sexta-feira

Governo, oposição e PR: o signo da conspiração

Talvez seja últil colocar em perspectiva o que hoje Gov, oposição e PR pensam uns dos outros. Ou melhor, o que cada um terá de fazer para melhor se aperceber e assumir o que o(s) outro(s) conspiram contra si e as suas posições. É óbvio que aqui as maiores pressões recaem sobre os ombros do Gov: manifs à porta, indicadores micro e macro-económicos lamentáveis (com algumas excepções nas exportações, mas que nenhum impacto imediato têm no emprego, no consumo e no take-of económico global do país), a dívida soberana, as elevadas taxas de juro e o mais que nos asfixia.
Ontem, o PR fez a ruptura na sua tomada de posse, foi um discurso que, confesso, saíu fora do molde, quase incitou a populaça às ruas e ao levantamento popular. Cavaco fez o que fez porque tem uma legitimidade política fresca, renovada e foi a agulha que rebentou alguns balões de O2 que o Gov vende aos portugueses.
Assim, o Gov tem dois graves problemas: a oposição - que está "quase" coligada negativamente entre si para o mandar abaixo, e um PR que já deixou de ser árbitro e passou a ser um player que também quer jogar e interferir directamente na manipulação dos dados da equação do poder com o fito de acelerar, ou antecipar, a queda do Gov em funções. Disso não restam dúvidas. O 3º problema do Gov é o país real - que escapando a estes jogos florentinos acusa na pele todas as suas desvantagens e penalizações fiscais e outras que tais no esbulho à classe média que Portugal tem visto nos últimos tempos.
Portanto, temos já um Gov que se sente vigiado pela oposição e por um PR ávido em sangue e a potenciar o poder da rua, aumentando, desse modo, a contestação social para enfraquecer as posições do Gov. É aqui que Cavaco deixa de ser imparcial e equidistante, como deveria, e no preciso momento em que jurava a CRP na sua tomada de posse na AR - estava, acto contínuo, a violar o seu próprio juramento. É um pouco como em alguns casamentos, em que marido e mulher juram fidelidade para sempre, mas no day after violam esse pacto.
Perante isto o Gov fica mais acossado, e tende, como 1ª medida, a vigiar aquele grupo de pessoas que o ajudou a chegar ao poder. Pois todos os seus cúmplices são agora seus rivais. Daí o Gov querer ter bem perto de si esses colaboradores - para - precisamente - se certificar que terão escasso espaço de manobra em caso de quererem sabotar algumas medidas do Gov.
A oposição, liderada formalmente por PPCoelho do PSD, embora na prática seja Louçã do BE quem assume maior protagonismo e audição social, pretende resgatar para si a glória pBlockquoteerdida, a qualquer preço. Sendo certo que, doravante, esta oposição (especialmente, a do psd) terá em cavaco uma caixa de ressonância ideal para, com ele, ecoar a contestação ao Gov. Seja nos circuitos formais internos do poder, seja ainda nas ruas e avenidas do Portugal-profundo por onde perpassarão boa parte das manifs, greves e tomadas de posição de sindicatos e movimentos sociais e pessoas descontentes com o rumo que o país assumiu.
Interessante será acompanhar o posicionamento da alta finança - que patrocinou o poder, e, hoje, alguma dela, já começou a sponsorizar o PSD nessa caminhada lenta para S. Bento.
Nestas coisas, é sempre útil recordar as lições da história, e aqui cabe uma evocação, ainda que contranatura, de Napoleão Bonaparte quando pensou bem ao arranjar empregos a muitos dos seus familiares. Fez do seu irmão mais velho, José, rei de Nápoles, e arranjou trabalho para a maioria dos seus outros irmãos.
Naturalmente, isto é uma prática "alheia" aos partidos políticos em Portugal, talvez seja por isso que os institutos públicos, o imenso sector empresarial do Estado - representem uma das maiores ervas daninhas dos gastos superflúos que o Estado esbanja, e isso também terá de acabar. Em nome da racionalidade da despesa pública e da boa governação.
Mas como os inimigos da democracia estão por toda a parte, e estão bem instalados nesses organismos dependentes do Estado, e de lá não querem sair sob pena de perderem privilégios que jamais teriam noutro sítio qualquer, as reformas são tão difíceis e penosas de executar pelas resistências que oferecem. Ainda que as promessas sociais com base nas quais os partidos são eleitos para o poder sejam imensas. E isso tanto ocorre com o PS como com o PSD no poder, aqui a misficação, com o fito de capturar o poder, sempre foi convergente.
Por essas razões de ordem política e de natureza psicológica, o Gov já não governa, a oposição não concebe alternativas credíveis ao Gov, e o PR - obsecado com a destituição do Gov em funções - tudo fará para que a sua bandeira da cooperação estratégica/activa seja sinónimo de corrosão da actividade governativa, sabotando as suas medidas coadjuvando o poder da rua a fazer o resto do "trabalho sujo". Cavaco é assim... Enquanto PM era uma coisa, como PR é outra diametralmente oposta, o que diz bem da natureza da sua personalidade.
Voilá, o esprit de conspiração de les uns et les autres a atravessar a sociedade política portuguesa no seu pior.
Assim, é o país que perde no seu conjunto.

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