quinta-feira

Em nome da paz faz-se a guerra

Crianças vítimas de violação por «capacetes azuis», diz BBC
"Crianças do Haiti e da Libéria afirmam ter sido vítimas de violação ou sujeitas a prostituição por parte de elementos das forças de paz das Nações Unidas, destacados nesses países, segundo uma investigação da BBC hoje divulgada.
As crianças, uma das quais de 11 anos, afirmam ter tido, regularmente, relações sexuais com os «capacetes azuis» em troca de alimentos ou dinheiro, segundo a página digital da estação de televisão britânica." [...]

Percepções e realidades: evocação de Shakespeare

Evocação do génio - Guilherme Shakespeare...
.. quem melhor compreendeu a alma (e o comportamento) humanos senão W.S. Foi, em nosso entender, um dos geniais psicólogos do nosso tempo cristão, de todos os tempos, de sempre. Dele guardo algumas lições, uma delas é a de que devemos ser cuidadosos das extração das interpretações que fazemos às coisas, aos textos, às condutas alheias - que nem sequer conhecemos. Misturando tudo, esquecendo ou omitindo o essencial. E é isto que importa, não o acessório.
O texto que ora se passa remete para os limites da interpretação que nem sempre observamos na ligação que fazemos ao mundo exterior. Retomemos, pois, a loucura do génio e tiremos as devidas ilações (até) acerca de nós próprios:
Vamos agora ao que mais interessa, à cereja no bolo: - Hamlet - Vês aquela nuvem que tem quase a forma de um camelo?
- Polónio - Santo Deus, parece mesmo um camelo!
- Hamlet - Acho que parece uma doninha.
- Polónio - Tem o dorso de uma doninha.
- Hamlet - Ou uma baleia?
- Polónio - É mesmo uma baleia.
(Hamlet, III, 2)

Notas post-virtuais: Dean Martin e Simpler

Every DEAN MARTIN TRIBUTE needs a great story ..... Dean returned to his hotel room after a show only to find a beautiful blonde in his bed ....... "What are you doing here" enquired Dino ? "Mr. Sinatra gave me a $1000 and arranged it" "Well honey I don't know what you've got in mind but I'm having a coffee and watching The Late Show on TV and you're welcome to join me" The young lady gets dressed and does exactly that. After the TV show finishes and she is about to leave - Dean amazingly gives her $2000. "What on earth is this for" asked the bemused young lady. Dean smiles and says "you go and tell Frank what a great lover I was" !!! A 2ª nota, mais pituresca, decorre da Constatação de Simpler que apanhei enquanto urinava num W.C da grande Lisboa: a fé move montanhas, mas os apressados preferem a dinamite. É isto que por vezes, muitas vezes, ocorre na blogosfera. E é pena...
Mas regressando a Dean Martin - que tinha ainda uma outra frase soberba que não deixa de reflectir a conduta em que muitos de nós por vezes nos colocamos, ainda que inconscientemente: se você consegue ficar deitado no chão sem se agarrar, não está bêbado.
Fica aqui esta evocação ao grande Dean Martin e, já agora, um beijo para elas - que aposto tocam piano de cauda e falam francês... Apesar d' hoje já estarem velhas e cansadas, se é que já não morreram. E é isto que o tempo faz às pessoas: mata-as - depois de lhe ter dado a vida, pérolas, diamantes, boas sensações, Tudo!!!

quarta-feira

O combate à indiferença: o intelectualismo emergente

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O Macro por ele próprio...

Esta imagem é terrível, tem uma força tremenda, entala-nos, interpela-nos, viola-nos a consciência. Creio mesmo que a indiferença se trata de uma das piores "ideologias" do séc. XX. Indiferença - perante o homem, os seus valores, as suas crenças, a sua cultura, em suma, as suas identidades e pertenças. Indiferença perante o "outro". Confirmei isso em 2000 quando entrei pela 1ª vez na sede da AMI em Portugal, alí para as bandas do Poço de Bispo/Marvila - quando tive o privilégio de conhecer o seu presidente, o Dr. Fernando Nobre, presidente da AMI - talvez a maior ONG do País. Aliás, logo no átrio da ONG lê-se precisamente isso, numa placa de mármore, creio. A indiferença é uma das piores ideologias do séc. XX, e já matou muita gente... E o livrinho sobre as ONGs e a crise do Estado soberano foi editado, também com o testemunho do Fernando Nobre - que deve ser um dos campeões em Portugal (e no mundo) do combate à indiferença..
Vem isto a propósito da putativa ou alegada arrogância, indiferença, modos de ser e de estar e o mais dentro e fora do ciber-espaço.
Ora, a blogosfera é já hoje a ferramenta mais madura do Rizoma, e até já tenho defendido que se deve criar nos curricula universitários a disciplina de Sociologia da Informação/Blogosfera: pode ser utopia, realismo - uma exigência nova da democracia de opinião que estamos vivendo e que revoluciona o quadro de relação:
1. Do homem consigo próprio (porque passou a ser o seu próprio editor, sem hierarquias nem obediências, salvo à sua própria consciência, daí a necessidade de ser hiper-responsável com o que pensa e escreve)
2. Do homem com o seu semelhante e a sociedade
3. Do homem como os poderes, leia-se as instituições sociais, culturais, económicas e políticas.
A semana passada, alertado por um amigo já de longa data, o Eugénio Almeida, autor do Pululu, fiquei a saber duma iniciativa e tive até a bondade de promover no Macro o respectivo regulamento. Fi-lo através dum post que, presumo, tem algum interesse sociológico e filosófico e a que chamei, despretensiosamente, o Intelectualismo emergente e o individualismo blogosférico. Com a intenção de ser ao mesmo tempo uma reflexão crítica e valorizadora, aqui sinónimos. O facto de dizer que desconhecia quem eram os organizadores é de somenos, a nota foi mais para sobrelevar uma das leis da ciência política e da ideia de máquina do Ostrogorski - segundo a qual quem organiza manda, gere, distribui o jogo, ou seja, funciona como uma máquina - neste caso não para se assenhorear do eleitorado, mas para pôr a concurso uma ideia e captar participantes e alargar o leque da competitividade neste sector emergente. Daí a expressão que titula o post original. Foi apenas um enquadramento teórico de valor epistemológico, nada mais.
Aí procurei racionalizar algumas das características mais significativas dos players que fazem este mundo: o ciber-espaço, feito de linguagens simbólicas, analíticas, imateriais e às vezes também de cartão, especialmente quando não se percebe peva do que se escreveu. Mas não quero aqui ser contudente com os meus interlocutores, tudo bons rapazes, certamente!!! - embora fosse tão fácil fazê-lo, sobretudo à luz dos comentários feitos, os quais revelam não ter percebido nem a letra nem o esprit da "coisa". O que me entristece, mas deve ter sido inabilidade minha, quiça dificuldade de expressão, má prosa, articulações pirosas e sem nexo, enfim, uma fraude do pensamento que se pode explicar com um cérebro roto. Pode ser que tenha sido isso. Se for, mea culpa...
Ora, como não sou "arrogante", antes sou até mui socrático (e deixem-se de comparações ao JPP... - porque o Macro está anos luz à frente do que me parece ser um "átrio funerário", quanto à pessoa em si só digo que esse tipo de comparações também não me valorizam, cada um é como cada qual, e o JPP também não é só defeitos). Mas o Macro nunca se pôs em bicos de pés, não tem essa vocação, detesta saltos (mas aprecia ligas..), e o "armazém" de textos disponíveis - é capaz de falar por si, goste-se ou não. Mas presunção e água benta - cada um toma a que quer, como diria a minha avózinha.. Por isso, caldos de galinha..
Mas, confesso, nunca mais liguei ao assunto, apenas procurei tecer algumas considerações sobre o fenómeno da blogosfera que já vai fazendo carreira em Portugal, influenciando os micro e macro-poderes nesta rede de redes que alimentam e retro-alimentam o Rizoma das nossas vidas.

Mas lá deixei algumas ideias que me parecem nucleares, e agora as reafirmo:

1) esprit de missão

2) individualismo reflexivo

3) velocidade no tratamento das informações e dos factos sociais com peso político

4) cultura da razão - que conduz ao individualismo filosófico que, por seu turno, nos leva a ter mais Liberdade.

Terminei até com uma interrogação desafiante - desejando que a iniciativa fosse um sucesso, ainda que não conhecesse ninguém. Para o efeito, seria uma vantagem e uma virtude, dado que assim os dados não estão viciados à partida, como sucede amiúde por esses concursos fora... Ou não é assim!!!. Mas assim não fora interpretado, e depois foi um role de mal-entendidos e alguns disparates sem nexo e/ou fundamento. Isto apesar do Amok-She A memória perdida - ser um blog interessantíssimo, com um mote do Camus que vale sempre a pena meditar, e com uma pérola ao piano que faz inveja a qualquer cultor de boa música. Até eu que sou um leigo na matéria logo pensei que aquele piano tinha cauda..e escola, quiça também fala francês.

