O Portugal faz-de-conta
O país real quer começar a mexer... Com a atração de investimento externo, criação de riqueza, desburocratização, reforço do ambiente geral de confiança e o mais. Para o efeito este governo socialista - que na prática é liberal e reformista (ou seja, social democrata) lança pacotes de desborucratização do Estado para facilitar a vida às empresas e aos cidadãos. Agora tenta aplicar uma medida que vem no seu cardápio eleitoral: a descentralização e/ou desconcetração do país com base em 5 regiões. Talvez assim - a prazo - se substituam os governdos civis por organismos mais eficientes e menos parasitas e serventuários do poder, qualquer que ele seja. PS ou PSD c´est la même chose, a diferença reside apenas no estilo do exercício do poder, e o PS é, em regra, mais perdulário e pior gestor público. Mas será que o país real irá ganhar com esta medida? Aumentará a eficiência do Estado, das empresas e das pessoas? Será que as contas e os estudos técnicos já estão feitos? Se sim, o que dizem? Será isto mais uma OTA enfeitada de TGV? Se é está a dar os seus resultados: um bom isco para meter Portugal nas bocas do mundo - que não através da pedofilia - e, assim, atrair mais investimento externo. Parece uma boa estratégia, as regras do marketing político aconselham estas coisas e Sócrates gosta deste tipo de derivas, uma vez que reforçam a liderança e lembram ao país que é ele que o lidera. Veremos, contudo, se o tecido económico e social do país sairá reforçado por estas iniciativas. Enquanto esperamos pelos resultados, Sócrates e a oposição trocam mimos que só eles sabem dizer e fazer: M. Mendes diz que o governo de Sócrates é pirotécnico; Sócrates relembra a M. Mendes e conexos que já foi do PsD, que conhece a casa e que, por isso, a oposição social democrata tem uma pontinha de ciúme destas medidas. Na forma, desconfio que Sócrates não anda longe da verdade; na essência acho que esta desconcentração terá tanta vantagem como fazer mais uma promessa que fica aquém das expectativas e das necessidades do País. No cds-PP não é de oposição interna que se trata, mas de ódios pessoais e de rancores acumulados ao longo das décadas: Ribeiro e Castro ainda não matou o seu "pai" espiritual - "Freitas" - e o grupo parlamentar do PP - de inspiração portista - não desiste de o queimar a lume brando. Aqui as guerra já não é ideológica ne programática, é pessoal, é ad homine, e a política assume toda a sua extensão de relação de amigo-inimigo, e quanto mais ela assim for mais ela assume uma natureza política, na linha de Carl Schmitt. E assim segue Portugal: na verdade, não há modo mais seguro de dominar a outrem como arruiná-lo. É disto que se trata na relação entre estes senhores. O Portugal-político está, aliás, reduzido a estas lutas pessoais. E quem se torne senhor duma cidade acostumada a viver livre, e não a destrua, pode aguentar-se no poder por mais uns tempos. Nem que para o efeito prometa mais uma reforma no Terreiro do Passo, mais um TGV por via aérea ou OTA por rede viária... Ele pode prometer o paraíso na terra, e vingará nos seus intuítos até que as famílias, uma vez dispersas, desunidas e enfurecidas com o laxismo e o alcance das reformas, resolva apoiar outro "senhor". É que nas repúblicas, ao invés doutros regimes, existe maior vida, mais memória, mais ódio e sede de vingança; todos se lembram de todos a propósito de tudo. É por estas razões que os tugas andam agitados, e por um destes dias as famílias chateam-se e passam a apoiar outro senhor, até que o ciclo se repita e a história seja ratificada. O homem, na sua mais funda natureza, não mudou. O que se altera são as circunstâncias, as cores, as narrativas e os nomes das coisas em que o homem opera. Com ou sem desconcentração administrativa e territorial. Com ou sem promessas... o homem continua o mesmo: um belo hijo da p...., como diz um escritor espanhol que agora anda nas bocas do mundo.
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