quarta-feira

O combate à indiferença: o intelectualismo emergente

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O Macro por ele próprio...

Esta imagem é terrível, tem uma força tremenda, entala-nos, interpela-nos, viola-nos a consciência. Creio mesmo que a indiferença se trata de uma das piores "ideologias" do séc. XX. Indiferença - perante o homem, os seus valores, as suas crenças, a sua cultura, em suma, as suas identidades e pertenças. Indiferença perante o "outro". Confirmei isso em 2000 quando entrei pela 1ª vez na sede da AMI em Portugal, alí para as bandas do Poço de Bispo/Marvila - quando tive o privilégio de conhecer o seu presidente, o Dr. Fernando Nobre, presidente da AMI - talvez a maior ONG do País. Aliás, logo no átrio da ONG lê-se precisamente isso, numa placa de mármore, creio. A indiferença é uma das piores ideologias do séc. XX, e já matou muita gente... E o livrinho sobre as ONGs e a crise do Estado soberano foi editado, também com o testemunho do Fernando Nobre - que deve ser um dos campeões em Portugal (e no mundo) do combate à indiferença..
Vem isto a propósito da putativa ou alegada arrogância, indiferença, modos de ser e de estar e o mais dentro e fora do ciber-espaço.
Ora, a blogosfera é já hoje a ferramenta mais madura do Rizoma, e até já tenho defendido que se deve criar nos curricula universitários a disciplina de Sociologia da Informação/Blogosfera: pode ser utopia, realismo - uma exigência nova da democracia de opinião que estamos vivendo e que revoluciona o quadro de relação:
1. Do homem consigo próprio (porque passou a ser o seu próprio editor, sem hierarquias nem obediências, salvo à sua própria consciência, daí a necessidade de ser hiper-responsável com o que pensa e escreve)
2. Do homem com o seu semelhante e a sociedade
3. Do homem como os poderes, leia-se as instituições sociais, culturais, económicas e políticas.
A semana passada, alertado por um amigo já de longa data, o Eugénio Almeida, autor do Pululu, fiquei a saber duma iniciativa e tive até a bondade de promover no Macro o respectivo regulamento. Fi-lo através dum post que, presumo, tem algum interesse sociológico e filosófico e a que chamei, despretensiosamente, o Intelectualismo emergente e o individualismo blogosférico. Com a intenção de ser ao mesmo tempo uma reflexão crítica e valorizadora, aqui sinónimos. O facto de dizer que desconhecia quem eram os organizadores é de somenos, a nota foi mais para sobrelevar uma das leis da ciência política e da ideia de máquina do Ostrogorski - segundo a qual quem organiza manda, gere, distribui o jogo, ou seja, funciona como uma máquina - neste caso não para se assenhorear do eleitorado, mas para pôr a concurso uma ideia e captar participantes e alargar o leque da competitividade neste sector emergente. Daí a expressão que titula o post original. Foi apenas um enquadramento teórico de valor epistemológico, nada mais.
Aí procurei racionalizar algumas das características mais significativas dos players que fazem este mundo: o ciber-espaço, feito de linguagens simbólicas, analíticas, imateriais e às vezes também de cartão, especialmente quando não se percebe peva do que se escreveu. Mas não quero aqui ser contudente com os meus interlocutores, tudo bons rapazes, certamente!!! - embora fosse tão fácil fazê-lo, sobretudo à luz dos comentários feitos, os quais revelam não ter percebido nem a letra nem o esprit da "coisa". O que me entristece, mas deve ter sido inabilidade minha, quiça dificuldade de expressão, má prosa, articulações pirosas e sem nexo, enfim, uma fraude do pensamento que se pode explicar com um cérebro roto. Pode ser que tenha sido isso. Se for, mea culpa...
Ora, como não sou "arrogante", antes sou até mui socrático (e deixem-se de comparações ao JPP... - porque o Macro está anos luz à frente do que me parece ser um "átrio funerário", quanto à pessoa em si só digo que esse tipo de comparações também não me valorizam, cada um é como cada qual, e o JPP também não é só defeitos). Mas o Macro nunca se pôs em bicos de pés, não tem essa vocação, detesta saltos (mas aprecia ligas..), e o "armazém" de textos disponíveis - é capaz de falar por si, goste-se ou não. Mas presunção e água benta - cada um toma a que quer, como diria a minha avózinha.. Por isso, caldos de galinha..
Mas, confesso, nunca mais liguei ao assunto, apenas procurei tecer algumas considerações sobre o fenómeno da blogosfera que já vai fazendo carreira em Portugal, influenciando os micro e macro-poderes nesta rede de redes que alimentam e retro-alimentam o Rizoma das nossas vidas.

