quinta-feira

Um Homem na cidade.

Ao conhecer a história abaixo, da senhora abandonada que ficou refém da sua própria solidão apenas acordada pela alarvidade crónica e gulosa do fisco, ao cabo de quase uma década em que já não respondia, a campainha do alarme acorda-me com a melodia de CC. Ainda que aletra não tenha uma correspondência com aquele triste facto. Também aqui constatamos em quem nos transformámos: em teoria, somos homens de bem e solidários, na prática somos uns sacanas. O fosso entre estes dois mundos revela, em boa media, quem hoje somos. Com o espelho a devolver-nos uma imagem terrível acerca da nossa identidade colectiva, pautada pelo indiferentismo e desprezo pelo outro, especialmente se não lucrarmos nada com ele. Foi o caso. A velhinha não era rica nem terá deixado testamento. Morreu só. Resta-nos fazer a síntese e ouvir novamente C. do Carmo, numa vã esperança de conseguirmos esquecer estes desastres, estas cicatrizes profundas, que também passam a ser nossas.

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