segunda-feira

Sociedade da mentira institucionalizada


Não há hoje na vida pública nacional aspecto que não esteja a coberto da mentira - e das suas variantes - omissões, desvios, subterfúgios, nuances, dissimulações, simulações. A oposição ataca o Governo sem projecto, induzindo os portugueses em erros e ilusões que se podem revelar fatais; o Gov tem, ele próprio, errado nas previsões, omitido dados, desvirtuado, no fundo, a confiança que os eleitores depositaram nos eleitos. É óbvio que, pelo caminho, o grau de confiança dos eleitos entre si, no plano inter-institucional, anda pelas ruas da amargura: Sócrates não pode ver Cavaco, este já não suporta aquele. A coisa ficou indisfarçável. No fundo, o povo paga a funcionalização desta democracia para que os seus principais players se odeiem uns aos outros.
 
O discurso da tomada de posse do PR ilustrou esse facto à exaustão, e a sonegação de informação do PM ao PR e oposição das medidas q integram o PEC4, também. Na prática, andam todos a simular falsas realidades uns com os outros, andam todos a jogar às escondidas uns com os outros, andam-se todos a trair, traindo o próprio País, o que é imperdoável relativamente a todo este escol dirigente. Neste momento, teria dificuldade em saber em quem votar, tamanha a simulação, incompetência e incapacidade de dar a volta aos problemas apresentando propostas e alternativas que não agravem ainda mais as já débeis condições de vida dos portugueses.
 
 
De modo que a mentira institucionalizou-se, ela é hoje veloz porque electrónica, massificando a sua mensagem em segundos em todo o mundo. Ela não é mais do que o reflexo duma certa organização racional do trabalho - político e económico - e da divisão do trabalho à escala internacional, segundo a importância relativa que cada nação ocupa nesse contexto. Pequenas nações, por regra, têm de mentir muito para se safar pelos interstícios do poder da Alemanha, França e dos donos actuais da Europa q temos, sem visão, estatuto, poder, influência e autoridade no mundo.
 
Este nosso século, neste 1º quartel do séc. XXI está a ser uma nova era tecnológica da mentira, a qual exige a invenção de formas originais de ilusão política, a fim de manter as promessas feitas para ganhar eleições, e também para tentar concluir aquilo que se iniciou com algum grau de sucesso.
 
Portanto, hoje a mentira está a produzir-se a uma escala sem precedentes, seja por aparelhos políticos e partidários, por iniciativas individuais com efeito político. Quantas vezes Pedro Passos Coelho não entrou já em contradição em matéria de política económica, financeira, social?! Será que ele tem alguma ideia global alternativa para Portugal que não seja aquela que o sr. Voda-voda lhe ventila, na preparação dos estados gerais do psd?! Alguém já viu, porventura, PPCoelho a distinguir-se de Sócrates no conteúdo?
 
No fundo, o que os distingue, se um e outro vão a Bruxelas dizer Yes, we can - ao PEC4?! Tratar-se-á, apenas, duma questão de estilo, já que o conteúdo das opções será equivalente. 
 