Conclui até com a palavra "Esperança" ... Não para induzir alguém a repetir o gesto trágico de Antero de Quental, mas para desejar boa sorte aos seus promotores. E não era por não conhecer as pessoas da organização que não lhes desejaria boa sorte... É que além de arrogante também nunca fui mal-educado. Nem com pobres nem com ricos, nem com pobres de espírito, nem com a generalidade das pessoas, pois é de pessoas que se trata.

Assim também não fora compreendido, mas daqui não decorre que as pessoas devam ler a Esperança no sentido do Antero, devem antes fazer um bom concurso de ideias, e, creio aqui, já estar a contribuir para ele com este meu 2º post.

Mas o que se pretende, afinal? Qual o meu objectivo (reflexivo) com aquele texto, que reli e não vejo nenhuma razão para o retocar...

Se o lermos bem, i.é, sem as lentes sujas e as diopetrias agravadas, talvez se possa extrair outras conclusões. Mas admito ter incorrido num mau português, nalguma dislexia, bacuradas gramaticais, juízos apressados, uma terrível ignorância sociológica e filosófica, deficientes articulações, etc, etc, etc..

Contudo, a ideia nuclear está lá: a de que a blogosfera está a revolucionar a forma de comunicar em Portugal. E não me reporto às chamadas "broncas" que são, de resto, de todos conhecidas, com plágios à mistura... Reporto-me mais à combinação daqueles 3 X 4 items acima expostos - que podem estar em gestação em Portugal e que constituem aquilo que poderei designar, à falta de melhor definição, o Objectivismo blogosférico.

Entendendo por esse "palavrão" um conceito que opera no seio do capitalismo post-industrial em que todos vivemos - que nos conduz, inevitavelmente, à 2ª chave da fórmula: o individualismo, outro traço dominante do nosso ciber-tempo. Daqui pode resultar, mal ou bem, uma sistematização mais avançada que tentarei expôr:

Não sou um advogado ilimitado desse ciber-capitalismo genético, que já é constitutivo da nossa própria civilização Ocidental, que, aliás, se incorporou na vida política, social, económica, cultural e até pessoal. Tudo isso está já enraizado no nosso subconsciente. Mas verifico que é ele o principal motor do egoísmo - que reproduz na blogosfera aquilo que pré-existe na sociedade de corte (como diria Norbert Elias) ou de "carne e osso" - do nosso tempo. Assim, reconhecendo aquela supremacia do capitalismo, identificamos a tal plataforma da razão - para, seguidamente, se alcançar o tal individualismo/egoísmo (necessários à produção teórica, visto que a reflexão sempre exigiu solidão). E, por extensão lógica, mais fácilmente se acede à formulação inicial que deu mote à reflexão: o intelectualismo emergente e o individualismo na blogosfera, que até o Jumento citou, creio...

Mas isto ainda não responde à nossa perplexidade, ampliada pela blogosfera - que hoje, melhor do que ninguém, percebe quão o mundo mudou; como a informação revolucionou a nossa forma de pensar, produzir, acumular e gerir a informação; de como o nosso cérebro passou a funcionar - copiando mais o modelo do gengibre e do rizoma; do modo como comunicamos ou investimos o dinheiro que não temos, ou materializamos os nossos sonhos, mesmo com Camus à ilharga...
A vitrine passou a ser a net - a rede das redes - e a blogosfera é parte desse vidro que permite espreitar para o interior dessa vitrine e ver os comportamentos, os lances de xadrez que os players fazem, as acções, as reacções, enfim, jogar o jogo que, pela 1ª vez na história, passou a conferir ao cidadão anónimo, sem dimensão ou exposição na chamada esfera pública (J. Habermas) - uma influência directa na formatação da majestade Opinião pública - que, consabidamente, condiciona tudo e todos. Até mesmo para aqueles/as que dizem estar a marimbar-se para as visitas que têm (ou não) no seu blog.
Mais do que uma percepção, isto já é um movimento sério na sociedade contemporânea. Hoje até os chamados blogues corporativos (de tipo empresarial) estão ganhando terreno a fim de aumentar os pontos e os nós da rede..
É, portanto, a esse movimento mais ou menos inovador e criador, que chamamos a intervir a função da Razão, da produção de sentido para a vida e até, porque não, da auto-estima.
1. A Razão - é a principal ferramenta do conhecimento;
2. A produção de sentido - liga-se à felicidade (Aristóteles) que aquela ferramenta permite alcançar;
3. E a Auto-estima - fecha o ciclo nesse saber viver em harmonia, ainda que a sociedade seja conflituosa e anárquica.
Todavia, se virmos bem, estas reflexões são bem a tradução prática desse egoísmo - cuja cultura dialéctica se converte automáticamente em altruísmo - agora erigido em valor moral standard. Posto que é do esgoísmo que nasce a vontade de fazer, que depois se transmite ao grupo - que gera a cooperação, a generosidade, a simpatia, mas também o egoísmo... E vira-o-disco e toca omesmo... Isto está enraizado na cultura do Ocidente.
  • PS: sugeria que para a próxima vez os críticos (e eu cultivo a crítica/dialética, mas com fundamento e rigor...) leiam o texto mais do que uma vez, que a avaliar pelos comentários não perceberam. Assim, não se cometerão erros de avaliação tão primitivos quantos denunciadores duma terrível falta de common sense. Espero não levem a mal, mas ler com atenção é uma coisa, ler pela rama é outra. Será como comparar o Tratado de Política de Aristóteles com o livro de sLopes, em que a bota não bate com a perdigota.
  • PS2: Achei manifestamente exagerado (para não dizer ridículo mesmo) compararem a minha modesta pessoa a JPP. Contudo, confesso que me tenho em melhor conta, mas cada um é como cada qual e o Cesariny já morreu... E, já que me compararam, sem conhecerem o objecto da comparação - fica-se a saber que quem eu desejaria mesmo Ser era Cristo (ou seu pai - Deus) para estar sempre nas nuvens bebendo água condensada, sustentando a gravitação - e ver sem ser visto, qual modelo do Panopticon do Bentham também tratado pelo Foucault.. Enfim, tudo bons rapazes, embora estes já não concorram porque também já morreram..

Cesariny, again..

mário cesariny (1923-2006)
Ama como a estrada começa.
pena capital
assírio & alvim 1982
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Nota macroscópica:
Nós, os homens, parece que somos uns animais: só despertamos para as pessoas quando elas morrem. Deve ser uma vingança mesquinha de quem pensa ainda estar vivo mas, na realidade, já é capaz de estar morto, mas (ainda) não enterrado. Nós, os homens, somos mesmo uns animais... : sem trela, sem dono, com demasiada Liberdade e, já agora, também sem palavra!

Joao Gilberto - Garota de Ipanema (junto a Tom Jobim)

Joao Gilberto - Garota de Ipanema (junto a Tom Jobim)

Dedicada aos nossos amigos brasileiros, portugueses, luso-falantes em geral que aqui vêm todos os dias lançar os seus olhares "discretos".

O livro

Aqui temos o livro de L. Candido, mas não é dele que vamos aqui falar. Fala-se para aí dum livro que parece ter páginas a mais e conteúdo a menos, replica dum governo-cómico-trágico que demandou Portugal por actos obscuros ainda por desvendar.
Consta que no lançamento do dito livro do ex-PM alguém perguntou ao dito como poderia dar mais chama ao discurso - quer da tomada de posse, quer o do discurso de lançamento editorial que acabara de fazer. A alegada resposta veio pronta e de certo modo foi previsível:

- O que devia ter feito era atirar o livro e o discurso para a fogueira...

