Macro de grande, skopein de observar: observar o infinitamente grande e complexo. Tentar perceber por que razão a ave vive fascinada pela serpente que a paralisa e, afinal, faz dela a sua presa.
sexta-feira
O populismo tomou conta de certos autarcas na ânsia de se perpetuarem no futuro
O populismo das eleições autárquicas em 2017...
- Faz com que certos autarcas, como o de Marvão, pautem a sua conduta pseudo-politica por este tipo de medidas de lana-caprina, a qual em nada contribuiu para valorizar e desenvolver sustentadamente o território, (re)qualificar as suas gentes e infra-estruturas e ter um plano de desenvolvimento integrado para o futuro da região.
- No tempo de Salazar, passe a analogia, o país também era "bem governado" à luz do critério de depósito de ouro nos cofres do Banco de Portugal, equilíbrio das finanças públicas mas, por contraponto, o povo era iletrado, subnutrido e não dispunha de massa crítica para alterar a situação socioeconómico e política do país, que ficou na cauda da Europa.
No Alto Alentejo, e em Marvão em concreto, replica-se um contexto semelhante, com um gap de meio século pelo meio.
- Numa palavra: certos autarcas, por não disporem de obra feita e de não terem vergonha na cara, recorrem a esta cosmética populista na ânsia de voltar a ganhar eleições, mesmo que isso implique mais do mesmo subdesenvolvimento crónico que tem vindo a asfixiar a região e a desertificar o território.
- No fundo, um populista sem vergonha na cara governa utilizando todos os meios e recursos para obter o apoio popular: tanto faz promessas de empregos para os eleitores que pretende cativar (e seus familiares), como abusa da propaganda pessoal nos momentos mais trágicos e delicados da vida das pessoas, como plantar-se em funerais e impor a sua presença junto dos familiares do defunto para gerar compaixão e, assim, consolidar o capital de simpatia; ou enfiar os idosos em autocarros pagos pela autarquia que os levam em excursões sem sentido. É, no fundo, a política do beijinho, da palmadinha nas costas e dos bolinhos nas feiras e do croquete nas conferências. É a política sem vergonha cometida por gente sem escrúpulos que pretende converter uma autarquia no seu próprio quintal.
- No fundo, o autarca populista é um tipo medíocre, tecnicamente incapaz que se leva demasiado a sério e que por ter conseguido enganar alguns eleitores umas vezes julga que os podem enganar sempre.
- Por regra, este tipo autarca abunda em certas zonas do interior do país e é ainda acometido duma outra característica: a soberba do domínio dum conhecimento que manifestamente não tem, o que faz dele um sujeito convencido, egocêntrico e arrogante que o impede de reconhecer a sua própria ignorância sobre os mais variados temas e assuntos da cultura, da sociedade e até da governação local.
- Marvão, é um exemplo marcante que reclama uma mudança radical há muitos anos. Porque há muitos anos marca passo. E é pena.
20 municípios em Portugal que vão devolver o máximo permitido do IRS aos seus habitantes no próximo ano. No mapa que o Expresso construiu a partir dos dados detalhados das transferências por município do Orçamento do Estado para 2017, podem ser vistas as autarquias que vão devolver integralmente a participação de 5% no IRS a que têm direito.
São 18 concelhos do continente – Águeda, Oleiros, Idanha-a-Nova, Arganil, Vila do Bispo, Albufeira, Alcoutim, Trancoso, Manteigas, Sabugal, Gavião, Marvão, Ponte de Lima, Ribeira de Pena, Boticas, Resende, Armamar e Mortágua – e dois na Madeira (Porto Moniz e Santana). Em 2016 houve 19 concelhos com IRS ‘zero’ para os seus munícipes.
Por outro, vai haver mais concelhos a baixar o IRS do que a agravá-lo. Coincidência ou não, no próximo ano há eleições autárquicas. Ao todo, há 23 concelhos a devolver mais imposto e apenas nove que reduzem a parcela a devolver. Entre as alterações há quatro casos – Albufeira, Marvão, Ribeira da Pena e Porto Moniz - que passaram diretamente de um ano em que nada devolveram para a devolução máxima
As duas maiores cidades do país, Lisboa e Porto, vão manter a sua política inalterada: a capital fica com 2,5% (metade) do IRS a que tem direito e a Invicta não devolve nada.