Ora, esta situação é preocupante porque em vez de termos apenas uma associação de mentirosos que artesanalmente lá vai vendendo gato por lebre, ao nível dos indicadores micro e macro-económicos da economia nacional, se converteu numa mui profissionalizada e organizada sociedade internacional de embusteiros que têm por finalidade fabricar a mentira a uma escala simultaneamente nacional, comunitária, internacional e global.  E é aqui que nos perdemos profundamente, com a agravante de sermos uma economia nacional demasiado dependente das importações e financiamentos do exterior. Quem hoje acredita no sr. Teixeira dos santos? Quem hoje crê na capacidade de Passos Coelho reequilibrar o país nos próximos anos? Para que serve o PR? - senão para cortar fitas e estourar ao erário público mais, em termos proporcionais, do que a monarquia espanhola gasta no Reino de Espanha?! De resto, cavaco sendo economista e recorrentemente fazendo ius a essa qualidade, o que é que a economia nacional beneficiou através das suas ideias, propostas ou sugestões, no âmbito do seu majistério de influência!?
Vivemos hoje numa espécie de arquipélago da mentira, rodeado por verdades inalcançáveis, tal a desgraça que nos tolheu e fez de nós vítimas dos nossos próprios carrascos, ou seja, daqueles que, paradoxalmente, elegemos para nos representar. Parece que está tudo ao contrário, e as coisas são assim, só porque os homens influentes da nossa polis fizeram uma aposta para determinar que o pior poderia acontecer, e, de facto, está a suceder, mesmo diante dos nossos olhos, sem que nós possamos aliviar a carga desta enorme tensão social, fiscal, económica e "por aí a diante"...  Por conhecer relativamente bem a classe política que temos, a sua formação e motivações, ambição e objectivos no curto, médio e longo prazos, é que lamento pofundamente a infelicidade em que todos caímos - juntamente com aqueles que supostamente deveriam ter sabido reformar o Estado no tempo adequado, e não ter endividado o país massivamente e no pior timing possível, nisso arrastado por uma oposição irresponsável que, animada pela vontade de ir ao "pote do poder", também sucumbiu a esse deslumbre.  
 

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sexta-feira

Registos - por António Vitorino -

Ela aí está, a crise política, em todo o seu esplendor. Tantas vezes anunciada, agora concretizada. Diz-me a experiência que a forma como se gera e gere uma crise tem directa influência... na crise seguinte! Desta feita não será diferente e convém, para memória futura, registar alguns traços desta crise.dn
1.º registo - quando em Setembro de 2009 nenhum partido obteve sozinho a maioria absoluta, teceram-se loas às virtudes da negociação parlamentar e desvalorizou-se o risco da instabilidade governativa. Fui das poucas vozes contra esse entendimento e sempre afirmei que claudicava uma maioria estável no momento em que Portugal mais dela precisaria. Como se vê não adianta ocultar que o nosso sistema partidário perdeu ao longo dos anos capacidade de transacção e de concertação. E não se pense que tal perda se deve apenas a estilos pessoais.
2.º registo - pela segunda vez na nossa democracia, a esquerda parlamentar juntou os votos à direita para derrubar um governo minoritário do PS. Em 1977 Mário Soares respondeu com uma coligação com o CDS. Passados trinta e quatro anos de novo a esquerda parlamentar reedita o mesmo voto. Se, como tudo leva a crer, houver eleições, os resultados destas poderão mesmo esclarecer ainda melhor a função instrumental dessa esquerda parlamentar no nosso sistema político. Um voto de protesto, imprestável para soluções de governo num país inserido na União Europeia, coloca a questão da governabilidade à esquerda e sublinha o desequilíbrio do bipolarismo com manifesto favorecimento do bloco de direita.
