sexta-feira

Cavaco: o grande construtor d´oceanos. The sailor man


Cavaco pretende reconstruir o mar, refazer os oceanos, revolucionar a economia através de novas e múltiplas utilizações que se propõe dar aos mares, de que agora parece ser o grande marinheiro. Com tanta inovação à escala global, deixando as elites mundiais de boca-aberta, Cavaco pretende reescrever a mitologia greco-romana, procura viajar para realidades diferentes e conhecer modos distintos de ser, enfim, entrar noutras esferas do pensar e da praxis humana. 

Em suma: Cavaco propõe-se mudar a própria natureza e condição humana. 

Enquanto esse processo complexo se desenrola, o mesmo Cavaco esquece-se de requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade da contribuição extraordinária de solidariedade (CES) que ESBULHA mais uns largos milhares de pensionistas. 

A uma certa magnanimidade no exterior, para anglo-saxónico ver, corresponde uma práxis política miserável intra-muros. 


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Os oceanos e os navegadores portugueses


O mar para o poeta é símbolo do abstracto e do além. É o locus da criação que nos remete para um espaço sem-limite, para a eternidade. A água é sabedoria, uma das faces de Deus. Pessoa concebe mesmo o mar a uma abstracta geometria, onde o visível e o invisível se encontram. 

Volvida a fase poética e a fase das viagens de 1500, em que demos novos mundos ao Mundo, o PR introduz na sua lógica discursiva os oceanos como tema de novo desenvolvimento económico global, como se rasgasse caminhos e inovasse na exploração dos mares e, ao mesmo tempo, sabe que nada melhor do que a água (que é um excelente catalizador) para o ajudar a concluir o seu último mandato presidencial com alguma dignidade. 

Foi pena que o ainda PR não aproveitasse algumas ideias sobre a exploração dos mares, evocadas há cerca de 10 anos por Ernâni Lopes, e só agora, quase no termo do seu mandato se lembrasse de tematizar o assunto.

Ou melhor, há assuntos, temas e problemas que valem por si, têm uma existência independente do contexto político em que ocorrem, grave é quererem meter-nos o mar olhos a-dentro - quando o tema da exploração dos mares já há muito devia ter sido objecto de atenção legislativa, até porque gozamos da maior ZEE europeia,  e criado apoios e incentivos para que os novos empresários e cientistas do mar possam explorar os seus recursos em benefício de todos, ou seja, observando o princípio do desenvolvimento sustentável. 

Pena é quando se governa (ou preside!!) a pensar nos modismos políticos, quando tal ocorre converte-se uma questão que integra os global commons da humanidade numa questão de merceeria política a fim de servir paixões e carreiras em fim de linha.

Já lá vai o tempo em que a aproximação entre ocidente e oriente provocou um profundo questionamento da representação do ser. Na busca de especiarias, sob o olhar contemplativo da Ásia, os navegantes portugueses colocaram a sua identidade em risco, motivados pela diferença e pelo estranho que era para eles um mundo oculto. 

Parece que voltamos a ter de viajar num mundo carregado de memória...

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Evocação de Carlos Drumond de Andrade





No meio do caminho tinha uma pedra 
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.



Carlos Drumond de Andrade


  • Obs: À Margarida que se lembrou dele, ainda que a propósito dum pedregulho inomimado que atrapalha mais do que faz.

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Decisão Cavaco poupa nova CES a envio para Constitucional

ECONOMIA
Cavaco poupa nova CES a envio para Constitucional
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Obs: Cavaco jurou defender a Constituição da República Portuguesa e fazer cumpri-la mas, de facto, o que tem sucedido é algo diverso, senão mesmo contraditório. Ou seja, Cavaco, por omissão, põe-se do lado do governo que espolia os pensionistas sem regra nem lei - violando - assim, os preceitos constitucionais e o bom senso. Assim, é fácil governar, administrando medidas arbitrárias contra os membros mais fracos da sociedade. 

La fora, nos EUA, o PR fala dos oceanos, quiça uma boa metáfora para justificar o afogamento daqueles pensionistas que o XIX Governo (in)Constitucional agora volta a esbulhar  através desta inusitada e pomposa medida designada - Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES). 


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EDP com lucros de mil milhões em 2013

EDP com lucros de mil milhões em 2013


foto DIANA QUINTELA / GLOBAL IMAGENS
EDP com lucros de mil milhões em 2013
O CEO da EDP, António Mexia
Já o resultado líquido do período subiu 1% para 1194 milhões de euros.

