A "ditadura" do agenda-setting e a blogoesfera: JPP e Miguel Sousa Tavares
Na sequência de Miguel Sousa Tavares (um jornalista que sai do molde e que consideramos intelectualmente) ter escrito a sua crítica feroz e indiscriminada à blogosfera num pobre artigo sob o título Cibercobardia, denunciando mais raiva e fúria do que knowledge & common sense, emerge José Pacheco Pereira - que também em Abril deste ano escreveu no Público um artigo controverso sobre a blogosfera de que tivemos oportunidade de fazer o devido balanço aqui no Macroscópio em: Cinismo e Paixão: as motivações de JPP. Ou seja, quer um quer outro, pessoas inteligentes e cultas, com meios e dispondo de imensa influência junto de práticamente todos os veículos de comunicação - acabaram por ter elaborações intelectuais fragmentárias algo surpreendentes a propósito da blogosfera. Aquém do que se esperava deles. E porquê? Ambos quiseram incorrer no vício da generalização, não querendo assim reconhecer os já inúmeros espaços de reflexão que contribuem para preencher imensas lacunas informativas e formativas da mediasfera em Portugal. A prova disso é que têm sido inúmeros os casos em que jornalistas da mediasfera esbulham informação a certos blogs sem a devida citação de fonte, o que tem levado a problemas que são publicamente conhecidos. Muitos mais são os que se desconhecem, pela natureza das coisas. Mas compreendemos as razões pelas quais o queiram fazer deliberadamente. É óbvio que JPP não vai querer promover blogues como o Jumento (que até mais visitas dia do que o blog de JPP) - que são portadores duma qualidade que não convém a JPP reconhecer. Fazem sombra, e há quem desgoste de sombras e de névoas.. Também aqui afloram os pecados capitais, e só os espíritos mais livres e solidários conseguem citar outros que são infinitamente melhores que nós próprios. Mas parece que JPP só republica os seus fiéis leitores via mail. Está no seu direito, mas "trai" a lógica do rizoma - que é o de operar em rede e linkando, coisa que ele não faz.. Aqui, mais JPP do que MST - que nem sequer sabe o que é um blog (que confunde com um chat..., ao menos recobhece a sua ignorância digital, o que pode ser um bom princípio) - também desilude devido à dualidade e ambivalência com que pensa e escreve. I.é, JPP - escreve o que escreve porque tem um "blog-parasita" - que vive à custa do valor da sua personalidade e do mérito, é certo, que conquistou na esfera pública. Nesta conformidade, JPP padece dum vício de forma: posto que só escreve sobre a blogosfera quando uma vedeta (como é MST) escreve um artigo pobrezinho, infundado e sectário sobre a blogosfera. Com a agravante de ter sido baseado num blog anónimo que não tem história na rede, o que levou muitos de nós, a supôr que se tratava dum camelot. Ora, MST não precisa dessas tretas (aqui extensivas aos artigos que faz sobre a blogosfera) para vender os seus livros, que se impõem de per se. Pergunto-me se, por acaso, JPP já leu o Jumento??? O que pensará dele e da sua produção? Será legítimo instar JPP a responder a isto? É óbvio que o seu silêncio sobre o assunto também uma nítida leitura. Por vezes, como diria o poeta do meio das Serras - há gritos ensurdecedores, outras vezes, são os silêncios que falam mais alto. Depende...
E, como intelectual que é, e fazemos aqui a justiça de não o confundir com as banalidades pensadas e ditas pelas pessoas com quem discute política na Quadratura do círculo (Jorge coelho e lobo xavier + o moderador-interventor Carlos andrade, que é um chato terrível - que desconhece o que é ser moderador num programa de tv) - o que terá a dizer sobre ele, por exemplo. Poderia escolher outro, mas este parece-me um excelente exemplo, já que JPP queria pensar a sério estes temas - porque não fundou o seu pensamento no autor de um blog a sério? Em alguém - que faz num dia aquilo que JPP e MST - juntos fazem em 15 dias. Quando JPP tiver a humildade intelectual de reconhecer isto e integrar estas realidades sociológicas no seu mainstream ideológico ou conceptual subirá mais uns furinhos na consciência de todos nós, certamente.
