesmo sistema internacional que também reconhecia a Ossétia do Sul e a Abckásia como partes integrantes do Estado da Geórgia. Fronteiras e tratados que a acção brutal da Rússia violou de forma flagrante merecendo, por isso, a mais veemente censura e até medidas de retaliação económica, financeira e outras que se devem estudar e executar. Visto que a Rússia ainda se julga uma potência revolucionária, que pode - a seu belo prazer - alterar o statu quo e fazê-lo reverter a seu favor - mesmo que isso representa sérios prejuízos para terceiros.

A Rússia de Putin e Medvedev demonstrou aqui que não subscreve os tratados internacionais e as resoluções da ONU que subscreveu, é como se convidasse um conjunto de pessoas para sua casa e, de súbito, resolvesse dar-lhes um tiro na nuca. No fundo, é o sistema mafioso aplicado a ex-expiões e a jornalistas e activistas de direitos humanos que procuram saber mais acerca das actividades do ex-KGB Putin. Essas pessoas sofrem o mesmo que as pessoas do outro lado da fronteira da Geórgia. São brutalmente assassinadas, embora a coberto do aparelho de Estado.

A Rússia mafiosa de Putin rasgou os tratados, mandou às urtigas as resoluções internacionais e recorreu, ào estilo de Ivan - o Terrível - e de Joseph Stalin - dois dos maiores criminosos da história da humanidade - para impôr a ordem no seu quintal, o Cáucaso - que ainda julga seu - o que confirma uma certa cosmovisão que remonta à Guerra Fria e ao condomínio nuclear e delimitação do mundo em zonas de influência.

Sendo que a teoria da soberania limitada de Brejnev - foi a tradução pseudo-jurídica para dar cobertura às inúmeras "primaveras de Praga" que Moscovo impôs a todo o centro e leste europeu no post-II-Guerra-Mundial. Em rigor, Winston Churchil tinha razão, e cedo percebera a natureza totalitária, expansionista e militarista do regime russo-soviético - que sucedeu a Hitler e acabou por esmagar uma parte da Europa, enquanto a outra era libertada do jugo hitleriano.

Entretanto, os dados da equação mudaram, embora a Rússia se esforce por não compreender essa mudança, e como tem o petróleo e o gás de que o Ocidente precisa - arroga-se o direito de violar regras básicas do Direito Internacional para impôr a sua hegemonia política e militar na área.

Assim sendo, devemos excluir duas concepções do mundo que não conseguem explicar esta Ordem imposta pela Rússia ao Caúcaso:

- A 1ª tende a explicar a Ordem do mundo através duma espontânea interacção de forças mundiais heterogéneas que depois é harmonisada pelo mercado mundial;

- A 2ª tende a explicar a Ordem mundial ditada por uma única potência global, um único centro polarizador de poder e de racionalidade política que convença os outros países de que devem seguir o leader. Bem sabemos como se encontram os EUA actualmente: paralisado e em eleições.

Neste sentido, a acção criminosa e impune da Rússia não se encaixa em nenhuma daquelas duas cosmovisões, e a acção do Ocidente - porque dependente do petróleo e do gás para funcionalizar toda a sua economia - além de não dispôr duma supremacia militar que esmague a Rússia sem que esta pudesse ripostar e fazer a escalada militar típica do arms race - também não dispõe de meios políticos para travar a hegemonia da Rússia no seu próprio quintal.

Quem o faria em relação aos EUA se este - por razões de segurança, de economia ou outra - quisesse esmagar a Colómbia, o México ou qualquer outro país inscrito na sua órbita?! Certamente, ninguém.

De modo que percorremos todas estas derivas para chegar a uma conclusão tão óbvia quanto brutal, e que remonta ao pensamento de ilustres filósofos da política, como Thomas Hobbes, Nicolau Maquiavel ou, mais contemporâneamente, Raymond Aron, Hans Morgenthau, Hedley Bull e outros que sabem que a lei internacional é, em boa medida, fixada à base da força militar que num dado momento a correlação de forças impôe.

A história do Estado, como diria o velhinho Maurice Duverger, para descer os degraus das Relações Internacionais à Ciência Política, acaba por ser a história do imposto. E quem gosta de os pagar!?

Pergunto-me se também aqui o Estado não fará as suas imposições - em jeito de diktat - sobre os cidadãos?!