terça-feira

O ensino superior em Portugal

Image Hosted by ImageShack.us

Quem pensou que o ministro Mariano Gago era um ministro tecnocrático enganou-se, porque ontem "deu cabo" de várias "ditaduras" e de algumas "forças do bloqueio" neocorporativo: os reitores enquistados na Academia lusa e também remeteu para o caixote do lixo da história os restos do salazarismo bolorento que (ainda) passeiam a sua surdez pelos corredores mais arejados da bendita democracia. Haja ciência...
No programa Prós & Contras foi debatido o ambiente em que o ensino superior se movimenta em Portugal. E vimos alí duas lógicas, dois paradigmas, duas lentes a filtrar a realidade: uma (neo)corporativa coberta pelo paradigma de coutada do ancien regime, avessa ao risco e à competitividade, mantida pelo controleirismo burocrático que pretende manter privilégios e estatutos, mas a que o ministro Mariano Gago teve a coragem de exterminar porque justificou de imcompetente e perdulária (aqui, valeu-lhe o background ideológico do seu passado de luta contra o salazarismo que nestas coisas dão sempre muito jeito e eficácia; e outra, protagonizada pelo ministro da Ciência & Ensino Superior (pelo governo) que pretende impor reformas, ainda que coadjuvadas pelo exterior (conhecidas que foram as dificuldades em concertar as capelinhas da Academia lusa para consorciar com o MIT..); leia-se pelos acordos de parceria com as duas prestigiadas instituições de ensino de C & T norte-americanas.
Bem ou mal, foram estas duas lógicas que presidiram ao debate dos subsídios, das identidades e pertenças da produção de ciência e tecnologia em Portugal, das engrenagens que hoje trituram a C & T (pelo lado neocorporativista e da lógica dos subsídios burocráticos); e pelo lado daqueles que querem fazer progredir o país na senda da modernidade submetendo-o a um quadro de avaliação externa (que sempre é melhor e mais isenta do que os conselhos de reitores existentes, que não passam dum grupo de amigos, ou melhor, duma brigada do reumático (tipo sueca) que se cooptam entre si para manter privilégios, subsídios, e um tráfico de influências académico-burocráticas que serve apenas para perpetuar as velhas rotinas, os velhos feudos) - que as vacas sagradas dos restos de salazarismo ambulante ainda ostentam pelos bastidores da RTP, mesmo que acenem com a cabeça sim-não-talvez ao mesmo tempo. Numa esquizofrenia de querer, simultaneamente, ajustar contas com o ministro (crucificando-o) e, ao mesmo tempo, estende-lho o tapete para ele passar.
Via aqueles restolhos asseverando tudo e todos, como se o salazar ainda governasse o país a partir da sua cama de Hospital da Cruz Vermelha de S. Bento, na sequência da queda da cadeira, e só me lembrava do Maio de 68 que era necessário para deixar cair alí - naquelas anquilosadas e decrépitas cabeças - uma bomba ideológica, pró-activa, prospectiva que verdadeiramente sacudisse o país - sem que para o efeito tivesse de ser o ministro da tutela e os "FMI's" (científicos e tecnológicos) - que do exterior impõem um ritmo modernizador e o compasso globalizador à miserável Academia lusa.
Discutiu-se mais controleirismo burocrático do que C & T; viajou-se mais pelas fileiras bolorentas do passado dos antigos conselhos de avaliação sem eficácia alguma, do que pela abertura do ensino a novos métodos de avaliação que premeiem uma cultura de mérito e não o cunhismo, o compadrio e o ambiente de endogamia e de corrupção que se vê hoje pelas humanidades, e de que em parte esse legado até foi deixado pelos restolhos salazaristas, que directa ou indirectamente, ainda têm os seus "lacaios" e serventuários nas ditas universitárias - a fim de manter o ambiente pidesco e de bufaria que, lamentavelmente, ainda vigora pelas "junqueiras" e pelos "Monsantos" da nossa desgraça - onde até o putativo saber se mitiga com o ambiente de prostituição ambulante que por lá se passseiam (ante a irresponsabilidade do autarca de Lisboa que nada faz!!! - provavelmente porque para ele o fenómeno será um bom cartão de visita para a Capital...); vi ainda naquelas fileiras de reitores, pró-reitores, responsáveis de politécnicos emperrados, autênticas forças de bloqueio - contrariadas pelo ministro Mariano Gago e também pelo prof. Luís Moniz Pereira - que teve a coragem de chamar os "bois" pelos nomes, designando até os reitores de rede de jardins de infância que nenhuma visão e competência têm para os cargos que ocupam há anos. Grande novidade!!!.. Aliás, bastou ver e ouvir aqueles tiranossauros para perceber em que mãos a gestão da C & T está entregue em Portugal. O que disseram e calaram foi sintomático...
