quinta-feira

Relvas e nós - por João Cardoso Rosas -

João Cardoso Rosas

Relvas e nós

26/02/14 00:07 | João Cardoso Rosas 

Parece que o principal contributo do congresso do PSD para o bem da nação foi a reentrada de Miguel Relvas na cena, como cabeça da lista de Passos Coelho ao Conselho Nacional do partido. Poucos meses depois de ter saído de ministro, depois de inúmeros casos e escândalos, depois de se ter descoberto e confirmado que obtivera uma licenciatura por meios fraudulentos, ele aí está de volta. Mas como é possível que Passos Coelho o tenha reabilitado, perguntaram muitos?
A resposta é tão evidente que quase torna desnecessária a pergunta. Entre Passos Coelho e Miguel Relvas existem décadas de cumplicidade, de favores políticos e pessoais, de negócios para "ir buscar" dinheiro ao Estado, como a formação de técnicos de heliporto e coisas do género. Tanto Relvas como Passos Coelho sabem demasiado sobre a vida um do outro para poderem afastar-se. Ou seja, tanto para um como para o outro o afastamento e a possibilidade de virem a encontrar-se mais tarde em lados diferentes da barricada seria extremamente perigoso. Tudo os impele a cooperar.

Nada disto seria possível num país do norte da Europa, como é óbvio. Note-se que os "Relvas" também lá existem. Mas, quando são descobertos, nada nem ninguém lhes pode valer. Por isso a grande questão é a nossa tolerância, enquanto sociedade, em relação a personagens deste tipo. O grande tema é o facto de os militantes do PSD não se terem revoltado e os portugueses em geral não estarem especialmente incomodados.

Veja-se a reacção dos comentadores, pelo menos na área do PSD. Marcelo Rebelo de Sousa remete a questão para uma "teimosia" do líder do partido. João Miguel Tavares diz que o regresso de Relvas é um "mistério". No fundo, também eles, que nada têm a ver com os "Relvas" e os "Passos", espelham a tolerância portuguesa para com uma forma de estar e actuar, na política e nos negócios, baseada nos conhecimentos particulares e não nos valores gerais, no favor e não na regra, na dependência pessoal e não no mérito individual.

Não sei se tudo isto se deve a sermos católicos e habituados a pecar e ser perdoados, ou a "meter cunhas", a interceder junto dos Santos e da Virgem Maria, para assegurar um lugar no céu e algumas coisas bem mais mundanas. Não sei se a nossa atitude contemporizadora se deve ao facto de sermos latinos e emotivos e considerarmos que Relvas é um "gajo porreiro" e termos todo o prazer em ir beber um copo com ele e dar-lhe pancadinhas nas costas, apesar de pensarmos ao mesmo tempo que nunca no nosso perfeito juízo lhe compraríamos um carro em segunda mão (a menos que ele nos desse algo em troca). Em todo o caso, o caso Relvas diz muito sobre nós e sobre o tipo de ambiente social no qual a corrupção floresce.

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Obs: solicite-se um comentário a João carlos espada, aquele académico que dirigia um centro de investigação mal avaliado.., o qual à luz dos valores que defende também deve achar Relvas um sujeito que não teria lugar num estado de direito, ou se calhar tinha... Tudo, afinal, depende do valor do cheque. 

Tudo é relativo, não é verdade!!!

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