O nuclear de Vitorino e o Portugal à espera
- Ontem à noite António Vitorino provou na RTP que vale mais do que "uma unha do pé de Marcelo", ao invés do que refere o douto Vasco P. Valente que agora arribou à blogosfera. O entrevistador também provou que vale mais do que aquela senhora que entrevista Marcelo sob o efeito de xanaX e duma caixa de Lexotans, que mais faz lembrar aquelas governantas que vêm do Norte servir para Lisboa na casa do restolhos do ancien regime ali ao Restelo - hoje mui parecidos nos tiques com o velho Salazar. Tão parecidos que até me interrogo se o Salazar não está, de facto, ainda vivo.
- Mas o que procuro significar não é a parecença dos restolhos e das moreias que passeiam a surdez pelos centros comerciais e culturais deste país, como faria o velho "botas" se fosse vivo; nem tão pouco fazer equivaler jornalistas da tanga com a caricatura que dela faz a actriz M. Ruef - revelando, neste caso, que a caricatura é bem mais interessante do que o exemplar de luxo original. Mas adiante, esses favores que a RtP "presta" à comunidade pagam-se de alguma maneira. Mas a transversalidade e a horizontalidade da temática que aqui chamo à colação é sobre a opção do nuclear em Portugal - que ontem refluíu pela boca de A. Vitorino - que se manifestou, e bem, aberto à discussão em Portugal dessa hipótese plausível. Porque se trata dum tipo de energia mais barata, eficiente e até segura. É óbvio que tudo isto é discutível, mas o que me parece de bom senso é que os "reacças" do costume - verdes & compª - não aduzam aqueles argumentos esverdeados da década de 70 e venham agora com novos linces da malcata, novos pardais de 5 asas exclusivos da Serra da Arrábida, das cobras de 3 cabeças típicas da Serra de Sintra e de mais uns fenómenos do Entroncamento... Porque nisto já ninguém acredita.
- Quanto ao PS do sr. engº Sócrates há a dizer que joga na dualidade e a na compreensão que a opinião pública revela sobre o tema: se ela for tendencialmente favorável o único engenheiro no planeta com nome de filósofo mudará de opinião; se a opi. pública fôr desconforme o enginheiro arrepiará caminho. Até lá A. Vitorino lança os dados e baralha de novo, e assim serve aos portugueses o prato da dualidade a fim de não afugentar os milhões e a vontade dos empresários se atirarem ao projecto com vista a diminuir a nossa dependência energética. Todavia, o assunto é complexo demais e não pode ser discutido por leigos e amadores como eu, mas julgo que também não deverá ser muito subordinado aqueles verdes do costume, que não passam de ecofundamentalistas que utilizam sempre os mesmos argumentos, os mesmos tabús, os mesmos receios em ordem a infundir os mesmos medos junto das populações. Enquanto isso os nuestros irmanos têm alí a central de Albarrás - bebendo das nossas águas e produzindo a energia eléctrica que depois os parolos dos tugas importam a pagam a bom preço. Tudo, claro, em favor da competitividade espanhola - por um qualquer azar dos Távoras...
- Se à época de quinhentos os "esverdeados" do costume, que vivem da crise e para crise, tivessem voz activa na ordem de partida das caravelas que fizeram os Descobrimentos, ou das Nevegações - como melhor gostava de chamar Agostinho da Silva, Portugal ainda hoje estaria a polir os sapatos à monarquia obesa deste nosso pobre reino dos reacças que querem ser tudo ao mesmo tempo - e que se conhecem à légua e, pelos vistos, não aprendem nada com a história e não quererm mudar. Porque, no seu douto entender, só os burros é que mudam. Puro engano... E para esses deixamos aqui o Sermão da Montanha na esperança de que um dia, um dia...
- Julgo, pois, que esta discussão do nuclear em Portugal deverá ter lugar desde já. Juntando as pessoas que dentro e fora do país possam contribuir para um debate que não seja acalorado, piegas ou equacionado com as emoções em desfavor das racionalizações.
- Isto supõe, a meu ver, equacionar o papel das novas tecnologias descontaminantes e as interacções que provocam as mudanças nos padrões económicos e sociais, salvaguardadas todas as condições de segurança (máxime, ao nível do tratamento dos tais resíduos perigosos que poderão abrir um novo mercado para empresas emergentes), segundo a clássica fórmula de destruição criativa do cientista J. Schumpeter.