3.º registo - de pouco adianta o líder do PSD fazer um comunicado (seja em que língua for) apelando a uma "maioria abrangente", tentando assim corresponder ao crescendo de vozes que preconizam um acordo que envolvesse todos os três partidos do arco da governabilidade (PS/PSD/CDS). Quem verdadeiramente entendesse que esse era o caminho não lhe abriria as portas desta forma, provocando a queda do Governo nas vésperas de uma decisiva cimeira europeia e cavalgando uma "coligação negativa" cujo único propósito era o de afastar o PS do governo da República. A não ser que a intenção fosse a de cortar cerce a possibilidade de um tal entendimento, com receio de que ele viesse a ser comandado... a partir de Belém!
4.º registo - a recusa do PSD em negociar com o Governo suscita as maiores dúvidas. Numa versão benigna pode-se dizer que, entusiasmados com a perspectiva do regresso ao poder, não quiseram "mostrar o jogo" antes de tempo. Mas, a crer na ambiguidade com que se referiram à questão dos "sacrifícios" mais justos impostos aos portugueses, receio bem que do que se trata é de criar a ilusão de que o ajustamento das contas públicas no prazo de dois anos se vá fazer sem que sejam pedidos novos "sacrifícios". Para começo de conversa de campanha eleitoral percebe-se, só que o estado do País não se compagina com a criação de ilusões que depois geram grandes decepções. Mais do que uma campanha de recriminações e culpabilizações mútuas, exige-se uma campanha de clareza nas opções. Infelizmente não me parece que a forma como a crise foi desencadeada pelo PSD aponte nesse sentido. Começa-se assim a perceber já os contornos da crise seguinte...
5.º registo - só nas próximas semanas perceberemos em toda a sua extensão o impacto desta crise política nas condições de financiamento da nossa economia. Como coincidem todos os analistas, eles serão pesados. Talvez convenha ter em atenção que a nossa tradicional propensão para a escolha de "bodes expiatórios" não impressiona nem as instituições europeias nem os mercados financeiros. E que, no final do caminho, ninguém se poderá eximir a comparar o quadro do PEC IV do PS com o "PEC de tipo novo" que será adoptado lá para o Verão, ganhe quem ganhar as prováveis eleições legislativas. É que a continuidade do Estado (e a permanência dos contribuintes) prevalece sobre a sucessão dos governos.
6.º registo - o Presidente da República queixou-se que a rapidez com que a crise se desenvolveu lhe retirou margem de manobra. Registe-se, para efeitos de crises futuras, que em Belém se preferem crises lentas.
Obs: Foi pena, de facto, não se ter apostado na tese defendida aqui por AV, aquando da formação do Gov do PS, na sequência das últimas eleições legislativas. Foi uma tese que no PS não fez carreira, nem o PM, porventura, a teria visto com bons olhos, porque tal implicaria a partilha do poder, e quando se vem dum Gov de maioria absoluta essa situação, até no plano psicológico, oferece muita resistência.
Seja como for, seria útil que o PSD não abrisse mão dos expedientes que tem criticado insistentemente o Gov, mentira e manipulação política, criando as tais ilusões dos números, de certo modo corroborados pelos PECs q se têm sucedido à velocidade da luz contrastando, assim, com as "crises lentas" de Belém.
Para já, o PSD começou mal, recorreu ao aumento de impostos para aplacar o problema nacional, uma má partida para a formulação do seu novo programa de Gov e comunicação do seu ideário à sociedade. O que diminui a confiança no futuro, deprime ainda mais os mercados, que acabam por revelar maior gula nos ataques especulativos às economias nacionais.
Numa palavra, não se pode prometer mais do que se pode realizar, nem violar as leis com as decisões que são tomadas. Portugal bateu no fundo, mas ainda há mais fundo no poço em que estamos metidos, ainda que uns sobrevivam melhor do que outros. Para alguns, poucos, o poço não passa duma piscina.
Quem quer que venha, seria útil fazer urgentemente a dita reforma do Estado. Pouparia uns milhões, libertando recursos essenciais à dinamização da economia.