Quanto do douto Adriano moreira (e Veiga beirão, que ele fez questão de enfatisar como quem se queixa ao papa por não ter mais territórios para administrar e coutadas por gerir, embora não saibamos se tinha procuração daquele outro salarazista que fez a transição para a democracia e tem aí beneficiado dessas benesses) - convém referir que o Prós & Contras não é bem o formato de programa em que se premeditem acertos ou ajustes de contas públicos com a tutela que o despediu. Bem sabemos que "sua santidade" - que deixou um clima muito negativo na universidade (sobretudo entre catedráticos e professores associados) que ajudou a desenvolver, não está habituado a isso, mas, caramba, utilizar conceitos e enunciados de paradigmas e depois encher esse "alguidar" com coisas velhas sem aplicabilidade directa ao tema em questão (só para granjear umas palminhas de bairro e colher umas vitórias de Pirro junto da opinião pública, não me parece nem razoável nem inteligente); parece até uma heresia que qualquer igreja do conhecimento - rigoroso e actual - jamais desculparia.
Quis-me parecer que aquele ex-ministro de salazar - que Mariano Gago combateu em toda a linha - e bem - (nos seus tempos de jovem estudante e investigador), não falou como mestre paradigmático, mas mais como profeta do apocalipse para fundamentar a sua própria desgraça ante o ministério da tutela que prescindiu dos seus ineficazes serviços de conselheiro e de avaliólogo do ensino superior. Pois uma coisa é ter um paradigma actual, eficiente, operante e adequado aum problema ou área do conhecimento; outra coisa, como aquele fez, é repetir ad nauseaum o conceito estratégico de defesa militar e aplicá-lo exactamente nos mesmos moldes à C & T. Só os parvos e néscios é que batem palmas aquelas articulações semânticas, mitigadas com a formula dos 92 mil Kil. 2 - que ali foram introduzidas só para dourar a pilula e criar um efeito imagético na lógica discursiva. Qualquer hermeneuta perceberia o truque de ilusionismo pretendido..
Apenas um expediente que vale como uma muleta argumentativa, porque quem sabe de Ciência Política (e de português e não é parvo) - e não anda sistemáticamente a plagiar os autores anglo-saxónicos - e alguns franceses - como Roger-Gerard Schwaryzenberg (sem citar - torpemente - as fontes que esbulha) - sabe que a liberdade do construtor de modelos - em relação às exigências próprias da observação do mundo (seja na área da geopolítica, da cultura, do ensino superior ou do petróleo ou até do ballet contemporâneo) - é que são, precisamente, os confusionismos semânticos deliberados (para legitimarem discursos) é que tornam o mundo perigoso. Foi o que fez aquele ex-ministro de salazar, e é isso que ele faz há 50 anos com algum sucesso discursivo: como fala fluentemente - apesar das previsíveis repetições e convenientes omissões, ele desliza fácilmente para um dogmatismo epistemológico, que a generalização empírica impede, mas que ele força (distorcendo os factos de que foi autor) , restando-lhe atribuir ao modelo uma suposta ligação com a realidade. Daí a cunha discursiva dos 92 mil kil.2 - para ilustrar o seu modelo discursivo e baralhar a audiência.
Da próxima vez que o ex-ministro de salazar, e quejandos se aprensentem a público para tentar cilindrar o ministro Mariano Gago, que é e foi um lutador pela Liberdade e Democracia em Portugal (e sempre que pegou na pasta fez disparar os indicadores desenvolvimento humano na área da C & T em Portugal) - e tem nesta matéria legitimidade para falar, talvez fosse bom os seus proponentes não misturarem os paradigmas ocos com profecias, pois quer-me parecer que certas pessoas quando falam julgam que o fazem em nome de deus, com uns tiques (ou salamaleques) de adivinho à mistura - procurando assim interpretar sinais exteriores que só estão a cargo dos deuses - ou sendo directamente inspirados pelo divino. Além desses profetas bíblico-políticos se parecerem mais com admoestadores de leões em fim de carreira, mas que nem por isso deixam de ameaçar públicamente todos aqueles que - até o ministro (e o governo por extensão) - não capitulam diante o seu majestático saber. É preciso ter muita lata...
Seria útil que as pessoas percebessem que o saber não decorre de teorias do tempo da "outra senhora", impregnadas de desvios, preconceitos datados no tempo, nem da nostálgia do poder, misturando pressupostos, generalizando paradigmas (que não têm íntima conexão entre si). O poder e funcionalidade dos paradigmas não pode ser aduzido como quem pesa batatas e pérolas ao mesmo tempo no mesmo prato da balança do conhecimento.
O saber não começa nessas percepções ou observações ou até na mera colecção de dados, o saber começa com os problemas e é adensado na construção das hipóteses e dos cenários para os resolver. E não na sua falsificação, misturando conceitos estratégicos de defesa militar com as questões da ciência - apesar de ambos integrarem pilares de desenvolvimento do Estado e de uma sociedade. Pergunto-me que voltas dariam hoje no túmulo Karl Popper ou até mesmo Thomas Khun - autor da Obra - The Structure of Scientific Revolutions (1962) - caso ouvissem tais confusionismos metodológicos e epistemológicos nas rotinas dos tempos que passam... Uma valente galgalhada tumular...