No total, segundo o Orçamento do Estado para 2017, os municípios vão receber transferências no total de 2393 milhões de euros, dos quais 390,3 milhões correspondem a verbas atribuídas por conta do IRS. Este ano, os municípios receberam 2327 millhões de euros, entre os quais 414,7 milhões do IRS. Houve, assim, um aumento de transferência mas há uma maior devolução de IRS aos munícipes em ano de eleições autárquicas.
No próximo ano, os municípios vão devolver 61,7 milhões de euros de IRS cobrado. É um montante que corresponde a 13,6% do total sobre o qual podem dispor. Este ano, devolveram 59,8 milhões de euro,s que representaram 12% dos 5% de IRS pago no seu território.
A Lei de Finanças Locais, que rege as relações financeiras entre o Estado e as autarquias, prevê que os municípios tenham direito as transferências do Orçamento do Estado. Estas verbas são a soma de três parcelas: Fundo de Equilíbrio Financeiro, Fundo Social Municipal e participação de 5% no IRS. Ou seja, tem direito a 5% do IRS cobrado no seu território – pago pelos contribuintes ai residentes – e podem decidir não o receber. Anualmente, comunicam às Finanças qual a percentagem deste valor que pretendem.
Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas, calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes. Sequências de convergências e divergências, ordem e dispersões, transparência de estruturas, pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.
Geometria que respira errante e ritmada, varandas verdes, direcções de primavera, ramos em que se regressa ao espaço azul, curvas vagarosas, pulsações de uma ordem composta pelo vento em sinuosas palmas.
Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio. Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena. Sou uma pequena folha na felicidade do ar. Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis. É aqui, é aqui que se renova a luz.
BOSCH É BOM." A autoria deste solgan, geralmente atribuída ao poeta, foi questionada, em finais dos anos 90, por Plácido Júnior, que afirmou ter sido outro publicitário, Vasco Costa Marques, o seu verdadeiro autor. Já a célebre variante ("BOSCH É BROM.") é consensualmente aceite como obra de O'Neill.
"COM COLCHÕES LUSOSPUMA VOCÊ DÁ DUAS QUE PARECEM UMA." Mesmo sem nunca ter sido utilizado, este é um dos slogans atribuídos a O'Neill que mais anedotas gerou. Segundo o testemunho de Raul Calado, a frase terá tido outra formulação: "COM LUSOSPUMA DÁ-SE CADA UMA!"
"DIZ-ME COM QUEM ANDAS, DIR-TE-EI QUEM ÉS." Slogan que serviu de mote a uma campanha das canetas Parker em 1965. Era acompanhado de textos relativamente longos, escritos por O'Neill e destinados a diferentes públicos. Havia um para jovens, outro para mulheres, etc.
"GASCIDLA, O GÁS DA CIDADE." Depois de ver chumbada pelo cliente uma versão bem mais maliciosa ("GASCIDLA NA COZINHA É UM DESCANSO."), o poeta lá optou por uma frase mais consensual.
"HÁ MAR E MAR, HÁ IR E VOLTAR." O mais famoso dos slogans o'nillianos foi encomendado pelo Instituto de Socorros a Náufragos, com vista a uma campanha para prevenir os afogamentos nas praias portuguesas. Segundo António Alçada Baptista, houve outra versão que não foi aceite: "PASSE UM VERÃO DESAFOGADO."
"MOBIL SERVIÇO, DÊ POR ELE SEM DAR POR ISSO." Mais uma frase irreverente que não caiu nas boas graças do anunciante. A campanha não foi aprovada.
"NA ESTALAGEM X VOCÊ ESTÁ COMO NÃO ESTÁ EM SUA CASA." Segundo o testemunho do cineasta José Fonseca Costa, o primeiro trabalho de O'Neill em publicidade foi criar um slogan para uma estalagem em Colares, da qual não gostou. A frase foi, obviamente, recusada.
"VÁ DE METRO, SATANÁS." Noutra entrevista, ao Jornal de Letras de 6 de Julho de 1982, O'Neill conta: "Propuz uma vez a alguém (por brincadeira, claro) que oferecesse um slogan ao Metropolitano de Lisboa. O slogan era "VÁ DE METRO, SATANÁS." Esta brincadeira ia-me custando o emprego." O Metropolitano de Lisboa confirma a veracidade da "brincadeira".
