segunda-feira

Evocação de Michel Foucault por relação às eleições autárquicas e ao contra-exemplo de Oeiras



Desconheço país dito civilizado da Europa que conheça a prática de um delfim de um presidiário político, no caso vertente Isaltino Morais - em uníssono com o povo de Oeiras (ou parte dele, especialmente os avençados e inúmeros quadros que pretendem continuar a integrar o sistema de privilégios) - entregue, numa bandeja política, a vitória eleitoral ao ex-autarca detido por crimes de colarinho branco que são do conhecimento público. A esta luz, Portugal ficará nos anais políticos como o país que inova no campo da teoria política e é bastante surrealista no domínio prático.
Sabe-se que o filósofo Michel Foucault, que estudou o biopoder no seio dos estabelecimentos prisionais através da figura do Panóptico - projecto arquitectónico de prisão concebido por J. Bentham - destinado a garantir que todos os prisioneiros pudessem ser observados pelas autoridades a partir da torre central da cadeia) - jamais pudessem ver quem os controlava - sofre - aqui um incremento pós-moderno no facto de o vencedor das eleições de Oeiras, um dos concelhos mais ricos e dinâmicos do país, levar a vitória ao presidiário na própria cadeia. 
A força inovatória deste facto social gera, simultaneamente, uma revolução política e cultural (senão mesmo epistemológica), no sentido de que, doravante, o presidiário Isaltino, ao contrário das observações académicas patentes na vida e obra de Foucault - não só tem a capacidade de ver as autoridades, como também de agir - directa e indirectamente - sobre a dinâmica sociopolítica no seu concelho através do seu "testa-de-ferro" político - que agora conquistou a legitimidade democrática que lhe permite ser o autarca legítimo da Câmara Municipal de Oeiras -  onde aquele fora considerado o autarca-modelo durante anos. 
Esta nova prática abre um precedente sem igual em Portugal e constitui também um fiável indicador de que o povo eleitor de Oeiras - que pode ser o mais letrado e licenciado, mas não será, seguramente, o mais legalista, ético e responsável. 
Esta faca cravada no dorso da democracia pluralista e no rule of law revela, afinal, que as leis, as convenções, os costumes, os acórdãos dos tribunais  e o mais são valores altamente precários que se devem relativizar e que, em certos casos, valem tanto como aqueles pedaços de papel que servem para remover os excrementos dos animais da via pública. 

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sábado

Esta gente - por Sophia de Mello Breyner Andresen





Esta Gente
Esta gente cujo rosto 
Às vezes luminoso 
E outras vezes tosco 

Ora me lembra escravos 
Ora me lembra reis 

Faz renascer meu gosto 
De luta e de combate 
Contra o abutre e a cobra 
O porco e o milhafre 

Pois a gente que tem 
O rosto desenhado 
Por paciência e fome 
É a gente em quem 
Um país ocupado 
Escreve o seu nome 

E em frente desta gente 
Ignorada e pisada 
Como a pedra do chão 
E mais do que a pedra 
Humilhada e calcada 

Meu canto se renova 
E recomeço a busca 
De um país liberto 
De uma vida limpa 
E de um tempo justo 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"

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sexta-feira

Momento de lazer e de surrealização política autárquica. A batata de Passos Coelho






A distância entre a realidade e a ilusão afere-se por este texto-imagem. Pena é que todo o Programa do XIX Gov (in)Constitucional seja uma imensa batata - para mal dos 10 milhões de portugueses. Há, pois, que não cometer erros nestas eleições locais, verdadeira escola da democracia, como diria Alexis de Tocqueville.



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American Power: When Atlas Shrugs - by Patrick Smith -



American Power: When Atlas Shrugs
To bear less responsibility in the 21st century will do the United States good, even it it means less American power.