Quanto ao EBITDA (resultados antes de juros, impostos, depreciação e amortização), este fixou-se em 3.617 milhões de euros em 2013, menos 0,3% em termos homólogos, com a empresa a referir que este foi "afectado por diversas alterações regulatórias adversas nas atividades tradicionais ibéricas (menos 200 milhões de euros, essencialmente em Espanha), pelo fim das licenças de CO2 gratuitas (menos 56 milhões de euros) e pelo descomissionamento da central a fuelóleo de Setúbal (menos 98 milhões de euros)" e suportado pelas subsidiárias internacionais.

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Obs: Este talvez seja o maior escândalo da economia nacional por efeito de contraste com os prejuízos e dificuldades de crédito e operacionais das empresas e o elevado desemprego que graça em Portugal. 

A energia é um importante factor competitivo das economias e das regiões, e o facto de em Portugal a energia ser a mais cara da Europa penaliza sobremaneira as empresas e os particulares. 

Não obstante estes lucros astronómicos, não há governo que consiga disciplinar aquele estado dentro do Estado representado pela EDP - agora vigiada de perto pelos chineses. Nunca tantos milhões de lucro representaram tanta vergonha e contribuíram para uma desvantagem competitiva do lado das empresas e um empobrecimento galopante do lado dos clientes particulares. 

Mexia pode ser um gestor eficiente, mas não tem nenhum sentido ético nem consciência social por operar num país cuja economia está de rastos e nenhuma diligência fez no sentido de rebaixar o preço da energia fornecida ao consumidor, antes pelo contrário, não obstante as indicações nesse sentido por parte da troika - a que o board da EDP fez ouvidos moucos. 

A EDP está de parabéns, mas à custa do empobrecimento dos consumidores particulares  e das empresas. 

Mexia é um gestor sem um pingo de consciência social.  Devia ser convidado a emigrar para Cuba e por lá ficar uma década. Quem diz Cuba, diz China que agora fica mais perto...


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quinta-feira

O debate que falta: a Ucrânia - com o pano de fundo duma Europa à deriva

O debate que falta - Sinais, Fernando Alves, TSF

A propósito da ameaça de desintegração da Ucrânia percebe-se a deriva da Europa sem rumo de Barroso.


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As finanças, o IMI e o esbulho aos proprietários


A responsável pelas Finanças ainda reflecte por que razão o sistema informático do Terreiro do Paço ainda não actualizou os parâmetros de vetustez e o preço por m2 que burla os portugueses a pagar mais pelo seu IMI. A conclusão a que chegou é que a falha se ficou a dever a um apagão...

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Esbulho do Estado através dos IMIs

Deco critica “cobrança excessiva” do IMI, Governo diz que actualização é feita a cada três anos

Associação lançou simulador para contribuintes calcularem quanto pagam “a mais” de IMI. Finanças garantem que a revisão do valor patrimonial tributário é gratuita.

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Obs: Seria suposto que a ministra das Finanças, se tivesse um pingo de dignidade, ordenasse à direcção de Finanças que actualizasse imediatamente os parâmetros em causa - idade do imóvel/vetustez e preço por m2 - a fim de evitar que milhares de proprietários continuem a ser deliberadamente burlados pelo Estado pagando um valor do IMI acima do devido. 
Trata-se, pois, de mais um esbulho institucionalizado que gera receita indevida para a fazenda pública. Em face disto, Miss Swaps tem a lata de chutar a bola para os proprietários, referindo que estes podem desencadear esse processo de avaliação, no entanto o tempo vai rolando, e enquanto folgam as costas o Estado continua a esbulhar os seus próprios contribuintes. 
Pelos vistos, o sistema informático do mega-ministério das Finanças é eficiente e rápido em actualizar-se para cobrar impostos aos cidadãos, mas já é lento e omisso em se actualizar para cobrar o que é devido pelo IMI e devolver os excessos. Enfim, dois pesos e duas medidas, típico nesta infra-gente que destrói Portugal a galope. 
Por aqui vemos que a cultura do Estado se exerce contra o cidadão, espoliando-o. Não admira, pois, o ódio que o cidadão nutre pelo Estado, sobretudo quando este é gerido por pessoal menor sem qualquer carácter e espírito de missão e de serviço público. 

