quarta-feira

A sinceridade em Política: a guerra do Iraque e os resultados eleitorais na América de Bush

FILOSOFIA DO PODER
A mentira é a variável e o catalisador comum que une estes 4 homens: quatro "salamandras do poder" que potenciaram a insegurança no mundo na sequência da guerra do Iraque. Os resultados das eleições para o Congresso nos EUA são disso prova.
Já aqui abordámos o tema na mentira na política. Citámos até uma frase lapidar de Chateaubriand que se aplica admirávelmente a josé Barroso - hoje o "mordo-mor" de Bruxelas. A ambição sem capacidade é crime. Já aqui também analisámos as Salamandras no poder - para demonstrar que a guerra do Iraque precipitou tudo e fundou-se numa mentira cirúrgica para efeitos de manutenção e de reforço de poder. No caso de Barroso serviu até de rampa de lançamento para o então PM de Portugal - trair o contrato político com os portugueses e arranjar um tacho em Bruxelas. Conseguiu, mas sem nenhuma contrapartida para a liderança da Europa, para o projecto comum europeu e para o engrandecimento do Velho Continente - relativamente aos outros blocos geoeconómicos. Também aqui barroso se revelou um fiasco. Esmiucemos esse fiasco com os fios tecidos pela guerra do Iraque e os resultados do Congresso no EUA que deram uma maioria clara aos Democratas - obrigando agora G.W. Bush a percorrer metade do seu mandato sem maioria no Capitólio.
Todos nós já sabemos que o argumento da existência de armas nucleares no Iraque já integra o anedotário político mundial. Não valerá a pena evocar a posição do então secretário de Estado Collin Powell (homem íntegro e competente) - nas comissões de segurança e defesa. Tratou-se duma mentira forjada para que G.W.Bush vingasse o seu pai, a sua pessoa e, no fundo, atendesse a um impulso vingativo da sua personalidade. O objectivo era, pois, matar o homem (Sadam) nem que, para o efeito, se tivesse de mentir para justificar internamente essa posição e legitimar internacionalmente essa missão. É claro que aqui mais uma vez a ONU fez papel de figurante menor revelando, de novo, a sua anomia e incapacidade de decisão nas questões de política internacional vitais para a manutenção do sistema.
Isto leva-nos a uma velha questão, a da sinceridade em política. Falemos então dela para depois complementar os argumentos com derivas acerca do cinismo político - que esteve sempre presente, e de forma premeditada em G.W. Bush, em Tony Blair, em Aznar e, por maioria de razão (por ser o mais fracote de todos) em José Durão barroso.
É sabido que o político deve falar e agir de forma a que o povo acredite nas suas palavras, convencido que está da sua sinceridade e na sua palavra. Sucede que o povo - com a experiência - se vá desgastando e desiludindo com os políticos que escolheu e vá consolidando um sentimento de que foi enganado, senão mesmo traído. E aqui não lhes perdoa e retira-lhes a confiança. Psicológicamente é assim que os processos mentais se desenvolvem.
Foi o que sucedeu agora a Bush nestas eleições intercalares para o Congresso dando a maioria ao Partido do "Burro"; foi também o que "matou politicamente" Aznar quando este, na sequência dos actos bárbaros de Atocha/2004 (que mataram 200 pessoas) imputou a culpa dos atentados à Eta; foi também o que desgastou internamente a posição de Tony Blair - que é já hoje uma arrastadeira política questionado por ínúmeros dos seus ministros. Foi, por último, o que sucedeu ao pigmeu desta estória: o sr. josé durão Barroso - que estando farto de governar Portugal (com orçamentos apertados - hoje provados com as declarações de manela Ferreira Leite a desmentir santana Lopes a quem aquele monarquicamente entregou o poder com a conivência bacoca de Belém) - viu alí um furo junto dos seus amigos Americano e Inglês - para galgar os muros de Portugal e demandar os taipais da Comissão Europeia e ser aquilo que é hoje: um líder oficial, meramente formal, um corta-fitas, um tipo apagado que faz a gestão da tesouraria dos dinheirinhos da Europa, um cobrador do fraque, um arrecadador de IVAs. Em suma, um homem cinzento, que faz lembrar o vendedor de restaurador Olex nas ruas da Baixa nos anos 70: sem visão, sem liderança, sem projecto, apenas com muito ensimesmamento, vaidade e soberba - para esconder a falta de liderança e de projecto europeu. Eis o maoismo no seu esplendor versão III milénio. Apenas alí se nota um tipo com ambição pessoal de se servir a ele próprio através do estatuto que lhe confere a Europa - que ele tão bem ajuda a paralisar.