The Globalist


US evacuation in the Fall of Saigon, 1975. (Credit: Hubert Van Es via Wikimedia)

Takeaways


  • I would place Americans among the world’s great forgetters.
  • To leave the past untouched would doom Americans to more of it. We must stir it and poke it like a fading fire.
  • The Bush years amounted to a simple denial of historical facts.
  • The Obama presidency has been an even bigger disappointment, in some ways, given the initial hopes.
  • I do not believe that America’s decline is inevitable, but the world is changing and this cannot be helped.



We have little to go by in terms of an existing record in American history, and what we have is not encouraging. The Bush years amounted to a simple denial of historical facts, a life-wasting, resource-wasting lunge for American power, even though it had already slipped away.
The Obama presidency, for all its initial promise of change, has been an even bigger disappointment in some respects, given the electorate’s initial hopes. It has offered very little in the way of forward movement.
Barack Obama has clung to the same prerogative rights to conduct military action wherever he sees fit. His administration isguilty of many of the same abuses of law that characterized the Bush years.
Apply a blind and one cannot tell the difference between thesecurity-related legislation Obama has passed and what Bush enacted from the Patriot Act onward.
Does this reflect a cynical liberal effort to mollify conservative adversaries on all questions related to defense in order to preserve power? Or does it signify some frightening, invisible hold the defense and intelligence establishments have over our political life?

The unknowable surveillance machinery

One suspects that Obama’s heart has not been in much of what he has done overseas, but one cannot tell. The Cold War and the military and surveillance machinery that arose from it made the American government unknowable in such respects.Fighting global terrorism has only rejuvenated and strengthened that deeply engrained tradition.
It took George W. Bush only two years after September 11 to turn the world’s near universal sympathy into a degree of resentment or contempt unknown in American history. Obama has improved matters, but to nothing like the extent he could have.
It is the same at home. One still finds little that differs from the fundamentalist beliefs that Americans have long held with regard to the markets, the government and the place of the individual in society.
Despite numerous appearances and encouragements, this is not the hour for pessimism. To seek positive answers to the questions I pose, even as we are unsure there are any, is the work of our time.
I do not believe that America’s decline is inevitable, the many signs that it has begun notwithstanding. Relative decline—decline in relation to rising powers—yes, the world is changing and this cannot be helped.
We live in a new and different age, in which the positions of East and West and North and South are shifting fundamentally. Americans should not regret this. To bear less responsibility in the 21st century will do America good, just as the responsibilities it bore in the 20th so often did not become it and proved a nearly ruinous burden. What is at issue, rather, is absolute decline, and this is America’s to accept or counter.

Stirring and poking the past

If we Americans are to take up this task, why must we begin with history? Why do good historians always insist on this? What does the past have to do with making a new future for ourselves? These questions will especially vex Americans, whom I would place among the world’s great forgetters.
To leave the past untouched, assuming it is fine just as it is, would doom Americans to more of it, as the old adage goes. Instead, we must stir it and poke it, as one does a fading fire. We must disturb it until we find ourselves in it as we truly are. We have not attempted this discovery yet.
Editor’s note: This essay is adapted from Time No Longer by Patrick Smith (Yale University Press, 2013). Published by arrangement with the publisher. Copyright © 2013 by Yale University Press

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Relatório confirma culpa humana nas alterações climáticas recentes