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Evocação de Aristóteles: uma reflexão com quase uma década




Remake

A lição de Aristóteles e a destruição da classe média em Portugal
O processo de globalização em Portugal está exposto a linhas de fractura que opõe classes sociais cujos “skills” e mobilidade remetem o respectivo sucesso para o mercado (desregulado), hoje o maior inimigo da sociedade e do bom governo. Daí resulta uma severa tensão entre o mercado e os grupos sociais, com o Estado entalado no meio. Por isso, o maior desafio para Portugal (e para a economia europeia e mundial), é tornar a globalização “amiga” da coesão das sociedades. Garantindo que a integração económica internacional não contribua para a desintegração social.
Em editorial (Tempo, n.º 44), V. Norinha sinaliza o mapa da destruição da “pobre classe média portuguesa”: taxas moderadoras para os utentes do SNS; o fim dos passes sociais; o fim das portagens virtuais (Scut); alteração dos benefícios fiscais. Esfrangalhando, assim, a “excelência” da classe média/CM, que é quem financia a sociedade e alavanca o sector produtivo da economia. Aprendi com Aristóteles, porventura, desconhecido para o titular das finanças, que em todos os países há três espécies de homens: uns muito ricos, outros muito pobres e outros que estão no meio, entre os dois extremos: a CM.
A receita apresentada, que interfere com os “sagrados” interesses das famílias lusas, prefigura o pior. Para o País e para a coligação. Vejamos: os ricos são demasiado favorecidos pela natureza e pela fortuna, rodeados de amigos e de servos, não querem nem sabem obedecer. Desde cedo são mimados e protegidos por essa arrogância e corrompidos pelo luxo que arrecadam dos postos que ocupam. Os recentes episódios (M. Amaral e Celeste Cardona na CGD), com nuances, reflectem a miséria moral do Portugal decadente, sob a estranha cumplicidade pró-activa do locatário das finanças; os pobres, incapazes de mandar, são dobrados pela miséria, arrastando-se diante dos outros.
Resultado: os ricos mandam e traficam influências como pequenos déspotasos pobres são desprezados e obedecem servilmente. Conclusão: o Estado só é composto de servos e déspotas, nunca de pessoas livresUns são ricos, poderosos e influentes; outros pobres, ignorantes e invejosos, no meio da turba. Afundados nesta inimizade, uns e outros, jamais poderão aceitar caminhar juntos. Resta a excelência da classe média (CM). A tal que é esfrangalhada pelas medidas que o PP toma em nome do XVI governo Constitucional neste Portugal bloqueado.
Porém, a sociedade quer membros semelhantes, o que só se encontra no meio-termo. Ora é a CM que agora vê os seus interesses atingidos. Ainda por cima, são os mais inocentes, pois não desejam o bem alheio (com a paixão ígnara dos pobres contra os ricos), nem possuem a soberba destes. Nenhuma sociedade civil é melhor do que aquela que é composta de semelhantes pessoas, superiores em número e em poder (relativamente aos extremos). Com a penalização da CM, inclina-se a balança para o lado de Sócrates, novel líder do PS (que anulou o clã Soares) que quer prevenir esse excesso para a reconquistar e ser Poder. 
Se a CM estiver em vantagem estabelece-se uma democraciase forem os ricos, fixa-se a oligarquia incompatível com o interesse do Estado e o bem comum. O objectivo é fazer do Estado um agente que erradique os dois extremos (os muito ricos e os muito pobres), governando para o 3º elemento, firmando uma Constituição estável.
Em “Autopsicografia da crise”, traçámos a máscara desse dominó, denunciando a composição das sociedades múltiplas: os democratas não se deixarão governar pelos oligarcas, nem estes por aqueles, por causa da sua mutua desconfiança.
O árbitro deverá ser a CM, factor de diferenciação dos eleitorados, prevenindo novas clivagens (agora intrínsecas às pessoas): as crises do Estado nacional (proteccionistas/competitivos), do welfare-state (segurança social/risco individual), da crise fiscal (endividamento/fiscalidade) e do modelo de desenvolvimento(estabilidade/mudança). Cada uma destas clivagens (distinta das ideológicas do passado entre direita/esquerda, liberalismo/socialismo) indica uma relação de conflitualidade agravada com a agressão à CM.
O Estado é mais depressa arruinado com a cobiça dos ricos do que com a dos pobres. Afinal, onde está o PSD que pensa?

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Uma Estratégia para a Classe Média - por Gustavo Cardoso -