- Contudo, esta problemática da introdução do Nuclear em Portugal só poderá ser validada se houver retorno para as Humanidades, ié., o estudo do impacto no ambiente, na saúde pública, na biologia entre muitos outros territórios do saber, só é viável se forem criadas linhas de comunicação entre o triângulo estratégico: decisores políticos, cientistas e cidadãos. Sem esta multidisciplinaridade a cadeia de comando (e reconhecimento das populações) não funciona. Hoje nada se faz sem a soberania do conhecimento: a investigação, a inovação, o crescimento económico e a consequente melhoria da qualidade de vida em termos de saúde, ambiente e conforto. E para isso não podemos ficar dependentes do ouro negro do Médio Oriente e do gás da Argélia nem tão pouco da vontade errática e imprevisível dos bin laden deste mundo. Muito menos dos ecofundamentalistas do costume - para quem a vida dum pássaro, dum cão, dum tubarão, duma doninha fedorenta, dum cágado de coroa de cristal, dum lagarto de 8 patas e dorso voador, dum rato de 5 cabeças das Berlengas - vale mais do que uma vida humana. Para esses crónicos geotas e quercus - vai o meu Bordalo Pinheiro - on the rocks.
- Muita dessa rapaziada do conceito do mundo verde, curiosamente, era depois absorvida nas estruturas e assessorias do Ministério do Ambiente - e eu ficava sempre muito surpreendido ao vê-los cavalgar duas ondas contraditórias: a do interesse público ao serviço do governo do Estado; e a onda da sua associaçãozinha que prosseguia fins privados ditos de interesse público - concorrendo, em inúmeros casos - com o governo na resolução de problemas. Enfim, a confusão do costume que me faz embrar aquele médico que dizia que as seringas dos hopitais onde trabalhava estavam rombas da parte da manhã - e por isso, sugeria aos seus pacientes que fossem à sua clínica ali ao lado da parte da tarde - dado que aí as seringas, não obstante serem as mesmas, quiça esbulhadas do erário público, já não estavam rombas.
- Supomos que este espaço não é o gabinete de trabalho do PM em S. Bento nem na Gomes Teixeira, nem um centro de congressos mas uma estação de tratamento. Um dia saberemos de que tipo de resíduos...
- Julgo, pois, que a temática do Nuclear em Portugal será a questão mais importante que a chamada sociedade civil portuguesa será chamada a discutir colocando questões e dando respostas obrigando, assim, a rever o precário equilíbrio entre conhecimento e poder, ciência e sociedade bem como a viabilidade da noção de governança associada às políticas públicas.
- É aqui que perguntamos: que papel cabe às tais Humanidades?: senão verter uma luz sobre a decisão política geradora de um paradigma técnico-económico do qual resultará um padrão de desenvolvimento que engloba um cluster estável de tecnologias nucleares que produzem um forte impacto na economia e na sociedade e em torno das quais se processa a inovação. Foi isto, creio, que Vitorino fez. Marcelo, so far, ainda não fez nada. Ao menos podia ajudar o PsD - como faz Vitorino relativamente ao PS. Mas o prof. Marcelo, ao que sabemos, só se ajuda a si próprio, é um verdadeiro altruísta.
- Já é líquido que a interacção das ciências “duras” com as humanidades potencia o rigor científico e reforça o capital-cultural das nações. Um processo indispensável a Portugal. Tanto mais que a relação entre governo e cidadãos já não é a mesma e novas formas de governabilidade e de progresso sócio-económico devem ser repensadas em vista à sustentabilidade das nossas fontes de energia.
- Em suma: a responsabilidade do analista não é adivinhar o futuro, mormente nestas questões onde ele é leigo, mas o de eleger alguns factos úteis à produção de uma interpretação de futuros possíveis. Isto é fazer prospectiva que, não raro, cai na ironia retrospectiva, já que ao olharmos para o que pode ser o futuro somos convidados a ver o passado numa perspectiva nova.