“A atmosfera e o oceano aqueceram, diminuiu a quantidade de neve e de gelo, o nível do mar subiu e a concentração de gases com efeito de esfufa aumentou”, (sublinhado é nosso) diz o relatório do IPCC publicado esta sexta-feira. "Isto é o que estamos a fazer [ao clima]", disse o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, na conferência de imprensa de apresentação do relatório.
É agora "extremamente provável" que a Terra esteja aquecer devido à actividade humana o que, na linguagem do IPCC, se traduz em 95% de certeza da atribuição da culpa.
Segundo o “sumário para decisores políticos”, uma síntese de duas dezenas de páginas do relatório do IPCC, a temperatura global aumentou 0,85 graus Celsius entre 1880 e 2012. As três décadas passadas, entre 1983 e 2012, foram as mais quentes dos últimos 1400 anos. 
As concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera  “atingiram valores sem precedentes em relação aos últimos 800.000 anos”, assegura o documento. As concentrações de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), aumentaram 40%, 150% e 20%, respectivamente, em relação aos valores pré-industriais.
“A influência humana no sistema climático é clara”, lê-se ainda no relatório. “Isto é evidente pelo aumento das concentrações na atmosfera dos gases com efeito de estufa, pela força de radiação positiva, pelo aumento observado da temperatura.”
A previsão da subida do nível dos oceanos, devido ao derretimento dos gelos, foi revista em alta. Em 2007, a previsão era de 18 a 59 cm até 2100; agora, admite-se que o nível das águas possa chegar de 26 a 82 centímetros (consoante os cenários mais optimistas ou mais pessimistas.
"Pausa" nos últimos 15 anos é variabilidade natural
Nos últimos dias falou-se bastante da verificação de que nos últimos 15 anos, a temperatura média global à superfície não ter subido tanto como se previa, apesar de as emissões de dióxido de carbono terem continuado a aumentar. A subida de temperatura foi de apenas 0,05 graus Celsius entre 1998 e 2012, quando o expectável, com referência ao que se passou entre 1951 e 2012, era que subisse entre 0,08 e 0,14 graus Celsius). O relatório do IPCC aborda esta aparente “pausa” num parágrafo em que sublinha a existência de “uma variabilidade substancial” de ano para ano e de década para década, mas que esta não faz inverter o “robusto aquecimento que se verifica há múltiplas décadas.”

“Devido à variabilidade natural, as tendências que se baseiam na análise de curto prazo são muito sensíveis às datas de início e do fim [dos registos] e no geral não reflectem tendências climáticas de longo prazo”, lê-se no relatório hoje divulgado. “Por exemplo, a taxa de aquecimento durante os últimos 15 anos [1998-2012], que se inicia com um forte [fenómeno] El Niño, é mais reduzida do que a calculada desde 1951”, escrevem os cientistas que trabalham sob a égide das Nações Unidas
O relatório do IPCC foi aprovado depois de quatro dias de discussões finais entre cientistas e representantes governamentais, em Estocolmo, que se prolongaram por toda a noite de quinta para sexta-feira. A aprovação final foi anunciada já de manhã, pouco antes das 8h, pelo vice-presidente do IPCC, Jan Pascal van Ypersele, via Twitter.
Este relatório refere-se apenas às evidências científicas sobre as alterações climáticas. Outros dois relatórios, sobre os impactos e as hipóteses de mitigação do problema, serão publicados na Primavera de 2014. Os três volumes formam a quinta avaliação global do IPCC sobre as alterações climáticas. As outras foram publicadas em 1991, 1995, 2001 e 2007.

Obs: remeta-se, com carácter de urgência, as conclusões deste estudo para os centro decisores norte-americanos, chineses, indianos e de outros países altamente industriais que ainda não se consciencializaram que têm necessariamente de alterar o seu padrão de produção industrial a fim de evitar catástrofes ambientais a prazo. Eles já sabem que isto é assim, mas fingem que a Natureza tem recursos infinitos e a sua regeneração se faz de forma automática, por obra e graça do espírito santo. 

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quinta-feira

Why Can't You Use Phones on Planes

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Michel Barnier e a criação duma força europeia de Protecção Civil para monitorizar as catástrofes naturais




Com base nas actuais competências da União Europeia em matéria de Protecção Civil, a criação de uma força europeia de Protecção Civil - dotada de uma organização e recursos próprios - foi proposta, a meio da década de 2000, pelo Comissário Michel Barnier (e chefe da diplomacia francesa) no seu relatório - For a European Civil Protection Force: europe aid?

Aí estão muitas das ideias que poderiam renovar a segurança civil europeia e, desse modo, preparar os Estados europeus para planear uma capacidade articulada de resposta em face dessas emergências avassaladores que são os eventos extremos que vão provocando avultados estragos materiais e causando milhares de mortos e milhões de refugiados, empobrecendo economias e regiões que, já de si, sofrem duma pobreza crónica. 