Mas lá deixei algumas ideias que me parecem nucleares, e agora as reafirmo:

1) esprit de missão

2) individualismo reflexivo

3) velocidade no tratamento das informações e dos factos sociais com peso político

4) cultura da razão - que conduz ao individualismo filosófico que, por seu turno, nos leva a ter mais Liberdade.

Terminei até com uma interrogação desafiante - desejando que a iniciativa fosse um sucesso, ainda que não conhecesse ninguém. Para o efeito, seria uma vantagem e uma virtude, dado que assim os dados não estão viciados à partida, como sucede amiúde por esses concursos fora... Ou não é assim!!!. Mas assim não fora interpretado, e depois foi um role de mal-entendidos e alguns disparates sem nexo e/ou fundamento. Isto apesar do Amok-She A memória perdida - ser um blog interessantíssimo, com um mote do Camus que vale sempre a pena meditar, e com uma pérola ao piano que faz inveja a qualquer cultor de boa música. Até eu que sou um leigo na matéria logo pensei que aquele piano tinha cauda..e escola, quiça também fala francês.

Conclui até com a palavra "Esperança" ... Não para induzir alguém a repetir o gesto trágico de Antero de Quental, mas para desejar boa sorte aos seus promotores. E não era por não conhecer as pessoas da organização que não lhes desejaria boa sorte... É que além de arrogante também nunca fui mal-educado. Nem com pobres nem com ricos, nem com pobres de espírito, nem com a generalidade das pessoas, pois é de pessoas que se trata.

Assim também não fora compreendido, mas daqui não decorre que as pessoas devam ler a Esperança no sentido do Antero, devem antes fazer um bom concurso de ideias, e, creio aqui, já estar a contribuir para ele com este meu 2º post.

Mas o que se pretende, afinal? Qual o meu objectivo (reflexivo) com aquele texto, que reli e não vejo nenhuma razão para o retocar...

Se o lermos bem, i.é, sem as lentes sujas e as diopetrias agravadas, talvez se possa extrair outras conclusões. Mas admito ter incorrido num mau português, nalguma dislexia, bacuradas gramaticais, juízos apressados, uma terrível ignorância sociológica e filosófica, deficientes articulações, etc, etc, etc..

Contudo, a ideia nuclear está lá: a de que a blogosfera está a revolucionar a forma de comunicar em Portugal. E não me reporto às chamadas "broncas" que são, de resto, de todos conhecidas, com plágios à mistura... Reporto-me mais à combinação daqueles 3 X 4 items acima expostos - que podem estar em gestação em Portugal e que constituem aquilo que poderei designar, à falta de melhor definição, o Objectivismo blogosférico.

Entendendo por esse "palavrão" um conceito que opera no seio do capitalismo post-industrial em que todos vivemos - que nos conduz, inevitavelmente, à 2ª chave da fórmula: o individualismo, outro traço dominante do nosso ciber-tempo. Daqui pode resultar, mal ou bem, uma sistematização mais avançada que tentarei expôr:

Não sou um advogado ilimitado desse ciber-capitalismo genético, que já é constitutivo da nossa própria civilização Ocidental, que, aliás, se incorporou na vida política, social, económica, cultural e até pessoal. Tudo isso está já enraizado no nosso subconsciente. Mas verifico que é ele o principal motor do egoísmo - que reproduz na blogosfera aquilo que pré-existe na sociedade de corte (como diria Norbert Elias) ou de "carne e osso" - do nosso tempo. Assim, reconhecendo aquela supremacia do capitalismo, identificamos a tal plataforma da razão - para, seguidamente, se alcançar o tal individualismo/egoísmo (necessários à produção teórica, visto que a reflexão sempre exigiu solidão). E, por extensão lógica, mais fácilmente se acede à formulação inicial que deu mote à reflexão: o intelectualismo emergente e o individualismo na blogosfera, que até o Jumento citou, creio...