Aqui "o todos nós" - não são esses energúmenos que injuriam, difamam, ofendem, agridem, fazem pishings, os ciberstalkers, etc, etc... Que por vezes chegam ao limite de matar uma menina de 10 - como já lamentavelmente sucedeu, e que JPP no seu artigo do Público de Abril também relatou. Naturalmente, estes casos isolados não têm expressão estatística, não representam uma ameaça aos bons blogues que se dedicam à análise e reflexão de questões domésticas e transnacionais. A esses o mercado encarrega-se deles: são cilindrados por omissão, ninguém os lê, salvo os seus autores mais meia dúzia de amigos que alinham pelo mesmo registo. Para todos os efeitos não existem, tal como esse blog que alegadamente acusou MST de plágio - e que ele entendeu dar devido destaque - acabando por o promover, perversamente.
Recentemente, no mesmo jornal JPP faz mais um artigo no Público que aqui transcrevemos na íntegra (com devida vénia e Pub. que aqui também fazemos ao Público), até porque a matéria tem interesse e está bem pensado e escrito, apesar de não ser inovador nem de fazer doutrina. Mas reflecte massa crítica sobre a blogosfera e as condições em que todos, mais ou menos, operamos. Uns com mais credibilidade e seriedade do que outros, naturalmente. Vejamos então esse artigo de JPP e depois alguns comentários que o Macro entende fazer sobre a matéria.
- O sublinhado é nosso e a arrumação por parágrafos também. Apenas para facilitar a leitura que no Público parece uma mancha.
A diferença entre um quiosque e a blogosfera
José Pacheco Pereira
Se eu olhar para um quiosque de jornais como muita gente olha para os blogues, o que eu vejo é isto: Maria, O Jornal do Crime, A Mãe Ideal, Novenas Milagrosas, Lux, VIP, Nova Gente, Maxman, o Borda de Água, PÚBLICO, Flash!, Única, 24 Horas, Nova Cidadania, TV Guia, TV Mais, Ana, Teleculinária, MM, Saúde, Record, Atlântico, A Bola, Autosport, Correio da Manhã, O Diabo, uns títulos em ucraniano, o Guia Astrológico, Os Meus Livros, Cosmopolitan, Prevenir, Sporting, Blitz, Guia Astral, Mini-Recreio, Activa, GQ, Diário de Notícias, Selecções...
Se abrir as folhas ao acaso, como se consultar blogues ao acaso, coisas sinistras estão sempre a cair de dentro das folhas: notícias falsas, especulações, falsidades anónimas, plágios, voyeurismo, egos à prova de bala, ignorância, erros, invejas, ajustes de contas, presunção, arrogância, esquemas diversos, banha da cobra, cobras. Há gente que fala com Deus e gente que namora o Diabo, há quem coma a namorada, como o Dr. Lecter, há o professor Karamba, e há umas meninas para todos os gostos, há extraterrestres, boatos, insinuações, muita "informação" anónima, pornografia strictu sensu, pornografia intelectual, quartos à hora, hotéis à noite, etc., etc. Uma selvajaria, o Mundo Cão, o Faroeste, os baixos fundos, o jet set, um conde, o tatuador, a tatuada, a esposa, o marido, a amante, o escroque, o bondoso, o franciscano e o tolo...
Ah! Diz-me uma voz, mas estás a misturar tudo! Pois estou, é como fazem os que falam dos blogues misturando tudo, como Miguel Sousa Tavares e Eduardo Prado Coelho fizeram recentemente para se defenderem (o que é legítimo) de acusações e falsificações anónimas. É verdade que os jornais e revistas têm responsáveis e não são como as cartas anónimas, ou os blogues que funcionam como cartas anónimas, mas quando os primeiros transcrevem os segundos ficam iguais. No caso do Miguel Sousa Tavares, o que falhou foi a imprensa tradicional, que aceitou citar fontes anónimas, sem um julgamento de mérito.