De facto, esta Europa, dirigida por Berlim, tem pautado a sua actuação por uma política financeira altamente restritiva, matando o próprio conceito de solidariedade que esteve na base da sua fundação. A emergência desta força de protecção civil europeia, sem prejudicar o respeito pelos níveis nacionais, regionais e locais de decisão desses mesmo sistema operacional, teria que ocorrer no quadro da União e em articulação com os sistemas nacionais pré-existentes. 

Seria, pois, no âmbito dessa flexibilidade que se criaria essa Força de Protecção Civil Europeia - integrada no sistema europeu de prevenção e gestão de catástrofes. Talvez assim,  muitos dos efeitos das catástrofes naturais que têm ocorrido, dentro e fora da Europa, pudessem conhecer menos perdas materiais e humanas e agressões ao património e ao ambiente. Com a vantagem adicional de a capacidade de decisão europeia decidir sem improvisos e de forma imediata. 


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FMI quer zona euro com orçamento comum e Eurobonds





O Fundo Monetário Internacional (FMI) defende a criação de uma união orçamental na zona euro, com um orçamento comum e a emissão de Eurobonds, para se evitar uma nova crise na região.

Num relatório intitulado ‘Toward a fiscal union for the euro area’ (a caminho de uma união orçamental para a zona euro), o FMI defende que, no mínimo, uma integração orçamental mais profunda requer maior controlo dos Estados-membros e a finalização rápida da união bancária, com um fundo comum de apoio a bancos em dificuldades.

O FMI sugere aos decisores políticos que criem um fundo para eventualidades, com os países no total, a contribuírem com até 200 mil milhões de euros por ano para ajudar países mais fracos, e assim evitar uma crise sistémica.

A organização diz que as atuais regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, que exigem um défice inferior a 3% do PIB anual a cada país, não são suficientes e que devia ser exigido aos Estados-membros que criassem almofadas financeiras em tempos de crescimento que lhes dessem maior margem de manobra em tempo de crise.

Para a instituição, a criação da moeda única fez pouco para encurtar as desigualdades em termos de crescimento económico dos seus participantes.
Para cimentar esta união monetário, o FMI defende então que seja criado um orçamento comum.

“Apesar de muito intrusivo, esta medida teria o benefício de dar a possibilidade de intervenção preventiva e atempada quando a estratégia orçamental fosse claramente incompatível com as metas orçamentais”, diz o relatório citado pela Bloomberg.

Sobre os Eurobonds (obrigações de dívida comuns aos países da zona euro), o FMI diz que esta seria uma forma de manter os custos da dívida em países periféricos, como Portugal, mais acessíveis e sob controlo.

A chanceler alemã, recém-eleita com um resultado eleitoral muito positivo, já tinha dito que não haverá este tipo de mutualização de dívida “enquanto for viva”.


Obs: Duas notas - a primeira para referir que, se calhar, e em prol do interesse comum europeu, seria melhor que a "mutti" partisse para os anjos; em segundo lugar, é pena que o FMI venha com estas ideias-propostas quando as economias mais frágeis, como as economias portuguesa e grega, estão completamente exangues, incapazes de reagir a qualquer estímulo. Sobretudo, se ele não existir. 

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Sismo vai matar dezenas de milhar em Portugal (título alarmante da tvi) - que exige meditação




Portugal sofreu em 1755 um terramoto de magnitude 8,5 a 9, semelhante ao do Japão. E é uma certeza científica que vai repetir-se a qualquer momento. «Pode ser amanhã, pode ser depois de amanhã. É errado pensar que só será em 2755», disse à TVI Maria Ana Viana Baptista, geofísica.

O Laboratório Nacional de Engenharia, em 2005, previu que o grande terramoto vai matar entre 17 mil e 27 mil pessoas, mas essa estimativa peca por defeito. O grande problema está na falta de resistência da maioria dos edifícios portugueses, ao contrário do que acontece no Japão, explica Mário Lopes, professor do Instituto Superior Técnico.