Pode suceder também que o povo confie o seu destino a um reconhecido aldrabão, a um comediante encartado, a um incendiador de Congressos, a alguém que depois de visitar a campa dos cemitério de um ex-PM se faça filmar (e fotografar) à boca dos ditos cemitérios num exercício político tão lamentável quanto tétrico, como há tempos o sr. santana lopes fez após visitar a campa de Francisco Sá Carneiro. Ora isto é profundamente lamentável, é até angustuiante senão mesmo execrável. Muita gente se deve lembrar deste episódio (que passou nas tvs) ainda mais lamentável do que a sua própria tomada de posse a toque de Lexotans - com a lamentável conivência (torpe) de Belém. Cavaco jamais o faria...
Mas mesmo que o povo esteja convencido de que as promessas dos agentes (figurantes) políticos fossem tão frágeis quanto enganadoras, o coração do povo tende a ser crédulo e, num primeiro gesto, acredita e aceita esses políticos de palmo e meio. Até porque o povo tem sempre uma necessidade vital de acreditar em algo, numa espécie de tentativa de fuga à realidade dos seus dias mesquinhos, rotineiros. O povo é assim: ilude-se e vê nos políticos - em alguns deles - os portadores das esperanças que eles próprios já não têm, daí o seu voluntarismo, a sua credulidade que justifica os falhanços e os fiascos em que ele se mete: fiascos e falhanços com nome: barroso, bush, asnar...
Todos unidos por um fio comum: a mentira deliberada - ainda que confeccionada de forma oculta, subtil e encaputada para efeitos de poderio pessoal e de reforço das respectivas posições internas no xadrez do poder internacional. Barroso é o sub-produto político, o resíduo sociológico mais perfeito e acabado desta teorização, e se calhar ainda vai dar origem a uma tese de doutoramento patrocinada pelo MIT. O povo tem, portanto, o desejo de aventura e, por vezes, engana-se e escolhe políticos mais aventureiros (e mercenários) que o guiem nessa selva e depois arrepende-se. Os povos e as sociedades portuguesa, norte-americana, inglesa e espanhola ressentem-se hoje desse fiasco político que espelha bem a mentira na política e a falta de liderança e de visão na Europa - que se pode resumir, uma vez mais, à frase de Chateaubriand: a ambição sem capacidade é crime...
Avaliada a questão da (in)sinceridade na política, e aqui valerá a pena inquirir os centros de decisão estratégicos desta pobre Europa quais foram os lucros cessantes decorrentes do facto de não ter sido o prestigiado e então Comissário da Justiça e assuntos internos - António Vitorino - a presidir à Comissão Europeia??? Certamente que hoje teríamos todos uma Europa mais dinâmica, mais evoluída, mais produtiva, com melhor legislação comunitária, mais competitiva, justa e mais sólida, mais modernizada e desenvolvida. Enfim, mais humana. Mas esses são os custos que temos resultantes das decisões de "politiquice transnacional" (sob a capa de altas missões humanitárias) que a dado momento se cruzam com as questões domésticas de certos países da periferia da Europa com quem os EUA têm laços (e bases) de cooperação militares peculiares... E é aqui que regressamos novamente à questão da mentira na política e ao aborto político que foi (e é) a guerra do Iraque - subscrita por aqueles quatro matadores: bush, blair, asneira e barroso.
Dito isto valerá a pena uma nota de conclusão mediante incursão ao papel do cinismo na política, complementar à falta de sinceridade e coadjuvante da variável mentira na esfera pública. Na prática, qualquer pessoa bem intencionada fica baralhada em fazer-se passar por aquilo que, na realidade, não é. Mas quando as pessoas não têm carácter - situação muito frequente em política (e fora dela, infelizmente) recorrem aos velhinhos expedientes: simulação e mentira. Foi, aliás, isto que josé Barroso fez quando fugiu para Bruxelas deixando o país a arder - inaugurando até uma nova teoria política que pode estar em gestação.
