terça-feira

Deseducação em Portugal - via Prós & Contras

Era para escrever umas linhas mais ou menos estruturadas sobre o Prós & Contras que procurou reflectir sobre o Ensino superior em Portugal neste momento de aplicação de Bolonha e de grande encruzilhada. Tinha até umas ideias alinhadas para o fazer. Mas só direi umas notas avulsas à laia de manifesto anti-esprit salazarengo que ainda passeia a surdez pelos bastidores da RTP:
1. O salazarismo decadente, useiro e vezeiro dos mesmos conceitos de segurança nacional - e das suas old-fashion expressões - do Atlântico aos Urais (como se o Gorbatchev ainda estivesse no poder na Rússia que já não é soviética (nem Portugal uma ditadura com colónias de macacos) - já foi parra que deu uva; donas arrependidas reclamando ao actual ministro que peça desculpas públicas sobre órgãos que queimavaram milhares de euros à nação e detestavam ser externamente avaliados - é coisa que o ministro Mariano Gago não fez, e bem. Também aqui muita gente se esquece que enquanto os velhos restolhos serviam a ditadura do "Botas" - sempre abanando a cauda - já muito jovem investigador minava como podia o regime. E muita sorte tiveram esses restolhos do ancien regime (que fizeram a transição e passaram estes últimos 30 anos sentados à mesa do Estado), porque se fosse eu o ministro - ou outro homem de mais fibra ainda - não era preciso corrê-los à pedrada, bastaria dizer-lhes que se amanhã a ditadura regressasse à cidade - esses "Urais" caquéticos que ora dizem que sim e não ao mesmo tempo (quando, no fundo, pretendiam era dizer talvez) seriam os primeiros a dizer qee sim com os olheiros semi-cerrados acenando áquilo que o líder mandasse fazer. Discursos sebastiónicos, combustelenses já só enrolam os mais papalvos;
2. Um António da Nóvoa que falou no mérito, na avaliação e na revisão do estatuto da carreira docente, mas foi pena ter concordado mais vezes com o ministro do que dele discordou. Depois o ministro arrumou-o com isto: o actual estatuto da carreira docente já permite (des)contratar não-doutorados - e outros amigos dos directores de departamentos só para manter os tachos e alguma pedofilia académica de todos conhecida... Aqui o dr. Nóvoa patinou, faltou-lhe agilidade mental, mais densidade política e menos psicologia (deixando-se interromper inúmeras vezes), mas foi, na realidade, o único que esteve à altura da combatividade de Mariano Gago - que meteu aquela camarilha subsidiodependente k.o. logo ao intervalo.
3. O resto foi mesmo um resto, com o devido respeito que todos merecem: um representante da pt a falar de mercados e com muitos "portantos" no arranque das frases; outros reitores velhos, decadentes e decrépitos a marcarem presença com trejeitos - sinalizando bem o rosto de quem manda nas universidades em Portugal; uns estudantes encapusados de corvo armados em contabilistas; os salazarengos de serviço armados em donas ofendidas - e até submetendo-se à humilhação de dona Fátima lhes tirar a palavra porque os comprimidos comerciais a isso exigiam.Ficando aqueles a perorar por mais um segundo para tentar ajustar contas com o ministro que os cilindrou - depois de os ter despedido sob o cunho de incompetentes e de perdulários...
4. E mais o quê...Talvez seja digno de registo aquela tirada hiper-realista do dr. Luís Moniz Pereira - ladeando o ministro - que debitou a humilhação das humilhações, afirmando: que os reitores são inertes, e que em vez duma rede de investigação representam apenas uma rede de jardim de infância; que se escolhem mutuamente; endogamizam-se, prostituem-se científicamente e vão gerindo os interesses instalados. Coçando as costas uns aos outros... Tudo verdades que têm e devem ser berradas alto e bom som para o país as ouvir. Só os cegos é que desconhecem isto...
Apesar de ter apreciado algumas tiradas de Sampaio da Nóvoa, pelas suas preocupações pelo mérito, avaliação, exigência, transparência e rigor, confesso que apreciei mais a garra do ministro Mariano Gago (por não ter cedido aos salazarengos do costume) e a desenvoltura tranquila de Moniz Pereira que, bem vistas as coisas, acabou por humilhar os reitores e cerca de 2/3 dos docentes em Portugal que não produzem coisa nenhuma. Apenas estão alapados e sentados à mesa do OGE.
É óbvio que tinha outras coisas para escrever, mas depois da partida do artista Mário Césarino (evocado pela RTP) - que fez o que fez à cabeça de De Gaulle, o mesmo que Moniz Pereira fez aos reitores e conexos com a cumplicidade estratégica do ministro José Mariano Gago (que também não cedeu aos ressaibiados de serviço), só me restou mesmo dizer que o paradigma educativo do Atlântico aos Urais conduziu a avaliação do ensino superior a uma manta de retalhos perdulária, ineficiente e manipuladora dos verdadeiros critérios de avaliação do ensino superior em Portugal, e o ministro não foi mais em "bolonhadas", e fez ele muito bem: a República e os portugueses agradecem... E aposto que Sócrates bateu palmas e até ligou para o tm de Mariano Gago voltando a repetir-lhe quão bonitos são os seus olhos.... E até tinha razão para isso...
PS: esperemos agora que os catedráticos que hoje têm 50 e tal anos e a quem é pedido que façam mais do que textos inominados, tenham a coragem de fazer duas coisas: chamem os bois pelos nomes; e façam algo de concreto no terreno, porque se não o fizerem amanhã serão acusados pelas gerações mais novas de integrar uma geração de cumplices que deixaram de ter legitimidade para criticarem aqueles que chegaram a servir. Força rapazes!! Força geração grisalha... O futuro é vosso.