Sociedade da mentira institucionalizada
Não há hoje na vida pública nacional aspecto que não esteja a coberto da mentira - e das suas variantes - omissões, desvios, subterfúgios, nuances, dissimulações, simulações. A oposição ataca o Governo sem projecto, induzindo os portugueses em erros e ilusões que se podem revelar fatais; o Gov tem, ele próprio, errado nas previsões, omitido dados, desvirtuado, no fundo, a confiança que os eleitores depositaram nos eleitos. É óbvio que, pelo caminho, o grau de confiança dos eleitos entre si, no plano inter-institucional, anda pelas ruas da amargura: Sócrates não pode ver Cavaco, este já não suporta aquele. A coisa ficou indisfarçável. No fundo, o povo paga a funcionalização desta democracia para que os seus principais players se odeiem uns aos outros.
O discurso da tomada de posse do PR ilustrou esse facto à exaustão, e a sonegação de informação do PM ao PR e oposição das medidas q integram o PEC4, também. Na prática, andam todos a simular falsas realidades uns com os outros, andam todos a jogar às escondidas uns com os outros, andam-se todos a trair, traindo o próprio País, o que é imperdoável relativamente a todo este escol dirigente. Neste momento, teria dificuldade em saber em quem votar, tamanha a simulação, incompetência e incapacidade de dar a volta aos problemas apresentando propostas e alternativas que não agravem ainda mais as já débeis condições de vida dos portugueses.
De modo que a mentira institucionalizou-se, ela é hoje veloz porque electrónica, massificando a sua mensagem em segundos em todo o mundo. Ela não é mais do que o reflexo duma certa organização racional do trabalho - político e económico - e da divisão do trabalho à escala internacional, segundo a importância relativa que cada nação ocupa nesse contexto. Pequenas nações, por regra, têm de mentir muito para se safar pelos interstícios do poder da Alemanha, França e dos donos actuais da Europa q temos, sem visão, estatuto, poder, influência e autoridade no mundo.
Este nosso século, neste 1º quartel do séc. XXI está a ser uma nova era tecnológica da mentira, a qual exige a invenção de formas originais de ilusão política, a fim de manter as promessas feitas para ganhar eleições, e também para tentar concluir aquilo que se iniciou com algum grau de sucesso.
Portanto, hoje a mentira está a produzir-se a uma escala sem precedentes, seja por aparelhos políticos e partidários, por iniciativas individuais com efeito político. Quantas vezes Pedro Passos Coelho não entrou já em contradição em matéria de política económica, financeira, social?! Será que ele tem alguma ideia global alternativa para Portugal que não seja aquela que o sr. Voda-voda lhe ventila, na preparação dos estados gerais do psd?! Alguém já viu, porventura, PPCoelho a distinguir-se de Sócrates no conteúdo?
No fundo, o que os distingue, se um e outro vão a Bruxelas dizer Yes, we can - ao PEC4?! Tratar-se-á, apenas, duma questão de estilo, já que o conteúdo das opções será equivalente.
Ora, esta situação é preocupante porque em vez de termos apenas uma associação de mentirosos que artesanalmente lá vai vendendo gato por lebre, ao nível dos indicadores micro e macro-económicos da economia nacional, se converteu numa mui profissionalizada e organizada sociedade internacional de embusteiros que têm por finalidade fabricar a mentira a uma escala simultaneamente nacional, comunitária, internacional e global.
E é aqui que nos perdemos profundamente, com a agravante de sermos uma economia nacional demasiado dependente das importações e financiamentos do exterior. Quem hoje acredita no sr. Teixeira dos santos? Quem hoje crê na capacidade de Passos Coelho reequilibrar o país nos próximos anos? Para que serve o PR? - senão para cortar fitas e estourar ao erário público mais, em termos proporcionais, do que a monarquia espanhola gasta no Reino de Espanha?! De resto, cavaco sendo economista e recorrentemente fazendo ius a essa qualidade, o que é que a economia nacional beneficiou através das suas ideias, propostas ou sugestões, no âmbito do seu majistério de influência!?
Vivemos hoje numa espécie de arquipélago da mentira, rodeado por verdades inalcançáveis, tal a desgraça que nos tolheu e fez de nós vítimas dos nossos próprios carrascos, ou seja, daqueles que, paradoxalmente, elegemos para nos representar. Parece que está tudo ao contrário, e as coisas são assim, só porque os homens influentes da nossa polis fizeram uma aposta para determinar que o pior poderia acontecer, e, de facto, está a suceder, mesmo diante dos nossos olhos, sem que nós possamos aliviar a carga desta enorme tensão social, fiscal, económica e "por aí a diante"...
Por conhecer relativamente bem a classe política que temos, a sua formação e motivações, ambição e objectivos no curto, médio e longo prazos, é que lamento pofundamente a infelicidade em que todos caímos - juntamente com aqueles que supostamente deveriam ter sabido reformar o Estado no tempo adequado, e não ter endividado o país massivamente e no pior timing possível, nisso arrastado por uma oposição irresponsável que, animada pela vontade de ir ao "pote do poder", também sucumbiu a esse deslumbre.
Etiquetas: Sociedade da mentira institucionalizada
<< Home