«Conhecendo a cidade de Lisboa, receio que possamos ter riscos acentuados em mais de 50 por cento dos edifícios da cidade», disse João Appleton, engenheiro civil.

Para o economista António Nogueira Leite, um sismo «teria um impacto na economia portuguesa equivalente a um ano de criação de riqueza». 

As políticas de controlo da qualidade da construção e os planos de reabilitação urbana têm ignorado a maior ameaça que paira sobre a economia e a vida dos portugueses

O Algarve, o Litoral Alentejano e a grande Lisboa, serão gravemente afectados pelo sismo que pode acontecer a qualquer momento. Como no Japão, as zonas costeiras e as margens do Tejo vão voltar a sofrer o impacto mortífero de uma onda gigante.

Em Julho de 2010 todos os partidos votaram, por unanimidade, uma recomendação ao governo, para que se crie com urgência um plano nacional com vários pontos decisivos: redução da vulnerabilidade sísmica das infra-estruturas hospitalares, escolares, industriais, governamentais, de transportes, energia, património histórico e zonas históricas dos núcleos urbanos. A resolução recomendava ainda ao governo o reforço do controlo da qualidade dos edifícios novos e a obrigatoriedade de segurança estrutural anti-sísmica nos programas de reabilitação urbana.

Oito meses depois, o governo não fez nada: limitou-se a propor um modelo de seguros, para indemnizar os prejuízos materiais dos sismos. A Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica, num parecer enviado ao parlamento, reagiu com indignação: «A opção do governo é ineficiente, eticamente condenável porque não se preocupa com a salvaguarda da vida humana e contraria a resolução da Assembleia da República».

A verdade é esta: quando o sismo chegar, a Assembleia da República vai ficar de pé, porque recebeu obras de reforço anti-sísmico. Mas os principais hospitais de Lisboa, por exemplo, deverão colapsar. 

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Pirâmide submersa gigante encontrada nos Açores




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quarta-feira

A broa dos velhos - por Alberto Pinto Nogueira -



A República vive da mendicidade. É crónico. Alexandre de Gusmão, filósofo, diplomata e conselheiro de D. João V, acentuava que, depois de D. Manuel, o país era sustentado por estrangeiros.

Era o Séc. XVIII. A monarquia reinava com sumptuosidades, luxos e luxúrias.

A rondar o Séc. XX, Antero de Quental, poeta e filósofo, acordava em que Portugal se desmoronava desde o Séc. XVII. Era pedinte do exterior.

A Corte, sempre a sacar os cofres públicos, ia metendo vales para nutrir nobrezas, caçadas, festanças e por aí fora….

Uma vez mais, entrou em bancarrota. Declarou falência em 1892.

A I República herdou uma terra falida. Incumbiu-se de se autodestruir. Com lutas fratricidas e partidárias. Em muito poucos anos, desbaratou os grandes princípios democráticos e republicanos que a inspiraram. 

O período posterior, de autoritarismo, traduziu uma razia deletéria sobre a Nação. Geriu a coisa pública por e a favor de elites com um só pensamento: o Estado sou eu. Retrocedia-se ao poder absoluto. A pobreza e miséria dissimulavam-se no Fado, Futebol e Fátima.

As liberdades públicas foram extintas. O Pensamento foi abolido. Triturado.

O Povo sofria a repressão e a guerra. O governo durou 40 anos! Com votos de vivos e de mortos.

A II República recuperou os princípios fundamentais de 1910, massacrados em 1928.

Superou muitos percalços, abusos e algumas atrocidades.

Acreditou-se em 1974, com o reforço constitucional de 1976, que se faria Justiça ao Povo.

Ingenuidade, logro e engano.

Os partidos políticos logo capturaram o Estado, as autarquias, as empresas públicas.

Nada aprenderam com a História. Ignoram-na. Desprezam-na.

Penhoraram a Nação. Com desvarios e desmandos. Obras faraónicas, estádios de futebol, auto-estradas pleonásticas, institutos públicos sobrepostos e inúteis, fundações público-privadas para gáudio de senadores, cartões de crédito de plafond ilimitado, etc. Delírio, esquizofrenia esbanjadora.