A universidade entre Bolonha e o MIT - por Medeiros Ferreira -

Image Hosted by ImageShack.us A universidade entre Bolonha e o MIT
José Medeiros Ferreira
Professor universitário
Com o fim da última legislatura, em Março de 2005, regressei plenamente à vida universitária. Não que a tivesse abandonado por completo durante os dez anos em que fui deputado nesta fase política. A título gracioso (uma preciosidade pré-capitalista amparada na mais moderna legislação...) mantive, durante vários anos, cursos na licenciatura de Ciência Política e Relações Internacionais e no mestrado de História, na Universidade Nova de Lisboa, e ainda orientei seminários numa post-graduação na Universidade dos Açores. Porém, desde então pude aperceber-me melhor das transformações que atravessam estas instituições tão estruturantes na vida das sociedades como aquelas outras que todos referem com respeito.
A minha primeira impressão neste regresso é a de estar a assistir a um momento de perplexidade nas universidades portuguesas. E inevitavelmente comparo com a firmeza com que a Universidade de Genebra se adaptou às consequências do Maio de 1968, que sacudiu o ensino superior europeu de baixo para cima, enquanto Bolonha pretende orientá-lo de cima para baixo...
Aliás, até se poderia periodizar a história das universidades europeias entre Maio de 1968 e o actual Processo de Bolonha. O que pode haver de útil em Bolonha terá de ser encontrado do lado da qualidade, da comparação dos estudos feitos, da mobilidade permitida e facilitada de estudantes... e de professores.
Ora, a burocracia está a tomar conta do processo. A uniformização, atentatória da mais elementar autonomia universitária, apossou-se da teoria dos três ciclos integrados, sendo que o primeiro se assemelha de mais a um propedêutico prolongado, e o segundo, que corresponde ao mestrado, pouco espaço e tempo disponibiliza para a investigação e a dissertação.
A tutoria dos docentes tornou-se a grande aquisição deste modelo e apenas com um senão: os cursos em vez de diminuírem o número de alunos a serem "tutelados" aumentam- -no em desproporção. A tutoria de Bolonha requer mais docentes universitários, não menos. Temo que, em Portugal, Bolonha possa ser antes o pretexto para despedir.
A passagem das licenciaturas de quatro para três anos, nos cursos de ciências sociais, está a empurrar algumas cadeiras para fora dos curricula. Por exemplo, em História, essa compressão está de novo a reduzir o ensino e a investigação em História Contemporânea, uma das áreas mais procuradas nos últimos 20 anos pelos estudantes. Percebe-se, antes era inexistente... Toda a esperança de uma universidade portuguesa activa na investigação e num ensino renovado passa praticamente para o último ciclo, o terceiro, aquele que dará origem ao grau de doutor, caso os docentes não desfaleçam entretanto na via-sacra de tanta estação.
Este é pelo menos o resultado mais à vista desta primeira subordinação apressada das universidades portuguesas ao comando indicativo das recomendações europeias inseridas no Processo de Bolonha e para cuja execução positiva e indutora de qualidade seriam precisos mais recursos e não cortes simultâneos no orçamento. Querer adaptar o ensino superior às recomendações de Bolonha num momento de cortes financeiros é um desafio lançado às universidade portuguesas que assim vão passar provavelmente por um mau momento.
É possível que, ao nível das faculdades e dos institutos técnicos e politécnicos, os acordos passados com instituições alheadas de regras de uniformização e de compatibilização como o MIT [Massachusetts Institute of Technology] venham a induzir uma inovação científica pioneira nos anais de instituições similares (e bem precisados estamos de que isso aconteça), mas dá-me a impressão que poderá haver um hiato entre o que se procura em Bolonha e o que se procura no MIT. No entanto, declaro-me desde já partidário da diversidade das influências externas, de onde muita inovação será de esperar nos próximos tempos. Mas sem se estabelecer qualquer relação bastarda de colonizado e de colonizador.
As universidades portuguesas estão assim sob fogo cruzado. A indução do Processo de Bolonha, numa versão uniforme e burocrata, e a ciência aplicada que há-de escorrer dos acordos com o MIT para as nossas oficinas superiores colocam o nosso ensino numa forte dependência exterior estratégico-científica.
Acresce que com o corte das verbas orçamentais encontram-se as universidades abatidas na sua autonomia e uniformidade.
O que se espera então da avaliação ao estado de saúde do doente à saída do bloco operatório, onde lhe enxertaram uns órgãos de Bolonha e outros do MIT?
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PS: Confesso que não se percebe por que razão Medeiros Ferreira, uma pessoa especialmente qualificada, não foi convidado para dar o seu contributo no Prós & Contras sobre o Ensino Superior. Parece até que a agenda dos números de telefone de dona Fátima não tem o alfabeto todo, tem só as iniciais... Assim, temos sempre os mesmos débitos, ouvimos sempre o mesmo papa a rezar as mesmas missas, o resultado só pode ser um: igreja às moscas. As palmas são ilusão de coxos, expedientes ardilosos para conquistar as massas, mas não se deu um rumo, uma estratégica. Urge gerir o futuro, que é um caos.. , agora transnacionalizado, que é como quem diz: globalizado.

Diogo Pires Aurélio escreve sobre Cesariny

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A foto é nossa.
O texto é de DPA (in DN):
"Ele andou, toda a vida, associado a umas quantas bizarrias, que fizeram, no imaginário do século XX, o charme e a perdição do surrealismo. Viveu como pôde, disse o que muito bem entendia, amou a quem amou, e aos costumes disse nada. Até muito tarde, desconfiou-se daquela exuberância com que o génio lhe transbordava para fora dos livros e dos quadros e entrava pela realidade adentro, sem que ele parecesse fazer grande distinção entre uma coisa e outra. Depois, quando a rebeldia se banalizou e confundiu com verniz social, entrando no rol de virtudes para meninos e meninas casadoiras, houve histórias suas que passaram a fazer parte da mitologia urbana. Era, já então, para muita gente, uma personagem. Não sei se haveria assim tantos a dar pelo artista que habitava dentro dessa personagem e que usava o mesmo nome: Mário Cesariny de Vasconcelos.Cesariny, diz-se, foi o surrealismo português. Tal afirmação, todavia, não sendo totalmente falsa, também não é totalmente justa para o poeta, nem mesmo para o pintor, pese embora o tom elogioso com que se lhe apresenta. É possível que, sem a autenticidade que ele emprestou à literatura e à arte em geral, sem o vigor e a coerência com que ele afirmou publicamente a "liberdade livre", o movimento nunca teria ido muito além de um simples epifenómeno do surrealismo francês.
Cesariny, porém, está para lá de qualquer movimento ou escola. E se, a partir de certa altura, o surrealismo lhe tomou conta da imagem e da própria escrita, a ponto de se confundirem um com o outro, não foi por simples questão de moda ou de vanguardas: foi porque, consciente ou inconscientemente, ele encontrou no movimento inspirado por Breton a armadura conceptual e afectiva de que precisava para desafiar uma literatura ocupada pelo gigantismo de Pessoa e uma cultura em que, apesar dos modernismos, persistiam arcaísmos com mais de dois séculos.
Bem vistas as coisas, toda a obra de Cesariny decorre entre esses dois marcos pessoanos que são o já longínquo Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos e o mais recente O Virgem Negra. Do ponto de vista da literatura portuguesa, aí é que era Rodes, aí é que era preciso saltar. Quanto ao resto, como ele escreveu, "Sim consumada a obra sobram rimas/pois ela é independente do obreiro/no deitar a língua de fora, no grande manguito aos Autores/é que se vê se a obra está completa".

Trilogia: o livro de Santana lopes, o Travolta do III milénio e a Arlinda Mestre.

Alí vê-se Arlinda agarrada ao mastro, para variar...
No caminho do amor / Arlinda Mestre . - Lisboa : Guerra e Paz, 2006

No Caminho do Amor, sou jovem, selvagem, devoro a vida

Arlinda Mestre, A AUTOBIOGRAFIA DE ARLINDA MESTRE Arlinda Mestre é uma figura conhecida do grande público. Participou num reality.show, a Quinta das Celebridades, da TVI, e ficou, por isso, famosa em Portugal. Fama que já tinha e...

  • Hoje, numa grande superfície da zona da Grande Lisboa - assisti a uma cena verdadeiramente caricata e chocante mas, ao mesmo tempo, reveladora dos tempos que estamos vivendo: um grupo de três pessoas, aparentemente colegas ou mesmo amigos, na casa dos 25/30 anos, fazia compras no sector dos livros. Nessas plataformas perfilavam-se dois títulos: aquele de Arlinda Mestre e o manual de fluídos e de autocomiseração adiantada de sLopes, o tal que foi PM a brincar, esse mesmo, como quem faz nucleares do atol do Pacífico!!! De súbito, desenvolve-se uma cena de pugilato que surpreendeu tudo e todos, assustando os clientes, os espinafres e demais fauna, exigindo até a presença da segurança... Ante a consternação geral. Veio a saber-se que o motivo daquela inesperada zaragata era por causa do livro de Arlinda. É que só havia dois exemplares disponíveis, e o terceiro elemento do grupo por não conseguir adquirir um exemplar para si resolve entrar em conflito com os outros dois e assim se estabeleceu a confusão geral.
    O Travota do III milénio Rudebox 76 - Part 1.

Onde se pretende chegar com esta trilogia? O livro de Arlinda vende, e não é certamente pela qualidade da narrativa, do argumento e densidade dos personagens. Há mesmo quem desconfie que a senhora não sabe escrever, mas eu não iria tão longe... O livro de sLopes também já vendeu mais de 1000 exemplares, parabéns para a comunista do psd, dona zita seábrá, que assim factura mais uns direitos de autor - enganando uns pacóvios, e o autor também já tem dinheirinho para pagar os seus vodkas na Kapital, excusa de se pendurar no porteiro, uma vez que já não tem motorista. A não ser que a Edpúm... E aquele rapaz do vídeo - o Rudebox - coitado!! - vive na ilusão de suplantar o Travolta. O que há de comum nestes três comportamentos?