OPINIÃO. Público

Uma Estratégia para a Classe Média


A razão é simples, na actual Sociedade em Rede, estruturada em redes que interligam mercados financeiros, agências de rating e gestores de fortunas à escala global, quanto maior a riqueza individualmente acumulada maior a probabilidade que esse dinheiro transite para ser investido em fundos financeiros globais e não localmente na criação de negócios.
Na passada semana a revista The Economist realizou em Cascais a conferência The Lisbon Summit. O objectivo dessa conferência foi discutir e analisar as perspectivas de crescimento económico e reformas em Portugal. Na sua plateia estiveram essencialmente homens de negócios portugueses (e também algumas, poucas, gestoras) na sua maioria trabalhando em empresas estrangeiras sedeadas em Portugal, bem como algumas grandes empresas de capitais portugueses e ainda uma ou outra PME nacional.
Se mudássemos, por um momento, o nosso olhar da plateia para o palco da Lisbon Summit, veríamos surgir outro tipo de pessoas: os políticos. A função desses, ao longo desses dois dias, foi explicar e tentar convencer a plateia sobre o que tem sido feito e o que se pretende fazer em termos de políticas públicas para induzir o crescimento económico.
Introduzamos, agora, uma hipótese: a boa governação económica não depende apenas de ter gestores que saibam gerir bem empresas e políticos preocupados com o crescimento económico. A boa governação económica depende de se saber como diminuir as desigualdades num país. Essa é uma sugestão de Robert Reich, professor em Berkeley, secretário de Estado do Trabalho de Bill Clinton, autor de várias obras sobre a economia americana e, actualmente, produtor do sucesso cinematográfico Inequality for all.
Pensemos, agora, em Portugal e na sua distribuição de riqueza. Se analisarmos alguns dos dados disponíveis, verificamos que entre 1985 e 2009 se acentuaram as desigualdades salariais em Portugal. Ou seja, um salário a meio da tabela de remunerações em Portugal valeria sensivelmente 25% dos salários mais elevados praticados em 1985, mas em 2009 apenas valeria, mais ou menos, 15% dos salários mais elevados.
Se tal comparação não chegar para compreender a desigualdade portuguesa, podemos também lembrar-nos que em 2010, de entre os países da União Europeia, Portugal apresentava o nível de concentração do rendimento familiar mais elevado entre os 20% e os 5% mais ricos da população. Ou seja, os 20% mais ricos detinham cerca de 42% do total do rendimento familiar do país e os 5% mais ricos cerca de 17% – vale a pena aprofundar esta análise lendo o trabalho de Frederico Cantante online no CIES-IUL.
Precisamente pelo papel que a redução das desigualdades pode ter no desempenho da economia, Robert Reich sugere a necessidade de desenvolver uma estratégia para a classe média em países de elevadas desigualdades, como por exemplo Portugal. O seu argumento não é baseado na moralidade ou na justiça da maior repartição do rendimento, mas sim no facto de, fruto das crescentes desigualdades, existirem dois tipos de ameaças às nossas sociedades.
A primeira ameaça é económica, pois a menos que a classe média receba uma parcela justa da riqueza produzida, não será capaz de consumir o que podemos produzir sem recorrer ao endividamento – algo que não permite sustentar crescimentos elevados sem crises recorrentes, do tipo daquela que actualmente vivemos.
A segunda é uma ameaça política, pois uma crescente desigualdade acompanhada pela percepção generalizada de que as grandes empresas e o sector financeiro estão alinhadas com o Estado, com o intuito de tornar os ricos mais ricos, dá azo a todo o tipo de demagogias e extremismos de ambos os lados do espectro político.
A menos que estas tendências sejam revertidas, a classe média não voltará a ter o poder de compra necessário para manter a economia a crescer e isso acabará por atingir também aqueles que hoje melhor estão em termos económicos. Daí, que seja preciso criar uma estratégia de governação orientada para a classe média. Há obviamente custos financeiros a pagar mas, como sugere Reich, há também formas de os suportar sem aumentar a dívida pública de um país.
Uma estratégia para a classe média destinada a minorar as desigualdades, como a proposta por Reich, passa, por exemplo, por introduzir uma taxa de rendimentos inversa. Ou seja, a introdução de suplementos salariais devolvendo parte do dinheiro pago em impostos. Em vez de um rendimento mínimo garantido teríamos uma devolução para aquelas famílias com maior propensão para aumentar o consumo.