Mas isto ainda não responde à nossa perplexidade, ampliada pela blogosfera - que hoje, melhor do que ninguém, percebe quão o mundo mudou; como a informação revolucionou a nossa forma de pensar, produzir, acumular e gerir a informação; de como o nosso cérebro passou a funcionar - copiando mais o modelo do gengibre e do rizoma; do modo como comunicamos ou investimos o dinheiro que não temos, ou materializamos os nossos sonhos, mesmo com Camus à ilharga...
A vitrine passou a ser a net - a rede das redes - e a blogosfera é parte desse vidro que permite espreitar para o interior dessa vitrine e ver os comportamentos, os lances de xadrez que os players fazem, as acções, as reacções, enfim, jogar o jogo que, pela 1ª vez na história, passou a conferir ao cidadão anónimo, sem dimensão ou exposição na chamada esfera pública (J. Habermas) - uma influência directa na formatação da majestade Opinião pública - que, consabidamente, condiciona tudo e todos. Até mesmo para aqueles/as que dizem estar a marimbar-se para as visitas que têm (ou não) no seu blog.
Mais do que uma percepção, isto já é um movimento sério na sociedade contemporânea. Hoje até os chamados blogues corporativos (de tipo empresarial) estão ganhando terreno a fim de aumentar os pontos e os nós da rede..
É, portanto, a esse movimento mais ou menos inovador e criador, que chamamos a intervir a função da Razão, da produção de sentido para a vida e até, porque não, da auto-estima.
1. A Razão - é a principal ferramenta do conhecimento;
2. A produção de sentido - liga-se à felicidade (Aristóteles) que aquela ferramenta permite alcançar;
3. E a Auto-estima - fecha o ciclo nesse saber viver em harmonia, ainda que a sociedade seja conflituosa e anárquica.
Todavia, se virmos bem, estas reflexões são bem a tradução prática desse egoísmo - cuja cultura dialéctica se converte automáticamente em altruísmo - agora erigido em valor moral standard. Posto que é do esgoísmo que nasce a vontade de fazer, que depois se transmite ao grupo - que gera a cooperação, a generosidade, a simpatia, mas também o egoísmo... E vira-o-disco e toca omesmo... Isto está enraizado na cultura do Ocidente.
  • PS: sugeria que para a próxima vez os críticos (e eu cultivo a crítica/dialética, mas com fundamento e rigor...) leiam o texto mais do que uma vez, que a avaliar pelos comentários não perceberam. Assim, não se cometerão erros de avaliação tão primitivos quantos denunciadores duma terrível falta de common sense. Espero não levem a mal, mas ler com atenção é uma coisa, ler pela rama é outra. Será como comparar o Tratado de Política de Aristóteles com o livro de sLopes, em que a bota não bate com a perdigota.
  • PS2: Achei manifestamente exagerado (para não dizer ridículo mesmo) compararem a minha modesta pessoa a JPP. Contudo, confesso que me tenho em melhor conta, mas cada um é como cada qual e o Cesariny já morreu... E, já que me compararam, sem conhecerem o objecto da comparação - fica-se a saber que quem eu desejaria mesmo Ser era Cristo (ou seu pai - Deus) para estar sempre nas nuvens bebendo água condensada, sustentando a gravitação - e ver sem ser visto, qual modelo do Panopticon do Bentham também tratado pelo Foucault.. Enfim, tudo bons rapazes, embora estes já não concorram porque também já morreram..