A vida é fictícia, as palavras perdem a realidade. E no entanto esta vida fictícia é a única que podemos suportar. Estamos aqui como peixes num aquário. E sentindo que há outra vida ao nosso lado, vamos até à cova sem dar por ela. Estamos aqui a matar o tempo.
Obviously the facts are never just coming at you but are incorporated by an imagination that is formed by your previous experience. Memories of the past are not memories of facts but memories of your imaginings of the facts.
Philip Roth Experience, Memories, Past ______________________________________________________
I write fiction and I'm told it's autobiography, I write autobiography and I'm told it's fiction, so since I'm so dim and they're so smart, let them decide what it is or it isn't.
Palavra dada é palavra honrada... A política da "Geringonça"
Nota prévia: Palavra dada é palavra honrada, dizia António Costa em matéria de cumprimento das promessas eleitorais no quadro da "geringonça".
Não deixa de ser engenhoso este gradualismo político do PM num Orçamento de Estado que pode vir a revelar-se como uma manta de retalhos que está, seguramente, muito dependente do comportamento das economias global, internacional e nacional.
Seja como for, a feitura dum orçamento é sempre o mais difícil e problemático exercício político, pois dele depende o funcionamento do Estado, mas a repetição da distância entre o que é anunciado e o realizado não concede muita credibilidade à política e aos políticos, nem confere fiabilidade aos dispositivos de regulação democrática para que esta tenha a eficácia desejada.
Numa palavra: o recurso à meia verdade, ou à mentira encapotada, traduz-se no mecanismo complementar a que se recorre para ocultar a existência do desvio nas contas da execução orçamental, dado que as coisas não correram conforme o previsto, designadamente por ausência do programado crescimento económico que agora não deixa folga ao Governo, que tem de recorrer à tal mentira em política para fazer o ajustamento orçamental no ano de 2017.
Aliás, a mentira em política é sempre uma reinterpretação interessada da verdade, para colmatar ou ocultar a existência desse desvio entre aquilo que se promete em contexto eleitoral e aquilo que efectivamente se cumpre na realidade.
Mas sendo a mentira política um mecanismo que permite dissimular o desvio entre o anunciado e o realizado, ganha especial importância um dilema conhecido e que já nos foi apresentado pelos gregos (clássicos): como pode o mentiroso dizer a verdade??
A possibilidade da democracia, como sistema político dotado de dispositivos de regulação, depende de se poder encontrar uma resposta a essa questão. Na prática, uma democracia onde a mentira fique oculta, logo, impune, não pode ser regulada e não interessa a ninguém.
Narrativas do Crime: liabilidade, agressividade e indiferença afectiva
Narrativas do Crime: liabilidade, agressividade e indiferença afectiva
- Requinte de malvadez ou é só apenas um distúrbio mental..."
- cit. do artigo infra -
(...) "O homem, de 44 anos, deixou um cartão de identificação num bolso do militar da GNR que ontem baleou mortalmente"(...)
Este comportamento, que encerra um prazer doentio em fazer mal à vítima e a dar um recado à sociedade, interpela-nos acerca do que pode levar o agente criminoso a actuar dessa forma fria e violenta.
Por um lado, o criminoso pode agir sob o efeito da liabilidade, que é uma combinação de instabilidade de carácter, desorganização no tempo que impede o agente criminoso de ficar intimidado perante as autoridades e a ameaça da sanção. Neste caso, o agente criminoso deixa-se levar pelo ímpeto do momento, pelo sadismo do gesto sem ter em linha de conta as consequências mediatas dos seus actos;
Em segundo lugar, o agente criminoso tem a energia que permite ultrapassar os obstáculos que encontra no processo de passagem ao acto, especialmente se estiver imbuído da combatividade necessária para se manter indiferente ao odioso do crime que ele próprio é autor.
Em terceiro lugar, a circunstância de o alegado criminoso ter colocado um cartão de identificação num bolso do militar mortalmente baleado - revela bem o carácter violento e frio do criminoso perante a vítima. Ou seja, estamos perante um agente criminoso incapaz de mostrar sofrimento pela vítima, arrependimento ou compaixão. Depois de o ter executado, o melhor que o alegado criminoso é capaz de fazer é compor o ramalhete do espectáculo do crime que ele próprio quer alimentar, o que pode resultar do seu estado psicológico.