Tal custaria dinheiro, mas as receitas perdidas para o Estado seriam substituídas por duas outras medidas: uma taxa de carbono (inserida nos bens e serviços transaccionados) e o aumento das taxas para os 5% mais ricos. Isto, para além de dar aos rendimentos de capital o mesmo tratamento aplicado aos rendimentos do trabalho.
Consumir mais e desenvolver mais a economia nacional em sectores chave, faria chegar a nossa economia ao seu máximo produtivo e permitiria um crescimento sustentável.
Uma outra medida estratégica proposta por Reich passaria pela introdução de um Subsídio de Reemprego em vez do actual Subsídio de Desemprego. O antigo sistema foi desenhado para dar protecção às pessoas até que conseguissem obter empregos no final de uma crise. No entanto, hoje a maioria das pessoas que perde o seu emprego não o obtém de volta, juntando-se à lista de desempregados de longa duração.
Um sistema de reemprego que permita durante dois anos às pessoas receber a diferença entre 90% do seu salário original e o salário que obtiver no seu novo emprego seria, segundo Reich, uma forma mais eficaz de mudar o mercado de trabalho do que aquelas actualmente em fase de experimentação. Medidas como esta seriam financiadas, em parte, por novas taxas sobre as empresas saudáveis que decidam despedir apenas para aumentar a sua remuneração accionista, desincentivando assim os despedimentos para sobrecarregar o Estado.
Porque essas medidas gerariam um crescimento mais forte e mais estável do que o conseguido pelas políticas actuais, permitiriam aumentar os rendimentos das empresas e diminuir a dívida da nossa economia ao longo dos anos vindouros.
O custo de continuar como hoje estamos é muito maior. Ou seja, continuar com uma economia que funciona abaixo da sua capacidade, quer em pessoas quer em produção, é uma terrível perda de recursos. E uma sociedade alimentada pelo ressentimento provocado pela desigualdade é também uma sociedade instável.
Mas, para que tudo isto seja possível, é necessário que a prática política deixe de ser menos parecida com a gestão de empresas. Precisamos que cada qual assuma a sua função. Precisamos que os gestores se foquem na criação de lucro, e não na política, e que os políticos deixem de copiar os gestores procurando que os países dêem lucro.
O autor é docente do ISCTE-IUL em Lisboa e investigador do Centre d'Analyse et Intervention Sociologiques (CADIS) em Paris.
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Obs: São sempre interessantes, porque reflexivas e alimentadas por boas fontes, estes artigos de Gustavo Cardoso. Além de um eficiente domínio dos conceitos também introduz hipóteses de trabalho que nos obrigam a pensar e, desse modo, a gerar novas ideias, a rasgar novos caminhos para a economia e a sociedade portuguesas, hoje tornadas reféns duma elite impreparada, sem experiência de governação, sem mundo nem visão de futuro, além da terrível incapacidade de comunicar medidas que infundam esperança às pessoas e às empresas. 
Neste contexto, governar tornou-se - para o XIX Governo Constitucional - debitar imposto sobre imposto, corte salarial sobre corte salarial. Ora, isto não é governar, é, antes, um exercício cego de talhante em que o profissional da carne corta à medida do poder de compra do cliente que tem pela frente. 
Seja como for, alguém estar a ver a Miss Swaps a por em prática as receitas do economista citado no texto?! 
Alguém estar a ver Passos Coelho dar o aval a que as medidas de Robert Reich, designadamente a taxa do rendimento inversa, a taxa de carbono às empresas mais ricas, ou ainda as medidas de reemprego.. possam vingar?!
Não creio que com esta composição ideológica e pragmática algumas daquelas medidas conheça luz do dia, pois estamos perante um governo neoliberal atípico: um governo que não se importa em privatizar os CTT - um serviço de grande proximidade às populações; ou em privatizar as Águas, sob a argumentação de que os privados gerem melhor e mais eficientemente esses activos; mas é o mesmo governo, curiosamente, que injecta dinheiro num banco como o Banif e, perante a estranheza de todos e a inoperacionalidade da justiça, continua a injectar capitais arrecadados pelos impostos dos portugueses para tapar o buraco ao BPN, o maior crime económico-financeira do séc. XX - que tem todos os seus cabecilhas identificados e a justiça nada faz para os julgar e meter na cadeia. 
