Portugal sofreu em 1755 um terramoto de magnitude 8,5 a 9, semelhante ao do Japão. E é uma certeza científica que vai repetir-se a qualquer momento. «Pode ser amanhã, pode ser depois de amanhã. É errado pensar que só será em 2755», disse à TVI Maria Ana Viana Baptista, geofísica.
O Laboratório Nacional de Engenharia, em 2005, previu que o grande terramoto vai matar entre 17 mil e 27 mil pessoas, mas essa estimativa peca por defeito. O grande problema está na falta de resistência da maioria dos edifícios portugueses, ao contrário do que acontece no Japão, explica Mário Lopes, professor do Instituto Superior Técnico.
«Conhecendo a cidade de Lisboa, receio que possamos ter riscos acentuados em mais de 50 por cento dos edifícios da cidade», disse João Appleton, engenheiro civil.
Para o economista António Nogueira Leite, um sismo «teria um impacto na economia portuguesa equivalente a um ano de criação de riqueza».
As políticas de controlo da qualidade da construção e os planos de reabilitação urbana têm ignorado a maior ameaça que paira sobre a economia e a vida dos portugueses
O Algarve, o Litoral Alentejano e a grande Lisboa, serão gravemente afectados pelo sismo que pode acontecer a qualquer momento. Como no Japão, as zonas costeiras e as margens do Tejo vão voltar a sofrer o impacto mortífero de uma onda gigante.
Em Julho de 2010 todos os partidos votaram, por unanimidade, uma recomendação ao governo, para que se crie com urgência um plano nacional com vários pontos decisivos: redução da vulnerabilidade sísmica das infra-estruturas hospitalares, escolares, industriais, governamentais, de transportes, energia, património histórico e zonas históricas dos núcleos urbanos. A resolução recomendava ainda ao governo o reforço do controlo da qualidade dos edifícios novos e a obrigatoriedade de segurança estrutural anti-sísmica nos programas de reabilitação urbana.
Oito meses depois, o governo não fez nada: limitou-se a propor um modelo de seguros, para indemnizar os prejuízos materiais dos sismos. A Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica, num parecer enviado ao parlamento, reagiu com indignação: «A opção do governo é ineficiente, eticamente condenável porque não se preocupa com a salvaguarda da vida humana e contraria a resolução da Assembleia da República».
A verdade é esta: quando o sismo chegar, a Assembleia da República vai ficar de pé, porque recebeu obras de reforço anti-sísmico. Mas os principais hospitais de Lisboa, por exemplo, deverão colapsar.
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