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terça-feira

Um apelo angustiado

por Mário Soares, dn
1 Há razões para admitir que a próxima Cimeira da União Europeia, que se realizará em Bruxelas, nos dias 24 e 25, quinta e sexta-feira, vai ser decisiva para o futuro da Europa e do euro. A agenda, pelo menos, é indiscutivelmente importante e se for cumprida, como se espera, representará um passo em frente no projecto europeu, há tantos meses paralisado.
Com efeito, para além dos problemas da actualidade, como: a tragédia que vive o Japão e que merece toda a solidariedade internacional possível, depois do sismo e do tsunami que arrasaram cidades inteiras e dos perigos subsequentes, resultantes da proliferação das partículas nucleares, dada a explosão de várias centrais atómicas; e do genocídio intolerável a que tem estado a ser sujeita a população da Líbia, pela acção do ditador Kadhafi e dos seus mercenários, ter sido in extremis parada pela condenação do Conselho de Segurança da ONU e a consequente intervenção aéreo-militar dos Estados Unidos e de alguns países europeus, como a França.
Assim, para além destas - e outras - questões de actualidade, a agenda europeia, da próxima Cimeira de Bruxelas, irá debater: a reforma do Governo Económico da União Europeia; o reforço do pilar euro, mediante a criação de um Pacto sobre o euro; a criação dos mecanismos de estabilidade financeira, com capacidade para valer aos países europeus em crise, como é o caso português e outros; e, finalmente, definir uma estratégia europeia para o crescimento do emprego, sem o que cairão na recessão, criando planos nacionais, para os Estados membros do euro. Temas estes da maior importância para a União, que demonstram que os grandes líderes, como a Alemanha, a França e outros, começam a compreender que alguma coisa tem efectivamente de mudar.
Sabemos que a esmagadora maioria dos Estados da União têm Governos conservadores, alguns ultra-reacionários, com uma cultura neoliberal e economicista. Mas a força da realidade - e da crise, que está longe de ter passado - tem muito peso. Contudo, não há países a querer desertar da Zona Euro. Pelo contrário, alguns Estados, como a Polónia e a Hungria, entre outros, querem integrar-se, quanto antes, na Zona Euro e estão em curso negociações nesse sentido.
Imaginem pois os leitores que é neste momento, tão decisivo para a União - e consequentemente para Portugal -, e depois da reunião polémica que o primeiro-ministro Sócrates teve no dia 12 em Bruxelas, onde realmente conseguiu algumas garantias públicas das instituições europeias e da própria chanceler Merkel, que se desencadeou uma guerrilha partidária à portuguesa, que parece conduzir à queda do Governo e, portanto, a um vazio de poder, por dois ou três meses, precisamente quando o nosso próximo futuro se vai jogar. Com que autoridade, para negociar vantagens para Portugal, se irá apresentar em Bruxelas o primeiro-ministro português? [...]
Obs: Seria interessante que um ex-PR conseguisse sensibilizar o actual PR a demover o maior partido da oposição a assinar o PEC4, para salvar a economia nacional do pior, sem embargo de eleições a prazo. Medite-se, pois, na angústia de um e na esperança que o povo deposita no PR em funções.