Esperemos que as autoridades sejam capaz de o identificar, deter e julgar, que é o melhor resultado que as forças policiais podem enviar à sociedade, até para normalizar a situação de paz social e justificar a sua própria existência e missão enquanto corpo especial do Estado. Um corpo necessário à preservação da liberdade e segurança de todos e de cada um de nós.
"Para mim e para a maior parte do povo foi uma surpresa. Que às vezes aconteçam umas peripeciazitas, como é normal na juventude, tudo certo, mas daí até ao que se passou ontem [terça-feira] vai uma distância muito grande", disse o presidente da União de Freguesias de Arouca e Burgo à agência Lusa. "Era bom rapaz e dava-se bem com toda a gente", comentou Fernando Mendes.
Conhecido por Piloto, o suspeito morava com os pais - ele engenheiro; ela professora, segundo avançou o Jornal de Notícias - numa casa próximo da Câmara de Arouca. "Viviam muito bem", afirmou o autarca, comentando que ele "não tinha necessidade nenhuma disto".
Além da moradia no centro da vila de Arouca, que está a ser vigiada pela GNR, o suspeito tem uma quinta na freguesia da Várzea, também no concelho de Arouca, onde, em 2014, a GNR apreendeu mais de meia centena de animais de espécies protegidas e autóctones e várias armas.
Entre os animais apreendidos estava um primata, da espécie callithrix jacchus (sagui), que foi entretanto entregue ao zoo da Maia, e 52 aves, umas autóctones e outras protegidas pela Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES).
Da ação resultou também a apreensão de quatro armas (duas caçadeiras de canos serrados e duas armas de calibre desconhecido) e diversas munições de vários calibres.
Com treino militar e familiarizado com a região, o suspeito tem condições para sobreviver alguns dias sem ser detetado pelas autoridades, admitiu o major Pedro Gonçalves.
"Pelas informações recolhidas, estamos a falar de uma pessoa que, além de conhecer bem o terreno, uma vez que ele é [de] muito próximo daqui, tem familiares e tem residência em Arouca", afirmou.
Além da vantagem de conhecer o terreno, a GNR tem informações de que se trata de "um indivíduo que é capaz de sobreviver durante alguns dias, uma vez que tem propriedades, tem pessoas que o poderão abrigar nesta área", acrescentou.
"Poderá manter-se por aqui durante alguns dias", sublinhou Pedro Gonçalves, aludindo à zona do concelho de S. Pedro do Sul, no distrito de Viseu, que faz fronteira com o concelho de Arouca, no distrito de Aveiro.
A GNR tem certa de 200 militares no terreno a tentar capturar o suspeito, que deverá estar apeado. Pedro Dias foi identificado como um dos dois suspeitos de terem matado um militar da GNR e um civil e ferido outro militar, que está estável e com evolução favorável, e uma mulher, que se encontra em estado crítico e com um prognóstico muito reservado, na madrugada (...)
Uma nova era das Relações Internacionais - pré e pós-Guterres - Um mundo, dois papas
Um só mundo, dois papas
Guterres veio marcar uma ruptura na forma de fazer política na esfera das relações internacionais de vocação global e de que a ONU é a única organização internacional onde todos falam com todos.
Ou seja, há uma fase pré-Guterres, em que o mundo tem apenas um Papa sedeado em Roma e que foi o mundo enquadrado por meio século de Guerra Fria; e uma segunda fase (pós-Guterres), em que o mundo passa a contar com dois papas: este último, qual Francisco de Assis, passará a reportar do Palácio de Vidro, em Nova Iorque - e das várias agências internacionais espalhadas pelo mundo.
Numa palavra: o Papa Francisco passará a poder contar com um irmão activo do outro lado do mundo a convencer as vontades a fazer a paz, a consolidar a segurança internacional e a desenvolver laços de cooperação para o desenvolvimento entre todos os povos, sociedades e economias do mundo e entre todas as religiões e credos.
Um só mundo, mas com dois papas: um é religioso, o outro é civil.
Para um amigo tenho sempre um relógio esquecido em qualquer fundo de algibeira. Mas esse relógio não marca o tempo inútil. São restos de tabaco e de ternura rápida. É um arco-íris de sombra, quente e trémulo. É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.
António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"