Provavelmente, estas realidades integram um grupo de idiosincrasias tipicamente lusas que são do total desconhecimento de Reich, pelo que me arrisco a antever que se ele conhecesse as práticas em Portugal a este nível, que envolvem o inner circle de Belém, jamais pensaria que algumas das suas receitas económicas para dinamizar a economia funcionariam entre nós. 
E não funcionariam em Portugal pelo simples facto de que - ao contrário da América, é o Estado que dita o que é o mercado, como ele deve funcionar e qual a sua dimensão, logo todo o universo de empresas e de pessoas estão profundamente dependentes do Estado - que é pai, é empregador, é inquilino, é senhorio, concessiona, enfim, é um pouco como um albergue espanhol -  abre as pernas e mete tudo lá para dentro. É óbvio que Robert Reich desconhece estas subtis realidades que, em bom rigor, roçam a corrupção e na América inúmeros desses conluios terminariam na cadeia. 
De resto, algumas daquelas medidas - saudáveis e bem intencionadas - evocam-me a Taxa Tobin nos anos 70 (do séc. XX) - em que se prescreveu taxar as transações financeiras e, com essas receitas, investir na redução das desigualdades sociais no interior das nações a fim de diminuir as desigualdades e as injustiças entre os homens. Não teve sucesso. Quarenta anos depois, em Portugal, ainda ouvimos os deputados do BE reclamar pela sua aplicação. Isto revela uma coisa simples: a política, que devia ter o primado da condução dos processos sociais e económicos, ficou submergida pela financeirização do mundo - remetendo a política a uma função secundária, parlamentar, retórica mas já não verdadeiramente decisional. 
Veria mais as coisas nos termos em que Amartya Sen as coloca, sem, contudo, querer marginalizar as ideias de R. Reich promovidas por Gustavo Cardoso, um grande economista e um maitre à penser do nosso tempo. 
E ver as coisas pelas lentes de Sen recentraria mais os problemas e constrangimentos do nosso tempo e da nossa circunstância. Ou seja, não conseguimos sair do beco em que colocaram 10 milhões de portugueses porque não temos liberdade política suficiente para fazer certas reformas no sistema político; PSD e PS são demasiado parecidos, por isso trocá-los no poder representa uma baixa taxa de inovação e mudança sociopolíticas; e não havendo grandes liberdades políticas também não conseguimos gerar oportunidades sociais, talvez por isso todo o escol dirigente, mais numa atitude desesperada do que numa postura construtiva e esperançada, desafia os seus próprios concidadãos a emigrar, coisa que nem Salazar fez em quase 40 anos de ditadura conservadora. 
Não havendo liberdades políticas nem a geração de oportunidade sociais também não dispomos de garantias de transparência na relação dos cidadãos e das empresas com o Estado e, mais concretamente, na administração da justiça, talvez o maior cancro da economia nacional, porquanto o seu bloqueio impossibilita o apuramento de responsabilidades (civis e penais) que permitiriam a milhares de empresas e pessoas regressarem ao mercado e, ao mesmo tempo, viabilizariam a normalização dos créditos mal parados e, consequentemente, a criação de emprego, riqueza e bem-estar decorrentes dessa normalização de relações.
Numa palavra: Portugal está bloqueado porque o seu processo de desenvolvimento ficou refém daquelas interligações, daí a necessidade apoiar uma diversidade de instituições que integrem os procedimentos democráticos, os mecanismos legais, as estruturas de mercado, os serviços de educação e de saúde, os meios de informação, etc...
Mas terá sempre que ser o vector político a comandar o processo, e não a dimensão financeira e económica, sob pena de os fins e os meios do Estado não perceberem que o desenvolvimento só faz sentido se for para reforçar a liberdade de todos e de cada um de nós. 
Naturalmente, já compreendemos todos, pelo menos os bem intencionados e os mais atentos, que as medidas propostas por Reich não terão cabimento na sociedade portuguesa com o XIX Governo Constitucional, e as preocupações de Amartya Sen encontram o mesmo destino.
E aqui voltamos à vaca fria: o problema desta nomenklatura é ideológico e político, não é processual. Além de que é sempre muito difícil negociar com quem se acha dono da verdade e, por extensão, dono do poder. Circunstância que introduz uma dimensão de arrogância no sistema que agrava a natureza das relações e dificulta a realização de consensos. 