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sexta-feira

Tiros nos pés - por António Vitorino -

Mergulhados no turbilhão político caseiro quase nem tivemos ocasião para digerir as conclusões da reunião dos chefes de Estado e de Governo da Zona Euro da passada semana. Reunião essa, contudo, que acabará por ter repercussões na nossa vida colectiva muito para além do desfecho da crise do PEC IV... dn
Em primeiro lugar, importa reconhecer que as decisões tomadas no âmbito europeu foram muito além do que era previsível. Confesso que era dos que pensavam que estas decisões acabariam por fazer o seu caminho, mas apenas no último minuto da última hora do próximo Conselho Europeu de 24 e 25 de Março. No entanto, razões que poderão ser mais bem entendidas à luz das vicissitudes da política interna alemã terão levado a chanceler Merkel a definir um quadro de resposta antecipadamente, quer no respeitante ao denominado pacto de competitividade quer no referente às regras de flexibilização do Fundo Europeu de Estabilização Financeira.
Quanto ao primeiro aspecto, as formulações acolhidas quanto às reformas económicas atinentes ao crescimento, ao emprego e à sustentabilidade dos sistemas de pensões nacionais foram sendo buriladas e acabam por se apresentar como previsivelmente aceitáveis para todos os Estados membros da União, sejam ou não membros da Zona Euro.
Já quanto à flexibilização do Fundo de Estabilização, os resultados vão muito para além do que seria expectável. Isto quer à luz das declarações públicas feitas ao longo de várias semanas por altos responsáveis alemães quer em função do que se sabe ser uma reacção negativa da opinião pública alemã em relação ao apoio a dispensar aos países da Zona Euro em situação particularmente exposta à pressão dos mercados internacionais.
As novas características deste Fundo (aumento da dotação efectivamente mobilizável, taxas de juro de referência, possibilidade de compra directa de dívida soberana no mercado primário, prazo de reembolso) justificam plenamente aqueles que sempre disseram que o recurso ao modelo anterior não só não resolvia os problemas de fundo dos países sobreendividados (excepto a garantia de estabilidade no financiamento) como inclusive os agravaria, gerando uma espiral perversa da qual os países não se libertariam tão cedo. A Grécia já manifestou o seu interesse nestas novas condições, a Irlanda está confrontada com o dilema de as aceitar cedendo no seu sistema de taxação das empresas como parte da condicionalidade exigida pelos seus parceiros europeus.
A nova configuração do Fundo faculta, pois, aos países que, no futuro, se vejam confrontados com necessidades de financiamento em relação às quais os mercados imponham condições punitivas ou desproporcionadas, um mecanismo de resposta e de contrapressão em relação aos mercados que assinala uma diferença qualitativa em relação ao cenário antecedente. Os termos em que, entre nós, esta questão tem sido equacionada no debate público não podem ignorar esta mudança significativa.
Resta saber se este novo modelo do Fundo, conjugado com o pacto de competitividade e com as regras de coordenação dos orçamentos nacionais, será suficiente para garantir a sustentabilidade do euro no seu conjunto, pondo termo à pressão dos mercados e ao efeito de contágio que se tem gerado desde a crise grega em Maio do ano passado.
O que me parece evidente é que este novo quadro europeu constitui uma janela de oportunidade para Portugal, quadro esse que há uma semana não estava nem de perto nem de longe garantido e que hoje nos abre uma via de saída. Se, em virtude das vicissitudes da nossa política interna, não a soubermos aproveitar, só nos poderemos queixar de nós próprios. Uma crise política que enfraqueça a capacidade negocial portuguesa neste momento crucial tem efeitos que não se apagam no curto prazo e apresentará uma factura (ainda mais) pesada aos portugueses nos anos que se seguem.
Convém não esquecer que as organizações internacionais e os mercados não se relacionam com concretos governos mas sim com Estados. Ora, por muito emocionantes que sejam as picardias da nossa vida política e por muito sensíveis e calculistas que sejam os seus protagonistas, é todo um povo que estará presente na hora de prestar contas. E os tiros nos pés pagam-se caros!
Obs: Com o dr. Soares a reclamar eleições antecipadas, com o Portugal-profundo a manifestar-se nas ruas contra o Gov, com o principal líder da oposição a ser inflexível e desejar eleições antecipadas, Sócrates foi hoje ao Parlamento vencer mais um debate. E até deixou mais uma promessa: as pensões irão aumentar, ainda que ligeiramente. Claro que foi a intervenção de Francisco Assis, em boa medida, quem salvou o debate, orientado-o para o combate político puro e duro, ao chamar à colação os métodos e procedimentos do Gov durão & Portas, em 2004, ao preparar em Bruxelas os referidos pacotes de austeridade para a economia portuguesa. Só o tempo nos dirá como iremos todos pagar esses tiros nos pés, havendo, contudo, quem já não tenha pés, ande com os cotovelos.

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Sócrates acusa BE de ser "muleta da direita"

José Sócrates acusou o Bloco de Esquerda de se preparar para ser "a muleta da direita" na crise política e de empurrar o País para o FMI. dn
"Esta crise política é uma escolha da direita. A direita olha para esta crise como uma oportunidade. O Bloco está sempre do lado dos que querem deitar o governo abaixo."
Francisco Louçã afirmou que o Governo está a fazer o trabalho do FMI.
"O senhor primeiro-ministro esqueceu-se de dizer que o FMI também quer o congelamento das pensões e os cortes dos salários..."
O coordenador do Bloco perguntou, mas não obteve resposta, sobre os 150 milhões de euros que o Estado vai pagar à Mota Engil por renegociação de uma PPP.
O BE apresentou há uma semana uma moção de censura contra o Governo, mas a proposta foi inviabilizada com a abstenção da direita.
Obs: Tenho a leve sensação de que Sócrates, apesar de ter o Portugal-profundo contra si e contra o seu Gov, ganhou mais um debate parlamentar. Em boa medida, ajudado por Francisco Assis - aduzindo argumentos de liderança interna ao PSD para explicar por que motivo Passos está duro e inflexível e quer ir a eleições. Também isto é fascinante na vida pública em Portugal, pena é que custe milhões a todos nós, e entrave o efectivo desenvolvimento do país.