Há quem diga que é o ridículo; a ambição de alcova; a falta de common sense e a mania das grandezas; puro exibicionismo; caixas craneanas vazias; apostas que fizeram com amigos em como eram capazes de dançar e de editar livros. Tudo isto, de par com um conjunto de razões clínicas que agora não vem ao caso, faz o puzzle que aqui apresentamos.

Mas o mais curioso é que há portugueses que embarcam(comercialmente) nestas fraudes pseudo-culturais, nestas insustentáveis aparências que nem imagem reflectem num espelho. Porquê? A resposta só pode ser uma: a profunda pobreza cultural do nosso povo, sem filtros, sem massa crítica é incapaz de distinguir um trombone dum carrinho de linhas, um livro duma resma, e depois comporta-se como o D. Quixote - quando avista umas meretrizes de boas maneiras, pensa logo que são donzelas da corte que tiveram educação clássica e tocam piano de cauda.

Isto entristece-me. Não pelo facto do charuto de sLopes vender mais uns exemplares daquela mestela - que nem para forrar o caixote do lixo serve, mas porque constato, neste miserável exercício - que o povo, a sociedade portuguesas estão cada vez mais atrasados e subdesenvolvidos culturalmente.

Isto biforca-me os pensamentos: por vezes não sei se hei-de renunciar à minha nacionalidade e, de Espanha, mandar o meu povo à merda; ou pedir ao povo que se mande a si próprio à dita; ou, simplesmente, atirá-lo ao rio.

Goodbye to the Normals

terça-feira

Mais um cancro (nas instituições) em Portugal

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Depois dos incêndios de Verão, das cheias de Outono, da corrupção, da inércia e da endogamia no Ensino superior, dos escândalos na banca (Bes em Espanha e a operação furacão que atinge o Millenium em Portugal), da Sida em África, do livro de Santana Lopes, de Santana Lopes, da sua editora, das deslocalizações, dos comentários de Jorge Coelho na circunferência do Quadrado - que tem um jornalista que não modera só intervém, eis que surge mais um cancro a que alguém terá de pôr imediatamente cobro. Sugiro mesmo que se desencadeie de imediato uma campanha sms para impedir que a ruína histórica do sr. madail (e o seu comparsa valentino) possam concorrer ao que quer que seja no país, nem ao lugar de almeida ou de cantoneiro em qualquer autarquia do país... Porra, há limites para tudo...
Quero declarar que se o afilhado de MMendes - o sr. Hermínio - apoiar este oligarca (alegadamente) corrupto à dita recandidatura da FPF - terá como consequência o inevitável abaixamento da sede de apoio socio-eleitoral. Se neste momento o psd conta com 27% das intenções de voto, com esta jogada Mendes tenderá a ser completamente pulverizado na estratosfera política e nunca mais se ouvirá falar dele para coisa nenhuma... Ou talvez para autarca de Celorico de Basto ou aqui mais perto em Stº António dos Cavaleiros... Se não quiser ir tão longe, sempre poderá ficar-se pela junta de Freguesia do Lumiar - que oferece belas vistas para a Calçada da Carriche.. (carrixe!!!)
Por vezes penso que vivo na Albânia... É a 1ª vez que escrevo carriche. Ele há coisas...

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Gilberto Madaíl assume recandidatura à FPF HERMÍNIO LOUREIRO RESPONDE ESTA SEMANA O presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Gilberto Madaíl, deu hoje a conhecer à Liga (LPFP) a decisão de se recandidatar e da intenção de contar com Hermínio Loureiro. [..]

Sustos...

O velho paradigma, o paradigma velho. Imagens reflexas...

UM RETRATO BEM REAL DA UNIVERSIDADE EM PORTUGAL.

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Sociólogo

A carreira académica e o ensino superior universitário: incongruências e bloqueios.

Por ELÍSIO ESTANQUE

(Republicamos aqui este artigo de Abril de 2005).

Por - ELÍSIO ESTANQUE, Docente da Fac. de Economia da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais. Artigo já foi publicado na Revista do SNESup - n.º 15 Fev. Março 2005.

Sobre o autor ver também, com vantagem, uma interessante entrevista que o sociólogo deu à Visão , 20 de Fev. de 2003 - em que afirmava que o aumento do desemprego e a crescente precaridade do trabalho são razões para um aumento dos atritos sociais nós próximos tempos, segundo o coordenador da licenciatura de Sociologia da FEUC, e especialista em relações laborais.

A carreira académica e o ensino superior universitário: incongruências e bloqueios Aqueles de nós que, como eu, têm a felicidade de poder trabalhar em escolas e centros de pesquisa onde se tem conseguido preservar o ambiente informal e uma boa dinâmica de trabalho, com elevados níveis de exigência mas no âmbito de culturas que valorizam a transparência e o espírito crítico, sabemos bem a importância decisiva do factor relacional e o incentivo que neles encontramos para continuar a nossa actividade de docentes e investigadores.

Porém, esta situação está longe de ser generalizável e a instituição universitária no seu conjunto não possui mecanismos suficientemente eficazes que estimulem a progressão na carreira e o reconhecimento do mérito e dedicação de cada um. Além disso, mesmo concordando que é um enorme privilégio podermos trabalhar numa actividade que nos dá prazer, isso não basta para que abdiquemos de exigir do sistema e das instâncias que o tutelam respostas adequadas aos actuais bloqueios com que ele se debate.

Por outro lado, é bom lembrar que os problemas existentes ao nível da carreira académica e do ensino superior público não se resolvem apenas com novas medidas administrativas. Antes exigem o envolvimento e mobilização de todos, desde os órgãos de gestão das escolas e universidades ao conjunto dos docentes. Sem essa ampla participação não é possível construir a Universidade dinâmica, competitiva e democrática, à altura de poder cumprir a sua missão de motor do desenvolvimento das sociedades do século XXI.

A falta de estímulos.

A asfixia existente nos quadros de professores é evidentemente um factor de enorme apreensão para muitos docentes, em particular para as gerações mais jovens de assistentes e professores auxiliares que hoje se debatem com a impossibilidade de prosseguir as suas carreiras, perante o estrangulamento generalizado das vagas ao nível da categoria de professor associado e no acesso ao estatuto de nomeação definitiva.

É escandaloso que ao fim de anos e anos de serviço e após sucessivas provas públicas de avaliação, um professor universitário permaneça em regime contratual precário e é uma injustiça gritante e inconstitucional que se defraudem as suas legítimas expectativas de progressão na carreira. Nestas condições, que estímulos poderemos sentir para prosseguir com empenho o nosso trabalho? Para além do estatuto prestigiado de que goza a profissão, que recompensas efectivas recebemos da nossa dedicação?

Ao lado destas, outras interrogações podem colocar-se que se ligam não só ao actual bloqueio das carreiras mas também a aspectos reveladores da distorção meritocrática que o sistema alimenta. O investimento no trabalho de investigação, maior ou menor, as prestações e participação em programas de pós-graduação, a ocupação de cargos de gestão e coordenação ou em actividades de extensão devem ser premiados e institucionalmente reconhecidos ou continuar a depender do voluntarismo de cada um? As cargas horárias, o acompanhamento dos alunos, a oferta de disciplinas de opção, a orientação de trabalhos e teses, os resultados obtidos no sucesso escolar dos estudantes, etc., não deveriam ser mais claramente contemplados como indicadores de mérito?

Outras áreas de intervenção poderiam aqui ser referidas, nomeadamente a participação em redes internacionais e a promoção de programas que envolvam actores da sociedade civil e da vida empresarial, como iniciativas de dinamização da vida universitária que devem ser estimuladas e reconhecidas.

É certo que todas estas actividades fazem parte dos deveres do docente e são sem dúvida ponderados na apreciação curricular por parte de júris independentes nas provas que se prestam ao longo da carreira. Mas a questão é que, se isso é assim em termos formais, o modo como o sistema de ensino superior e a comunidade académica se desenvolveram em Portugal contêm variados elementos, inclusive de natureza social, que distorcem amplamente o seu funcionamento em bases coerentes.

Segmentação geracional

E aqui retomo a questão das carreiras. Diria que há hoje uma “geração estabelecida” e outra que luta pela afirmação e reconhecimento institucional. Obviamente que isto é uma simplificação, pois a vida académica e o sistema no seu todo encerram uma grande complexidade . Mas este é um ponto que me parece consensual. O modo como se deu o extraordinário crescimento do ensino superior no nosso país, sobretudo após a institucionalização da democracia, traduziu-se no recrutamento de um conjunto de docentes desta “primeira geração” (chamemos-lhe assim) que acederam à carreira numa conjuntura de rápida expansão do sistema de ensino, alcançando facilmente – e praticamente sem concorrência – os lugares de assistente e de professor, realizando rapidamente as suas provas ou em certos casos prescindindo delas (no caso dos assistentes estagiários, que até aos anos oitenta não eram obrigados a fazer provas para a categoria de assistente) e seguindo para doutoramento com o devido apoio e estimulo das escolas, que então se viam a braços com a escassez de recursos.