Quanto ao futuro, o que disse a plateia de subsidio-dependentes privados e cooperativos que enganaram imensas gerações de estudantes e os empurraram para o desemprego - enquanto algumas dessas instituições de ensino enriqueciam à pala dos desgraçados dos estudantes que não tiveram as tais décimas para entrar na pública? também alí o rei vai nú e decrépito, sem apresentar uma única ideia norteadora (como provou o tal joão Redondo) que não seja a da internacionalização da avaliação do ensino superior e a das parcerias com as instituições norte-americanas.
Um dos reitores ainda disse que os bolseiros precisam de ganhar vínculo. É certo, mas essencialmente precisam de ver os seus trabalhos científicos e as suas teorias reconhecidas pela sociedade, e não amarfanhados por meros mangas-de-alpaca que não sabem distinguir uma teoria duma hipótese, dedicando-se exclusivamente à endogamia e fazendo da universidade meros espaços de lutas pelo poder burocrático, muitos andaram até a estudar para padres e terminam em cursos de gestão e depois tropeçam nos elevadores das universidades porque desconhecem o destino a dar ao poder directivo que enmtretanto passaram a ter. Algunas estão até no PS mas ao lusco-fusco alinham pelo psd, como boas meretrizes, depois alternam nessas reformas administrativas que ninguém conhece... Hoje vê-se mesmo muita gente sem carácter nem formação social e humana à frente dos órgãos directivos das universidades. Em certos casos, pode-se mesmo falar de alta sinistralidade académica..
Faltou ousadia, imaginação, estruturação de ideias, visão e liderança. E a existirem - em quantidades moderadas, essas valências partiram do ministro que teve a coragem de afrontar interesses instalados, que vivem da segurança e dos velhos proteccionismos, dos equilíbrios orçamentários e do distributivismo que os sucessivos OGE lhes dão a comer fácilmente. E é assim que essa gente tem envelhecido à sombra dos subsídios do Estado. E quando não é Estado são fundações...
Por isso, fez bem ontem Mariano Gago quando disse que as verbas disponíveis não são dadas à cabeça, mas por via competitiva, estimulando uma cultura do mérito, da transparência queimando, assim, as zonas de ambiguidade administratitiva - à sombra da qual a corrupção se nutre e desenvolve em rede - a mesma corrupção das almas que tem permitido a endogamia no lodo em que se transformou a academia lusa. Até nos corredores se percebe a dimensaõ dessa endogamia, por vezes com traços verdadeiramente rocambulescos envolvendo favores sexuais e serviços conexos...
De facto, urge dar corpo à Estratégia de Lisboa (ao tempo de Guterres), em que o Conselho Europeu de Lisboa, em Março de 2000, definiu o objectivo estratégico e uma acção global: transformar a União Europeia num espaço económico mais dinâmico e competitivo do mundo baseado no conhecimento e capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior coesão social.
Creio que este desígnio se alcança mais seguindo as palavras e as acções do ministro Mariano Gago do que observando os falsos paradigmas e o neocoporativismo inerte e endogâmico dos reitores e dos órgãos que aí proliferaram sem nenhuma vantagem para a nação.
Por todas estas razões, não podemos deixar de estar de acordo com a estratégia do governo, ainda que apressada e com menos recursos, porque ela é, apesar de tudo, a única que consolida aquele desígnio: preparar a transição e a mudança para uma economia baseada no conhecimento e na informação e nas melhores práticas de I & D, bem como na aceleração do processo de reforma estrutural para fomentar a competitividade e a inovação. Para, desse modo, completar o mercado interno, ajudar no take-of da economia, modernizar o modelo social europeu, investindo nas pessoas e combatendo a exclusão social.
Numa palavra: aquilo que vi ontem no Prós & Contras foi, como disse acima, dois paradigmas: o do risco e da competitividade acente na avaliação externa e na cultura do mérito e da transparência pugnada por Mariano Gago; e uma cultura bolorenta, salazarenta enquistada vivendo da parasitagem do recursos e do proteccionismo do Estado. Aquela gerará a prazo sãs perspectivas económicas e as favoráveis previsões de crescimento, desde que aplicando uma adequada combinação de políticas macroeconómicas; esta conduz o país ao marasmo que já hoje conhecemos, com a agravante de ficarmos todos - além de velhos e decadentes - também cegos e caquéticos.
Temos de escolher. E aqui fala um investigador que também é docente nas horas vagas numa instituição de ensino que nunca teve a coragem de tratar do mérito nem de integrar os melhores, os mais produtivos e os mais criativos e vive hoje no tradicional endogamismo legado pelo velhos métodos de antanho. Mas fala sobretudo alguém que foi ensinado e inspirado por Agostinho da Silva, assim como outros tiveram o grande Rómulo de Carvalho (António Gedeão) por referência.
Precisamos de referências, sem elas não nos inspiramos. E um homem sem inspiração fica pior do que uma vaca sagrada, e depois troca os paradigmas e falsifica o próprio conhecimento, como diria Popper.