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terça-feira

Triste Europa - por Mário Soares - dn -

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1. Para quem há mais de cinquenta anos, como eu, é um europeísta convicto, a situação de decadência anunciada da União Europeia, sem valores - incluindo os comunitários, como a unidade, a solidariedade e a igualdade de todos os Estados membros -, representa uma imensa tristeza. Para além da falta de uma resposta concertada e conjunta à crise financeira e económica, as "receitas" propostas que corroem alguns dos Estados membros e a manifesta paralisia em matéria político-diplomática.
Vem-me agora à memória, com alguma frequência, a célebre frase do grande Alexandre Herculano, quando, numa fase quase final da sua vida, comentava a situação portuguesa, aos seus amigos, exclamando: "Isto dá-me vontade de morrer...
Não é, obviamente, o meu caso, considerado optimista. Tento reagir, com realismo, como é meu dever, com a maior isenção e preocupado acima de tudo com o nosso país. Mas não é fácil, dado o clima de incerteza quanto ao futuro da União, a sobranceria do Governo alemão, que parece querer "germanizar" a Europa, e o facto de não haver comparação possível entre a generalidade dos grandes líderes europeus do passado e o egoísmo nacionalista dos de hoje.
A União Europeia - note-se - nesta fase é profundamente conservadora. Basta lembrar que entre os 27 Estados membros que a integram só três se reclamam do socialismo democrático ou da social-democracia e, mesmo assim, com poucas convicções.
Ora o mundo está em grandes transformações, em todos os continentes. É uma evidência. A Internet e os novos meios informáticos - como a "primavera árabe" está a demonstrar - põem nas mãos dos cidadãos instrumentos de comunicação que lhes permitem formas, quase imediatas, de intercâmbio de ideias e de actuação que, no passado, levavam anos ou meses a amadurecer. [...]
Obs: Talvez seja melhor não desenvolver mais o psicodrama, os portugueses já compreenderam como estamos, e, mais grave, como chegámos até aqui. Tenho pena que a gestão da coisa pública tenha chegado a este estado comatoso, em boa medida, por causa de políticas públicas erradas e uma incapacidade congénita em reformar o Estado, amplificador de grandes males ao nível da despesa pública. Ainda acreditei em algumas dessas reformas, sobretudo no início do mandato, em que o ímpeto reformador era intenso e determinado, mas hoje a opção defendida pelo articulista e ex-PR - parece ser a via mais plausível para balanciar Portugal e encontrar um novo rumo para o país. Não vale a pena fingir, aprendemos com o poeta que isso só nos leva ao engano, e foi de engano em engano que batemos no fundo.