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Papagaio ajuda a encontrar o assassino da dona

Papagaios dentro de uma gaiola num jardim zoológico da Índia
Papagaios dentro de uma gaiola num jardim zoológico da ÍndiaFotografia © Reuters/Ajay Verma
Os familiares da mulher começaram a suspeitar do sobrinho Ashutosh ao ver como o papagaio reagia à sua presença ou à referência ao seu nome. O anima ficava muito agitado na gaiola.
"Cada vez que diziamos o nome de Ashutosh, o papagaio começava a comportar-se de forma bizarra", afirmou a madrasta da vítima, Ajay Sharma, à AFP, indicando que o animal ficava calado quando eram ditos outros nomes.
"Transmitimos a informação à polícia", acrescentou.
O sobrinho, que tinha numa das mãos os vestígios de uma mordidela do cão da tia, foi detido e acusado na terça-feira do crime, tendo as joias sido encontradas, indicou um polícia.
"O papagaio foi uma grande ajuda, já que não tinhamos pistas", afirmou Shalabh Mathr, responsável da polícia de Agra, citado pela agência Press Trust of India.
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Obs: Porventura, Portugal carece de um pássaro desta natureza para ajudar o povo a escolher melhor os respectivos governantes...

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NO ÁRTICO: 26 anos de degelo num vídeo de um minuto



Prova disso é um vídeo que a NOAA apresentou há dois dias, em Chicago, numa sessão dedicada às alterações climáticas durante a conferência anual da Associação Americana para o Avanço das Ciências (AAAS). Um vídeo que deixou, literalmente, de boca aberta os cientistas que o viram e que mostra, em animação, Um mapa do efeito do degelo com o passar do tempo, entre 1987 e outubro de 2013. O vídeo demonstra que em apenas 26 anos, os gelos que dominavam a região já desapareceram praticamente.
O vídeo, com a duração de apenas um minuto, e que será publicado na próxima edição da revista 'Science'", ilustra de forma dramática o que sucedeu ao gelo do Ártico no último quarto de século. A "mensagem" deixa poucas dúvidas: à medida que os anos avançam a superfície total da zona gelada do Ártico vai-se tornando cada vez mais pequena. Se há um quarto de século as áreas cobertas por gelo ocupavam 26% do total, agora estão reduzidas a apenas 7%.

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Almofada de pedra - por Viriato Soromenho Marques -

Como é que designaríamos o comportamento de um cidadão que, incapaz de honrar um crédito pessoal a uma taxa de 3,35%, prestes a atingir a maturidade, contraísse um novo empréstimo a uma taxa de 5,11% para pagar o primeiro ("troca de dívida")? Sem dúvida, tratar-se-ia de um comportamento pouco recomendável. E como seria classificado esse comportamento se o cidadão em causa utilizasse parte do novo empréstimo (de 11-02-2014) para antecipar, parcialmente, o pagamento em 19,5 meses do primeiro empréstimo, pagando 102,89 euros por cada 100 euros de dívida ("recompra")? Seria, certamente, uma atitude temerária, pois aumenta a despesa com juros para apenas empurrar a dívida para o futuro. Pois é isso que o Governo pretende fazer hoje. O leitor pode ir ao site eletrónico do IGCP. Abra o boletim mensal de fevereiro sobre "Dívida Pública". Na p. 2, vê que o Estado vai ter de resolver até 2016 cerca de 39 mil milhões de euros de empréstimos. Esse imenso obstáculo tem sido o pretexto para a constituição de uma volumosa "almofada" financeira. Tudo indica que o IGCP quer recomprar, hoje, uma parte de uma série de dívida a dez anos, contraída a partir de outubro de 2005 (ver p. 3). Se o fizer, às taxas mais recentes no mercado secundário, isso significa que, para o montante que for hoje amortizado, vamos pagar mais 3,53% de juros por ano até outubro de 2015 do que antes das duas operações financeiras supracitadas. Será isto uma gestão prudente, ditada pelo interesse nacional, ou estará o Tesouro público em risco para alimentar uma ilusão pré-eleitoral de triunfo? Será esta uma almofada que alivia o País, ou uma pedra amarrada às pernas que o atira para o fundo? Temos direito a saber a lógica com que se joga o dinheiro sonegado aos salários e às pensões. Direito a uma explicação, ou a uma beliscadela que nos acorde deste pesadelo.


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Relvas e nós - por João Cardoso Rosas -

João Cardoso Rosas

Relvas e nós

26/02/14 00:07 | João Cardoso Rosas 

Parece que o principal contributo do congresso do PSD para o bem da nação foi a reentrada de Miguel Relvas na cena, como cabeça da lista de Passos Coelho ao Conselho Nacional do partido. Poucos meses depois de ter saído de ministro, depois de inúmeros casos e escândalos, depois de se ter descoberto e confirmado que obtivera uma licenciatura por meios fraudulentos, ele aí está de volta. Mas como é possível que Passos Coelho o tenha reabilitado, perguntaram muitos?
A resposta é tão evidente que quase torna desnecessária a pergunta. Entre Passos Coelho e Miguel Relvas existem décadas de cumplicidade, de favores políticos e pessoais, de negócios para "ir buscar" dinheiro ao Estado, como a formação de técnicos de heliporto e coisas do género. Tanto Relvas como Passos Coelho sabem demasiado sobre a vida um do outro para poderem afastar-se. Ou seja, tanto para um como para o outro o afastamento e a possibilidade de virem a encontrar-se mais tarde em lados diferentes da barricada seria extremamente perigoso. Tudo os impele a cooperar.

Nada disto seria possível num país do norte da Europa, como é óbvio. Note-se que os "Relvas" também lá existem. Mas, quando são descobertos, nada nem ninguém lhes pode valer. Por isso a grande questão é a nossa tolerância, enquanto sociedade, em relação a personagens deste tipo. O grande tema é o facto de os militantes do PSD não se terem revoltado e os portugueses em geral não estarem especialmente incomodados.