O país faliu de novo em 1983. Reincidiu em 2011. 

O governo arrasa tudo. Governa para a troika e obscuros mercados. Sustenta bancos. Outros negócios escuros. São o seu catecismo ideológico e político.

Ao seu Povo reservou a austeridade. Só impostos e rombos nas reformas.

As palavras "Povo” e “Cidadão” foram exterminadas do seu léxico.

Há direitos e contratos com bancos, swaps, parcerias. Sacrossantos.

Outros, (com trabalhadores e velhos) mais que estabelecidos há dezenas de anos, cobertos pela Constituição e pela Lei, se lhe não servem propósitos, o governo inconstitucionaliza aquela e ilegaliza esta. Leis vigentes são as que, a cada momento, acaricia. Hoje umas, amanhã outras sobre a mesma matéria. Revoga as primeiras, cozinha as segundas a seu agrado e bel-prazer.

É um fora de lei.

Renegava a Constituição da República que jurou cumprir. Em 2011, encomendou a um ex-banqueiro a sua revisão. Hoje, absolve-a mas condena os juízes que, sem senso, a não interpretam a seu jeito!!! 

Os empregados da troika mandam serrar as reformas e pensões. O servo cumpre.

Mete a faca na broa dos velhos.

Hoje 10, amanhã 15, depois 20%.

Até à côdea. Velhos são velhos. Desossem-se. Já estão descarnados. Em 2014, de corte em corte (ou de facada em facada?), organizará e subsidiará, com o Orçamento do Estado, o seu funeral colectivo.

De que serviu aos velhos o governo? E seu memorando?


Alberto Pinto Nogueira é Procurador-Geral – Adjunto

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Sismo no Paquistão faz mais de 200 mortos e cria uma nova ilha




Nova ilha ao largo da costa paquistanesa

Foto: DR/ABC News/Express News

O mais recente balanço do sismo de 7.7 de magnitude que atingiu ontem o Paquistão indica 238 mortos e 300 mil pessoas afetadas. A força do sismo criou também uma nova ilha no mar Arábico.


«Um total de seis distritos - Awaran, Kech, Gwadar, Panjgur, Chaghi et Khuzdar - e uma população de mais de 300 mil pessoas foram afetadas por este sismo», declarou à agência France Presse Jan Muhammad Baledi, porta-voz do governo provincial.

O exército do Paquistão foi mobilizado esta quarta-feira para ajudar no socorro às vítimas. «Os socorristas tentam encontrar os cadáveres (nos escombros), mas a nossa prioridade é transportar os feridos para os hospitais o mais rápido possível», indicou Azad Gilani, provincial do Interior.

O mais recente balanço das autoridades indica 238 mortos. Aldeias inteiras foram devastadas.

De acordo com a Reuters, o sismo foi tão forte que fez subir o fundo do mar e deu origem a uma ilha a 600 metros da costa paquistanesa Gwadar, no mar Arábico. A ilha, de acordo com as autoridades paquistanesas, tem cerca de 9 metros de altura e 100 metros de comprimento.


Obs: é impressionante como as catástrofes naturais continuam a ter consequências avassaladoras no desenvolvimento económico e social, quer em número de mortes, quer no impacto financeiro e no rebaixamento das condições e níveis gerais de qualidade de vida das pessoas afectadas. 






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terça-feira

Edgar Morin, crise da humanidade - pensamento para evitar as catástrofes -

Evocação de um mestre. 


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Dilma Rousseff diz que espionagem da NSA é grave violação dos direitos humanos

Nota prévia: é uma mulher, Dilma, que põe na ordem o Presidente da nação mais poderosa do mundo. A força da razão encontra nesta violação consentida por Obama - a fragilidade da razão da força da República Imperial. A América, se não quiser perder plenamente a sua autoridade no mundo, terá de rever métodos e procedimentos de relacionamento com os seus aliados - sob pena de ser vista e percepcionada como o abutre que não conhece limites à sua acção - intra e extra-muros - comportando-se como uma ditadura (que criticava) nos piores momentos da Guerra Fria. 