Qualquer pessoa de bem se sentiria humilhada perante uma situação destas, a de fazer-se passar por aquilo que não é. Mas, pelos vistos, certos políticos acham que esse expediente é tão útil quanto vital para assaltar o poder e manter-se nele, numa nova adaptação ao III milénio das teorias que Maquiavel nos legou. Evidentemente, que só os homens excepcionais - se querem chegar ao poder - abdicam desses métodos, o que é raro, mas convenhamos que o affair barroso prefigura algo que bate mais fundo na cultura política portuguesa e que foi inédito em 30 anos de democracia. Apesar de Guterres ter também dado um "cheirinho" dessa teoria na sequência da fuga política por fortes contrangimentos políticos internos, orçamentais, autárquicos, por fim de vocação e o mais..
Mas é aqui, neste quadro de cinismo que chega o momento da verdade: que imagem terá de si o político que recorre a estes expedientes para domar as circunstâncias do momento? É certo e sabido que um político se quer ardentemente o poder - como denota MMendes - terá de abrir mão de um sem número de hipocrisias (insulares e sondageiras) e a outras tantas complacências e baixezas que lhes permitem granjear apoios tácticos necessários à conquista do poder.
Ora, do ponto de vista do político - sabemo-lo bem - esse assalto ao poder - tudo justifica: mentira, simulação, dissimulação, cinismo, falsas aparências, puro teatro e psico-drama, falta de convicções, comédia e mais um sem número de oportunismos que têm feito carreira em Portugal em doses verdadeiramente industriais - e estiveram bem patentes no processo decisório que conduziu à lamentável Cimeira dos Azores que legitimou a guerra do Iraque e meteu barroso como mordo-mor em Bruxelas - onde hoje se encontra servindo conhaques ao eixo franco-alemão.
É evidente que isto só afasta ainda mais o povo dos políticos, porque revela bem o desprezo que estes nutrem por aquele. Mas será isto condenável à luz das atrocidades e barbaridades cometidas por Sadam e - mais genericamente - pela natureza do terrorismo em rede (suicidário e catastrófico) que graça pelo mundo?
Evidentemente, o político democrático e com alma, educado nos valores pluralistas sabe que não podem combater o terrorismo nem as ditaduras com métodos análogos aos daqueles. A democracia tem e usa outros instrumentos de poder para limitar e erradicar aquelas barbaridades, embora nem sempre seja eficaz. Mas seria útil que o realismo de pacotilha de alguns daqueles quatro políticos não nos levem a confundir o idealismo com o seu permanente cinismo e hipocrisia - cálculos indispensáveis à sua própria manutenção no poder.
Quando hoje me recordo da trajectória e da cronopolítica feita por barroso para demandar Bruxelas, como se esse tivesse sido o seu objectivo de vida de sempre em política, não posso - como cidadão português - deixar de denunciar o seu cinismo e dos perigos que ele comportam: o de iludir os menos avisados e preparados no entendimento da coisa política. E é para estes - o povo - que falamos. Até porque o povo pode ser parvo, mas não é estúpido e nunca se dispõe a ser enganado eternamente.
O exemplo daqueles quatro é lapidar a este respeito: Bush queria ir para o Iraque e matar sadam e inventou (via intelligence) a questão das armas nucleares no Iraque; Blair - como aliado fiel daquele não podia fazer coisa diversa senão apoiar o chefe, tanto mais que o RU também tem sido alvo de terrorismo e tem já uma vasta experiência disso com a Irlanda do Norte; Aznar idem aspas com a Eta e quiz alinhar pela América; sossobrou barroso - que queria mudar de vida e de ares e demandar Bruxelas para alcançar um sonho de adolescente: trabalhar na CEE, hoje UE. Conseguiu. Mas tudo a que custos para a Europa e para o Mundo????
Depois de ter confiado, sem êxito, nuns e noutros, o povo decidiu agora nas eleições para o Congresso norte-americano declarar que é ele que manda. Por isso infligiu uma meia derrota a G.W.Bush. Já o fez com Aznar expulsando-o do poder e chamando Zapatero; também já o fez com a arrastadeira política de Tony Blair - que só cumpre calendário para sair pela porta pequena da política e já tem sucessor; só falta mesmo é julgar barroso...
A grande questão agora é saber quando, como e por que eleitorado/quem??? O que não deixa de desafiar o conceito de democracia cosmopolita em gestação...

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Esta reflexão é dedicada a todos os políticos de valor e de bem em Portugal. São poucos, é certo. Mas ainda os há...

TOAV