segunda-feira

As Notas Soltas de António Vitorino: os global commons e a nova política

O encontro do bom senso com a razão lúcida mitiga-se na agenda das Notas Soltas de António Vitorino na RTP. Vale a pena meditar em alguns dos aspectos aí referidos. O primeiro dos quais pode integrar-se naquilo que poderemos designar de gestão corrente da sociedade transnacional: as eleições intercalares para o Congresso norte-americano, as eleições no PS, a condenação do ditador sanguinário-sadam, a eventual derrota de G.W. Bush ante a não vitória dos democratas - por força da estrutural debilidade e inconsistência de opções em matéria de política externa do partido democrata, em particular na luta anti-terrorista; e que acordo bipartidário derivará do consenso post-eleitoral para "fechar" a questão do Iraque. Tudo isto gera uma imagem de uma nação - se bem que a imagem que o espelho devolve à nação não é seguramente apreciada pelos norte-americanos. Na política e na economia...

Mas a parte da apreciação estratégica que António Vitorino faz das novas condições de governo da esfera da globalidade inscrevem-se na questão dos global commons, i.é, do O2 de todos nós. Neste sentido, Vitorino falou-nos do futuro, da habitabilidade do nosso próprio planeta - cujas cindições urge rever sériamente sob pena de fragilizarmos ainda mais as actuais condições ambientais em que todos vivemos.

Numa questão: que fazer relativamente o modelo de desenvolvimento emergente? Seguir uma lógica produtivista, consumista altamente predadora dos recursos naturais ou reinventar um novo modelo de desenvolvimento político que trave esta selva e imprima outras molas ao desenvolvimento social e económico no mundo inteiro, máxime nos principais motores de desenvolvimento económico: EUA, Europa e Ásia.

Se julgo ter interpretado bem as palavras de António Vitorino a mensagem mais forte que ele nos deixou hoje, foi a de que o espírito de competição e de busca de lucro rápido e fácil que nos leva ao hiperconsumismo é destruidor dos recursos naturais do planeta, e isso tem reflexos evidentes ao nível do aquecimento global, do aumento de emissões de CO2, na deflorestação, desertificação e o mais. Podendo estas chagas ser combatidas com uma aposta em energias renováveis, como a eólica, a energia solar, nuclear e, assim, reorientar o sistema económico para uma máximazação dos PNB, mas tendo em linha de atenção o tal conceito de desenvolvimento sustentado de Gro Harlem Brundtland sobre Ambiente e Desenvolvimento - espelhado no relatório do Our Global Neighbourhood - e que já era tributário das preocupações das décadas de 70 com o Relatório Willy Brandt e com as preocupações do Clube de Roma e o Rel. do MIT (de 1968) - depois com as comissões Olof Palme e mais recentemente com o Protocolo de Quito que ainda está em curso e com a Cimeira do Rio que a precedeu uma década antes. Todas vegetam em resultados incertos.

Tudo isto porquê? É que a evolução demográfica no mundo, o esgotamento de recursos, a penúria de alimentação, a poluição e o esgotamento de recursos naturais - com a agravante da queda da produção industrial, privada de energia e de matérias-primas - com os preços do petróleo pela "hora da morte" - conduz a uma situação alarmante que espreita... Que fazer?

- Rever os valores da sociedade num sentido mais humano e personalista;

- Satisfazer as verdadeiras necessidades substituindo a expansão assente na produção de bens materiais pelo crescimento virado para a satisfação de necessidades imateriais: saúde, cultura, lazer, ambiente físico e social

- Preservar o meio ambiente - evitando o ruído, a poluição do ar e da água, a proliferação de enormes aglomerações, defesa de espaços verdes em locais rurais e urbanos, preservar o solo, a água, e as fontes de energia e as matérias- primas

- Favorecer tecnologia amiga do ambiente (soft technology) para desenvolver formas de energia não poluentes (solar, eólica, das marés e geotérmica) são algumas das opções. Além dos incentivos que a UE, EUA e outros blocos económicos poderão dar aos grandes "pulmões" do mundo (amazónia) para diminuírem drásticamente o seu deflorestamento - seria uma ideia a reter...

Contudo, o essencial da mensagem de Vitorino ainda estava para vir quando ele se reporta a um conceito nuclear nas sociedades contemporâneas, sobretudo porque tem faltado em doses industriais na Europa: liderança.

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Consegue-se com ética, e capacidade de mudança das formas de pensar e de agir na sociedade em todos os cantos do mundo ao mesmo tempo. Alterar a forma de estudar, de pensar, de gerar empregos, de convivermos - entre países e entre continentes - ainda está muito virgem. Portanto, urge mudar esse ângulo de visão sobre todas as coisas e todas as mudanças: prioridades, valores, normas, preconceitos e objectivos a médio e longo prazo. Marcando, assim, o nascimento duma nova era na forma de fazer política e, por extensão, na implementação de um novo modelo de desenvolvimento sustentado.

Mas o problema aqui é, de facto, a liderança e é aqui que regressamos à mentira na política, ao simulacro, ao embuste. Pois nem todos os líderes "oficiais" são necessáriamente líderes políticos efectivos. Quando, por alguma razão, o líder oficial tem falta de credibilidade ou de capacidade e de visão estratégica - as pessoas vão procurar liderança emocional junto de outra pessoa que admirem e respeitem. Então, passa a ser este líder de facto quem modela as reacções emocionais das pessoas.

Um exemplo: há um grupo de jazz que tem o nome do seu fundador e líder formal, mas que é junto de outro músico que vai buscar as deixas emocionais. O fundador continuou a gerir as marcações de espectáculos e a logística do grupo, mas, de facto, quando se trata de decidir qual a música que vão interpretar a seguir ou como é que o som deve ser ajustado, todas as caras se viram para o membro dominante, que é o verdadeiro líder emocional. Isto faz-me lembrar o actual papel de banda de durão José Barroso em Bruxelas - de quem nunca se ouviu falar da questão dos global commons. Nem em citações... De facto, é ele quem anota os sítios onde a banda vai tocar, é ele que faz as reservas dos espectáculos - mas não é ele que canta nem afina o som enm faz os contratos.

Por favor - alguém saberá informar o Macroscópio quem é esse líder ao nível da União Europeia?? Não nos referimos ao líder "oficial" - que tem falta de credibilidade, mas ao "outro".. ao que, efectivamente, manda... Uns líderes são ímanes emocionais; outros são polarizadores de angústias e de acessos de cólera...

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