Rousseff STAN HONDA/AFP
A Presidente brasileira, que cancelou a visita de Estado aos EUA, lembrou perante os dirigentes mundiais as notícias de que a Agência de Segurança Nacional (NSA) interceptou não só as comunicações de cidadãos brasileiros, como da própria da Presidência, de representações diplomáticas e até da empresa Petrobrás.
“Imiscuir-se dessa forma na vida de outros países fere o direito internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre elas, sobretudo, entre nações amigas”, disparou a Presidente, antes de acrescentar que Brasília não aceita o argumento de que estas acções se destinam a proteger os Estados do terrorismo – “O Brasil sabe proteger-se. Repudia, combate e não dá abrigo a terroristas.”
Dilma Rousseff recordou ainda o seu passado de combate à ditadura para dizer que esta posição de força do Brasil se enquadra numa política de defesa dos direitos humanos – “não há liberdade sem privacidade”, afirmou – e disse que este caso deve merecer uma resposta tão global como a rede de espionagem montada pela NSA.
“Este é o momento de criar condições para que o espaço cibernético não seja usado ou manipulado como uma arma de guerra”, disse Rousseff, ao propor às Nações Unidas um acordo multilateral “para o governo e uso da Internet, e a protecção dos dados que viajam através dela” de acções de espionagem ou terrorismo. Um acordo que, diz, deve respeitar os princípios da liberdade, transparência, universalidade, diversidade cultural e neutralidade.
No discurso da Presidente houve ainda tempo para outra farpa aos EUA – quando afirmou a oposição brasileira a uma intervenção militar na Síria, ainda que em resposta ao uso “hediondo e inadmissível” de armas químicas –, mas também para recordar as maiores manifestações no país desde o fim da ditadura.
Sublinhando que o seu Governo não reprimiu os protestos de Junho, Rousseff disse que eles são “indissociáveis” do desenvolvimento social a que o Brasil assistiu na última década e afirmou que o grande desafio do seu Governo passa por “transformar a extraordinária energia das manifestações” em avanços concretos. “Para nós, todos os avanços são sempre só um começo. Nossa estratégia de desenvolvimento exige mais, tal como querem todos os brasileiros”.

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segunda-feira

O pós-materialismo socioeleitoral


A maior quota das mudanças socioeleitorais do pós-guerra, sobretudo em sectores mais instruídos e de maior prosperidade da população, resultou dum ambiente de pax duradoura que se instalou na Europa desde 1945 - sem precedentes até aos nossos dias. Foi esse clima que facilitou a expansão do ensino superior e a maior facilidade de mobilidade e o desenvolvimento duma contracultura relativamente aos poderes instituídos. Uma cultura, é bom notar, que se desenvolveu duma forma sem precedentes no séc. XX. Ainda que nem sempre fosse evidente essa mudança de valores e os contornos dessa contracultuta emergente.

Em apoio desta afirmação, importa referir que, atendendo às cambiantes da conjuntura, as juventudes no interior das sociedades dirigiram a sua atenção para os direitos cívicos e culturais, a luta contra a alienação e exploração, o internacionalismo e o localismo - em detrimento do Estado-nação. Defendem, protegem e promovem os recursos naturais, reclamam empregos condignos e condições de trabalho aceitáveis, pugnam por uma democracia assente do rule of law (que sustente o ambiente e o crescimento económico), reivindicam a liberdade de comportamento sexual (por oposição à moral tradicional), desejam uma participação activa dos cidadãos na vida pública e defendem formas de democracia directa, entre outros valores.

Naturalmente, o conjunto destes valores pós-materialistas questionam os velhos valores e as instituições que os defendiam, daí a desvalorização da ideia de que votar de 4 em 4 anos é algo relevante, já que os plebiscitos e as consultas às populações são quase diárias, mediante a acção dos media e das redes sociais que escrutinam inúmeros aspectos da vida política, financeira, social e económica. 