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sexta-feira

Governo, oposição e PR: o signo da conspiração

Talvez seja últil colocar em perspectiva o que hoje Gov, oposição e PR pensam uns dos outros. Ou melhor, o que cada um terá de fazer para melhor se aperceber e assumir o que o(s) outro(s) conspiram contra si e as suas posições. É óbvio que aqui as maiores pressões recaem sobre os ombros do Gov: manifs à porta, indicadores micro e macro-económicos lamentáveis (com algumas excepções nas exportações, mas que nenhum impacto imediato têm no emprego, no consumo e no take-of económico global do país), a dívida soberana, as elevadas taxas de juro e o mais que nos asfixia.
Ontem, o PR fez a ruptura na sua tomada de posse, foi um discurso que, confesso, saíu fora do molde, quase incitou a populaça às ruas e ao levantamento popular. Cavaco fez o que fez porque tem uma legitimidade política fresca, renovada e foi a agulha que rebentou alguns balões de O2 que o Gov vende aos portugueses.
Assim, o Gov tem dois graves problemas: a oposição - que está "quase" coligada negativamente entre si para o mandar abaixo, e um PR que já deixou de ser árbitro e passou a ser um player que também quer jogar e interferir directamente na manipulação dos dados da equação do poder com o fito de acelerar, ou antecipar, a queda do Gov em funções. Disso não restam dúvidas. O 3º problema do Gov é o país real - que escapando a estes jogos florentinos acusa na pele todas as suas desvantagens e penalizações fiscais e outras que tais no esbulho à classe média que Portugal tem visto nos últimos tempos.
Portanto, temos já um Gov que se sente vigiado pela oposição e por um PR ávido em sangue e a potenciar o poder da rua, aumentando, desse modo, a contestação social para enfraquecer as posições do Gov. É aqui que Cavaco deixa de ser imparcial e equidistante, como deveria, e no preciso momento em que jurava a CRP na sua tomada de posse na AR - estava, acto contínuo, a violar o seu próprio juramento. É um pouco como em alguns casamentos, em que marido e mulher juram fidelidade para sempre, mas no day after violam esse pacto.
Perante isto o Gov fica mais acossado, e tende, como 1ª medida, a vigiar aquele grupo de pessoas que o ajudou a chegar ao poder. Pois todos os seus cúmplices são agora seus rivais. Daí o Gov querer ter bem perto de si esses colaboradores - para - precisamente - se certificar que terão escasso espaço de manobra em caso de quererem sabotar algumas medidas do Gov.
A oposição, liderada formalmente por PPCoelho do PSD, embora na prática seja Louçã do BE quem assume maior protagonismo e audição social, pretende resgatar para si a glória pBlockquoteerdida, a qualquer preço. Sendo certo que, doravante, esta oposição (especialmente, a do psd) terá em cavaco uma caixa de ressonância ideal para, com ele, ecoar a contestação ao Gov. Seja nos circuitos formais internos do poder, seja ainda nas ruas e avenidas do Portugal-profundo por onde perpassarão boa parte das manifs, greves e tomadas de posição de sindicatos e movimentos sociais e pessoas descontentes com o rumo que o país assumiu.
Interessante será acompanhar o posicionamento da alta finança - que patrocinou o poder, e, hoje, alguma dela, já começou a sponsorizar o PSD nessa caminhada lenta para S. Bento.
Nestas coisas, é sempre útil recordar as lições da história, e aqui cabe uma evocação, ainda que contranatura, de Napoleão Bonaparte quando pensou bem ao arranjar empregos a muitos dos seus familiares. Fez do seu irmão mais velho, José, rei de Nápoles, e arranjou trabalho para a maioria dos seus outros irmãos.
Naturalmente, isto é uma prática "alheia" aos partidos políticos em Portugal, talvez seja por isso que os institutos públicos, o imenso sector empresarial do Estado - representem uma das maiores ervas daninhas dos gastos superflúos que o Estado esbanja, e isso também terá de acabar. Em nome da racionalidade da despesa pública e da boa governação.
Mas como os inimigos da democracia estão por toda a parte, e estão bem instalados nesses organismos dependentes do Estado, e de lá não querem sair sob pena de perderem privilégios que jamais teriam noutro sítio qualquer, as reformas são tão difíceis e penosas de executar pelas resistências que oferecem. Ainda que as promessas sociais com base nas quais os partidos são eleitos para o poder sejam imensas. E isso tanto ocorre com o PS como com o PSD no poder, aqui a misficação, com o fito de capturar o poder, sempre foi convergente.
Por essas razões de ordem política e de natureza psicológica, o Gov já não governa, a oposição não concebe alternativas credíveis ao Gov, e o PR - obsecado com a destituição do Gov em funções - tudo fará para que a sua bandeira da cooperação estratégica/activa seja sinónimo de corrosão da actividade governativa, sabotando as suas medidas coadjuvando o poder da rua a fazer o resto do "trabalho sujo". Cavaco é assim... Enquanto PM era uma coisa, como PR é outra diametralmente oposta, o que diz bem da natureza da sua personalidade.
Voilá, o esprit de conspiração de les uns et les autres a atravessar a sociedade política portuguesa no seu pior.
Assim, é o país que perde no seu conjunto.

