sexta-feira

Modelo Cultural Islâmico (Ocidental e Oriental)

O rastilho da Tunísia rapidamente chegou ao Egipto, deixando aquelas sociedades em estado de sítio, que hoje pugnam por uma alteração geral de circunstâncias, o que implica o abandono do poder por parte daquele que responsabilizam pela ausência de democracia, de liberdade e de desenvolvimento no Egipto.
E quando o povo se cansa, sabemos quais são os resultados: ou os processos políticos seguem por via pacífica, negociada ou, à contrário, a via armada tem lugar, e a guerra civil é tantas vezes a escapatória possível para identificar uma nova ordem política. É esse o desafio que hoje se coloca ao Egipto, o maior país do Norte d´Africa e um dos maiores de todo esse velho continente africano, muito esquecido, seja pelo Ocidente, seja pelas elites autóctones que desejam que tudo fique na mesma para que a corrupção e o nepotismo possam continuar a governar aqueles territórios ricos em recursos, mas de gente pobre e privada de direitos.
Neste caldo político e de cultura altamente problemática, fazemos aqui a apresentação sumária dos três modelos culturais em competição: o modelo cultural Ocidental, o modelo cultural Oriental e, claro, o modelo cultural Islâmico.
O modelo Ocidental, o nosso, faz uma distinção entre o ser e não-ser, assume uma base experimental na C&T, os produtos tecnológicos dominam a Natureza por via da exploração dos seus recursos e leis, usamos duma permanente atitude crítica e e reflexiva, a verdade é provada científicamente, e não revelada, e tende a ajustar-se ao real; e todo o quadro de racionalidade é gerado através de conjecturas e refutações (Sócrates, Popper) repetidas ao longo do tempo, e por via das experiências e do conhecimento que é realizado por observadores independentes, na medida do possível, já que Max Weber ensinou-nos que nada é imparcial, e Kant lembra-nos que ao olharmos para um qualquer objecto interferimos na sua essência.
Apesar de todos estes recursos intelectuais, experimentais e científicos a nossa cultura deixa uma grande margem para a indeterminação do real, que nunca conseguimos prever na sua plenitude. Acidentes da Natureza, revoluções políticas, entre outros fenómenos acabam por nos surpreender. Quem previu a Perestroika e as revoluções de veludo no Centro e Leste europeu?? Ninguém, em rigor. O que sabemos é que os seus dinamizadores, como Gorby, acabaram por ser engolidos pela revolução que desencadearam, neste caso para o famoso alcoólico, Boris Yeltsine, uma espécie de Berlusconi à russa.
Este também gostava de dar umas nalgadinhas no rabiosque das secretárias em público. Neste particular, Bill Clintoris, ainda teve o senso de ser mais discreto, levando a secretária para a Sala Oval, embora o segredo da saia durasse pouco tempo, e a Mónica L. lá ganhou uma choruda reforma com o escândalo que preparara. Enfim, estes pequenos episódios revelam bem como a história privada se confunde com a história política das nações sem, contudo, lhes acrescentar valor.
Depois encontramos o modelo cultural Oriental que assenta em pressupostos diferentes, ou seja, a realidade reside nos processos, sendo que os objectos e os acontecimentos são formas temporais inseridas na fluidez das relações complexas desses processos. Daí que para um chinÊs, por exemplo, o conhecimento decorra da compreensão das tendências, a verdade consubstancia-se na harmonia do jogo desses processos com as tendências. Não há, portanto, a intervenção directa da divindidade.
Por último, encontramos o modelo cultural Islâmico, que aqui nos interessa avaliar, por causa do que se passa em todo o Norte d´África, Egipto e até na Península Arábica, regimes que vivem dos petrodólares e são mais ou menos corruptos e visceralmente anti-democráticos obrigando as respectivas populações a viver privadas de direitos sociais, económicos, civis e políticos e na miséria. Ora, o povo egípcio, que é escolarizado e tem uma forte consciência política, fartou-se dessa nova forma de escravatura em pleno III milénio.
E é, precisamente, neste modelo cultural islâmico que encontramos um conjunto de características que justifica muito do que vemos através dos media: uma civilização e uma cultura que vive da revelação divina, o conhecimento decorre da conformidade com a palavra divina tal como ela foi transmitida ao profeta, o que gera profundas distorções sociais e injustas que levam a situações de pré-guerra civil. Por outro lado, o texto divino acaba por ser mais real do que a própria realidade da natureza dos factos, e a divindade está sempre presente e activa, e é ela, paradoxalmente, que acaba por determinar a realidade.
Veremos se hoje Mubarak aceita resignar ao cargo, se o fizer poupará o seu país a um banho de sangue, se, ao invés, resistir fará eclodir a barbárie.

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