Noutros casos, os colegas desta geração entraram no sistema já com o doutoramento (em geral feito no estrangeiro) e rapidamente ocuparam posições institucionais sólidas. À parte daqueles que ficaram pelo caminho, é esta geração que, grosso modo, hoje ocupa as vagas de professores associados e de catedráticos nos quadros de professores das faculdades e institutos do ensino superior público.

A questão é que o panorama se alterou abruptamente na última década. Com a estabilização do crescimento do sistema, e actualmente com a escassez de procura em muitos dos cursos e escolas criadas nos anos oitenta, alguns começaram a encerrar e por isso muitos docentes – da “segunda geração” – viram os seus contratos rescindidos, outros confrontam-se com esse risco e ou com o bloqueio à progressão na carreira.

É claro que não é meu objectivo tecer aqui qualquer tipo de acusação à chamada geração estabelecida. Trata-se antes de uma realidade que resulta dos efeitos directos do natural processo de expansão de uma universidade extremamente atrofiada há trinta anos atrás. É importante, por isso, reconhecer, e enaltecer, o trabalho de dinamização e de liderança que muitos dos actuais catedráticos desempenharam ao longo destes anos, por vezes lutando contra enormes obstáculos para promover as instituições que ajudaram a criar e a consolidar. Mas, como sabemos, a excelência e o dinamismo convivem lado a lado com a mediania e a estagnação, e há ainda demasiados mecanismos que nos empurram para a defesa do status quo.

O inbreeding e as lógicas de poder

A indiferença e aparente desinteresse com que os órgãos de decisão encaram a situação prende-se com a forma como o sistema académico se estruturou, criando uma lógica de inbreeding que corrói as instituições académicas e alimenta todo um conjunto de poderes que aniquilam o critério da meritocracia.

É sabido que o alargamento dos quadros é da competência do Ministério do Ensino Superior, mas, nos casos em que o quadro de professores associados está esgotado havendo, no entanto, vagas por preencher nos lugares de catedrático, só ocupando estas poderão disponibilizar-se aquelas, e só com o conjunto das vagas preenchidas a instituição poderá reclamar o alargamento dos quadros (pelo menos de acordo com o actual enquadramento legal).

Ora, o que acontece é que as escolas que se encontram nesta situação deveriam tomar medidas no sentido de estimular fortemente a apresentação a provas de agregação, em especial por parte dos actuais professores associados, por forma a ocuparem rapidamente as categorias de topo, libertando vagas para a nova geração de doutores, ou, nos casos em que os quadros estejam completamente tapados, estimular também os professores auxiliares a realizar essas mesmas provas.

Em algumas escolas isto já se faz e é sem dúvida uma boa forma de incentivo à segunda geração de que falei, além do mais porque por essa via se poderia reforçar a pressão reivindicativa pelo alargamento dos quadros (ou exigindo os quadros de dotação global por que os sindicatos vêm lutando sem êxito). Mas a maioria das escolas e universidades não o faz, parecendo acomodadas e indiferentes às justas expectativas das gerações mais jovens do corpo docente. Assim, se os mais novos não sentem as suas legítimas ambições reconhecidas pela instituição, é natural que duvidem da bondade dos padrões de exigência que agora lhes são impostos, quando os seus proponentes nunca tiveram de os cumprir. Daí a inevitável leitura quanto à existência de segmentos com interesses distintos, sendo que apenas um deles detém o poder académico.

Aparentemente, sendo a carreira pautada pela avaliação do mérito, depende da iniciativa do assistente ou do professor requerer provas académicas, desde que esteja em condições de elegibilidade. Mas, na prática, a iniciativa individual é inibida, quer por um genuíno respeito pela antiguidade dos mais velhos quer porque se pode correr o risco de se ser julgado por excesso de ambição ou arrogância. Regra geral espera-se que o incentivo parta do catedrático com quem se trabalha ou da instituição. Aliás, há nas universidades e no ensino superior português (como, de resto, em muitas outras áreas profissionais) uma vocação tutelar, que decorre de factores culturais e históricos, promotora de imensas teias de lealdades, alianças e lógicas de poder, que estiolam as instituições ou as impedem de progredir.

Note-se que considero a lealdade profissional e os ambientes de proximidade pessoal, que suportam as dinâmicas de grupo, componentes essenciais para o bom funcionamento das equipas em qualquer universidade do mundo. Como disse no início, estes são factores decisivos que proporcionam confiança, estímulo e reconhecimento, aspectos vitais para a identidade e dinâmica das instituições. Todavia, o que acontece é que, ao lado dos exemplos de boas práticas, impera no nosso sistema uma multiplicidade de ligações perversas, de cumplicidades servis, de carreirismos e lealdades incondicionais que muitas vezes são promovidas por interesses mesquinhos, por desejo obstinado de protagonismo e poder, por necessidades insaciáveis de bajulação ou por puro oportunismo.

Logo no acto de recrutamento dum novo docente, posicionam-se os detentores do poder para repartir entre si os candidatos que, obedecendo aos requisitos formais, oferecem mais garantias de obediência. O critério do mérito é levado em conta, mas muitas vezes o nível de exigência é reduzido ao mínimo, contando a partir daí os factores pessoais e as apreciações subjectivas, que em geral se sobrepõem às outras. Depois, o escolhido fica a saber com quem vai trabalhar e dá inicio ao processo de estudo dos jogos de alianças que vigoram no departamento.

A partir daí começa a tecer a sua rede de cumplicidades, procurando sempre estar de acordo com o seu “chefe” e disponibilizar-se totalmente para as solicitações que este lhe pedir. Entra-se então num jogo em que fica difícil distinguir os deveres para com a instituição e os deveres para com o superior, que supostamente o irá tutelar ao longo da carreira.

Bloqueios e estratégias pessoais

Esta atitude é deliberadamente alimentada pelo detentor da posição de autoridade, ao mesmo tempo protegendo o seu subordinado e, não poucas vezes, explorando o seu trabalho em benefício próprio. Assinar papers escritos pelos mais jovens ou servir-se destes recursos para consolidar redes estabelecidas, são hábitos correntes que – intencionalmente ou não – confundem os interesses institucionais com as estratégias e agendas pessoais. A coberto dos interesses da instituição, este tipo de práticas minam a capacidade crítica e condicionam a liberdade científica de muitos jovens docentes e investigadores universitários. Cria-se assim todo um clima de dependências em que a discussão aberta e frontal é substituída por constantes jogos de cintura, onde na luta de bastidores que ocorre entre graduados rivais, os jovens “súbditos” servem de joguete. Em tais condições não pode haver espírito crítico nem uma salutar irreverência intelectual.

Este tipo de situações não é evidentemente generalizável, mas há muitos casos conhecidos de violência psicológica, de perseguição, de rivalidades enraizadas, que se escondem por detrás do verniz polido que caracteriza as relações académicas. Eles constituem o reverso de um sistema onde proliferam ambientes em que o debate científico franco é cada vez mais raro, onde reina a mediania e falta de ambição, onde os grupos e categorias parecem cada vez mais fechados na defesa das suas próprias posições corporativas. Por isso, a promoção de iniciativas como a abertura ao exterior, a internacionalização, o diálogo com as empresas, instituições, movimentos da sociedade civil e a promoção da cidadania e do desenvolvimento social e cultural são ainda, em boa medida, uma miragem entre nós.

Em suma, as oportunidades de carreira e a promoção do mérito são indissociáveis de um amplo esforço de revigoramento e dinamização da vida universitária, que consolide e estimule a qualidade das equipas e premeie o talento e a liberdade individual. E isso não se consegue unicamente com a implementação de Bolonha e a regularização periódica das avaliações exteriores.

A pequena dimensão da nossa comunidade académica e o interconhecimento e ligações pessoais entre departamentos de áreas congéneres, a par das rivalidades endógenas entre si, dificultam drasticamente a institucionalização de uma competitividade saudável e de avaliações rigorosas e objectivas.

A alteração deste cenário terá certamente de partir de cima, a começar pelo próprio governo, mas o processo só terá sucesso se for convenientemente negociado. Ou seja, os problemas e vícios que assinalei só podem ser combatidos na sequência de uma discussão franca e aberta aos mais diversos níveis, desde o departamental ou de grupo às estruturas interuniversitárias, e envolvendo evidentemente os sindicatos e o Ministério. É por isso urgente que as instâncias universitárias e o novo governo, promovam um debate sério e alargado sobre estas matérias, em vez de se pensar que as orientações de Bolonha podem servir de panaceia para resolver todos os problemas do sistema.