- Um pouco como comparar a globalização dos Descobrimentos com a actual fase planetária do fenómeno. E quando compulsamos os prós & contras do nuclear se comparados com as teses dos ecofundamentalistas da Serra da Arrábida - chegamos a uma conclusão: esta discussão terá mesmo de ser travada em Portugal o quanto antes. Não apenas para diminuir a nossa dependência energética, desde que em segurança, mas também para enterrar de vez alguns tabús já amarelados de todos aqueles "geotas" e "quercús" que vivem dos rendimentos da antiglobalização - que hoje, lamentavelmente, dominam boa parte do pensamento dominante e do politicamente correcto. Mesmo que ninguém acredite neles, nem os sócios que compulsivamente se quotizaram e, hoje, ainda alguém paga as quotas por eles. Um pouco como nos partidos políticos. Também aqui essas associações do ambiente não se diferenciam dos partidos políticos, dado que o que eles têm em comum com os partidos políticos é só uma coisa: capturar o poder, embora utilizem diferentes estratégicas para chegar a até ele.
- São as mesmíssimas aves raras que se estão a marimbar para a preservação das espécies, da biodiversidade e dos protocolos de Quioto e o mais - desde que as subvenções estatais e comunitárias não cessem de jorrar - porque para eles - os verdinhos amarelados do costume - quanto pior melhor numa vã tentativa de gerar tratamentos saudáveis da nossa economia recorrendo à esquizofrenia da globalização agora alimentada pelo vírus do nuclear.
- Qualquer dia o vírus do nuclear ou das aves (já não sei bem...) espalha-se e somos afectados pela ideia de que aquelas ventoínhas gigantes que produzem energia eólica e destroem a paisagem são os principais vectores de contaminação da gripe das aves em Portugal.
- Pelo menos aqui os argumentos parecem ser mais verosímeis e criativos do que a quantofrenia do costume vociferada pelos ambientalistas de Poço de Bispo e de Porto Brandão que ficam a meio caminho da ponte de Vasco da Gama e os areais de Vila Franca - terra de grandes pegas, pêgas, de touros e de grande touradas.
- Ainda a procissão vai no adro, mas é tão curioso quanto estimulante ver o que Sócrates diz aos Verdes no Parlamento - que são uma filial do PCP na Assembleia da República sem legitimidade política - que o nuclear não integra a agenda ou o mandato (não se percebe bem, mas também é esse o objectivo) e, ao mesmo, pede ao sagaz Tony Vitorino que reproduza cá para fora, ié, para a sociedade civil (não confundir com construção civil) versão oposta tornando, como convém, o PS num partido abrangente, ou seja, que não é do "Não" mas também não é do "Sim". Sócrates é, pois, do partido "do logo se vê". Com tanta pertinácia e temore à mistura, é caso para dizer, com um PM assim os empresários dispostos a investir noo sector hão-de cá parar tanto tempo como o tempo de estadia do Bill Gates cá pelo burgo.
- E eu como mero cidadão/consumidor de luz e gas não tenho qualquer dúvida que a discussão irá ter um papel crucial em Portugal nos próximos meses, e como alguns dos argumentos de parte-a-parte já se conhecem - também não terei grandes reservas - se forem acauteladas as condições de segurança e de custo económico e também os custos finais com a sua desmontagem no fim do ciclo) em admitir a possibilidade de - podendo - Portugal produzir electricidade mais barata - deixando assim de a importar de Espanha, França e arredores. Contudo, um problema permanece: que fazer aqueles 75% de transportes que consomem o dito petróleo e que a produção de energia electrica do Nuclear não acautela? Ou seja, além do perigo dos resíduos perigosos resultantes do processo de fabrico de energia eléctrica através do nuclear há ainda uma larga fatia de consumidores para os quais o nuclear não oferece resposta.
- Esta "estória" aparentemente dicotómica - ou nuclear ou mais do mesmo com os ecofundamentalistas a bramarem os estafados argumentos da década de 70 - faz lembrar aquele indivíduo que tinha medo de andar de avião, e um dia foi à padaria buscar o pão e o cão do padeiro - talvez por gostar tanto dele - mordeu-o mortalmente. Excusado será dizer que além dele também morreu o próprio medo que a vida lhe inspirava.
- Afinal, com que racionalidade económica e de segurança?!