A personalização e a pequena dimensão das instituições e comunidades (por contraponto às grandes burocracias) e a defesa intransigente dos direitos das mulheres e das minorias, sejam elas de tipo sexual, étnico, religioso ou outro, recortam outro traço da conjuntura. Nasceu assim um novo estilo de vida, representado por uma maior variedade de ocupações e interesses, que geraram novas oportunidades de negócio e de emprego, complementado por uma nova capacidade de mobilidade social e geográfica. 

Por outro lado, os inúmeros Movimentos Sociais e partidos surgidos na década de 70 do séc. XX - já foram formatados por aqueles valores pós-materialistas que, em rigor, tiveram origem, predominantemente, nos movimentos estudantis iniciados uma década antes nos EUA e que rapidamente se estenderam à Europa, com um cunho marcadamente de esquerda. E de que o Maio de 68 foi um ícone. 

Na década de 80, a emergência de uma "nova direita" desfere um ataque conservador ao Estado-Providência e ao tipo libertário de algumas reivindicações da "nova esquerda" (muito apoiada no direito ao aborto e nos direitos dos homossexuais, uma agenda pobre..). Paralelamente, os filhos dos agricultores mudaram-se para as grandes cidades, passaram a ser cosmopolitas, muitos deles ascenderam socialmente e passaram a enquadrar-se nas profissões mais prestigiadas, ou seja, converteram-se em white-collar workers.

Mas enquanto que nos anos 80 do séc. XX - a clivagem social emergente se fazia assente na cultura, e não já na economia ou na religião, hoje, ao invés, os conflitos sociais resultam directamente da ausência de condições socioeconómicas que permita fixar e estabilizar as populações, e na raiz desse mal está, naturalmente, a elevada taxa de desemprego nos países da Europa, especialmente do Sul. Sem a garantia dessas condições as necessidades básicas das pessoas e das empresas não podem ser asseguradas, daí a emigração compulsiva, a desertificação do interior de Portugal (e também das grandes cidades), o envelhecimento da população, a falta de coesão social e no território, etc. Enfim, o empobrecimento estrutural do país. 

Nos anos 90 - o alvo principal dos apelos eleitorais dos partidos políticos de governos ocidentais - inscreveram-se a meio caminho entre a opulência e a comunhão de alguns problemas que afectam a classe trabalhadora. É nesta fase que os laços grupais se desfazem, e a informação deixa de ser passada de forma pessoal para ser difundida em quantidades industriais pelos media - que se tornam, eles próprios, uma grande indústria: a indústria da informação altera e condiciona a forma como as mensagens são veiculadas, logo quem tiver melhor telegenia e mais condições objectivas para aceder aos grandes meios poderá encontrar-se em melhores condições de condicionar e manipular o voto.

Esta nova relação dos media com a sociedade, a política e a economia trás novidades, na medida em que o voto é cada vez menos fixado em razão da interacção social e cada vez mais influenciado pelo modo como os media cobrem os eventos e passam a informação à sociedade. Esta novidade provoca, necessariamente, uma desestabilização do quadro institucional vigente. 

Através desta pequena evolução que envolve o modo de comunicar em contextos socioeleitorais - apenas procuramos sublinhar que as clivagens sociais - racionalizadas pelos discursos partidários - têm evoluído ao longo dos tempos, conforme resenha supra. As clivagens vão, assim, mudando de tom e de registo: a velha classe média contra a nova classe média (que desapareceu!!!); os operários especializados vs a classe de licenciados excluída e não empregável no país; a juventude confrontada com os avós (que, curiosamente, acabam por ajudar filhos e netos) - como se ambas as gerações estivessem, agora, a cargo dos super-avós.

Tudo, portanto, se altera nas novas eleições. Veremos que resposta os portugueses dão ao terror político e fiscal que se abateu sobre 10 milhões de pessoas que nunca como hoje souberam o que fazer à vida.  


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