Em vez de se querer impor administrativamente os princípios bolonheses (por razões políticas ou orçamentais), esperemos que os futuros responsáveis governamentais tenham a sensatez de envolver as universidades e os seus professores nessa reflexão para que em conjunto se possam encontrar as soluções adequadas.

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Melhor do que ninguém, pela experiência acumulada, pela obra científica, pela maturidade intelectual, pelo ecletismo, José Adelino Maltez no seu blog Sobre o tempo que passa é fulminante na avaliação que faz do debate de ontem acerca do miserável estado do Ensino Superior em Portugal e dos figurantes grotescos que o povoam. Não tanto pela avaliação repetida que já todos vamos fazendo relativamente a certos discursos bolorentos e salazarentos - tão enfastiantes quanto previsíveis e repetitivos, mas, sobretudo, pelo ambiente psicológico que se começa a instalar na sociedade portuguesa nitidamente anti-"fascismo-corporativismo" que tem grassado em algumas estruturas de avaliação nacional conjuntural - polarizadoras de mal-estar e dinamizadoras dum movimento de contestação geral das alterações institucionais, ideológicas e até geracionais provocadas pelas mutações políticas da própria sociedade internacional.

Infelizmente, em Portugal alguns desses cancros avaliativos, a que o ministro Mariano Gago teve a coragem de pôr definitivamente termo (só por isso merece fazer um 2º mandato..) têm ocupado uma dimensão conjuntural marcante que se explica - em boa medida - pelo fácil acesso à mediacracia que certos resíduos do ancien regime ainda dispõem junto das direcções de informação do Estado, fazendo com que se explique o papel primordial que certos factores pessoais e burocráticos - com ligações à intelligence, maçonaria, fundações oriente e outras ordens, justifiquem alguma exposição. Mariano Gago ontem deu a estocada final nessa velha ordem de privilégios neofeudal que ameaçava vigorar prolongando o seu status quo de parasitagem do budget do Estado sem qualquer contrapartida para a nação.

Valerá a pena lembrar essa síntese de quem, aliás, já vem meditando nesses assuntos há anos:

Vamos ao texto do autor:

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[...]

"Mais uma vez dei razão a Guerra Junqueiro: isto só poderá dar à luz quando arder. Porque não pode continuar como está uma instituição que perdeu a ideia, que não cumpre as regras do processo nem gera manifestações de comunhão entre os seus membros. Sem ideia de obra ou de empresa, resta o arremedo de retórica, a voz forte da propaganda e o decadentismo do rei ir nu, onde todos ralham e ninguém tem razão.

[...] O reitor-primaz não pode concluir o seu discurso defendendo o seu pequeno e excelentíssimamente centro de investigação de química, reclamando que os respectivos bolseiros devem passar a funcionários públicos. O ex-ministro de Salazar não pode continuar a repetir o discurso que faz há cinquenta anos, dizendo que não temos conceito estratégico desde 1974, quando o primeiro discurso que fez com estes termos foi para criticar a revisão constitucional levada a cabo por Marcello Caetano. E paradigma por paradigma, sempre prefiro o Kuhn e os pós-modernos antimodernos que o glosam e comentam.

Os reitores deveriam ser eleitos como noutros países da Europa: por sufrágio universal e não pelos oligarcas. Os professores deveriam professar e investigar e não gerir, deixando essa tarefa a quem está vocacionado para tal. A vertente empresarial, ou de gestão pública das universidades, deveria caber a gestores profissionais e ninguém deveria ir além da sua chinela. A decisão global, das policies, deveria caber a quem lhes paga: ao povo, através dos seus representantes eleitos, eliminando-se o que ontem foi patente. Fomos assaltados pela fragmentação neocorporativa, pelos grupos de pressão e pelos grupos de interesse, das pequeninas pressões e dos restritos interesses que discutem ramos de árvore e não vislumbram a floresta.

Discutiram razões finalísticas dos calculismos dos merceeeiros e voluntarismos politiqueiros. Raros repararam na chamada terceira dimensão da alma humana: a imaginação.

[...] É natural que perante esta decadência, chegue um qualquer marquês de Pombal que trate de expulsar os jesuítas, salgar a casa dos Távoras e incendiar a Trafaria. É natural que muitos clamem: volta marquês, que eles já cá estão outra vez. Eles os neo-escolásticos que nunca leram São Tomás de Aquino, os marxistas que perderam a consciência de classe e os cientistas que só fazem discursos de humanidades sem nada investigarem.

A universidade, desde que Platão fundou a Academia e desde que, nos finais do século XIII, inventámos a Europa, o comércio, as autonomias das reinos e a primitiva Bolonha sempre foi uma instituição dita universitas scientiarum, universalidade das ciências, especializada na observação daquela dignidade da pessoa humana onde cada homem é sempre um ser que nunca se repete e onde a descoberta sempre passou por problemas que só podem ser superados por novos problemas, através da clássica ars inveniendi. Falar de cima para baixo, nessa comteana révolution d'en haut , a que muitos chamam catedratismo, apenas merece a nossa gargalhada. Aliás, ontem, até foi o funeral de Mário Cesariny de Vasconcelos..

Infelizmente, tenho de reconhecer que o vencedor do debate de ontem foi, mais uma vez, a Fátima Campos Ferreira: pô-los todos em bicha atrás de dois minutos de tempo de antena, com muitos ensaios levados a cabo previamente pelos assessores de comunicação e imagem. Em segundo lugar, ficou o Mariano Gago que, apesar de tudo, ainda se recorda da retórica aprendida na sua militância de extrema-esquerda. Em terceiro lugar ficou, naturalmente, o salazarismo, não por causa da avaliologia, mas antes porque demonstrou como ainda tem dinamismo empresarial e longevidade de gestão de salamaleques entre as privadas.

Que o padroeiro das humanidades, São Sigmundo Freud, nos valha! E a Senhora de Fátima os acolha em música celestial! Só sei que nada sei! A imaginação ao poder, já!"