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terça-feira

A Nova Revolução Global - via Facebook -

Está em curso uma nova revolução global, mas que não tem um programa específico e comum a todos os seus proponentes, cidadãos que actualmente organizam boa parte da sua vida "onlive", ou seja, de forma virtual e em interacção com o mundo de carne e osso que nos embrulha a todos. Quero crer, por outro lado, que, consoante os países e os níveis de desenvolvimento social e económico no interior de cada sociedade, se vai racionalizando o capital de queixa entre os diversos segmentos da população - que comunica entre as suas aspirações, objectivos e, naturalmente, frustrações pelo país que têm e pelas escassas oportunidades de vida com que se deparam.
A escapatória, embora já sem o sucesso de outros tempos, reside na emigração - que sempre foi um processo mais ou menos doloroso, consoante as pessoas e as amarras familiares que deixaram no país de origem.
Seja como for, o agendamento destas manifestações simultâneas a terem lugar em inúmeros países, revela que há, pelo menos, um entendimento convergente quanto à frustração que tolda caminhos e destinos, bloqueia a saída de milhares e milhares de jovens que não conseguem arranjar um emprego, desenhar um projecto de vida, assumir um desígnio. Esses bloqueios múltiplos obrigam-nos a ficar em casa dos pais até idade tardia, a economia ressente-se, a taxa de natalidade também, e assim toda uma economia nacional começa a ficar adiada pela ausência estrutural de respostas e de saídas para várias gerações que, assim, fica pendurada num Estado que também não se consegue modernizar, racionalizar, encurtar a fim de libertar recursos para criar incentivos para a actividade económica privada, que é quem, de facto, gera riqueza.
Neste quadro, as novas tecnologias de comunicação e informação são ao mesmo tempo espaços de informação e de pedagogia e são públicos a dois níveis: por um lado, alargam o campo de possibilidades da transcendência da linguagem e das atitudes a desenvolver posteriormente, pelo que os discursos produzidos no FB, blogues, chats, fanfic e em outros debates online e redes de interesses - não cumprem as regras formais da linguagem e da escrita formal que aprendemos nas escolas; por outro, esta pequena transgressão da comunicação que perpassa os media digitais, permite aos jovens (e não só) reclamar para si a autoria das suas próprias palavras, conceitos e cosmovisões, dado ser através dessa nova linguagem que podem reconstruir a sua personalidade, o seu papel na sociedade, recuperando também a sua identidade histórica e cultural numa sociedade e num país que consideram ser castrador para todas essas perspectivas e legítimas aspirações de vida.
Neste domínio, é óbvio que estes factos têm leituras políticas assinaláveis, e tendem a virar-se contra quem está no poder e não pode - ou não tem sabido - estruturar as melhores políticas públicas para dar resposta a problemas básicos da nossa economia nacional.
Deve ser este tipo de sentimentos que convergiram entre si unindo milhões de pessoas, e que estão na origem desta manifestação pacífica global organizada em boa medida pelo Facebook e outros meios de comunicação capazes de racionalizar o descontentamento e, ao mesmo tempo, permitir veicular um conjunto de propostas que os poderes públicos, nos diversos países, deverão saber ouvir e passar a agir em conformidade.

Desconheço, a esta curta distância, se esta iniciativa global irá produzir alguns efeitos sociais no interior de cada espaço social afectado por aqueles problemas socioeconómicos, mas admito que este conjunto múltiplo de prostestos, até com motivações algo diversos entre si, possa gerar uma nova cultura cívica e política na esfera global (potenciada pela virtualidade dos meios disponíveis) que ajudem a estruturar novos debates nacionais e transnacionais acerca do futuro da organização da sociedade e da economia, e até no plano ético, de modo a promover actividades e políticas públicas que possam ir ao encontro dessas legítimas expectativas.

Todavia, seria ingénuo supor que que a tecnologia é emancipatória, ou que os jovens (e não só!!) empenhados na dinamização deste encontro global de visões altere substancialmente o estado da arte que hoje vivemos.

Assim sendo, aquilo que consigo antever deste mega-evento, é que uma nova produção de texto, de linguagem, enfim, de comunicação começou a interagir no seio dos espaços virtuais, e por essa cultura virtual estar enraizada entre os mais jovens - esse capital cultural começa também a querer interferir com a própria realidade socioeconómica a fim de lhes propiciar mais oportunidades e melhor qualidade de vida.

Em rigor, e se isto tem algum fundamento, a interacção desses espaços sociais/virtuais, que surgem cada vez mais justapostos, pode significar que essa forma de auto-expressão, ao mesmo tempo individual e colectiva, representa um enorme espaço de potencial político - a que a política e os políticos tradicionais têm de saber responder, sob pena de também eles perderem o seu próprio "comboio" e o "comboio da história".

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