A notícia não é que um blogue anónimo acuse Miguel Sousa Tavares de plágio, a notícia é que Miguel Sousa Tavares cometeu plágio, se o tivesse cometido, e aí o autor da notícia devia fazer o seu próprio julgamento e só publicar caso esse julgamento fosse que sim. Não sendo, o blogue é como uma carta anónima, incitável e inaceitável. Foi isso que falhou e hoje em dia falha cada vez mais, porque a comunicação social escrita precisa de pretextos para violar as regras de que se gaba como sendo distintivas e, na Internet, encontra-os com facilidade, entrando depois facilmente na selvajaria. Está lá no computador, para milhões verem, por isso está "publicado", logo posso citar e levar a sério, sem ter responsabilidade.
O mal não está nos blogues em si, está na nossa incapacidade para ler e escrever blogues, como para ler e escrever jornais com uma decência mínima. O problema é mais comum do que se pensa, embora seja verdade que as pessoas se sentem mais impotentes para se defenderem da Internet do que no mundo da comunicação social tradicional, mas o que é crime cá fora é crime lá dentro. Mas a reacção aos blogues, selvagens, inúteis, desviadores da atenção, perdulários do nosso tempo, oculta-nos muita coisa de interessante que está a passar-se diante dos nossos olhos e que não percebemos porque os vemos tão misturados como o Jornal do Crime está com o PÚBLICO no quiosque de jornais, ou como se o PÚBLICO para falar de ciência citasse o Guia Astrológico como fonte.
Os blogues são apenas uma das pontas do mundo novo em que já estamos, uma pequena ponta, mas tão reveladora que mesmo estes episódios lesivos de Miguel Sousa Tavares (acusado de plágio) e de Eduardo Prado Coelho (que tem um texto falso a circular na Rede) são dele sinal. Ora nunca ninguém disse que era o Admirável Mundo Novo, a não ser os utopistas que pensam que as tecnologias mudam o mundo sem o pano de fundo das sociedades onde elas existem.
Vamos admitir, o que não me custa nada, porque até acho que é verdade, que mais de 90 por cento do que está na blogosfera é lixo. Temos em seguida que convir que também 90 por cento do que está nos quiosques é lixo, a julgar pelo nosso quiosque. Não é por aí que se faz a diferença. Para isso é preciso olhar com um pouco mais de atenção quer para os 90 por cento de lixo, quer para os 10 por cento sobrantes, porque, tendo muita coisa em comum, têm também diferenças importantes.
Para se perceber o que está a mudar no conjunto do sistema comunicacional temos que analisar o lixo e o luxo na Rede. O lixo nos blogues, como antes (e agora) o lixo na Rede têm muito de comum com o lixo nos diários pessoais, nos jornais locais, nos boletins de paróquia, nas rádios locais, nos panfletos partidários, nas cartas anónimas, na pequena, grande e média comunicação social, nessa imensa voz entre sussurrada e gritada que nos acompanha sempre, na maioria dos casos como pura estática, lixo escrito, lixo dito, lixo visto.
Mas tem diferenças interessantes como esta que não é meramente quantitativa: mais indivíduos falam na Rede do que alguma vez falaram em jornais, revistas, diários, cartas anónimas ou assinadas. O número espantoso dos milhões de blogues, com o seu crescimento exponencial, é um fenómeno radicalmente novo. Estes milhões de pessoas que escrevem na Rede, em nome próprio, com pseudónimos ou anonimamente, são uma manifestação da principal característica das sociedades pós-industriais, as que nasceram em espaços urbanos dominados por serviços, pela produção, distribuição e consumo de informação - são sociedades de massas, onde impera o que antigamente se chamava "psicologia de massas".
