sexta-feira

O paroxismo politico agoni(z)ante a que chegámos

O momento político que o país vive, com Cavaco reeleito PR e a servir de contraponto a um Gov frágil e com cada vez menos legitimidade popular, e o espectro partidário ao rubro, é, deveras, paradoxal, problemático, agoni(z)ante e até mesmo ridículo.
Será um drama que poderá culminar em tragédia, apesar de estarmos diante duma ópera-bufa.
Equacionemos algumas metáforas de lana-caprina desta nossa conjuntura: o PS converteu-se naquele médio elefante acometido duma terrível paralisia: governa sem governar, embora disponha duma maioria relativa no Parlamento que só serve para adiar alguns problemas, apesar do seu esforço em alavancar alguns indicadores micro e macro-económicos.
O PSD quer, naturalmente, ser poder o quanto antes, mas ainda nem sequer sabe que posição vai tomar na "ameaça de crime" do BE, o grupelho mais reaccionário do sistema político nacional, que ora disputa com o velhinho PCP a conquista de mais um ou dois deputados. E o futuro do PM de Portugal, por ridículo que pareça, repousa nas mãos da ameaça de Anacleto louçã, por um lado, e na esquizofrenia e bipolaridade do PSD, por outro - que há muito está esfrangalhado na sua direcção política, especialmente porque, em rigor, PPCoelho não faz a mínima ideia do que é governar e ter uma ideia politica alternativa para Portugal, ainda que passe uma imagem de boa telegenia nos media.
O CDS, coitado, quer o que sempre quis: as migalhas do poder, resultante duma coligação pós-eleitoral com o partido-âncora, o PSD que, caso seja poder, lhe dará uma ou duas pastas, talvez os Negócios Estrangeiros e a Agricultura, e se o PSD o quiser entalar, atribui-lhe - não o Ministério do Mar, mas o Trabalho e a Solidariedade Social - em que passará a responder pelo desemprego desonerando, assim, o PSD desse fardo num futuro governo de coligação de centro-direita em Portugal.
Na prática, e aqui reside o paroxismo do momento político nacional, foi a jogada tática do BE ontem no Parlamento, que veio desarticular a linearidade política em que o Gov há muito já vegetava. Cada vez mais contestado nas ruas, nas corporações e na sociedade em geral, o PS ficou, doravante, refém deste grupelho trotskista com representação na AR; o PSD ainda ficou mais fragmentado, sendo rebocado por um grupelho; o CDS olha para Oeste e Este, meio perdido em toda esta cacofonia, tentando perceber de que lado pode comer mais migalhas do Estado. E o PCP do dançarino dos Alunos de Apólo, o camarada torneiro-mecânico, Jerónimo de Sousa, roi-se de inveja porque o BE, afinal, num lance de pura antecipação, lhe impediu de ter o brilho de apresentar essa desejada moção de censura ao Gov - tudo paralisando.
Em toda esta ópera-bufa, não deixa de ser curioso que foi o principal promotor da campanha do poeta Alegre a Belém, também apoiado pelo PS, que agora quer enterrar vivo o partido de Manuel Alegre, sendo que nem os bons ofícios deste podem fazer algo pela sobrevivência de Sócrates à frente do PS. De resto, é também um desejo antigo do poeta Alegre ver Sócrates corrido dfa liderança, para que o partido do Largo do rata, regresse à sua matriz fundadora e histórica.
Neste quadro de turbulência política, e já com o PSD dividido, só vejo uma escapatória airosa para esta equação: o PSD demarcar-se da moção de censura do BE, alertando para os imensos custos económicos para o país, seja no plano social, seja ainda no plano das taxas de juro.
Se assim não for, o PSD perderá duas coissas essenciais à sua futura credibilidade: por um lado, a capacidade de marcar a agenda política, designadamente em matéria eleitoral; por outro lado, será amalgado no caldeirão reaccionário imposto pela agenda (política) terrorista do BE que, não tendo nenhum projecto para Portugal nem vocação para a governação, ficará, para sempre, selado ao partido mais radical do sistema político nacional. Perante isto, cavaco - "moita carrasco": nada diz, deixando o Gov a ser queimado em lume brando no caldeirão de Louçã, o PSD a acertar agulhas, o cds a fazer continhas de cabeça para saber com quem ganhará mais em futuras coligações, e, ele, Cavaco e dona Maria, sentados na poltrona de Belém dando gargalhadas infinitas - que se ouvem na Coelheira - em resultado deste paroxismo político, tornando o "elefante" refém do "ratinho-parlamentar" que é o BE.
Se calhar é a isto que Belém chama de "estabilidade política" ou de cooperação estratégica ou actuante, ou coisa que o valha...
Numa palavra: Portugal entrou no mais puro delírio. E se assim é, alguém terá de pagar a conta do psiquiatra que, somada à que já pagamos, se soma uma factura bem mais pesada.

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