segunda-feira

Se as galinhas tivessem dentes - por Joana Amaral Dias

Se as galinhas tivessem dentes Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Psicóloga genecanhoto@hotmail.com Joana Amaral Dias O texto de José Manuel Fernandes (Público, 20/03), que pretende fundamentar a invasão do Iraque, é absolutamente incrível. Reconhecendo que não existiam armas de destruição maciça (ADM), que foram cometidos "enormes erros nos primeiros meses da ocupação", que hoje se está à beira de uma guerra civil, que o "Iraque atraiu jihadistas de todo o mundo", que se verificaram "comportamentos que violam as leis da guerra", que a preparação para o pós-guerra foi desastrosa, o que conclui o director do jornal? Que, se fosse hoje, apoiaria na mesma a invasão. Mais extraordinária do que a conclusão é a justificação. Em primeiro lugar, JMF defende que os serviços secretos erraram no seu diagnóstico, porque Saddam fez bluff, enviando sinais "no sentido de que tinha algo a esconder". Este argumento é, em si mesmo, surrealista. Sabendo-se que as armas imaginárias de Saddam foram invocadas depois de a guerra já estar decidida, torna-se ultrajante. Em seguida, lamenta as torturas cometidas pelos "aliados". Contudo, dá um tom optimista: são apenas excepções. Excepções que nem seriam conhecidas se tivessem acontecido no tempo de Saddam. Ou seja, os abusos são maus, mas a imprensa é livre… e isso já é qualquer coisinha. JMF afirma que, se o terrorismo encontrou no Iraque a possibilidade de uma progressão exponencial, é porque a Al-Qaeda já actuava no tempo do ditador. Melhor ainda: este embuste a que JMF recorre serve para, por si só, legitimar a presença de militares. A invasão aumentou o terrorismo, logo a invasão é necessária. E o final do texto é o melhor. JMF interroga-se sobre "como seria" se não tivesse havido a invasão que, afinal, defende. Mas não para concluir que teriam sido poupadas milhares de vidas, que não se teriam verificado os abusos, a escalada terrorista, os gastos e negócios milionários. JMF não retira conclusões do que está a acontecer, mas consegue retirar conclusões daquilo que se poderia ter passado mas não se passou, e consegue mesmo pegar nessas conclusões para justificar aquilo que realmente se está a passar. Confuso? Talvez um pouco… contudo, JMF não se atrapalha e afirma ter previsto os erros que foram cometidos. Com tanta clarividência, é estranho que JMF não consiga indicar o que fazer agora e como resolver o atoleiro. Deve ser colateral