São ainda poucos, mas são o primeiro destacamento, o destacamento loquaz, o que anuncia o que aí vem, os que ocupam o espaço público com as suas vozes no mesmo movimento com que um centro comercial se enche quando abre as portas às 10 da manhã, ou o prime time das novelas fica habitado das suas audiências, ou as praias do Algarve e os estádios de futebol se enchem. Essas pessoas falam porque têm alguma coisa a dizer? Acrescentam alguma coisa ou são elas mesmo um sinal de cacofonia? Depende como se vê a questão: elas têm alguma coisa a dizer porque querem dizer alguma coisa - essencialmente que existem e que são elas que vão mandar, que são elas que já mandam. O que têm a dizer não é novo, é ruído, é pobre, é insignificante em termos culturais, estéticos, criadores, mas é a voz que fala cada vez mais alto, a voz que se ouve, a estática gerada pelas multidões e que exige ser ouvida nas sondagens, nas pseudo-sondagens dos telefonemas para dizer sim ou não, nas audiências da televisão, a que não quer esperar, não quer delegar, não quer aprender, não quer sofrer. Quer tudo e já, e só não o tem porque os "políticos" a enganam e desviam. O número dos blogues significa que também, pouco a pouco, as massas das sociedades de massas chegam à Rede como nunca antes chegaram aos jornais ou chegam hoje à televisão. Trazem com elas aquilo que antes, nos primeiros parágrafos deste texto, chamei "selvajaria": não querem mediações, que são o poder do passado, o poder dos intelectuais, o poder dos antigos poderosos. Querem democracia "participativa", não querem democracia representativa, não querem saber de nada que possa significar privilégio dos sábios, ricos e poderosos. Não prezam a intimidade e a privacidade, porque no seu mundo não existem e não são valores, não prezam a propriedade porque a têm pouco, são anti-intelectuais, combatem todos os que parecem atentar ao seu igualitarismo funcional e punem-nos na Rede como gostariam de os punir cá fora: "é bem feito" é a expressão que mais se ouve por todo o lado. Miguel Sousa Tavares é "arrogante", o "povo" acusa-te de plágio; Eduardo Prado Coelho mandaste na intelectualidade durante muito tempo, leva lá com um texto falso para aprenderes que aqui somos todos iguais! Por bizarro que pareça, tudo isto foi escrito em linha, quer em caixas de comentários, as furnas da Internet, quer nos blogues anónimos e ignorados, os degraus superiores do Inferno. É por isto que os blogues são interessantes, porque se move ali um monstro, que existe bem fora dos electrões. Esse monstro fala - nos blogues e nos jornais - e nós não o queremos ouvir porque ele nos coloca em causa, coloca em causa o lugar que ocupamos. Ele luta ali pelas suas regras próprias e não pelas que tomamos por adquiridas e, desse ponto de vista, convém conhecê-lo muito bem. É por isso que se aprende mesmo com os 90 por cento de lixo na blogosfera. E aprende-se ainda melhor se olharmos para o 10 por cento que não é lixo, porque para essa parte da Rede irá migrar uma parte mais dinâmica do espaço público, que conhece melhor o monstro e que já fez a prova do monstro. Tratar os blogues como um quiosque dos jornais indiferenciado é deitar fora o menino com a água do banho. Vamos em seguida falar dos 10 por cento, número optimista, eu sei.
Historiador
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Notas Soltas do Macroscópio
Notas:
1. Nestes comentários não temos qualquer pretensão nem somos animados pela soberba de julgar seja quem for, ou ditar que percentagem dos 10% se aproveita do lixo da blogosfera diagnosticada por JPP, muito menos a aleivosia de querer substituir JPP no programa QC -moderado/intervencionado por Carlos Andrade - que entendemos prestar um mau serviço ao país no domínio informativo/analítico. carlos Andrade repete-se, não tem cultura política, sociológica ou económica, multiplica intervenções plenamente gratuitas apenas para se fazer ouvir, e Jorge Coelho faria um bom serviço à nação se combinasse com Lobo Xavier ceder o lugar a outros cientistas, sociólogos, historiadores que pudessem ombrear com JPP uma troca mais saudável e produtiva de conhecimento sobre os problemas da polis global... O fosso entre eles é enorme. Xavier sabe umas coisas de fiscalidade (ponto final!!!); jorge coelho ainda não sabe que nada sabe (ele que pegue em Sócrates, o de Atenas..., pelo menos uma vez na vida!!); e C. Andrade é um frustrado porque está alí na condição de moderador e age como convidado/interventor. E depois é tautológico, redundante, mesmo espremido nunca sai nada que seja reflexivo. Porra!!! Nada disto é contra o senhor, mas confesso aqui o seguinte: deixei de ver esse programa por causa do moderador - profundamente inoportuno e desinteressante, e também pelos comentários em igual registo dos outros dois convidados. Resta JPP que, goste-se ou não - tem cultura política e vale sempre a pena ouvir, ainda que nem sempre se concorde com a forma parcial como recentra os enunciados das questões ou avalia quem pensa diferente. Mas é um homem culto e oferece sempre potencial sociológico pelas suas intervenções. Estou à vontade para o dizer porque o temos aqui criticado. Mas o seu a seu dono.
