Quem será este homem que todos os dias nos dá filosofia pelo veículo do rádio?
Digo todos os dias: com constância, com segurança, com extrema criatividade e sem subverter a aspereza dos factos. Com muitos sinais descodificadores da realidade complexa que nos tolhe todos os dias, e que exige decifração completa. Quem é este homem que todos os dias nos dá o nome da coisa? Será um radialista profissional? Um amante do som e da vox que nos faz renascer todos os dias pela manhã? Julgamos que é isso e muito mais.
Como em tudo na vida pessoas e coisas há que, por natura, são indefiníveis, inclassificáveis em breves frases de estilo. Então, que dizer deste amante e profissional da rádio e da comunicação que todos os dias acrescenta algo de bom a Portugal e aos portugueses?
Que o jornalismo é uma soma fértil de pensamento e de reflexão e muita análise.
Mas será ele uma espécie de profeta? Um antecipador de tendências, andando sempre à frente dos factos? Um místico que nos comunica a realidade com mística que acaba por nos favorecer o pensamento?
Quem é, afinal, o Fernando Alves? Que escapa às medalhas do Sampaio, às honrarias perenes e bufas desta República de tanga?
Será um epistemólogo que, par hazzard, faz rádio? Uma espécie de Popper, ou melhor, um B. Russel da vox, um Drucker que antecipa factos e tendências que depois saltam para o domínio da comunicação política cuja narrativa se consome em 3 min.? Três minutos de mundo... Tão pouco tempo para tanta rotação!!!
"Ouver" este homem, e é fácil chegar a acordo entre os ouvintes neste diagnóstico, é estar simultaneamente dentro e fora do mundo, embora sempre comprometido com ele, como diria o grande Raymond Aron - que também foi jornalista, além de académico de nomeada e talvez o maior cronista da conjunta de meio século de Guerra Fria finda.
Sempre pensei que o jornalismo exige pensamento, reflexão, análise além duma bela vox e uma dança permanente do pensamento.
Também aqui, não dizemos nada de novo, mas é esta repetição constante que surpreende a realidade com o passar dos dias, todos os dias, pela manhã, todas as manhãs.
Julgo que os Sinais de Fernando Alves - que revolucionaram a forma de dizer e fazer a rádio em Portugal, espelham uma cadência extraordinária de ideias, afirmando pensamento (que tantas vezes depois nos pensam), retratando o nosso quotidiano, que ora parece marchar a passos invisíveis, denunciando os desequilíbrios do mundo, as esquinas dos raciocínios, enfim, a busca dum sentido último (e superior) para as coisas.
Sabemos que a morte não é, salvo se ela significar Viver de Novo. Mas quem nos concede esse perdão? Ninguém, so far... Pelo menos que se saiba, e excluo daqui os santos e as santas que tantas vezes nos alienam.
Este simples blog é, afinal, um mero hino a esse nómada do pensamento e da palavra, talvez o mais talentoso do espaço comunicacional português. Mas também o mais discreto e denso, como é próprio das pessoas que dispensam a fama perene dos holofotes.
E o que diria Fernando Alves a um Camões, a um Vieira, a um Eça, a um Pessoa se, porventura, por uma qualquer manobra ou maquinação do tempo, incompreensível e inacessível às nossas mentes, esta gente - individual ou colectivamente - lhes entrasse porta-a-dentro pela redação da TSF...
Gagejaria, perguntaria, fumaria, o que faria ele?
Admitindo que diriam todos algo a propósito de aguma coisa, pergunto-me daqui que mensagem deixariam eles aos portugueses que vivem a complexidade da 1ª década do III milénio...
Penso-penso-penso e nada me aclara os miolos. Talvez me permita supôr que aquela boa gente continuasse a experimentar Portugal, partilhando connosco a encruzilhada em que estamos: por um lado, vivemos o tempo aflitivo, vazio e datado imposto pela ditadura das coisas e das notícias que supostamente reflectem; por outro, vivemos o presente pensando que nos eternizamos quando, afinal, estamos paralisados com quase tudo aquilo que nos circunda. Um pouco como a aquela ave que vive fascinada com a serpente - que julga o seu isco - mas afinal fará da ave a sua vítima.
Vale-nos, contudo, os Sinais do Fernando Alves - todos os dias na TSF. Mas mais, creio que se ele amanhã decidir passar a mesma mensagem na rádio de Frei de Espada à Cinta - a qualidade e profunidade da mensagem não sofre nenhum abalo com a (des)promoção radialista.
A ele e aos que asseguram o programa segue daqui o meu singelo bem haja, ou este blog não lhe(s) fosse dedicado.
Este homem é, para mim, alguém alguém sentado à porta do mundo, tentando perscrutar o que de mais importante dele emana. Por vezes, como sabemos, o mundo emana mal, outras, mais raras, emana bem. Seja como fôr, é assim que vejo o Fernando Alves a debitar desafios matinais para o nosso pensamento na antena da TSF. Uma antena que não só nos fala do mundo, mas também nos diz como ele é, inside...
Afinal, o trabalho de um jornalista - como o de um cientista - pode mudar o mundo.