Veja-se a reacção dos comentadores, pelo menos na área do PSD. Marcelo Rebelo de Sousa remete a questão para uma "teimosia" do líder do partido. João Miguel Tavares diz que o regresso de Relvas é um "mistério". No fundo, também eles, que nada têm a ver com os "Relvas" e os "Passos", espelham a tolerância portuguesa para com uma forma de estar e actuar, na política e nos negócios, baseada nos conhecimentos particulares e não nos valores gerais, no favor e não na regra, na dependência pessoal e não no mérito individual.

Não sei se tudo isto se deve a sermos católicos e habituados a pecar e ser perdoados, ou a "meter cunhas", a interceder junto dos Santos e da Virgem Maria, para assegurar um lugar no céu e algumas coisas bem mais mundanas. Não sei se a nossa atitude contemporizadora se deve ao facto de sermos latinos e emotivos e considerarmos que Relvas é um "gajo porreiro" e termos todo o prazer em ir beber um copo com ele e dar-lhe pancadinhas nas costas, apesar de pensarmos ao mesmo tempo que nunca no nosso perfeito juízo lhe compraríamos um carro em segunda mão (a menos que ele nos desse algo em troca). Em todo o caso, o caso Relvas diz muito sobre nós e sobre o tipo de ambiente social no qual a corrupção floresce.

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Obs: solicite-se um comentário a João carlos espada, aquele académico que dirigia um centro de investigação mal avaliado.., o qual à luz dos valores que defende também deve achar Relvas um sujeito que não teria lugar num estado de direito, ou se calhar tinha... Tudo, afinal, depende do valor do cheque. 

Tudo é relativo, não é verdade!!!

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quarta-feira

Um Cavaco meramente declarativo





Encontros com empresários marcam agenda do chefe de Estado, que vai discursar na Cimeira Mundial dos Oceanos.
O Presidente da República inicia hoje uma visita de uma semana aos Estados Unidos e ao Canadá. Na agenda de Cavaco Silva constam vários encontros com empresários, como o que decorrerá, já amanhã em São Francisco, na Califórnia. (...)

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Obs: Seria suposto que o Sr. PR apresentasse um plano de incentivos para que os empresários norte-americanos compreendessem que vale a pena investirem em Portugal e que a economia portuguesa é amiga do investidor: amiga no rebaixamento de impostos, taxas, melhor justiça, melhores acessos, mais transparência na relação empresa-administração, melhor logística e um conjunto de mais eficazes custos de contexto. 

Não. Não foi nada disso que se ouviu da boca do locatário de Belém. O que ouvimos dele, naquele seu estilo de vendedor de peúgas da rua dos Fanqueiros, foi que esperava que os empresários americanos invistam em Portugal. 

Só não se sabe porquê. Esqueceu-se de explicar. 

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União Europeia Portugal na nona posição entre os mais pobres

Este ano, o país cairá mais um lugar no ranking do PIB Per Capita, sendo ultrapassado pela Lituânia. Segundo o Jornal de Notícias, a ajuda externa irá manter o país afastado dos níveis da União Europeia.
ECONOMIA
Portugal na nona posição entre os mais pobres
DR
A riqueza média por habitante em Portugal cairá em 2014. Quem o diz é o comissário Olli Rehn, que confirmou o declínio, apesar da economia portuguesa ter razões para crescer entre 1 e 1,5% este ano. [...]
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Obs: Em rigor, não é necessário ouvir as opiniões da UE para registar o empobrecimento estrutural da economia portuguesa e dos portugueses na sua globalidade. Pessoas e empresas afundam-se em dívidas, outras emigram compulsivamente e as que ficam vivem na quase indigência de pais e avós. 

Esta dura realidade contrasta de forma estrondosa com a propaganda laranja da máquina publicista de Passos coelho. 

Por outro lado, segundo creio, o governo socialista está há quase três anos fora do aparelho de poder, pelo que a responsabilidade, ou boa parte dela por este andrajoso estado em que nos encontramos, deve ser assacada a quem governa. 

Recorrentemente, evocam-se as exportações, o porta-aviões de algumas bandeiras partidárias, para tentar justificar o crescimento da economia portuguesa, mas essas mesmas exportações - paradoxalmente - também se fazem à custa de destruição de emprego e de não reestruturação da economia nacional, que ainda é mal organizada, vulnerável e muito dependente dos apoios do Estado. 

Por tudo isto, não surpreende que estejamos atrás de um país báltico, i.é, dantes dizia-se que Portugal estava na cauda da Europa, hoje é lícito afirmar que estamos na cauda da cauda. Na prática, começamos a ser os piores entre os maus, e esta circunstância, convenhamos, não pode ser assacada ao desgraçado do Tó Zé - que ainda tenta perceber que papel a política nacional lhe reserva(rá). 


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