O ensino superior em Portugal

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Quem pensou que o ministro Mariano Gago era um ministro tecnocrático enganou-se, porque ontem "deu cabo" de várias "ditaduras" e de algumas "forças do bloqueio" neocorporativo: os reitores enquistados na Academia lusa e também remeteu para o caixote do lixo da história os restos do salazarismo bolorento que (ainda) passeiam a sua surdez pelos corredores mais arejados da bendita democracia. Haja ciência...
No programa Prós & Contras foi debatido o ambiente em que o ensino superior se movimenta em Portugal. E vimos alí duas lógicas, dois paradigmas, duas lentes a filtrar a realidade: uma (neo)corporativa coberta pelo paradigma de coutada do ancien regime, avessa ao risco e à competitividade, mantida pelo controleirismo burocrático que pretende manter privilégios e estatutos, mas a que o ministro Mariano Gago teve a coragem de exterminar porque justificou de imcompetente e perdulária (aqui, valeu-lhe o background ideológico do seu passado de luta contra o salazarismo que nestas coisas dão sempre muito jeito e eficácia; e outra, protagonizada pelo ministro da Ciência & Ensino Superior (pelo governo) que pretende impor reformas, ainda que coadjuvadas pelo exterior (conhecidas que foram as dificuldades em concertar as capelinhas da Academia lusa para consorciar com o MIT..); leia-se pelos acordos de parceria com as duas prestigiadas instituições de ensino de C & T norte-americanas.
Bem ou mal, foram estas duas lógicas que presidiram ao debate dos subsídios, das identidades e pertenças da produção de ciência e tecnologia em Portugal, das engrenagens que hoje trituram a C & T (pelo lado neocorporativista e da lógica dos subsídios burocráticos); e pelo lado daqueles que querem fazer progredir o país na senda da modernidade submetendo-o a um quadro de avaliação externa (que sempre é melhor e mais isenta do que os conselhos de reitores existentes, que não passam dum grupo de amigos, ou melhor, duma brigada do reumático (tipo sueca) que se cooptam entre si para manter privilégios, subsídios, e um tráfico de influências académico-burocráticas que serve apenas para perpetuar as velhas rotinas, os velhos feudos) - que as vacas sagradas dos restos de salazarismo ambulante ainda ostentam pelos bastidores da RTP, mesmo que acenem com a cabeça sim-não-talvez ao mesmo tempo. Numa esquizofrenia de querer, simultaneamente, ajustar contas com o ministro (crucificando-o) e, ao mesmo tempo, estende-lho o tapete para ele passar.
Via aqueles restolhos asseverando tudo e todos, como se o salazar ainda governasse o país a partir da sua cama de Hospital da Cruz Vermelha de S. Bento, na sequência da queda da cadeira, e só me lembrava do Maio de 68 que era necessário para deixar cair alí - naquelas anquilosadas e decrépitas cabeças - uma bomba ideológica, pró-activa, prospectiva que verdadeiramente sacudisse o país - sem que para o efeito tivesse de ser o ministro da tutela e os "FMI's" (científicos e tecnológicos) - que do exterior impõem um ritmo modernizador e o compasso globalizador à miserável Academia lusa.
Discutiu-se mais controleirismo burocrático do que C & T; viajou-se mais pelas fileiras bolorentas do passado dos antigos conselhos de avaliação sem eficácia alguma, do que pela abertura do ensino a novos métodos de avaliação que premeiem uma cultura de mérito e não o cunhismo, o compadrio e o ambiente de endogamia e de corrupção que se vê hoje pelas humanidades, e de que em parte esse legado até foi deixado pelos restolhos salazaristas, que directa ou indirectamente, ainda têm os seus "lacaios" e serventuários nas ditas universitárias - a fim de manter o ambiente pidesco e de bufaria que, lamentavelmente, ainda vigora pelas "junqueiras" e pelos "Monsantos" da nossa desgraça - onde até o putativo saber se mitiga com o ambiente de prostituição ambulante que por lá se passseiam (ante a irresponsabilidade do autarca de Lisboa que nada faz!!! - provavelmente porque para ele o fenómeno será um bom cartão de visita para a Capital...); vi ainda naquelas fileiras de reitores, pró-reitores, responsáveis de politécnicos emperrados, autênticas forças de bloqueio - contrariadas pelo ministro Mariano Gago e também pelo prof. Luís Moniz Pereira - que teve a coragem de chamar os "bois" pelos nomes, designando até os reitores de rede de jardins de infância que nenhuma visão e competência têm para os cargos que ocupam há anos. Grande novidade!!!.. Aliás, bastou ver e ouvir aqueles tiranossauros para perceber em que mãos a gestão da C & T está entregue em Portugal. O que disseram e calaram foi sintomático...
Quanto do douto Adriano moreira (e Veiga beirão, que ele fez questão de enfatisar como quem se queixa ao papa por não ter mais territórios para administrar e coutadas por gerir, embora não saibamos se tinha procuração daquele outro salarazista que fez a transição para a democracia e tem aí beneficiado dessas benesses) - convém referir que o Prós & Contras não é bem o formato de programa em que se premeditem acertos ou ajustes de contas públicos com a tutela que o despediu. Bem sabemos que "sua santidade" - que deixou um clima muito negativo na universidade (sobretudo entre catedráticos e professores associados) que ajudou a desenvolver, não está habituado a isso, mas, caramba, utilizar conceitos e enunciados de paradigmas e depois encher esse "alguidar" com coisas velhas sem aplicabilidade directa ao tema em questão (só para granjear umas palminhas de bairro e colher umas vitórias de Pirro junto da opinião pública, não me parece nem razoável nem inteligente); parece até uma heresia que qualquer igreja do conhecimento - rigoroso e actual - jamais desculparia.
Quis-me parecer que aquele ex-ministro de salazar - que Mariano Gago combateu em toda a linha - e bem - (nos seus tempos de jovem estudante e investigador), não falou como mestre paradigmático, mas mais como profeta do apocalipse para fundamentar a sua própria desgraça ante o ministério da tutela que prescindiu dos seus ineficazes serviços de conselheiro e de avaliólogo do ensino superior. Pois uma coisa é ter um paradigma actual, eficiente, operante e adequado aum problema ou área do conhecimento; outra coisa, como aquele fez, é repetir ad nauseaum o conceito estratégico de defesa militar e aplicá-lo exactamente nos mesmos moldes à C & T. Só os parvos e néscios é que batem palmas aquelas articulações semânticas, mitigadas com a formula dos 92 mil Kil. 2 - que ali foram introduzidas só para dourar a pilula e criar um efeito imagético na lógica discursiva. Qualquer hermeneuta perceberia o truque de ilusionismo pretendido..
Apenas um expediente que vale como uma muleta argumentativa, porque quem sabe de Ciência Política (e de português e não é parvo) - e não anda sistemáticamente a plagiar os autores anglo-saxónicos - e alguns franceses - como Roger-Gerard Schwaryzenberg (sem citar - torpemente - as fontes que esbulha) - sabe que a liberdade do construtor de modelos - em relação às exigências próprias da observação do mundo (seja na área da geopolítica, da cultura, do ensino superior ou do petróleo ou até do ballet contemporâneo) - é que são, precisamente, os confusionismos semânticos deliberados (para legitimarem discursos) é que tornam o mundo perigoso. Foi o que fez aquele ex-ministro de salazar, e é isso que ele faz há 50 anos com algum sucesso discursivo: como fala fluentemente - apesar das previsíveis repetições e convenientes omissões, ele desliza fácilmente para um dogmatismo epistemológico, que a generalização empírica impede, mas que ele força (distorcendo os factos de que foi autor) , restando-lhe atribuir ao modelo uma suposta ligação com a realidade. Daí a cunha discursiva dos 92 mil kil.2 - para ilustrar o seu modelo discursivo e baralhar a audiência.
Da próxima vez que o ex-ministro de salazar, e quejandos se aprensentem a público para tentar cilindrar o ministro Mariano Gago, que é e foi um lutador pela Liberdade e Democracia em Portugal (e sempre que pegou na pasta fez disparar os indicadores desenvolvimento humano na área da C & T em Portugal) - e tem nesta matéria legitimidade para falar, talvez fosse bom os seus proponentes não misturarem os paradigmas ocos com profecias, pois quer-me parecer que certas pessoas quando falam julgam que o fazem em nome de deus, com uns tiques (ou salamaleques) de adivinho à mistura - procurando assim interpretar sinais exteriores que só estão a cargo dos deuses - ou sendo directamente inspirados pelo divino. Além desses profetas bíblico-políticos se parecerem mais com admoestadores de leões em fim de carreira, mas que nem por isso deixam de ameaçar públicamente todos aqueles que - até o ministro (e o governo por extensão) - não capitulam diante o seu majestático saber. É preciso ter muita lata...
Seria útil que as pessoas percebessem que o saber não decorre de teorias do tempo da "outra senhora", impregnadas de desvios, preconceitos datados no tempo, nem da nostálgia do poder, misturando pressupostos, generalizando paradigmas (que não têm íntima conexão entre si). O poder e funcionalidade dos paradigmas não pode ser aduzido como quem pesa batatas e pérolas ao mesmo tempo no mesmo prato da balança do conhecimento.
O saber não começa nessas percepções ou observações ou até na mera colecção de dados, o saber começa com os problemas e é adensado na construção das hipóteses e dos cenários para os resolver. E não na sua falsificação, misturando conceitos estratégicos de defesa militar com as questões da ciência - apesar de ambos integrarem pilares de desenvolvimento do Estado e de uma sociedade. Pergunto-me que voltas dariam hoje no túmulo Karl Popper ou até mesmo Thomas Khun - autor da Obra - The Structure of Scientific Revolutions (1962) - caso ouvissem tais confusionismos metodológicos e epistemológicos nas rotinas dos tempos que passam... Uma valente galgalhada tumular...
Quanto ao futuro, o que disse a plateia de subsidio-dependentes privados e cooperativos que enganaram imensas gerações de estudantes e os empurraram para o desemprego - enquanto algumas dessas instituições de ensino enriqueciam à pala dos desgraçados dos estudantes que não tiveram as tais décimas para entrar na pública? também alí o rei vai nú e decrépito, sem apresentar uma única ideia norteadora (como provou o tal joão Redondo) que não seja a da internacionalização da avaliação do ensino superior e a das parcerias com as instituições norte-americanas.
Um dos reitores ainda disse que os bolseiros precisam de ganhar vínculo. É certo, mas essencialmente precisam de ver os seus trabalhos científicos e as suas teorias reconhecidas pela sociedade, e não amarfanhados por meros mangas-de-alpaca que não sabem distinguir uma teoria duma hipótese, dedicando-se exclusivamente à endogamia e fazendo da universidade meros espaços de lutas pelo poder burocrático, muitos andaram até a estudar para padres e terminam em cursos de gestão e depois tropeçam nos elevadores das universidades porque desconhecem o destino a dar ao poder directivo que enmtretanto passaram a ter. Algunas estão até no PS mas ao lusco-fusco alinham pelo psd, como boas meretrizes, depois alternam nessas reformas administrativas que ninguém conhece... Hoje vê-se mesmo muita gente sem carácter nem formação social e humana à frente dos órgãos directivos das universidades. Em certos casos, pode-se mesmo falar de alta sinistralidade académica..
Faltou ousadia, imaginação, estruturação de ideias, visão e liderança. E a existirem - em quantidades moderadas, essas valências partiram do ministro que teve a coragem de afrontar interesses instalados, que vivem da segurança e dos velhos proteccionismos, dos equilíbrios orçamentários e do distributivismo que os sucessivos OGE lhes dão a comer fácilmente. E é assim que essa gente tem envelhecido à sombra dos subsídios do Estado. E quando não é Estado são fundações...
Por isso, fez bem ontem Mariano Gago quando disse que as verbas disponíveis não são dadas à cabeça, mas por via competitiva, estimulando uma cultura do mérito, da transparência queimando, assim, as zonas de ambiguidade administratitiva - à sombra da qual a corrupção se nutre e desenvolve em rede - a mesma corrupção das almas que tem permitido a endogamia no lodo em que se transformou a academia lusa. Até nos corredores se percebe a dimensaõ dessa endogamia, por vezes com traços verdadeiramente rocambulescos envolvendo favores sexuais e serviços conexos...
De facto, urge dar corpo à Estratégia de Lisboa (ao tempo de Guterres), em que o Conselho Europeu de Lisboa, em Março de 2000, definiu o objectivo estratégico e uma acção global: transformar a União Europeia num espaço económico mais dinâmico e competitivo do mundo baseado no conhecimento e capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior coesão social.
Creio que este desígnio se alcança mais seguindo as palavras e as acções do ministro Mariano Gago do que observando os falsos paradigmas e o neocoporativismo inerte e endogâmico dos reitores e dos órgãos que aí proliferaram sem nenhuma vantagem para a nação.
Por todas estas razões, não podemos deixar de estar de acordo com a estratégia do governo, ainda que apressada e com menos recursos, porque ela é, apesar de tudo, a única que consolida aquele desígnio: preparar a transição e a mudança para uma economia baseada no conhecimento e na informação e nas melhores práticas de I & D, bem como na aceleração do processo de reforma estrutural para fomentar a competitividade e a inovação. Para, desse modo, completar o mercado interno, ajudar no take-of da economia, modernizar o modelo social europeu, investindo nas pessoas e combatendo a exclusão social.
Numa palavra: aquilo que vi ontem no Prós & Contras foi, como disse acima, dois paradigmas: o do risco e da competitividade acente na avaliação externa e na cultura do mérito e da transparência pugnada por Mariano Gago; e uma cultura bolorenta, salazarenta enquistada vivendo da parasitagem do recursos e do proteccionismo do Estado. Aquela gerará a prazo sãs perspectivas económicas e as favoráveis previsões de crescimento, desde que aplicando uma adequada combinação de políticas macroeconómicas; esta conduz o país ao marasmo que já hoje conhecemos, com a agravante de ficarmos todos - além de velhos e decadentes - também cegos e caquéticos.
Temos de escolher. E aqui fala um investigador que também é docente nas horas vagas numa instituição de ensino que nunca teve a coragem de tratar do mérito nem de integrar os melhores, os mais produtivos e os mais criativos e vive hoje no tradicional endogamismo legado pelo velhos métodos de antanho. Mas fala sobretudo alguém que foi ensinado e inspirado por Agostinho da Silva, assim como outros tiveram o grande Rómulo de Carvalho (António Gedeão) por referência.
Precisamos de referências, sem elas não nos inspiramos. E um homem sem inspiração fica pior do que uma vaca sagrada, e depois troca os paradigmas e falsifica o próprio conhecimento, como diria Popper.