2. Não percebemos por que razão sempre que JPP faz um artigo sobre sociologia da informação (leia-se blogosfera/comportamento no ciber-espaço) nunca cita os autores cujas fórmulas evoca. Já no seu artigo de Abril debitou alguns considerandos - ainda que digeridos e integrados no seu pensamento, mas nunca cita um Manel Castels (ou outro teórico da rede) - de quem até se socorre para elaborar certas teorizações. Isto para um historiador, não é correcto. Agora, neste artigo - que parece ter razão de existência por causa de dois jornalistas da nossa praça: MST e EPC - JPP evoca alí uma fórmula de "Psicologia das Massas" - e não cita o autor da fórmula - que é Gustave Le Bon, mas há outros... Ora, sendo JPP um teórico, um investigador, um académico, um historiador e também um homem da política (e do partido - cujo líder hoje até criticou a corrupção em Portugal, e eu lembrei-me logo que MMendes poderia estar a falar de ou para a. Preto, um seu deputado ainda ligado à AR - como aqueles quistos alapados à democracia) não se compreende porque razão ele não leva um pouquinho mais longe o seu esforço de autenticidade e não cita a fonte convenientemente!? A populaça - os tais "90% de lixo" - segundo diz - como são broncos e nunca passaram das leituras da Maria e do crimes - até seriam capaz de agradecer com carta registada...Não o fazer é errado e censurável do ponto de vista epistemológico, metodológico, lógico, ético e até no plano argumentativo Seria até pedagógico deixar lá o nomezinho do autor(s) que deram origem à fórmula. Também não custaria nada também - apor o nome Aldous Huxley - ao lado do título Admirável Mundo Novo... JPP goza de imenso espaço nos jornais, na rádio e na tv para o fazer. Ninguém como ele tem esse privilégio. E não se deve ver aqui qualquer ponta de inveja, ou outro pecado capital, porque o macro sabe bem donde vem e para onde vai. E mais: eu próprio jamais me sentaria à mesa a discutir política com J.Coelho... Nem num clube recreativo, ou na "taberna da coxa" - quanto mais on tv. A banalização da política deve-se essencialmente a sujeitos com essa qualidade politiqueira e comicieira - que tem diminuído os índices de qualidade e reflexão política desejáveis, e das próprias políticas públicas. Já agora, aproveito para explicitar mais o seguinte: em tempos JPP teve a amabilidade de citar uma passagem do Macroscópio no seu próprio blog, o Abrupto (que eu aqui cito, mas poderia omitir se quisesse fazer o o trabalhinho de má fé de gate-keeper da informação, i.é, ser o tal "filho da mãe" que omite cirúrgicamente a fonte que ataca - em linguagem corrente) - mas teve o cuidado cirúrgico de não citar/linkar. É óbvio que JPP fará tudo para não "engordar" o Macro - mas seria útil que não visse as coisas exclusivamente por esse prisma: esse é o prisma da quantofrenia medíocre que não traduz nenhuma qualidade reflexiva sobre os problemas, e nós por aqui preocupamo-nos em produzir alguma reflexão - citando sempre que possível as fontes, doutro modo caímos nas pequeninas canalhacices que eu própio critico noutros. E como não quero perder essa autoridade/legitimidade sou correcto, salvo quando entendo que os textos do visado não oferecem qualidade intelectual, aí faço "vista grossa..." Portanto, o Macro esforça-se por obeservar dois valores que reputo de fundamentais: a qualidade e a seriedade/autenticidade. E quando omito uma fonte - faço-o de forma inconsciente ou até por ignorância, dado que não podemos conhecer todos os teóricos. Mas porra!!! O Gustave Le Bon tem quase um século... "Não havia nexexidade...". Já agora, endossamos também daqui um mui pequenino desafio teórico ao Abrupto: em que termos ou percentagens inscreveria o Macroscópio... Não é que eu próprio não saiba quem sou ou para onde vou... Apenas, para ter a oportunidade de trocar umas impressões - e responder relativamente a essa tipificação que, apesar de tudo, me parece demasiado redutora. Julgo, contudo, que haverá por entre esses "90% de lixo e os 10% de luxo" - uma classe média emergente de blogs - dinamizada por gente das universidades e com cultura superior relativamente sólida - que procurará fazer um trabalho de recolha e tratamento de informação (especializada nuns casos, generalista noutros) que não cai na arrumação intelectual utilizada por JPP no seu artigo.
