O paroxismo politico agoni(z)ante a que chegámos
O CDS, coitado, quer o que sempre quis: as migalhas do poder, resultante duma coligação pós-eleitoral com o partido-âncora, o PSD que, caso seja poder, lhe dará uma ou duas pastas, talvez os Negócios Estrangeiros e a Agricultura, e se o PSD o quiser entalar, atribui-lhe - não o Ministério do Mar, mas o Trabalho e a Solidariedade Social - em que passará a responder pelo desemprego desonerando, assim, o PSD desse fardo num futuro governo de coligação de centro-direita em Portugal.
Na prática, e aqui reside o paroxismo do momento político nacional, foi a jogada tática do BE ontem no Parlamento, que veio desarticular a linearidade política em que o Gov há muito já vegetava. Cada vez mais contestado nas ruas, nas corporações e na sociedade em geral, o PS ficou, doravante, refém deste grupelho trotskista com representação na AR; o PSD ainda ficou mais fragmentado, sendo rebocado por um grupelho; o CDS olha para Oeste e Este, meio perdido em toda esta cacofonia, tentando perceber de que lado pode comer mais migalhas do Estado. E o PCP do dançarino dos Alunos de Apólo, o camarada torneiro-mecânico, Jerónimo de Sousa, roi-se de inveja porque o BE, afinal, num lance de pura antecipação, lhe impediu de ter o brilho de apresentar essa desejada moção de censura ao Gov - tudo paralisando.
Em toda esta ópera-bufa, não deixa de ser curioso que foi o principal promotor da campanha do poeta Alegre a Belém, também apoiado pelo PS, que agora quer enterrar vivo o partido de Manuel Alegre, sendo que nem os bons ofícios deste podem fazer algo pela sobrevivência de Sócrates à frente do PS. De resto, é também um desejo antigo do poeta Alegre ver Sócrates corrido dfa liderança, para que o partido do Largo do rata, regresse à sua matriz fundadora e histórica.
Neste quadro de turbulência política, e já com o PSD dividido, só vejo uma escapatória airosa para esta equação: o PSD demarcar-se da moção de censura do BE, alertando para os imensos custos económicos para o país, seja no plano social, seja ainda no plano das taxas de juro. Se assim não for, o PSD perderá duas coissas essenciais à sua futura credibilidade: por um lado, a capacidade de marcar a agenda política, designadamente em matéria eleitoral; por outro lado, será amalgado no caldeirão reaccionário imposto pela agenda (política) terrorista do BE que, não tendo nenhum projecto para Portugal nem vocação para a governação, ficará, para sempre, selado ao partido mais radical do sistema político nacional.
Perante isto, cavaco - "moita carrasco": nada diz, deixando o Gov a ser queimado em lume brando no caldeirão de Louçã, o PSD a acertar agulhas, o cds a fazer continhas de cabeça para saber com quem ganhará mais em futuras coligações, e, ele, Cavaco e dona Maria, sentados na poltrona de Belém dando gargalhadas infinitas - que se ouvem na Coelheira - em resultado deste paroxismo político, tornando o "elefante" refém do "ratinho-parlamentar" que é o BE. Se calhar é a isto que Belém chama de "estabilidade política" ou de cooperação estratégica ou actuante, ou coisa que o valha... Numa palavra: Portugal entrou no mais puro delírio. E se assim é, alguém terá de pagar a conta do psiquiatra que, somada à que já pagamos, se soma uma factura bem mais pesada.
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