Deseducação em Portugal - via Prós & Contras

Era para escrever umas linhas mais ou menos estruturadas sobre o Prós & Contras que procurou reflectir sobre o Ensino superior em Portugal neste momento de aplicação de Bolonha e de grande encruzilhada. Tinha até umas ideias alinhadas para o fazer. Mas só direi umas notas avulsas à laia de manifesto anti-esprit salazarengo que ainda passeia a surdez pelos bastidores da RTP:
1. O salazarismo decadente, useiro e vezeiro dos mesmos conceitos de segurança nacional - e das suas old-fashion expressões - do Atlântico aos Urais (como se o Gorbatchev ainda estivesse no poder na Rússia que já não é soviética (nem Portugal uma ditadura com colónias de macacos) - já foi parra que deu uva; donas arrependidas reclamando ao actual ministro que peça desculpas públicas sobre órgãos que queimavaram milhares de euros à nação e detestavam ser externamente avaliados - é coisa que o ministro Mariano Gago não fez, e bem. Também aqui muita gente se esquece que enquanto os velhos restolhos serviam a ditadura do "Botas" - sempre abanando a cauda - já muito jovem investigador minava como podia o regime. E muita sorte tiveram esses restolhos do ancien regime (que fizeram a transição e passaram estes últimos 30 anos sentados à mesa do Estado), porque se fosse eu o ministro - ou outro homem de mais fibra ainda - não era preciso corrê-los à pedrada, bastaria dizer-lhes que se amanhã a ditadura regressasse à cidade - esses "Urais" caquéticos que ora dizem que sim e não ao mesmo tempo (quando, no fundo, pretendiam era dizer talvez) seriam os primeiros a dizer qee sim com os olheiros semi-cerrados acenando áquilo que o líder mandasse fazer. Discursos sebastiónicos, combustelenses já só enrolam os mais papalvos;
2. Um António da Nóvoa que falou no mérito, na avaliação e na revisão do estatuto da carreira docente, mas foi pena ter concordado mais vezes com o ministro do que dele discordou. Depois o ministro arrumou-o com isto: o actual estatuto da carreira docente já permite (des)contratar não-doutorados - e outros amigos dos directores de departamentos só para manter os tachos e alguma pedofilia académica de todos conhecida... Aqui o dr. Nóvoa patinou, faltou-lhe agilidade mental, mais densidade política e menos psicologia (deixando-se interromper inúmeras vezes), mas foi, na realidade, o único que esteve à altura da combatividade de Mariano Gago - que meteu aquela camarilha subsidiodependente k.o. logo ao intervalo.
3. O resto foi mesmo um resto, com o devido respeito que todos merecem: um representante da pt a falar de mercados e com muitos "portantos" no arranque das frases; outros reitores velhos, decadentes e decrépitos a marcarem presença com trejeitos - sinalizando bem o rosto de quem manda nas universidades em Portugal; uns estudantes encapusados de corvo armados em contabilistas; os salazarengos de serviço armados em donas ofendidas - e até submetendo-se à humilhação de dona Fátima lhes tirar a palavra porque os comprimidos comerciais a isso exigiam.Ficando aqueles a perorar por mais um segundo para tentar ajustar contas com o ministro que os cilindrou - depois de os ter despedido sob o cunho de incompetentes e de perdulários...
4. E mais o quê...Talvez seja digno de registo aquela tirada hiper-realista do dr. Luís Moniz Pereira - ladeando o ministro - que debitou a humilhação das humilhações, afirmando: que os reitores são inertes, e que em vez duma rede de investigação representam apenas uma rede de jardim de infância; que se escolhem mutuamente; endogamizam-se, prostituem-se científicamente e vão gerindo os interesses instalados. Coçando as costas uns aos outros... Tudo verdades que têm e devem ser berradas alto e bom som para o país as ouvir. Só os cegos é que desconhecem isto...
Apesar de ter apreciado algumas tiradas de Sampaio da Nóvoa, pelas suas preocupações pelo mérito, avaliação, exigência, transparência e rigor, confesso que apreciei mais a garra do ministro Mariano Gago (por não ter cedido aos salazarengos do costume) e a desenvoltura tranquila de Moniz Pereira que, bem vistas as coisas, acabou por humilhar os reitores e cerca de 2/3 dos docentes em Portugal que não produzem coisa nenhuma. Apenas estão alapados e sentados à mesa do OGE.
É óbvio que tinha outras coisas para escrever, mas depois da partida do artista Mário Césarino (evocado pela RTP) - que fez o que fez à cabeça de De Gaulle, o mesmo que Moniz Pereira fez aos reitores e conexos com a cumplicidade estratégica do ministro José Mariano Gago (que também não cedeu aos ressaibiados de serviço), só me restou mesmo dizer que o paradigma educativo do Atlântico aos Urais conduziu a avaliação do ensino superior a uma manta de retalhos perdulária, ineficiente e manipuladora dos verdadeiros critérios de avaliação do ensino superior em Portugal, e o ministro não foi mais em "bolonhadas", e fez ele muito bem: a República e os portugueses agradecem... E aposto que Sócrates bateu palmas e até ligou para o tm de Mariano Gago voltando a repetir-lhe quão bonitos são os seus olhos.... E até tinha razão para isso...
PS: esperemos agora que os catedráticos que hoje têm 50 e tal anos e a quem é pedido que façam mais do que textos inominados, tenham a coragem de fazer duas coisas: chamem os bois pelos nomes; e façam algo de concreto no terreno, porque se não o fizerem amanhã serão acusados pelas gerações mais novas de integrar uma geração de cumplices que deixaram de ter legitimidade para criticarem aqueles que chegaram a servir. Força rapazes!! Força geração grisalha... O futuro é vosso.