3. Feito estes dois reparos - que sei JPP - me relevará, confesso ter gostado do seu artigo. Explicita um conjunto de canalhices e de impunidades que afloram no ciber-espaço. Que busca links e mais links num jogo menor de fama fácil, procura problemas, injuria, difama a torto e a direito, etc, etc. É esta blogosfera que não tem escrúpulos nem qualidade que deve ser erradicada do nosso convívio. E também achamos curioso JPP ter equiparado "o lixo" da mediasfera com o lixo da blogosfera. Apesar de eu próprio não me atrever a ditar os termos das percentagens: 10% é luxo, 90% é lixo, para retomar a sua terminologia - que é, óbviamente, discutível. Só é pena JPP ter-se socorrido dum texto intelectualmente pobre de MST - que sabe doutras coisas, não de sociedade da informação... (aliás, o Miguel reconheceu, ab initio, nesse seu artigo Cibercobardia do Expresso - que até confunde chats com blogs, isto diz tudo do que MST sabe da poda: um grande tiro nos dois pés..., perdendo uma excelente oportunidade para estar calado). Percebeu-se que MST escreveu com raiva, estava com os nervos à flôr da pele, e como é sanguíneo saíu-lhe aquilo... Nesse sentido, é desculpável. Mas persiste a questão que daqui endossamos a JPP: porque razão JPP/Abrupto - não agarrou numa outra reflexão para teorizar sobre a blogosfera??? Já nem vou falar de mim próprio (por pudor, mas já agora digo que tenho dezenas de textos sobre isso - que podem ser vistos e comparados com os de MST e EPC) - mas tinha textos melhores noutros blogs, mas JPP foi logo agarrar-se a textos de pessoas que têm notoriedade, que são mediáticos. É o caso de MST. Daí o paroxismo de JPP, é aqui que todo o edifício do seu pensamento cai por terra, se torna numa "insustentávele leveza do ser". Faz contas e diz: 90% da blogosfera é lixo; 10% é luxo, só não se compreende é que JPP elabore um artigo no Público por causa doutro artigo (mau, por sinal) da autoria de MST - que tem tantas outras coisas boas. Parece até que os critérios que JPP usa para fazer reflexão de ideias na imprensa, e fá-lo bem, decorrem da notoriedade do autor - ainda que o conteúdo desses textos envergonhem até quem os escreveu - pelos erros e vícios de generalização apressados que comportam. Também fundamentei isso aqui. 4. Por último, não queria ser ingrato, e deixar de referir aqui que os artigos de JPP - à sua escala e dimensão - têm como que o efeito detonador de fazer com que muitas outras pessoas falem nesses assuntos, mesmo de forma mais séria, profunda e elaborada. Nessa medida, vejo sempre nas suas prestações um efeito equivalente aos artigos/ensaios de Francis Fukyuama - quando este escreveu o Fim da História - reinterpretando Hegel para explicar ao mundo que depois do liberalismo e da democracia nada mais virá em termos de configurações políticas/intelectuais/ideológicas - e que JPP deve conhecer tão bem, dado que tem uma sólida formação filosófica. Fukyuama não vem dizer nada de novo, mas o prisma e o ângulo com que nos ajuda a abordar esses temas acaba por reflectir uma luz nova. Também é assim que encaro as contribuições de JPP, ainda que pelo caminho seja também portador de todas aquelas contradições, erros e falhas. Mas, malgré tout, o balanço é extremamente positivo. Por isso: obrigado.
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